Eddie L. Hyatt
Como um homem que foi a vida inteira
pentecostal e carismático, recomendo que todo líder pentecostal e carismático
leia o livro “Strange Fire” (Fogo Estranho), escrito por John MacArthur. Digo
isso porque precisamos ver o modo como as condutas “espirituais” bizarras e
doutrinas extremistas de alguns no movimento pentecostal e carismático são
vistas por aqueles que estão de fora, e usadas para surrar o movimento inteiro.
Não temos feito um serviço muito bom na
hora de lidar com esses problemas de dentro. Por isso, não duvido de que Deus
tenha levantado uma voz que é fundamentalmente oposta ao movimento pentecostal
e carismático para lidar com esses extremos. Se Deus pôde usar um rei pagão da
Babilônia para disciplinar Seu povo em Israel pelos pecados deles (veja Jer.
25:8-11), será que Ele não poderia usar um cruel pregador fundamentalista para
apontar nossas falhas?
Entretanto, o livro mais recente de
MacArthur não representa uma busca honesta pela verdade. É óbvio que a mente
dele já estava feita quando ele começou sua pesquisa de “Strange Fire,” e ele
achou o que estava procurando. Ele apresenta um raciocínio circular, começando
com uma premissa falha e prosseguindo com indícios casuais seletivos que
determinam o resultado.
Ele inicia mostrando sua fidelidade ao
cessacionismo, isto é, a crença de que os dons miraculosos do Espírito Santo
foram removidos da igreja depois da morte dos 12 apóstolos e a conclusão dos
livros do Novo Testamento. Sendo esse o caso, na opinião dele, as expressões
modernas de dons espirituais são falsas. Ele então utiliza os indícios casuais
seletivos para sustentar sua suposição, que o leva de volta a seu ponto de
partida da cessação dos dons.
Parece que MacArthur quer acreditar somente
no pior do movimento sobre o qual ele escreve. Às vezes senti que ele estava
embelezando o que era mau a fim de torná-lo pior. Por exemplo, para ele Oral
Roberts não era um irmão cristão com quem ele tinha profundas diferenças, mas
um herético que provocou muitos danos ao Corpo de Cristo — “o primeiro
curandeiro fraudulento a capturar a TV, abrindo o caminho para o desfile de
charlatães espirituais que vieram depois dele,” escreveu ele.
Não tenha a menor dúvida disso: a
determinação de MacArthur não é corrigir um setor do Cristianismo com o qual
ele discorda; a meta dele é destruir um movimento que ele considera falso,
herético e perigoso.
MacArthur não está ciente ou
propositadamente ignora a evidência histórica em favor da continuação dos dons
miraculosos do Espírito, conforme apresentei em meu livro “2000 Years of
Charismatic Christianity” (2000 Anos de Cristianismo Carismático). Ele ignora
declarações claras de pais da igreja como Justino Mártir, Ireneu, Tertuliano e
Agostinho sobre curas e milagres na época deles. Ele usa a declaração de
Agostinho sobre línguas sendo “adaptadas aos tempos” como um argumento de que
os dons haviam cessado. No entanto, ele ignora as obras posteriores de
Agostinho, inclusive Retratações, em que ele reconhece a permanente atuação
miraculosa do Espírito e conta de milagres que ele conhecia pessoalmente.
O argumento bíblico de MacArthur em favor
da cessação dos dons é muito fraco. Ele se apoia principalmente em Efésios
2:20, onde Paulo disse aos crentes efésios que eles estavam sendo edificados na
fundação dos apóstolos e profetas. Ele então argumenta que o dom do apostolado
era apenas para o período da fundação da igreja, que na mente dele é o primeiro
século. Continuando, ele diz que os outros dons do Espírito cessaram com o dom
apostólico.
Isso, na melhor das hipóteses, é um
raciocínio torcido que vai além do que o texto realmente diz. O que Paulo quer
nessa passagem não é ensinar o cessacionismo, mas mostrar a fé comum dos
crentes gentios e judeus em que ambos estão edificados no mesmo fundamento, que
é o próprio Jesus, e tanto os escritos do Antigo Testamento (profético) quanto
do Novo Testamento (apostólico) dão testemunho desse fato.
Em resumo, nós que abraçamos a obra
permanente do Espírito Santo na Igreja e no mundo não precisamos nos acovardar
nem fazer concessões em nosso compromisso por causa de Strange Fire. Ao mesmo
tempo, que sejamos diligentes para lidar com os erros e extremismos que sempre
se infiltram em qualquer movimento cheio do Espírito, quer seja a igreja em
Corinto, o metodismo inicial ou o moderno movimento pentecostal e carismático.
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