segunda-feira, 27 de outubro de 2014

SISTEMA DE VOTAÇÃO SOB SUSPEITA. TSE NÃO RESPONDE PERGUNTAS SOBRE FRAUDE


Sérgio Schiller Thompson-Flores, presidente da Módulo e ex-Kroll, e Wilson Nélio Brumer, dono da Engetec e arrecadador de recursos da campanha  de Aécio Neves: relações promíscuas e alto tucanato
FONTE: http://www.viomundo.com.br/denuncias/fraude-eleitoral.html
por Conceição Lemes e NaMariaNews
Há anos especialistas independentes na área de tecnologia alertam sobre a vulnerabilidade da segurança das urnas eletrônicas brasileiras.
Entre os críticos, o engenheiro Amilcar Brunazzo Filho, moderador do Fórum do Voto Eletrônico, e os professores de Ciência da Computação Pedro Rezende Diego Aranha, da Universidade de Brasília (UnB).
Este ano, como ocorre em toda eleição, denúncias de fraude eleitoral voltaram a ser feitas após o primeiro turno. A diferença é que, em 2014, surgiram muito mais acusações do que em eleições passadas (aqui  e aqui).
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para variar, não deu a devida importância.
Nessa sexta-feira 24, o Viomundo enviou-lhe, então, via assessoria de imprensa, um e-mail com várias questões.
A primeira delas: O que o TSE tem a dizer a respeito das denúncias de fraude eleitoral neste ano?
Em outra questão, abordamos petição encaminhada em 4 setembro ao TSE pela advogada Maria Aparecida Cortiz.
Representando o PDT, ela denunciou irregularidades no sistema de segurança das urnas eletrônicas, comandado pela empresa Módulo Security S/A.
Em entrevista ao GGN, Cortiz revelou que há menos de três meses, numa ação planejada pelo CMind (Comitê Multidisciplinar Independente),  um jovem hacker recém-formado pela UnB acessou o sistema das urnas eletrônicas no TSE e descobriu, entre 90 mil arquivos, um software que possibilita a instalação de programas fraudados: o “Inserator CPT”.
A petição ficou por isso mesmo. Não virou processo.
Por isso, perguntamos ao TSE: Por que a petição foi arquivada sem qualquer debate com especialistas independentes?
O sistema de segurança das urnas eletrônicas é comandado pela empresa Módulo Security Solutions S/A, que atua no TSE desde 1996. De 2000 a 2013, mantém contratos no TSE, todos sem licitação, continuamente renovados.
Funcionário público de carreira, nos anos 90, ele foi beneficiado pelo BNDES de Fernando Henrique Cardoso com consultoria na área de privatização. Ganhou dinheiro e sede de sangue.
Depois disso, meteu-se em várias embrulhadas sempre buscando a bala de prata, a grande jogada. Jamais se contentou com o trabalho normal de fazer crescer sua empresa.
Aliou-se a Luiz Fernando Levy, da Gazeta Mercantil, e tentou um golpe para assumir a empresa. Depois, meteu-se em rolos com Tanure, que adquiriu a Mercantil. Mais tarde, passou a prestar serviços a Daniel Dantas, do Opportunity, Na auditoria realizada na Brasil Telecom, depois que saiu das mãos de Dantas, Thompson-Flores aparece em inúmeras reuniões com Humberto Braz, o executivo operacional junto à mídia.
Quando começou a febre do etanol, montou um fundo de investimento sediado em Londres, captou dinheiro de incautos para um projeto amalucado de comprar usinas antigas em regiões economicamente inviáveis. Quebrou.
Depois disso, adquiriu a Módulo.
Thompson-Flores foi nomeado pelo ex-presidente Fernando Henrique como presidente da Finep, ou seja, alto tucanato.
Ainda segundo Nassif, no artigo A imprensa e o estilo Dantas,Thompson-Flores:
é um ex-diplomata que enriqueceu com privatizações e tentou seguir os passos de Nelson Tanure, de entrar na mídia como reforço para manobras de lobby. (…) Quando estourou o escândalo Kroll, seu nome apareceu em um CD e ele admitiu que trabalhava para a Kroll e seu contato era o português Tiago Verdia.
Apesar de todos os percalços, a Módulo ganhou a licitação para a Copa do Mundo 2014, em consórcio, por R$ 244 milhões.
A outra empresa que atua nas eleições de 2014, através de um consórcio, é a Engetec. Segundo o seu site, ela está sediada à rua Senador Milton Campos ,35, 16º Andar, Vila da Serra, Nova Lima, MG.
À Engetec, líder do “Consórcio ESF”, cabe preparar as urnas e “suporte técnico”  para os dois turnos nos seguintes Estados: Ceará, Distrito Federal, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
Fazem parte do consórcio ESF: Engetec Tecnologia SA (a líder0, Smartmatic Brasil Ltda, Smartmatic International Corporation, Fixti Soluções em Tecnologia da Informação Ltda.
A Engetec sucedeu a Probank no TSE.
Ela tem como sócios pessoas ligadas à falida Probank. O caso já foi denunciado pelo Ministério Público Federal: 
 Em 2012, um novo pregão para prestação de serviços de exercitação das urnas eletrônicas foi realizado e a empresa Engetec Tecnologia, ligada a parentes do sócio da empresa Probank, foi contratada pelo valor anual de R$ 129 milhões, com possibilidade de prorrogação por até 60 meses. Ao analisar a licitação, o MPF identificou algumas falhas, que serviram de base para a recomendação.
Primeiro, vamos à Probank, cuja história é marcada por promiscuidades entre o público e o privado:
* Em 2003,  a Probank levou R$ 43 milhões do TSE para prestar serviços ao voto informatizado.
* Em 2006, ela foi contratada por Paulo Camarão, então gerente de Informática do TSE, por R$ 92 milhões para fazer o mesmo serviço. Os contratos continuaram até 2011, nos mesmos moldes da Módulo.
* Em 2006, depois de 10 anos no Setor de Informática do TSE, Paulo Camarão deixou o cargo e se tornou dono da Probank.
* Ou seja, Paulo Camarão passou a prestar serviço para o TSE, instituição onde antes havia trabalhado e aprendido tudo sobre os esquemas, necessidades, e os caminhos dos negócios.
Dinâmico, criou o serviço de totalização dos votos (E-Vote), em parceria com a Probank. O serviço foi oferecido ao Equador; seriam vendidas 2.200 urnas do TSE, a Probank entraria com a mão-de-obra.
Mas a canoa furou, o Equador rompeu o contrato porque a empresa não conseguiu manter os prazos. Além disso, “o passaporte dos diretores da E-vote, entre eles alguns brasileiros ex-assessores do TSE, chegaram a ficar retidos durante o inquérito que se abriu para apurar as responsabilidades pelo descumprimento do contrato”.
* O último dono da Probank foi Wilson Nélio Brumer. Em setembro de 2013, já nas suas mãos e de sua sócia Shirlene  Nascimento Brumer, a Probank entrou em falência.Há denúncias de que foi falência fraudulenta. Para entender a tremenda confusão dessa empresa de fachada, leia isto  e isto. 
Pois bem, a Engetec substituiu a Probank no TSE.
Segundo o professor Pedro Rezende, Wilson Nélio Brumer, seria um dos acionistas da Engetec. Os documentos na Justiça trabalhista mineira afirmando isso “sumiram” da internet. Tornou-se impossível acessá-los pelos links originais, mesmo pelo cache do google.
Em ações trabalhistas — há muitas contra Brumer, a Probank e aEngetec –, é possível comprovar isso.
Brumer-001
Engetec e Probank-002
* a falida Probank e a sua sucessora Engetec funcionavam no mesmo endereço;
* uma mesma pessoa secretariava as duas empresas;
a Engetec emitiu uma nota fiscal de R$ 1.179.204,94 com razão social Probank S/A.
Engetec 1 engetec 2-001 engetec 3-001
Brumer nada conforme a maré manda. Suas “credenciais”  explicam por si só porque ele é conhecido como o “doutor Cemig”.
Wilson Nélio Brumer:
* Foi operador das privatizações de estatais de Minas Gerais, quando Aécio Neves foi governador.
* Presidiu a Vale, Acesita, Siderúrgica de Tubarão, o Conselho de Administração da Cemig, Codemig, Rio Minas Energia, Light, Billiton e Açominas, Conselho Superior do Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais, Conselho Consultivo da Varig, Usiminas, Unibanco.
* Foi Secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico de MG, por dois mandatos, de onde saiu em 2010.
* Atualmente opera no comitê do Aécio Neves para arrecadar recursos junto a empresários, entre outras tarefas. Portanto, é carne e unha com o candidato do PSDB à presidência.
Daí, perguntamos ao TSE:
– Qual o papel da Módulo e da Engetec no processo eleitoral?
– Como o TSE contrata a Módulo, cujo dono é ficha suja, e a Engetec, que já foi denunciada pelo MPF?
– A Engetec não deveria ser impugnada por conflito de interesses, já que um dos seus donos é intimamente ligado a Aécio Neves?
O TSE não respondeu nem essas nem as demais perguntas do Viomundo.
O seu coordenador de imprensa simplesmente nos enviou o link para um arquivo em PDF, que contém as perguntas mais frequentes dos eleitores (FAQ) sobre a votação eletrônica.
O assessor de imprensa acrescentou:
Sobre as referidas empresas, as contratações do TSE são realizadas em conformidade com a legislação. Demais dúvidas podem ser retiradas com a assessoria de imprensa das empresas.
Ou seja, 1: O TSE trata-nos como parvos.
Ou seja, 2: Após o segundo turno, torna-se imperioso uma discussão pública com pesquisadores independentes sobre o sistema de votação eletrônica no Brasil, já que o TSE há anos foge desse debate. Tem de se abrir essa caixa preta.
Ou seja, 3: Se neste domingo, ao votar, não aparecer a foto da sua candidata ou candidato,  bote a boca no trombone na hora. Denuncie aos mesários. Faça constar no relatório da urna o que aconteceu.
“O TSE sempre evitou debates públicos equilibrados, seja para abordagem técnica, seja para abordagem política sobre a concepção de sistema de votação apropriado à democracia brasileira”, observa o professor Pedro Rezende.
Ele adverte: “Parece que o TSE continua disposto a evitá-los, fechando-se no hermetismo de seu encastelado juridiquês, que só tenta se comunicar com os comuns dos mortais por via de propaganda oficial, que vem se mostrando enganosa, já que o sistema de votação não é totalmente seguro.
Pedro Rezende, além de professor da UnB, é membro do CMind (Comitê Multidisciplinar Independente).
É um profundo conhecedor do sistema eletrônico de votação brasileiro. Estuda-o há 10 anos. Por isso, colocamos para ele alguns dos questionamentos feitos ao TSE e não respondidos.
Em tempo: antes de ler a nossa entrevista com o professor Sérgio Rezende, sugerimos que guarde bem os nomes de Sérgio Schiller Thompson-Flores ( Módulo Security Solutions), Paulo Camarão (TSE e Probank), José Nazareno Machado (Diebold/Procomp) e Wilson Nélio Brumer (Probank e Engetec), entre outros, que constam nos links citados acima. São nomes que andam juntos por todas as vielas dos negócios e se complementam, fraternos como a luva e a mão. 
Agora, a nossa entrevista:
Viomundo — Nesta eleição, surgiram muito mais denúncias de fraude eleitoral do que em pleitos passados. O que acha disso?
Pedro Rezende — Nessa eleição, pela primeira vez foram descobertas vulnerabilidades nos programas do sistema de votação durante a fase de análise do código pelos partidos políticos.
A forma pela qual o TSE reagiu a essa descoberta legitimou uma discussão pública sobre os riscos que essas vulnerabilidades representam em nossas eleições.
Particularmente para a eleição de 2014, tendo em vista os sinais de que a mais grave das vulnerabilidades do sistema de votação poderia ter sido explorada, produzindo as grandes discrepâncias que vimos entre as pesquisas de boca de urna na votação do primeiro turno e os resultados em vários estados.
Viomundo – Qual foi a principal denúncia dos senhores ao TSE?
Pedro Rezende – Um analista credenciado pelo PDT descobriu que dentre os cerca de 90 mil programas que compõem o sistema de votação, existia um – o Inserator CPT –, que pode manipular o sistema de votação de forma a permitir a entrada de programas clandestinos capazes de fraudar o resultado.
Inserator estava escondido no SIS (Subsistema de Instalação e Segurança), cujo desenvolvimento, manutenção e suporte é terceirizado para aquela empresa privada que mais tem pulado licitações públicas no TSE…
Viomundo – A Módulo?
Pedro Rezende – Exatamente. O sistema que ela comanda — o SIS — é onde está aquele artefato que pode “abrir a porta” para o ladrão atuar.
Viomundo – Como o TSE reagiu à denúncia?
Pedro Rezende – As vulnerabilidades descobertas foram relatadas com pedido de providências, pela advogada Maria Aparecida Cortiz, em petição dirigida ao presidente do TSE, em 4 de setembro de 2014. A petição foi tratada pelo Secretário da Presidência do Tribunal como reclamação sobre votação — que ainda não havia ocorrido –, e não como impugnação de programas analisados — conforme enquadrava o cenário.
Com tal manobra, na função de juiz “auxiliar”, esse secretário desqualificou a advogada e o pedido, indeferiu e mandou arquivar tudo, como se os fatos narrados nos autos fossem irrelevantes.
Viomundo – O que ele deveria ter feito?
Pedro Rezende — Enviar esses autos para análise do Ministério Público, nomear um juiz Relator que daria parecer para julgamento em plenário.
Viomundo – Ao votar neste domingo, que garantia nós, eleitores, temos de que o nosso voto vai ser contabilizado adequadamente?
Pedro Rezende — Apenas a crença cega na cantilena dos feiticeiros da seita do santo byte.
Na minha opinião, a maior vulnerabilidade do nosso processo de votação sistema é o fetiche cultivado pelo TSE em torno da urna eletrônica. O TSE é a única Justiça no mundo que faz e julga eleições que ela mesma faz.  Esse fetiche produz, com ajuda de feiticeiros da seita do santo byte, essa mágica alegorização progressiva: de democracia representativa para tutelada.
Viomundo — Em que fases do processo há risco de fraude eleitoral? 
Pedro Rezende –Em qualquer das cinco etapas do processo de votação. A saber: desenvolvimento dos programas, preparação dos ambientes, carga das urnas, votação e totalização. Na fase de totalização, as fraudes podem ser tanto preparadas quanto praticadas, onde as formas possíveis são as mais certeiras e abrangentes.
Viomundo –Essas fraudes podem ser perpetradas por quem?
Pedro Rezende — Por quem tem acesso privilegiado para preparar ou operar o sistema de votação, de forma mais eficiente com divisão de tarefas em ações complementares. Nesse caso, até mesmo com a maioria na cadeia de comando, excluindo o topo e algum programador, sem saber que está participando ou contribuindo para isso.
Viomundo –  Que sistema é usado e quem o desenvolveu? 
Pedro Rezende — É usado o sistema de votação do TSE, concebido e desenvolvido em parte por ele, com terceirização de alguns componentes.
A fabricação e o sistema operacional das urnas, assim como o sistema  de instalação e segurança chamado SIS, são terceirizados.
As urnas são quase todas fabricadas pela empresa Diebold/Procomp, que tem ganho as concorrências para fornecimento das mesmas nos últimos dez anos. O sistema operacional que roda nela é uma versão do kernel Linux adaptado pela Secretaria de Informática do TSE.
Viomundo — O que significa o SIS?
Pedro Rezende — Segundo documentação disponível na internet, O SIS  – subsistema de instalação e segurança — é responsável pelo monitoramento e a segurança de todos os computadores integrados ao processo eleitoral no país.
O SIS ainda administra o atendimento à regulamentação do TSE. O sistema monitora todo o ciclo de vida da eleição, desde os cadastros dos eleitores e dos candidatos, à geração dos bancos de dados para as urnas eletrônicas, a recepção dos resultados e a transmissão da totalização, até a sua divulgação.
O desenvolvimento e manutenção do SIS foi terceirizado para a empresa Módulo em 2002, sem licitação, com oito prorrogações sucessivas de contrato. Se e como esse contrato é acompanhado e fiscalizado pelo contratante, nada transparece dos atos públicos dos corregedores eleitorais. E agora, nem mesmo advogados externos têm como saber, pois com a mudança para o prédio novo do TSE, eles tiveram o acesso bloqueado à rede interna, onde os feitos administrativos são registrados.
Viomundo — Aparentemente quem comanda, de fato, o sistema de votação são empresas privadas que atuam na área e o TSE seria uma espécie de rainha da Inglaterra. É isso mesmo?
Pedro Rezende –Esta é uma maneira emblemática de resumir o que está transparecendo do episódio da petição ao TSE, denunciando irregularidades e que foi arquivado.
Viomundo — O sistema de votação está há anos nas mãos de mãos de poucas empresas, que são dispensadas de licitação. Isso não é estranho?
Pedro Rezende –Do ponto de vista de quem acredita na propaganda institucional do TSE, sim.
Viomundo – O que cabe à Módulo e à Engetec nesta eleição?
Pedro Rezende – A Módulo é a empresa do programa que pode ser usado para iniciar fraudes por contaminação de urnas  – o Inserator CPT. Ela desenvolve, mantém e ajuda a operar o SIS, e que deveria responder por seu desempenho e efeitos colaterais.
Segundo o jornalista Luís Nassif, no artigo A imprensa e o estilo Dantas, o atual presidente da Módulo [Sérgio Thompson-Flores] confessou ter trabalhado para a Kroll.
Ou seja, era daquela organização multinacional surgida nos EUA para espionagem e operações gerais de guerra cibernética, que se envolveu num escândalo de traições e operações criminosas vindas à tona em 2008, por efeito da operação Satiagraha.
À Engetec cabe preparar as urnas para os dois turnos em sete estados da federação.
Ela pertence a um membro da campanha do candidato que subiu 14 pontos na véspera do 1º turno. [Observação do Viomundo: o professor refere-se, respectivamente, a Wilson Nélio Brumer, o "doutor Cemig", e a Aécio Neves]
Viomundo — O que o senhor acha de a eleição neste domingo estar nas mãos de uma empresa, cujo diretor-presidente é ficha suja,e de uma empresa já denunciada pelo Ministério Público Federal?
Pedro Rezende — O eleitorado que não acha nada precisa acordar. Pode vir depois a sentir saudades do nível de corrupção que queria ver varrido do mapa a qualquer custo em 2014, mesmo que com ajuda de empresas para fraude eleitoral.

DENÚNCIA GRAVE "ENGAVETADA": FRAUDE NAS ELEIÇOES 2014

O TSE E A DESCOBERTA DO PROGRAMA DE FRAUDE DAS URNAS ELETÔNICAS

Jornal GGN - Há menos de três meses, um jovem hacker recém formado pela Universidade de Brasília acessou o sistema das urnas eletrônicas no TSE e descobriu, entre 90 mil arquivos, um software que possibilita a instalação de programas fraudados: o “Inserator CPT”. A ação foi planejada pela CMind (Comitê Multidisciplinar Independente), formado por especialistas em tecnologia.
A advogada Maria Aparecida Cortiz, que participa do grupo, articulou a estratégia dentro do Tribunal Superior Eleitoral, representando o PDT, depois que o presidente da Corte Dias Toffolli anunciou que não abriria edital para testes nas urnas das eleições 2014. “Não vai fazer teste? Então vamos por um hacker lá dentro para descobrir o que tem de errado”, disse em entrevista ao GGN.
Cortiz descobriu outra brecha no sistema: além do Inserator, o programa comandado pela empresa Módulo Security S/A conforme relato do GGN a única proprietária do serviço por 13 anos com contratos irregulares – é transmitido de Brasília para os estados por meio da insegura rede da Internet.
As denúncias de irregularidades foram enviadas ao TSE em uma petição. Entretanto, a petição não virou processo e foi arquivada por um juiz da Secretaria de Informática. Além da omissão do próprio ministro Dias Toffoli, a advogada ainda denuncia o desaparecimento de quatro páginas do documento. “É o crime perfeito. O réu julga suas próprias ações”, conclui.
Leia a entrevista completa:
GGN: Como seria fazer uma auditoria preventiva para evitar as fraudes eleitorais?
O problema do TSE é a concentração do poder. Para fazer uma auditoria, temos os limitadores que eles próprios nos impõem.
Uma auditoria no software é inócua, porque é muito cara, muito demorada e existem sempre as cotas do fundo. E a gente não conseguiria ter certeza que tudo o que a gente pediu seria implementado e que estaria sendo usado no dia da votação.
GGN: E o processo de auditoria feito em janeiro de 2013, investigando as licitações da Módulo Security S.A.?
Todas as licitações foram feitas para manter a Módulo. Isso é fato, notório, público, por aquelas consultas que eu fiz nos Diários Oficiais, que são documentos públicos, que todos os procedimentos foram feitos para manter a empresa Módulo lá dentro, no TSE. O que é a empresa Módulo? É responsável pela segurança do sistema. É responsável pelos SIS, um sistema de instalação de segurança, é o primeiro sistema que confirma as assinaturas para validar os programas que são colocados na urna.
O TSE, com a concentração de poderes, não deixa a gente fazer nada e a gente não tinha mais solução para tentar mudar esse sistema. Aí eu propus para o grupo, que é o CMind [Comitê Multidisciplinar Independente], em que o Pedro Rezende e o Diego Aranha também trabalham, e que a gente milita. Propus a eles que a gente colocasse um hacker dentro do TSE. Eu falei: consigam a pessoa, que eu vou ficar com ele lá dentro, dar as dicas, porque, embora a minha formação não seja técnica, estou lá há muitos anos, eu sei como funciona.
O Diego e o Pedro escolheram um menino chamado Gabriel Gaspar, que foi aluno deles na UNB. Em agosto, conseguiu ir. Por orientação, ele foi trilhando o mesmo caminho do Diego no código fonte. Diego Aranha é aquele técnico da UNB, professor que descobriu o desembaralhamento dos votos, que dava para identificar o eleitor. Então, o Diego orientou, disse o caminho, o que era importante.
A gente descobriu, no meio de 90 mil arquivos, um artefato (a gente chamou assim) no sistema de segurança, que é desenvolvido pela Módulo. Achamos que aquilo era importante, e fizemos todo um estudo. Para que ele serve? O ministro [Toffoli] assina um programa, manda para os outros ministros, Ministério Público e OAB assinarem, envia esse programa para os estados, e só poderia funcionar nas urnas esses que vieram de Brasília, concorda? Só que usando o "Inserator" podem ser instalados programas na urna, assinados por esse artefato. Ele está apto a validar programas não oficiais. Foi uma descoberta muito importante. Isso foi agora, dia 4 de setembro.
Em 2013, eu não sabia como que eles faziam, quando eu fiz o estudo da licitação da Módulo, sabia que a empresa estava usando alguma coisa, mas não o que era. Neste ano, nas eleições 2014, eu descobri como o programa foi utilizado, lá em Londrina, em 2012: com o Inserator. A gente descobriu o nome dele e onde ele estava: dentro do sistema de segurança, é um subsistema.

GGN: E o resultado disso?
A partir daí, fiz uma petição com o ministro Dias Toffoli, explicando que, além disso, que é gravíssimo, tem outras vulnerabilidades. Descobrimos outra coisa muito, muito ruim: a Justiça Eleitoral não está usando mais aquela rede super segura, que sempre disseram que nada tem conexão com a internet, não é?
Só que eu pedi para fazer um teste lá [no sistema de urnas do TSE] e eles toparam, mas não sabiam a minha intenção com esse teste, não sabiam que eu estava com um hacker. Eu pedi para fazer o teste questionando se um computador que gera mídia – a mídia é aquele pendrive que vai carregar a urna – pode estar conectado à internet. Pedi: quero que façam o teste, um computador conectado e um não conectado. Aí eles falaram: nós vamos fazer, mas não tem sinal nenhum, porque nós usamos a internet.
Então, os programas que estão vindo para os estados, que são assinados, criptografados, vêm via internet. Não tem mais a rede hiper super segura. Eles próprios pagaram uma fortuna para abrir a rede, e abandonaram, porque ela não é segura de jeito nenhum.
Olha a situação: o Inserator existe, está dentro do SIS, o SIS é instalado no computador da Justiça Eleitoral, o computador da Justiça Eleitoral está conectado à internet. A pessoa que conhece o Inserator puxa um programa da Internet, as pessoas não sabem de onde veio aquele programa, assina no teclado e coloca na urna. Que dificuldades tem isso?
O partido político, o fiscal, o juiz que estiver lá não percebe. Não dá para perceber a diferença de colocar um programa original de um fraudado. Porque a justiça eleitoral confessou que precisa da Internet para gerar mídia.
GGN: Qual foi a consequência da petição?
Tudo que entra na Justiça vira processo. A minha petição foi para o juiz auxiliar secretário da presidência, julgada com um parecer da secretaria de informática, e mandada para o arquivo. Ela não tinha capa, não tinha número, só tinha número de protocolo, não virou processo. Eles tinham que, de qualquer maneira, desaparecer com isso, eles não podiam colocar como visível para outras pessoas. Tanto é que, você como jornalista, não encontra porque não fizeram número, não fizeram processo. É só um número de protocolo qualquer. [Anexo o acompanhamento processual no TSE]
Qual seria o trâmite, de acordo com a resolução: apresentada a impugnação, é escolhido um relator, o relator leva para a mesa, para julgar. E esse julgamento iria passar na televisão, ia ser público. Eles não podiam deixar isso acontecer, de jeito nenhum.
Então, foi grampeada a petição, com o parecer da secretaria de informática. O juiz indeferiu, mandou arquivar.
Nós fomos atrás desse processo. O parecer tem nove páginas, mas só tem cinco lá, o resto está faltando. Ninguém sabe onde está esse parecer. A gente está aguardando, para ver se eles acham o resto.
GGN: Não consegui encontrar o contrato da Módulo, ela venceu a licitação para as eleições de 2014?
Venceu. Eles fizeram uma coisa totalmente direcionada. A Módulo participa do projeto base, então só ela ganha [a licitação].
GGN: Por que os outros concorrentes não teriam critérios técnicos?
São eles que criam os critérios técnicos. Para ganhar. Então, não tem chance, não tem como ganhar. A Módulo tem contrato com todos os órgãos do governo. Não é só um, são todos.

GGN: Como mandou para o TSE, você poderia mandar esses documentos ao MPF, à OAB, para articular melhor a sua petição?
Eu mandei para a OAB, porque ela poderia mexer com isso. Mas o presidente do Conselho Federal da OAB [Marcus Vinicius Furtado Coêlho] falou uma coisa que eu quase morri do coração. Falou que as urnas brasileiras são exportadas para o mundo inteiro. Primeiro, que não é "TSE Limitada" e muito menos "S.A.". E outra, nenhum país do mundo aceita essas urnas. Então, eu fiz a petição, com a minha obrigação de ofício como advogada, entreguei para ele com as irregularidades. Mas ele não tomou conhecimento, não.

GGN: As auditorias podem ser feitas por qualquer órgão?
A lei 9.504 só permite que analisem os programas o Ministério Público, a OAB e Partidos Políticos. Então, embora eu faça parte do CMid, eu tenho que fazer parte de um partido político. Tanto que já sou filiada há muitos anos, mas não sou ligada ao PDT, não tenho nenhuma vinculação, a não ser esse trabalho de ir lá e fazer a análise de códigos.
A Justiça Eleitoral, de quando em quando, publica o edital de que vão existir testes. O Diego participou de um teste nas urnas de 2012, desembaralhou os votos e descobriu quem votava em quem. Também estávamos juntos, porque ele não poderia falar [por não ter a autorização do TSE]. Então eu fiquei do lado dele, escutei [as conclusões] e passei para frente. Teve que ter toda uma estratégia.
Este ano, o ministro Toffoli disse que não ia fazer teste. Não vai fazer teste? Então vamos por um hacker lá dentro para descobrir o que tem de errado.
GGN: Legalmente falando, é possível?
A lei fala que o TSE tem que apresentar os códigos fonte para mim. Eu fui com base na lei. Só que eles não sabiam da capacidade do menino, se eles soubessem teriam bloqueado. Porque é muito, muito restrito. O PDT tem outros técnicos, mas um ficou fora, e eu sou advogada, normalmente eu não sento nas máquinas. Só que este ano a gente mudou de estratégia. Eu fui sozinha e levei o menino, que eles nem sabiam quem era. Eles achavam que ele era do PDT, e não da UNB.
GGN: Essa sua petição não foi a público?
Foi, está dando uma repercussão boa, porque eu falei dela na Universidade Federal da Bahia. O Pedro fez um site, eu fiz o debate na Bahia. Não é a mesma divulgação que Justiça eleitoral dizendo que nada é conectado à internet.
Se não fosse verdade, eu já teria respondido a milhares de processos pela Polícia Federal. Não tem como dizer que não está lá dentro, o programa está lá dentro. 

FONTE: http://jornalggn.com.br/noticia/o-tse-e-a-descoberta-do-programa-de-fraude-nas-urnas-eletronicas

sábado, 25 de outubro de 2014

YOUSSEF: “O PLANALTO SABIA DE TUDO!” DELEGADO: “QUEM DO PLANALTO?” YOUSSEF: “LULA E DILMA”

FONTE: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/youssef-o-planalto-sabia-de-tudo-delegado-quem-do-planalto-youssef-lula-e-dilma

A Carta ao Leitor desta edição termina com uma observação altamente relevante a respeito do dever jornalístico de publicar a reportagem a seguir às vésperas da votação em segundo turno das eleições presidenciais: “Basta imaginar a temeridade que seria não publicá-la para avaliar a gravidade e a necessidade do cumprimento desse dever”. VEJA não publica reportagens com a intenção de diminuir ou aumentar as chances de vitória desse ou daquele candidato. VEJApublica fatos com o objetivo de aumentar o grau de informação de seus leitores sobre eventos relevantes, que, como se sabe, não escolhem o momento para acontecer. Os episódios narrados nesta reportagem foram relatados por seu autor, o doleiro Alberto Youssef, e anexados a seu processo de delação premiada. Cedo ou tarde os depoimentos de Youssef virão a público em seu trajeto na Justiça rumo ao Supremo Tribunal Federal (STF), foro adequado para o julgamento de parlamentares e autoridades citados por ele e contra os quais garantiu às autoridades ter provas. Só então se poderá ter certeza jurídica de que as pessoas acusadas são ou não culpadas.
Na última terça-feira, o doleiro Alberto Youssef entrou na sala de interrogatórios da Polícia Federal em Curitiba para prestar mais um depoimento em seu processo de delação premiada. Como faz desde o dia 29 de setembro, sentou-se ao lado de seu advogado, colocou os braços sobre a mesa, olhou para a câmera posicionada à sua frente e se pôs à disposição das autoridades para contar tudo o que fez, viu e ouviu enquanto comandou um esquema de lavagem de dinheiro suspeito de movimentar 10 bilhões de reais. A temporada na cadeia produziu mudanças profundas em Youssef. Encarcerado des­de março, o doleiro está bem mais magro, tem o rosto pálido, a cabeça raspada e não cultiva mais a barba. O estado de espírito também é outro. Antes afeito às sombras e ao silêncio, Youssef mostra desassombro para denunciar, apontar e distribuir responsabilidades na camarilha que assaltou durante quase uma década os cofres da Petrobras. Com a autoridade de quem atuava como o banco clandestino do esquema, ele adicionou novos personagens à trama criminosa, que agora atinge o topo da República.
Comparsa de Youssef na pilhagem da maior empresa brasileira, o ex-diretor Paulo Roberto Costa já declarara aos policiais e procuradores que nos governos do PT a estatal foi usada para financiar as campanhas do partido e comprar a fidelidade de legendas aliadas. Parte da lista de corrompidos já veio a público. Faltava clarear o lado dos corruptores. Na ter­ça-feira, Youssef apre­sentou o pon­­to até agora mais “estarrecedor” — para usar uma expressão cara à pre­sidente Dilma Rous­seff — de sua delação premiada. Perguntado sobre o nível de comprometimento de autoridades no esquema de corrupção na Petrobras, o doleiro foi taxativo:
— O Planalto sabia de tudo!
— Mas quem no Planalto? — perguntou o delegado.
— Lula e Dilma — respondeu o doleiro.
Para conseguir os benefícios de um acordo de delação premiada, o criminoso atrai para si o ônus da prova. É de seu interesse, portanto, que não falsifique os fatos. Essa é a regra que Yous­sef aceitou. O doleiro não apresentou — e nem lhe foram pedidas — provas do que disse. Por enquanto, nesta fase do processo, o que mais interessa aos delegados é ter certeza de que o de­poente atuou diretamente ou pelo menos presenciou ilegalidades. Ou seja, querem estar certos de que não lidam com um fabulador ou alguém interessado apenas em ganhar tempo for­necendo pistas falsas e fazendo acu­sações ao léu. Youssef está se saindo bem e, a exemplo do que se passou com Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobras, tudo indica que seu processo de delação premiada será homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Na semana passada, ele aumentou de cerca de trinta para cinquenta o número de políticos e autoridades que se valiam da corrupção na Petrobras para financiar suas campanhas eleitorais. Aos investigadores, Youssef detalhou seu papel de caixa do esquema, sua rotina de visitas aos gabinetes poderosos no Executivo e no Legislativo para tratar, em bom português, das operações de lavagem de dinheiro sujo obtido em transações tenebrosas na estatal. Cabia a ele expatriar e trazer de volta o dinheiro quando os envolvidos precisassem.
Uma vez feito o acordo, Youssef terá de entregar o que prometeu na fa­se atual da investigação. Ele já con­tou que pagava em nome do PT mesadas de 100000 a 150000 reais a parlamentares aliados ao partido no Congresso. Citou nominalmente a ex-mi­nistra da Casa Civil Gleisi Hoff­mann, a quem ele teria repassado 1 mi­lhão de reais em 2010. Youssef disse que o dinheiro foi entregue em um shopping de Curitiba. A senadora ne­gou ter sido beneficiada.
Entre as muitas outras histórias consideradas convincentes pelos investigadores e que ajudam a determinar a alta posição do doleiro no esquema — e, consequentemente, sua relevância pa­ra a investigação —, estão lembranças de discussões telefônicas entre Lula e o ex-deputado José Janene, à época líder do PP, sobre a nomeação de operadores do partido para cargos estratégicos do governo. Youssef relatou um episódio ocorrido, segundo ele, no fim do governo Lula. De acordo com o doleiro, ele foi convocado pelo então presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli, para acalmar uma empresa de publicidade que ameaçava explodir o esquema de corrupção na estatal. A empresa quei­xa­va-­se de que, depois de pagar de forma antecipada a propina aos políticos, tive­ra seu contrato rescindido. Homem da confiança de Lula, Gabrielli, segundo o doleiro, determinou a Youssef que captasse 1 milhão de reais entre as empreiteiras que participavam do petrolão a fim de comprar o silêncio da empresa de publicidade. E assim foi feito.
Gabrielli poderia ter realizado toda essa manobra sem que Lula soubesse? O fato de ter ocorrido no governo Dilma é uma prova de que ela estava conivente com as lambanças da turma da estatal? Obviamente, não se pode condenar Lula e Dilma com base apenas nessa narrativa. Não é disso que se trata. Youssef simplesmente convenceu os investigadores de que tem condições de obter provas do que afirmou a respeito de a operação não poder ter existido sem o conhecimento de Lula e Dilma — seja pelos valores envolvidos, seja pelo contato constante de Paulo Roberto Costa com ambos, seja pelas operações de câmbio que fazia em favor de aliados do PT e de tesoureiros do partido, seja, principalmente, pelo fato de que altos cargos da Petrobras envolvidos no esquema mudavam de dono a partir de ordens do Planalto.
Os policiais estão impressionados com a fartura de detalhes narrados por Youssef com base, por enquanto, em sua memória. “O Vaccari está enterrado”, comentou um dos interrogadores, referindo-se ao que o do­leiro já narrou sobre sua parceria com o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto. O doleiro se comprometeu a mostrar documentos que comprovam pelo menos dois pagamentos a Vaccari. O dinheiro, desviado dos cofres da Petrobras, teria sido repassado a partir de transações simuladas entre clientes do banco clandestino de Youssef e uma empresa de fachada criada por Vaccari. O doleiro preso disse que as provas desses e de outros pagamentos estão guardadas em um arquivo com mais de 10000 notas fiscais que serão apresentadas por ele como evidências. Nesse tesouro do crime organizado, segundo Youssef, está a prova de uma das revelações mais extraordinárias prometidas por ele, sobre a qual já falou aos investigadores: o número das contas secretas do PT que ele operava em nome do partido em paraísos fiscais. Youssef se comprometeu a ajudar a PF a localizar as datas e os valores das operações que teria feito por instrução da cúpula do PT.
Depois da homologação da de­lação premiada, que parece assegurada pelo que ele disse até a semana passada, Youssef terá de apresentar à Justiça mais do que versões de episódios públicos envolvendo a presidente. Pela posição-chave de Youssef no esquema, os investigadores estão con­fiantes em que ele produzirá as provas necessárias para a investigação prosseguir. Na semana que vem, Alberto Youssef terá a oportunidade de relatar um episódio ocorrido em março deste ano, poucos dias antes de ser preso. Youssef dirá que um integrante da ­coor­­denação da campanha presidencial do PT que ele conhecia pelo nome de “Felipe” lhe telefonou para marcar um encontro pessoal e adiantou o assunto: repatriar 20 milhões de reais que seriam usados na cam­panha presidencial de Dilma Rous­seff. Depois de verificar a origem do telefonema, Youssef marcou o encontro que nunca se concretizou por ele ter se tornado hóspede da Polícia Federal em Curitiba. Procurados, os defensores do doleiro não quiseram comentar as revelações de Youssef, justificando que o processo corre em segredo de Justiça. Pelo que já contou e pelo que promete ainda entregar aos investigadores, Youssef está materializando sua amea­ça velada feita dias atrás de que iria “chocar o país”.
DINHEIRO PARA O PT
Alberto Youssef também voltou a detalhar os negócios que mantinha com o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, homem forte da campanha de Dilma e conselheiro da Itaipu Binacional. Além de tratar dos interesses partidários com o dirigente petista, o doleiro confi rmou aos investigadores ter feito pelo menos duas grandes transferências de recursos a Vaccari. O dinheiro, de acordo com o relato, foi repassado a partir de uma simulação de negócios entre grandes companhias e uma empresa-fantasma registrada em nome de laranjas mas criada pelo próprio Vaccari para ocultar as operações. Ele nega
ENTREGA NO SHOPPING
Alberto Youssef confirmou aos investigadores o que disse o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa sobre o dinheiro desviado da estatal para a campanha da exministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann (PT-PR) ao Senado, em 2010. Segundo ele, o repasse dos recursos para a senadora petista, no valor de 1 milhão de reais, foi executado em quatro parcelas. As entregas de dinheiro foram feitas em um shopping center no centro de Curitiba. Intermediários enviados por ambos entregaram e receberam os pacotes. Em nota, a senadora disse que não recebeu nenhuma doação de campanha nem conhece Paulo Roberto Costa ou Alberto Youssef
ELE TAMBÉM SABIA
Durante o segundo mandato de Lula, o doleiro contou que foi chamado pelo presidente da Petrobras, José sergio Gabrielli, para tratar de um assunto que preocupava o Planalto. Uma das empresas com contratos de publicidade na estatal ameaçava revelar o esquema de cobrança de pedágio. Motivo: depois de pagar propina antecipadamente, a empresa teve seu contrato rescindido. Ameaçado pelo proprietário, Gabrielli pediu ao doleiro que captasse 1 milhão de reais com as empreiteiras do esquema e devolvesse a quantia à empresa de publicidade. Gabrielli não quis se pronunciar
CONTAS SECRETAS NO EXTERIOR
Desde que Duda Mendonça, o marqueteiro da campanha de Lula em 2002, admitiu na CPI dos Correios ter recebido pagamentos de campanha no exterior (10 milhões de dólares), pairam sobre o partido suspeitas concretas da existência de dinheiro escondido em paraísos fi scais. Para os interrogadores de Alberto Youssef, no entanto, essas dúvidas estão começando a se transformar em certeza. O doleiro não apenas confi rmou a existência das contas do PT no exterior como se diz capaz de ajudar a identifi cá-las, fornecendo detalhes de operações realizadas, o número e a localização de algumas delas.

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1999 - Um fotógrafo que fez a cobertura de uma intervenção cirúrgica para corrigir um problema de espinha bífida realizada no interior do útero materno num feto de apenas 21 semanas de gestação, numa autêntica proeza médica, nunca imaginou que a sua máquina fotográfica registaria talvez o mais eloquente grito a favor da vida conhecido até hoje.

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Fonte:www.apocalink.blogspot.com