sexta-feira, 30 de março de 2012

CRISTIANISMO PAGÃO? POR GLENN LUCKE

FONTE: iPRODIGO
Nota do tradutor: Estou postando duas análises do livro Cristianismo Pagão, de Frank Viola e George Barna. Antes que acusem o iPródigo de divulgar o institucionalismo, o tradicionalismo ou a religiosidade destituída de Cristo, deixo claro que não somos a favor de nenhuma prática antibíblica nas igrejas – chame-a de paganismo ou não.
Somos a favor, pelo contrário, da verdade, revelada em Cristo, e proclamada por seus apóstolos na Palavra. Por isso, vemos com preocupação a obra de Viola e Barna. Embora com boas intenções, os autores falham em apresentar dados confiáveis e verdadeiros. A igreja moderna não é perfeita e deve ser mudada. Mas é através dos princípios bíblicos: e muitas delas ainda vivem isso, com seus pastores, sermões, prédios e roupa de domingo.
Essa preocupação com a verdade gerou esse post especial com dois textos: um de Peter Jones, autor do livro A Ameaça Pagã , e especialista neste assunto, e fundador de uma organização que examina os efeitos da espiritualidade neopagã em nossa sociedade, capacitando as igrejas a combaterem esse tipo de pensamento; outro da equipe da Mars Hill Church, igreja de Mark Driscoll, que está em PDF, no fim do post, e depende grandemente de um confiável e  habilidoso historiador, Ben Witherington.
Por Peter Jones
Cristianismo Pagão: Explorando as raízes das práticas de nossas igrejas
Esse é um livro profundamente decepcionante e mal informado. Ou talvez você queira saber o que eu realmente penso!
O título, Cristianismo Pagão, engana, embora o subtítulo esteja claro. Sem dúvida, me pediram para criticar este livro devido aos muitos anos que passei estudando paganismo antigo e moderno. Portanto, grande foi minha surpresa ao descobrir a ausência de qualquer definição do termo. Exagero; há uma linha: “pagãos eram aqueles politeístas que seguiam aos deuses do Império Romano” (p.6). É isso, em um livro de 295 páginas sobre “cristianismo pagão”, que usa o termo para analisar o que está errado com virtualmente tudo da igreja atual. Uma linha mal examinada sobre o politeísmo romano é o que conseguimos como definição. Está ausente qualquer análise teológica da cosmovisão pagã geral, que constitui toda religião criada por homens. Está ausente também qualquer referência à ascensão do paganismo em nosso mundo contemporâneo, seja da variedade Deepak Chopra/Oprah Winfrey/Nova Espritualidade, ou da variedade popular em algumas partes da ala liberal do Movimento Emergente, que está levando grandes áreas do Evangelicalismo para os braços do liberalismo progressista cristão”. Portanto, trivializado, o termo “pagão” funciona meramente como um ataque contra tudo na igreja atual que Viola desaprova, como se vestir no domingo (p.145ss) ou programas da Escola Dominical (p.212). (Eu digo Viola porque claramente Barna só é chamado de co-autor pelo prefácio de seis páginas que escreve e pelo peso promocional que traz ao projeto).
Primeiro, o livro encontra paganismo na igreja como resultado da adoção do Cristianismo pelo imperador pagão Constantino no quarto século d.C. O livro sugere que esse período na história da Igreja, sem dúvida, explica muitas das distorções da ortodoxia bíblica no que se tornou conhecido como Catolicismo. A partir dessa época, vemos a mistificação da missa, o desenvolvimento de uma casta sacerdotal e clerical, e o desenvolvimento de uma política eclesiástica hierárquica e imperialista. Entretanto, mesmo aqui ninguém poderia  delinear um simples e claro traço de paganismo como cosmovisão religiosa. O sacerdócio é uma ideia definida no Antigo Testamento, e enquanto possamos argumentar que a Igreja Medieval se apropriou erroneamente do sistema veterotestamentário, não foi necessariamente por razões “pagãs”. A despeito do que Viola afirma, hierarquia é um valor perfeitamente bíblico, e o que ele pensa ser algo essencial para a igreja do Novo Testamento, a saber,o igualitarismo, é, em última análise, um ideal pagão muito valorizado.
Esse termo mal examinado é usado como um chicote para expulsar do templo todos os cambistas e suas atividades ímpias. Além de “vestir-se para a igreja” e a Escola Dominical (“expandir o crânio”, p.199), atividades chamadas pagãs incluem: a noção de um “salvador pessoal” (190); a liturgia (mesmo o sanduíche hino-oração-hino); o sermão, o ministro ordenado e assalariado ou “ofício pastoral” (136); becas; pastores de juventude; comunidades lideradas por presbíteros; batismo; a ceia do Senhor (“um estranho rito ao estilo pagão”, p.197); dar ofertas e dizimar; denominações; faculdades e seminários bíblicos; instrumentos; edifícios eclesiásticos e hinos, e corais.
Uma afirmação é impressionante por sua pretensão de onisciência (infelizmente, caracteriza muitas das generalizações de Viola): diminuindo o lugar do sermão no culto cristão, Viola revela que “…a verdade é que o sermão contemporâneo pregado toda semana… é frequentemente impraticável… [e] tem pouco poder para equipar o povo de Deus para seu serviço e funcionamento espirituais” (98-99). Ele também “sabe” que “o culto da manhã de domingo é vergonhosamente chato” (76). Como ele sabe? Se esses julgamentos de Barna têm dados de pesquisa para apoiá-los, eles não são mencionados!
Tudo deve mudar, portanto o ataque de Viola se torna muito mais amplo; mas, infelizmente, não é amplo o bastante. Quando ele não pode encontrar uma causa “pagã”, forçará o Antigo Testamento. Mas, é claro, há uma coisa que podemos dizer confiantemente sobre o Antigo Testamento – ele, em nenhum sentido, é pagão.
Tudo que não se encaixa com a idéia altamente pessoal, não-teológica e emocional da verdadeira Igreja leva um chute. Essa é a parte decepcionante. Um assunto teológico e exegético tão importante não é seriamente defendido, e depende grandemente das preferências subjetivas de Viola pelo excitante e inesperado. É útil saber que Viola é o autor de So You Want to Start a House Church? First Century Styled Church Planting for Today [Então você quer começar uma igreja em casa? Plantação de igrejas estilo primeiro século para hoje] (Jacksonville, Fl.: Present Testimony Ministry, 2003). Como ele mesmo diz, esse é o verdadeiro objetivo que direciona o livro: “escrevemos esse livro por uma razão… acreditamos que essa é a visão de Deus para toda igreja…” (250). Qual é essa visão? “Encontros informais permeados com uma atmosfera de liberdade, espontaneidade e alegria… encontros abertamente participativos”, com “nenhuma ordem de culto”. Essa “edificação mútua e orgânica” não abre espaço para “cerimônias humanas” (234), isto é, sermões e pregadores. Ao invés disso, “o Senhor Jesus Cristo… invisivelmente” (234), por meio de “todo membro operante de seu corpo… [leva os crentes a experimentar] o coração pulsante de Deus” (246) em “uma dinâmica gloriosa” (167). Todos os outros tipos de igreja são chatas e “pagãs”.
Uma nota positiva que guardo dessa difícil leitura é o lembrete implícito para todas as igrejas, de maneiras apropriadas e criativas, para praticarem a doutrina do sacerdócio de todos os crentes. Por exemplo, achar um lugar para o testemunho pessoal e a reação aos sermões seriam formas práticas de dar mais que apoio formal a essa clássica doutrina reformada.
O apóstolo Paulo dá a melhor definição de paganismo (e nós realmente precisamos dela no mundo de hoje!), a saber, a adoração e o culto da criação ao invés do Criador (Romanos 1.25). Aqui está uma comparação explícita entre o teísmo cristão e o monismo pagão, entre a verdade da distinção Criador/criatura, e a  mentira da divindade da natureza, pregada pelos profetas da Nova Espiritualidade. Deste verdadeiro paganismo, Viola parece terrivelmente ou ingenuamente ignorante. O que poderia ser um livro significante, como a obra ambiguamente sugere, por conter uma solene advertência contra as rotas do neopaganismo dentro da cultura e da igreja atuais, infelizmente conseguirá fazer o extremo oposto. Ao evacuar o termo “pagão” de qualquer conteúdo teológico verdadeiro, e ao falhar em identificar a reemergência da idolatria antiga na forma da espiritualidade mística moderna, esse livro, com o nome de Barna decorado na capa, simplesmente assegurará que muitos serão imunizados de ver o problema real, ou seja, a invasão do verdadeiro “paganismo cristão”, que, como a próxima grande apostasia, ameaçará a igreja em suas próprias bases. Disto, os encontros “vivos e pulsantes” de Viola não nos salvarão.
Traduzido por Josaías Jr | iPródigo | Versão original aqui 
FONTE: IPRODIGO

quinta-feira, 29 de março de 2012

ESCRAVOS POR AMOR – POR LUCIANO SUBIRÁ

Conta-se que dois jovens morávios souberam que numa ilha no leste da Índia havia três mil escravos pertencentes a um ateu britânico. Sem permissão de irem para lá como missionários, eles decidiram vender a si mesmos como escravos e usar o dinheiro para pagarem as passagens para a ilha. No dia da partida, as suas famílias e os seus amigos estavam reunidos no porto, sabendo que, após a sua partida, jamais os veriam novamente. Indagados sobre a razão que os levava a uma decisão tão extrema assim, eles permaneceram calados. No entanto, quando o barco estava se afastando, os dois rapazes gritaram: “Que através das nossas vidas o Cordeiro que foi imolado receba a recompensa pelo Seu sacrifício!” (Fonte: site da Editora Ultimato; texto de Enedina Sacramento)
Para mim, este relato é profundamente comovente e inspirador. Ao mesmo tempo, no entanto, ele faz com que eu me sinta envergonhado. A história diz que os morávios enviaram milhares de missionários a várias partes do mundo. Eram pessoas que desistiam dos seus sonhos, que renunciavam o privilégio de viverem com as suas famílias e tantas outras coisas das quais a nossa geração se recusa a abrir mão! A chama missionária precisa ser reacendida na Igreja do Senhor Jesus em nossos dias! Estes morávios fizeram tanto para Deus, apesar de terem tão pouco. Em contrapartida, nós temos feito tão pouco, apesar de termos muito!
Mas o que diferencia estes irmãos da nossa geração atual? Eu não creio que eles nasceram de novo com algum tipo de “DNA espiritual” mais avançado. Também não creio que o chamado divino tenha sido mais forte para eles do que para outros, pois Deus não faz acepção de pessoas. Além do fato de que os morávios oravam muito (eles chegaram a orar cem anos ininterruptamente – que é a receita divina para que haja mais obreiros para a Seara [Mt 9.38]), eu creio que estes irmãos morávios tinham uma mentalidade diferente, uma mentalidade de tanto amor e de entrega que eles se dispunham a viverem como escravos por amor a Cristo e à Sua causa.
Enquanto eu refletia sobre este episódio dos dois jovens morávios e as características deste povo (que marcou o seu tempo e a sua geração) eu percebi o quanto que a atitude deles está ligada a um princípio tremendo – de amor a Deus – revelado nas Escrituras: o princípio do escravo por amor (ou do servo da orelha furada). Observemos o que diz a Palavra de Deus:
“São estes os estatutos que lhes proporás: Se comprares um escravo hebreu, seis anos servirá; mas, ao sétimo, sairá forro, de graça. Se entrou solteiro, sozinho sairá; se era homem casado, com ele sairá sua mulher. Se o seu senhor lhe der mulher, e ela der à luz filhos e filhas, a mulher e seus filhos serão do seu senhor, e ele sairá sozinho. Porém, se o escravo expressamente disser: Eu amo meu senhor, minha mulher e meus filhos, não quero sair forro. Então, o seu senhor o levará aos juízes, e o fará chegar à porta ou à ombreira, e o seu senhor lhe furará a orelha com uma sovela; e ele o servirá para sempre.” (Êxodo 21.1-6)
Confesso que este texto me deixou confuso por muito tempo. Ver a escravidão presente na cultura dos povos antigos (tanto do Antigo como do Novo Testamento) é uma coisa; ver Deus regulamentando as leis da escravidão é outra bem diferente! Eu analisava este trecho bíblico e ficava receoso de que a escravidão, que graças a Deus é algo que não mais toleramos hoje, fosse algo respaldado pelo Senhor. Embora o propósito desta lei fosse impedir que a escravidão fosse praticada sem misericórdia, ainda assim a ideia de um homem servindo a outro era algo que me incomodava.
Entretanto, descobri que muitas coisas com as quais o Senhor teve que lidar com o Seu povo não eram necessariamente a Sua vontade, como é o caso da poligamia – tolerada por muito tempo, mas depois proibida por Deus. Creio que é assim que devemos olhar para a questão da lei do servo da orelha furada.
Por que Deus estabeleceria uma lei como essa? Como isso deve falar ao nosso coração? Uma vez que a Lei não tem a imagem exata das coisas e sim a sombra de bens vindouros (Hb 10.1), devemos nos questionar: “Como devemos nos relacionar com esses trechos do Antigo Testamento? Paulo disse aos irmãos coríntios que o mandamento “não atarás a boca ao boi que debulha” (1 Co 9.9,10) foi dado pelo Senhor por causa de nós, e não por causa dos bois! Embora à primeira vista o assunto em questão pareça ser a alimentação dos bois apenas, a projeção de Deus para os dias da Nova Aliança, para os dias em que vivemos hoje, é outra: o sustento dos obreiros! Assim também é com a lei do servo da orelha furada. O Pai Celestial está indo muito além dos dias da Lei Mosaica e abordando algo importante sobre o nosso relacionamento com Ele hoje.
Muitos não enxergam a verdade do senhorio de Jesus sobre as suas vidas. E até mesmo nós, que a enxergamos, precisamos crescer no nível de entendimento deste nosso relacionamento com o Senhor. Ao mesmo tempo em que Ele é o nosso Pai Celestial e nós somos os Seus amados filhos e herdeiros, Deus também é o Senhor das nossas vidas e nós somos os Seus servos! Lembrando, é claro, que a palavra “servo” significa “escravo”! Isto é exatamente o que somos como consequência da redenção de Deus em nossas vidas.
ENTENDENDO A REDENÇÃO
A fim de podermos entender a visão do senhorio de Deus em nossas vidas, bem como a nossa condição de servos (escravos) Seus, é preciso que estabeleçamos antes um fundamento claro do que a Bíblia ensina sobre “redenção”.
Para muitos cristãos, a palavra “redenção” não significa nada mais do que “perdão dos pecados” ou “salvação”. Mas o seu significado vai muito além disso. A palavra “redenção” significa “resgate” ou “remissão”. Ela significa “readquirir uma propriedade perdida”. Antes de Deus estabelecer algumas verdades no Novo Testamento, Ele determinou que elas fossem ilustradas no Antigo Testamento:
“Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente, eles oferecem.” (Hebreus 10.1 – Tradução Brasileira)
A sombra é diferente da imagem real que a projeta. Assim também, as ordenanças da Antiga Aliança (práticas literais) tinham características semelhantes às dos princípios que Deus revelaria nos dias da Nova Aliança (práticas espirituais). A circuncisão deixou de ser literal e passou a ser uma experiência no coração (Rm 2.28,29). A serpente que Moisés levantou no deserto tornou-se uma figura da obra de Cristo na Cruz (Jo 3.14). Assim também, outros detalhes da Lei que envolviam comida, bebida e dias de festa, começaram a ser vistos não como ordenanças literais, pelas quais quem não as praticasse poderia ser julgado, mas como uma revelação de princípios espirituais, cabíveis na Nova Aliança:
“Ninguém, portanto, vos julgue pelo comer, nem pelo beber, nem a respeito de um dia de festa, ou de lua nova ou de sábado, as quais coisas são sombras das vindouras, mas o corpo é de Cristo.” (Colossenses 2.16,17)
É desta forma que precisamos olhar para a lei da redenção no Antigo Testamento. Durante anos Deus fez com que o povo praticasse uma encenação do que Ele mesmo um dia faria conosco. Foi assim com o sacrifício do cordeiro que os israelitas repetiam anualmente em várias cerimônias; por fim, vemos João Batista apontando para Jesus e dizendo: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” (Jo 1.29). Paulo se referiu a Jesus como o Cordeiro Pascal (1 Co 5.7). Vemos nestas passagens que as práticas repetidas por centenas e centenas de anos tinham por objetivo fazer com que eles entendessem uma figura que somente seria revelada posteriormente. Com a Redenção não foi diferente. O Livro de Rute nos mostra Boaz resgatando (ou redimindo) as propriedades de Noemi. Ele estava readquirindo uma posse perdida.
Toda dívida tinha que ser paga. Se um indivíduo não tivesse recursos para honrar os seus compromissos, ele deveria dar os seus bens em pagamento. Se estes não fossem suficientes, ele também deveria entregar as suas terras. E, se elas ainda não bastassem para a quitação da dívida, o próprio indivíduo (e às vezes até a sua família) deveria ser dado como pagamento. Isto faria dele um escravo. Lemos em 2 Reis 4 que uma mulher viúva, que fora casada com um dos filhos dos profetas, perderia os seus filhos, pois seriam levados como escravos se ela não pagasse a sua dívida. E, quando isto acontecia com alguém, só havia duas formas de esta pessoa sair da condição de escravidão: ou alguém pagava a sua dívida (um redentor) ou ela esperava nesta condição até que chegasse o Ano do Jubileu (que se repetia a cada cinquenta anos). Veja o que a Lei Mosaica dizia sobre isto:
“Se teu irmão empobrecer e vender alguma parte das suas possessões, então virá o seu resgatador, seu parente, e resgatará o que seu irmão vendeu. Se alguém não tiver resgatador, porém vier a tornar-se próspero e achar o bastante com que a remir, então contará os anos desde a sua venda, e o que ficar restituirá ao homem a quem vendeu, e tornará à sua possessão. Mas, se as suas posses não lhe permitirem reavê-la, então a que for vendida ficará na mão do comprador até ao Ano do Jubileu; porém, no Ano do Jubileu, sairá do poder deste, e aquele tornará à sua possessão.” (Levítico 25.25-28)
A redenção era o pagamento da dívida feito por um parente próximo. Por meio do pagamento ele comprava de volta o que se perdera. Então a pessoa que fora escravizada deixava de pertencer a quem antes ela devia e a quem servia.
Por exemplo: se eu me endividasse a ponto de perder todas as minhas posses e ainda ser levado como escravo, e, se o meu irmão me resgatasse, eu não deixaria de ser escravo! Eu apenas mudaria de amo! Eu agora passaria a ser escravo do meu irmão, porque ele me comprou! Qual é então o proveito disso? De que adianta ficarmos livres de um para nos tornarmos escravos de outro? A diferença era que o novo dono era um parente que pagou essa dívida por amor (Um escravo normalmente não valia tanto.), e, justamente por causa do seu amor, ele trataria o escravo com brandura, com misericórdia.
O QUE CRISTO FEZ POR NÓS
Foi exatamente isto que Jesus fez por nós. Cristo nos comprou para Deus através da Sua morte na Cruz:
“… porque foste morto e com teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação, e para o nosso Deus os constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra.” (Apocalipse 5.9b,10)
O homem tornou-se um escravo de Satanás quando se rendeu ao pecado no Jardim do Éden. A Bíblia declara que aquele que é vencido em algo torna-se escravo de quem o vence (2 Pe 2.19), e foi exatamente isto que aconteceu com o primeiro casal. Eles foram separados da glória de Deus. Eles perderam a filiação divina. Adão foi chamado “filho de Deus” (Lc 3.38), mas esta condição não foi mantida. Quando Jesus veio ao mundo, Ele foi chamado de “o Filho Único de Deus” (Jo 3.16), mas Ele veio mudar esta condição e passou a ser o “Primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.29). O Diabo se assenhoreou do homem a da Terra, que havia sido dada ao homem (Sl 115.16), e ele afirmou isto para Jesus na tentação do deserto (Lc 4.6). Mas Jesus veio pagar a nossa dívida do pecado, e, ao fazê-lo, garantiu a nossa libertação das mãos de Satanás:
“Ele nos resgatou do poder das trevas e nos trasladou para o reino do seu Filho muito amado, no qual temos a nossa redenção, a remissão dos nossos pecados.” (Colossenses 1.13,14 – TB)
Observe o termo “resgatou”, que aparece quando o apóstolo está falando de sermos tirados do Reino das Trevas e de sermos levados para o Reino do Filho de Deus. Em seguida ele afirma o seguinte: “no qual temos a nossa “redenção”! A Redenção foi o ato de compra, do pagamento da dívida do pecado:
“Tendo cancelado o escrito de dívida que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era contrário, removeu-o inteiramente, cravando-o na cruz; e tendo despojado os principados e potestades, os exibiu abertamente, triunfando deles na mesma cruz.” (Colossenses 2.14,15 – Tradução Brasileira)
O Texto Sagrado revela que Jesus despojou os príncipes malignos. Segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, “despojar” significa “privar da posse; espoliar, desapossar”. Isto faz com que questionemos o quê, exatamente, Jesus tirou destes principados malignos. O que eles possuíam que pudesse interessá-Lo? Nada, a não ser o senhorio sobre as nossas vidas! O despojo somos nós, que fomos comprados por Ele para Deus e a partir de então passamos a ser propriedade de Deus. É exatamente assim que as Escrituras se referem a nós. Somos chamados de propriedade de Deus:
“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.” (1 Pedro 2.9)
Repetidas vezes encontraremos a ênfase de que Cristo nos comprou para Si. E o preço foi o Seu próprio sangue!
“Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo.” (1 Pedro 1.18,19)
Portanto, quando Jesus nos comprou, Ele nos livrou da escravidão do Diabo, mas nos fez escravos de Deus! Coisa alguma que possuímos é, de fato, nossa exclusivamente. Nem as nossas próprias vidas pertencem a nós mesmos! Somos propriedade de Deus. Ele é o nosso Dono. Consequentemente, tudo o que nos pertence na realidade pertence a Ele!
Referindo-se ao Espírito Santo em nós, Paulo O chamou de “o penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus” (Ef 1.14 – ARC). Observe que o termo “redenção” aparece associado aos termos “herança” e “possessão”, pois é disto que o Princípio de Redenção sempre trata: o resgate da propriedade! O que aconteceu foi que passamos por uma troca de “dono”. Agora pertencemos ao Senhor!
ESCRAVOS DE CRISTO
Vamos observar mais uma vez o texto que fala do escravo por amor:
“São estes os estatutos que lhes proporás: Se comprares um escravo hebreu, seis anos servirá; mas, ao sétimo, sairá forro, de graça. Se entrou solteiro, sozinho sairá; se era homem casado, com ele sairá sua mulher. Se o seu senhor lhe der mulher, e ela der à luz filhos e filhas, a mulher e seus filhos serão do seu senhor, e ele sairá sozinho. Porém, se o escravo expressamente disser: Eu amo meu senhor, minha mulher e meus filhos, não quero sair forro. Então, o seu senhor o levará aos juízes, e o fará chegar à porta ou à ombreira, e o seu senhor lhe furará a orelha com uma sovela; e ele o servirá para sempre.” (Êxodo 21.1-6)
A partir do entendimento de redenção fica mais fácil entendermos a nossa posição de servos, de escravos do Senhor. Contudo, textos como este nos ajudam a entendermos melhor estas verdades espirituais. O servo da orelha furada era conhecido na sociedade dos seus dias como alguém que era escravo por decisão própria. Onde quer que ele fosse, aquela orelha furada atrairia a atenção dos outros! No momento em que eu estou escrevendo este capítulo, eu estou na cidade de Arusha, na Tanzânia, numa base de missionários que trabalham entre o povo massai. Nas reuniões que temos feito aqui vemos muitos homens de orelha furada, fruto de um alargador que já não usam mais em suas orelhas. Eu diria que é praticamente impossível não reparar no furo que há em suas orelhas! E isto me fez pensar no servo que, por amor, furava a sua orelha numa atitude de entrega permanente. Em qualquer lugar em que ele chegasse, as pessoas saberiam imediatamente que ele era um escravo que decidiu ser escravo quando não tinha a obrigação de ser escravo. Eu acho tremendo o paralelo espiritual que encontramos nesta história!
A verdade é que, ainda que por direito de compra (pela Redenção) o Senhor seja o nosso proprietário, Ele não impõe o Seu senhorio sobre as nossas vidas. Todos fomos libertos por Cristo da escravidão (Gl 4.7), mas podemos assumir voluntariamente esta posição por amor (E de fato é isto que Deus espera de nós!). Quase todas as vezes que a palavra “escravo” (ou “servo”, seu sinônimo) aparece no Novo Testamento é a tradução da palavra grega “doulos”, que significa “escravo, servo, homem de condição servil, atendente”. Somos chamados pelas Sagradas Escrituras de “escravos de Cristo”:
“Porque o que foi chamado no Senhor, sendo escravo, é liberto do Senhor; semelhantemente, o que foi chamado, sendo livre, é escravo de Cristo.” (1 Coríntios 7.22)
Escravos de Cristo! É o que somos! Todas as vezes que os apóstolos se chamavam de “servos do Senhor” (bem como a outros) é este o conceito que eles estavam comunicando.
Vamos pensar um pouco a respeito do servo da orelha furada. Durante seis anos ele serviu a seu senhor, sabendo que no sétimo ano estaria livre. Eu fico pensando que eu, nas mesmas condições, já estaria contando os dias para celebrar a minha liberdade com uma grande festa! É o tipo de pensamento mais natural que podemos ter. O que é incomum é a ideia de desejarmos ser escravos sem que isto seja obrigado. Que conceito é este, abordado por Deus, de nos tornarmos escravos por amor?
Eu creio que isto é uma projeção simbólica do nosso relacionamento com Deus. A Palavra de Deus declara: “Tudo quanto foi escrito, para nosso ensino foi escrito” (Rm 15.4). O Senhor Jesus conquistou o direito legal de ser o nosso Dono, Amo e Senhor. Contudo, Ele prefere não usar deste direito como um conquistador de nossas vidas. Cristo prefere que, quando a liberdade nos é oferecida, nós escolhamos servi-Lo. O servo da orelha furada não permaneceria com o seu senhor por obrigação, e sim por amor, pois, diferentemente de Satanás, que oprime os seus escravos, Deus ama e respeita profundamente os que O servem!
A única razão para alguém permanecer escravo depois dos seis anos de servidão seria fazer isto por amor. O texto bíblico diz: “Porém, se o escravo expressamente disser: Eu amo meu senhor, minha mulher e meus filhos, não quero sair forro.” Note que ainda que o fato de ele ter família (mulher e filhos, que não poderiam acompanhar o servo ao ser liberto) seja mencionado, a expressão “eu amo meu senhor” é o que vinha em primeiro lugar. A decisão partia de um sentimento que, acima de tudo, envolvia o senhor daquele servo.
Se aquele senhor oprimisse duramente ao seu escravo naqueles seis anos, é lógico que ele não desejaria continuar a seu serviço quando chegasse o tempo da sua liberdade. Mas vemos na Bíblia que alguns senhores tratavam os seus servos com muito respeito e dignidade. Veja, por exemplo, o caso de Abraão, o qual, antes de Isaque nascer, havia feito o seu servo Eliézer o seu herdeiro. Até mesmo na hora de buscar uma esposa para Isaque, Abraão fez com que o seu servo jurasse que não traria uma mulher que não fosse da parentela do seu senhor. Se Abraão o tratasse apenas como escravo, ele simplesmente teria dado uma ordem. Ao pedir um juramento, o Pai da Fé o tratou de forma diferenciada!
O padrão de sermos escravos por amor se estende à Nova Aliança e é encontrado no ensino dos apóstolos. Observe o que Paulo declarou sobre isto:
“Mas o que para mim era lucro passei a considerá-lo como perda por amor de Cristo; sim, na verdade, tenho também como perda todas as coisas pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como refugo, para que possa ganhar a Cristo.” (Filipenses 3.7,8)
Ele também nos mostrou que a nossa atitude de entrega a Deus também é baseada unicamente no amor:
“Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte o dia todo; fomos considerados como ovelhas para o matadouro.” (Romanos 8.36)
Quando o senhor foi bondoso e generoso com o seu servo durante aqueles seis anos, e o escravo “estava bem” neste relacionamento, então era natural que ele quisesse permanecer como escravo. A decisão de ser escravo para sempre tornava-se compreensível quando o servo sabia que o seu padrão de vida como servo do seu senhor era muito superior ao que ele tinha quando era livre.
“Mas se ele te disser: Não sairei de junto de ti; porquanto te ama a ti e a tua casa, por estar bem contigo; então tomarás uma sovela, e lhe furarás a orelha contra a porta, e ele será teu servo para sempre; e também assim farás à tua serva.” (Deuteronômio 15.16,17)
O texto diz que a decisão de ele permanecer escravo era devida ao amor. Mas o que gera esta resposta de amor? O versículo acima usa a expressão “por estar bem contigo”. Qualquer bondade que o servo manifestasse para com o seu senhor não era mais do que obrigação. Por outro lado, o senhor não tinha nenhuma obrigação de tratar bem o seu servo, mas, quando assim o fazia, ele conquistava o coração do seu escravo.
Semelhantemente, o que nos leva a amarmos ao Senhor Jesus? É o entendimento do Seu amor por nós. Quando entendemos o quanto Ele nos ama, somos constrangidos a uma resposta de amor:
“Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.” (2 Coríntios 5.14,15)
Falarei mais sobre isso no Capítulo “Dívida de Gratidão”, mas cabe aqui lembrarmo-nos de que “nós O amamos porque Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4.19). O servo da orelha furada decidia pela escravidão vitalícia como um ato de amor. E isto o levava a fazer duas coisas:
1. Renunciar a sua liberdade;
2. Viver para obedecer a seu senhor.
Vejamos como estes princípios estão relacionados com a caminhada cristã hoje:
RENUNCIANDO A SUA LIBERDADE
A primeira coisa que o escravo por amor fazia era renunciar a liberdade a que tinha direito e decidir, por sua vontade própria, permanecer na servidão.
A nossa experiência com Cristo inclui, além do perdão dos nossos pecados e da nossa salvação eterna, o fato de abrirmos mão do controle das nossas vidas e a nossa rendição ao senhorio d’Ele:
“Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação.” (Romanos 10.9,10)
O entendimento do senhorio de Cristo tem sido roubado da atual geração de crentes. Pregamos que as pessoas precisam aceitar a Jesus como seu Salvador. Mas o ensino bíblico vai muito além disso! Temos que confessar a Jesus como nosso SENHOR! A consequência de nos rendermos ao Seu senhorio é a salvação. A Palavra de Deus diz que nós temos que confessá-Lo como Senhor (Dono, Amo) das nossas vidas. Este é o reconhecimento da Redenção: que Ele nos comprou e que somos propriedade Sua. Somos Seus servos.
Caminharmos com Cristo significa desistirmos de sermos donos da nossa própria vida e entregarmos o controle absoluto a Deus. Atualmente, muitas pessoas estão tentando adaptar o Evangelho às suas vidas, mas isto é impossível! As nossas vidas é que devem se ajustar ao Reino de Deus e aos Seus princípios! Entrar no Reino de Deus é algo mais profundo do que o que temos percebido. Envolve a entrega total, irrestrita, das nossas vidas.
Para entendermos melhor esta profunda dimensão de entrega, eu gostaria de fazer uma pergunta importante e analisar biblicamente a sua resposta. Tanto a pergunta como a resposta envolvem verdades que deveríamos entender melhor e pregar aos outros.
“Quanto custa o Reino de Deus?”
“Tudo o que você tem!”
Veja o que Jesus ensinou sobre isso:
“O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu. E, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo. O reino dos céus é também semelhante a um que negocia e procura boas pérolas; e, tendo achado uma pérola de grande valor, vende tudo o que possui e a compra.” (Mateus 13.44-46)
Observe as palavras: “O reino dos céus é semelhante a um tesouro oculto no campo… vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo.” Nós sabemos que a salvação não pode ser comprada por ninguém. Na verdade, foi Deus que, através da morte de Jesus Cristo na Cruz, nos comprou! Mas, o fato de reconhecermos o ato divino de redenção, de resgate das nossas vidas, significa reconhecermos o Seu direito de compra. E o reconhecimento de que Ele agora é o Dono começa pela nossa desistência de tentarmos ser donos de nós mesmos! O fato de abrirmos mão de tudo o que somos e temos é o reconhecimento de que, agora, Jesus é o nosso Amo e Senhor!
Servirmos a Cristo implica, necessariamente, em desistirmos de tudo o que somos e temos para vivermos de forma intensa e devotada para Ele! É isto o que o apóstolo Paulo declara:
“Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo.” (Filipenses 3.7,8)
Atente para esta frase: “por amor do qual perdi todas as coisas”. É claro que o apóstolo não está reclamando pelo fato de que estas coisas foram arrancadas dele. Ele está dizendo que perdeu tudo por amor; em outras palavras, ele desistiu, abriu mão de tudo por causa de Jesus!
A consciência do senhorio de Cristo se encarregará de nos levar a deixarmos de viver para nós mesmos e de fazer com que passemos a viver para Ele:
“Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus.” (Atos 20.24)
Não somos mais senhores de nós mesmos. Não estamos mais no controle das nossas vidas. Precisamos aprender a viver para cumprirmos a vontade de Deus, e não para os nossos próprios planos e desejos:
“Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos, e teremos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina que aparece por instante e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo.” (Tiago 4.13-15)
Ser escravo por amor significa renunciar a própria liberdade e viver para cumprir a vontade do nosso Senhor e Salvador!
MAIS QUE ADORAÇÃO, OBEDIÊNCIA!
Recordo-me que, em fevereiro de 2002 o Senhor me levou a liberar uma palavra profética ao Pastor Cris Batiston, conhecido ministro de louvor e adoração no Brasil, dizendo-lhe o seguinte: “O Senhor não o levantou somente para ensinar o Seu povo a adorar, mas principalmente para ensiná-lo a amar ao Senhor Jesus!”
Desde essa ocasião, esta frase me deixou muito pensativo, pois eu sempre acreditei que a adoração fosse uma tremenda expressão do nosso amor a Deus. No entanto, o fato é que nem sempre a adoração de alguém é uma expressão de amor. Todo aquele que ama a Deus certamente O adorará, mas nem todo aquele que adora a Deus necessariamente O ama ou expressa amor a Ele por meio da adoração!
Muitos têm declarado, de forma equivocada, que a maior expressão de amor que podemos dar a Deus é através da adoração, mas isso não é verdade. Por mais preciosa e poderosa que a adoração possa ser, há algo que Deus espera mais de nós do que a adoração: é a obediência!
Quando analisamos a figura bíblica do servo da orelha furada, vemos que o seu ato de amor, além de levá-lo a renunciar a sua liberdade, o introduzia numa condição de plena obediência ao seu senhor. Esta é uma das características mais fortes que encontramos neste escravo por amor. Um servo deve obediência ao seu senhor. O próprio Jesus declarou que Ele esperava isso de nós (como algo lógico): “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?” (Lc 6.46). Deus espera de nós mais do que um culto de lábios! Ele quer a nossa obediência:
“Respondeu-lhes: Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens.” (Marcos 7.6,7)
Observe o que a Palavra de Deus nos revela sobre isto no Livro dos Salmos:
“Sacrifícios e ofertas não quiseste; abriste os meus ouvidos; holocaustos e ofertas pelo pecado não requeres. Então, eu disse: eis aqui estou, no rolo do livro está escrito a meu respeito; agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua lei.” (Salmos 40.6-8)
Mais do que sacrifícios (que eram a maior expressão de adoração no Antigo Testamento), Deus estava interessado em que alguém fizesse a Sua vontade, guardando a Sua Lei – e isto fala de obediência.
Uma nota de rodapé da NVI (Nova Versão Internacional), referente a Salmos 40.6, comenta que há uma outra possibilidade de tradução para “abriste os meus ouvidos”. A Versão Corrigida de Almeida (ARC) traduziu desta maneira: “as minhas orelhas furaste” – expressão que, ao meu ver, é uma clara referência ao servo da orelha furada, o escravo por amor que passava a viver para obedecer a seu senhor.
Cabe muito bem citarmos aqui as palavras de Santo Agostinho: “Agrada mais a Deus a imolação que fazemos da nossa vontade, sujeitando-a à obediência, do que todos os outros sacrifícios que possamos Lhe oferecer.” Eu dedicarei mais adiante um capítulo inteiro para falar da obediência como expressão de amor a Deus. Aqui, no entanto, eu quero apenas destacar a obediência como algo ainda mais elevado do que a adoração.
Vimos que a Palavra de Deus revela, de forma clara, que Deus não quer adoração sem obediência. Agora eu gostaria de mostrar que o Pai Celestial não está apenas interessado em que a obediência acompanhe a adoração. O anseio do Criador é mais forte pela obediência do que pela adoração em si! Por isso as Escrituras declaram que obedecer é melhor do que sacrificar:
“Porém Samuel disse: Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar. Visto que rejeitaste a palavra do Senhor, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei.” (1 Samuel 15.22,23)
Mais do que adoração, Deus quer obediência!
Observe o protesto divino, através do profeta Jeremias, a uma geração que preservava o ritual de adoração sem ter um coração de submissão ao seu Senhor:
“Porque nada falei a vossos pais, no dia em que os tirei da terra do Egito, nem lhes ordenei coisa alguma acerca de holocaustos ou sacrifícios. Mas isto lhes ordenei, dizendo: Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo; andai em todo o caminho que eu vos ordeno, para que vos vá bem. Mas não deram ouvidos, nem atenderam, porém andaram nos seus próprios conselhos e na dureza do seu coração maligno; andaram para trás e não para diante. Desde o dia em que vossos pais saíram da terra do Egito até hoje, enviei-vos todos os meus servos, os profetas, todos os dias; começando de madrugada, eu os enviei. Mas não me destes ouvidos, nem me atendestes; endurecestes a cerviz e fizestes pior do que vossos pais. Dir-lhes-ás, pois, todas estas palavras, mas não te darão ouvidos; chamá-los-ás, mas não te responderão.” (Jeremias 7.22-27)
No Monte Sinai, o que Deus pediu ao Seu povo foi obediência, e não adoração! Lembro-me do dia em que eu enxerguei a verdade deste texto bíblico. Eu nunca havia reparado nesta afirmação do profeta, até mesmo depois de lê-la várias vezes. Precisei voltar na leitura de Êxodo e “conferir” o que eu nunca percebera antes:
“Subiu Moisés a Deus, e do monte o Senhor o chamou e lhe disse: Assim falarás à casa de Jacó e anunciarás aos filhos de Israel: Tendes visto o que fiz aos egípcios, como vos levei sobre asas de águia e vos cheguei a mim. Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel. Veio Moisés, chamou os anciãos do povo e expôs diante deles todas estas palavras que o Senhor lhe havia ordenado. Então, o povo respondeu a uma voz: Tudo o que o Senhor falou faremos. E Moisés relatou ao Senhor as palavras do povo.” (Êxodo 19.3-8)
O que Deus sempre quis foi a obediência como característica principal de um povo exclusivamente Seu: “… se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos.” Vimos no capítulo anterior que o maior mandamento que nos foi dado é o de amarmos ao Senhor.
E agora eu gostaria de estabelecer um outro fundamento: ao praticarmos o maior mandamento – que é o de amarmos a Deus de todo o coração – a maior expressão deste amor que podemos oferecer é a entrega das nossas vidas e uma vida de completa submissão e obediência! Estas são as “marcas” de um escravo por amor: renunciar a sua liberdade e viver para obedecer ao seu Senhor!
(Este é um novo capítulo a ser inserido na segunda edição do livro “DE TODO O CORAÇÃO – Vivendo a Plenitude do Amor ao Senhor”, de Luciano Subirá)
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AutorLuciano P. Subirá. É o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.

terça-feira, 27 de março de 2012

SORRIA VOCÊ ESTÁ SENDO ESPIADO!

ESTARIA A CIA NA SUA COZINHA?
Andrew Napolitano alerta sobre a capacidade do governo dos EUA de monitorar você através até de eletrodomésticos
Se essa pergunta tivesse sido feita por um personagem fictício em um suspense de espionagem, poderia tê-lo intrigado, mas não o faria imaginar que fosse verdade. Se a Constituição americana vale alguma coisa, você nem iria sequer considerar isso como algo plausível. Afinal, a Quarta Emenda da Constituição foi escrita para impedir o governo de violar, por capricho, palpite ou vingança, exatamente esse direito americano: o de ficar sozinho.
Todo mundo quer, em algum momento e em alguns lugares da casa, ficar sozinho. Os colonos que lutaram na Guerra de Secessão contra a Grã-Bretanha não eram diferentes. Mas essa guerra e o desejo dos colonos de manter o governo longe aumentaram ainda mais com as experiências que tiveram com a Lei do Selo de 1765.
A lei, que se aplicava às colônias e não residentes da Grã-Bretanha, determinava o que selos do governo fossem comprados e impressos em todos os documentos legais, financeiros e até políticos em posse de qualquer colono. A aplicação dessa lei, que era feita por soldados britânicos que adentravam casas particulares portando não apenas armas, mas também mandados de busca que eles próprios haviam escrito, o que lhes era autorizado pelo parlamento britânico, era tão perturbador que resultou em uma hostilidade política antibritânica e fez com que o parlamento mais tarde reconsiderasse a lei.
Mas os prejuízos à autoridade britânica haviam sido feitos, e foram irreparáveis. Depois que os fundadores ganharam a Revolução, redigiram a Constituição e acrescentaram a declaração dos direitos fundamentais, respiraram aliviados na garantia de que os juízes só poderiam emitir mandados de busca “descrevendo especificamente o lugar a ser adentrado e as pessoas ou coisas a serem apreendidas”, e que só poderiam fazê-lo se encontrassem causa provável de comportamento criminoso no lugar definido pelo governo.
A guerra contra as drogas enfraqueceu lamentavelmente as proteções da Quarta Emenda, e a Lei de Patriotismo, que permite aos agentes federais emitirem os seus próprios mandados de busca, lhe deu um sério golpe. A lei, que ainda não foi deliberada na Suprema Corte, infelizmente ainda não acionou sua jurisprudência a respeito da privacidade. No ano passado, o tribunal invalidou o uso policial sem mandado de sensores de calor em casas, e provavelmente em breve irá invalidar o uso sem mandado de dispositivos de GPS plantados secretamente em carros por agentes.
Infelizmente, a não ser que o governo tente usar os dados ilegalmente coletados a respeito de uma pessoa, ela provavelmente não irá se dar conta de que o governo a está espionando, e, portanto, não estará em posição de contestar a espionagem em um tribunal. Valendo-se da Lei do Patriotismo, agentes federais têm emitido seus próprios mandados de busca da mesma forma que faziam os soldados britânicos. Eles o fizeram mais de 250.000 vezes desde 2001. Mas o governo raramente usou alguma prova desses mandados em um processo criminal por medo de que o acusado descobrisse a respeito do comportamento inconstitucional e execrável, e por medo de que a lei fosse invalidade pelos tribunais federais.
Agora, voltando à CIA na sua casa. Quando o Congresso criou a CIA, em 1947, ele a proibiu expressamente de espionar americanos em seu território. Mas no fim das contas, se o seu micro-ondas, alarme antifurto ou lava-louça for de um modelo recente e estiver conectado ao seu computador, um espião da CIA pode saber quando você estará na cozinha e quando estará utilizando o aparelho. A pessoa que revelou isso há cerca de duas semanas também revelou que esse software da CIA pode aprender os seus hábitos a partir disso e antecipá-los.
Agindo “diabolicamente” e tentando “mudar impressões digitais e globos oculares” na sua “missão global” para roubar e manter segredos, a CIA pode assim burlar a Quarta Emenda digitalmente, sem nunca ter que entrar fisicamente na casa de alguém. Já sabemos que seu BlackBerry e seu iPhone pode dizer a um espião onde você está e, se a bateria estiver conectada, o que está dizendo. Mas espiões na cozinha? Será verdade?
Quem revelou tudo isso? Nada mais, nada menos do que o próprio general David Petraeus, novo diretor do presidente Obama para a CIA. Fico pensando se ele sabe sobre a Quarta Emenda da Constituição [sobre liberdade de expressão] e sobre como a Suprema Corte a tem interpretado, e que as leis federais proíbem seus espiões de fazer seu trabalho nos EUA. Fico pensando se ele ou o presidente sequer ligam para isso. Você liga?
Traduzido por Luis Gustavo Gentil do artigo do WND: “Is the CIA in your kitchen