A illuminati, sociedade secreta que aparece no enredo do filme Anjos e demônios, surgiu na Baviera, no século XViii, e já foi alvo de tantas teorias da conspiração que chegou a ser relacionada com a Revolução Francesa e o processo de independência dos estados Unidos
Por Sérgio Pereira Couto
Ao fundo, pirâmide com o olho que tudo vê, suposto símbolo illuminati encontrado na nota de um dólar
Perigosos e dominadores. Assim são lembrados os membros da sociedade secreta Illuminati. Muito antes de surgirem nas telas de cinema no filme Anjos e demônios (Estados Unidos, 2009), baseado no livro homônimo do escritor norte-americano Dan Brown, os participantes desse misterioso grupo já eram relacionados com teorias conspiratórias que se referem à dominação do mundo. A Illuminati parece ter sido tão poderosa, que a escritora norte-americana Shelley Klein, autora de As sociedades secretas mais perversas da história, chegou a dizer: "de todas as sociedades secretas que pesquisei, essa é a mais vil".
A palavra "illuminati" vem do latim e significa "iluminado" (no plural, illuminatus). Pesquisar sobre a história da Illuminati não é fácil, já que a maioria dos textos existentes sobre o assunto são artigos de pouca ou nenhuma base acadêmica e que fazem a festa de "conspirólogos". Mesmo assim é possível usar as poucas fontes existentes para estabelecer uma origem para a ordem.
ILLUMINATUS DA BAVIERA
A seita Illuminati foi fundada em 1° de maio de 1776 pelo alemão Adam Weishaupt (1748- 1830), filósofo e professor de lei canônica da Universidade de Ingolstadt, localizada na Baviera, Estado federal da Alemanha. Weishaupt era adepto do Iluminismo, movimento do século XVIII que buscava o conhecimento por meio da razão e da Ciência, contradizendo os dogmas da Igreja Católica.
Para fugir do controle imposto pelos católi- cos, homens como Weishaupt fundaram diversas sociedades secretas. Além da Illuminati, apareceram outras como a Estrita Observância (ligada à maçonaria e à tradição templária) e a Rosacruz (que propaga o mito de Christian Rosenkreuz, personagem lendário que teria vivido entre os séculos XIII e XIV).
O objetivo inicial de Weishaupt era que sua organização servisse para que as pessoas pudes- sem entrar em contato com ideias do progresso e da razão. Para isso, ele buscou a adesão de inte- lectuais e membros da maçonaria e elaborou um esquema em que o iniciado no grupo passaria por um processo de adesão em três passos: noviciado, minerval e minerval iluminado, também chamado de illuminatus minor. A cada etapa, as pessoas deveriam ter contato com ideias de auto- res como o escritor Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781), o filósofo Johann Gottfried von Herder (1744-1803) e o poeta Christoph Martin Wieland (1733-1813).
Diferente das demais sociedades secretas, que utilizavam um sistema de aprendizado contínuo para revelar informações ocultas, o projeto de Weishaupt era mais ambicioso: ele faria que os interessados ampliassem seu conhecimen- to por meio de leituras acessíveis e, assim, se subvertessem à sua causa.
Em Anjos e demônios, o professor de simbologia religiosa robert Langdon, vivido por tom Hanks (foto), investiga um crime cometido pela illuminati
A finalidade era minar a autoridade da Igreja Católica. A sociedade de Weishaupt ficou conhecida como a Illuminati da Baviera, tendo em vista que existiram outros grupos que também se chamavam de "ilumina- dos", em latim.
Weishaupt utilizou toda uma nova nomenclatura para definir a hierarquia da Illuminati. Até mesmo rebatizou as cidades onde os membros de sua sociedade estavam ativos. Para isso, ele se inspirou em nomes das pólis gregas. Assim, Ingolstadt ficou conhecida com o codinome de Elêusis; Munique se tornou Atenas; Ravensberg virou Tebas, e assim por diante. Já os apelidos dos membros tinham origem na mitologia: o líder tornou-se conhecido como Spartacus e os outros membros assinavam com nomes clássicos como Tibério, Ájax e Agaton.
Porém, apesar de todo o trabalho de Weishaupt, até 1780 a Illuminati só contava com cerca de uma centena de membros. Foi nessa época que o ale- mão tentou ampliar o poder e influência do grupo, voltando-se para a loja maçônica em que havia sido iniciado por volta de 1777, em Munique, chamada Zur Behutsamkeit ("A Prudência", em português). Weishaupt esperava que, com a aproximação entre a Illuminati e a maçonaria, ele pudesse usar a rede de contatos maçônica para difundir seus ideais.
MUDANÇA DE ORDEM
Um dos primeiros maçons que aderiram tam- bém à organização de Weishaupt foi o escritor Adolf Von Knigge (1752-1796), até então membro da Estrita Observância. Um dos motivos que o levaram a se juntar à Illuminati foi o desejo de encontrar um grupo que permitisse realizar experiências alquímicas. Não demorou muito para que Adolf Von Knigge se tornasse um membro quase tão influente quanto o próprio Weishaupt, a quem ele acusava de ser exagerado em seu sentimento anticlerical.
O envolvimento de Von Knigge com a Illuminati deixou a Estrita Observância, que era profundamente cristã, em estado de alerta. O que não adiantou muito, já que a Illuminati, co-dirigida por Weishaupt e Von Knigge, tirou proveito dessa competição de uma maneira mais agressiva. Como primeira provocação, Von Knigge criou três altos graus na hierarquia da Illuminati e deu a eles títulos originalmente maçônicos: franco- maçom, illuminatus major e illuminatus dirigens. Pouco depois é acrescentada uma segunda classe de altas posições: sacerdote, regente e magnus rex.
Essa hierarquia fez que a Illuminati conquis- tasse centenas de maçons que se mostravam insatisfeitos com a Estrita Observância. Não demorou muito para que a seita fundada por Weishaupt chegasse ao impressionante número de 3 mil membros e se tornasse influente não apenas na Baviera, mas também em regiões da Áustria e Hungria. Logo o processo de seleção para ingressar na sociedade tornou-se mais exigente e a Illuminati passou a aceitar apenas banqueiros, mercadores em franca ascensão financeira, militares de altas patentes e, por incrível que pareça, até mesmo al- guns membros do clero que entram por causa da fachada maçônica que a ordem divulgava.
AS MARCAS DO DÓLAR
Para aqueles que acreditam que os membros da Illuminati sempre estiveram infiltrados no governo dos Estados Unidos, as provas estão nos símbolos da moeda norte-americana
Estariam os adeptos da illuminati infiltrados no governo dos estados Unidos desde a formação do país? apesar de essa ideia parecer mirabolante demais para a maioria das pessoas, há quem acredite nela, incluindo pesquisadores como paul H. Koch e Robert Goodman.
A teoria conspiratória foi divulgada no livro La conspiración de los Illuminati, do jornalista espanhol santiago camacho. segundo ele, para verificar a influência da illuminati no governo norte-americano, basta analisar a nota de 1 dólar. Vire-a e observe a figura da pirâmide, do lado esquerdo da nota, com um triângulo em seu ápice e um olho brilhante. esse é o famoso "olho que tudo vê", um símbolo que os pesquisadores creem que seja originalmente da illuminati e que os maçons tenham se apropriado, já que representa o olho de deus. na visão dos "conspirólogos", o olho significa uma mensagem da illuminati: "estamos em todos os lugares e vemos tudo o que acontece ao nosso redor"
A base da pirâmide é cega e feita de tijolos de tamanhos e formas iguais, que sim- bolizariam a população que a ordem quer controlar. abaixo da pirâmide, há a inscri- ção "novus ordo seclorum", que significa "nova ordem dos séculos" e que os "cons- pirólogos" afirmam ser uma alusão à "nova ordem mundial", o conceito de domínio mundial da illuminati.
A base da pirâmide é cega e feita de tijolos de tamanhos e formas iguais, que sim- bolizariam a população que a ordem quer controlar. abaixo da pirâmide, há a inscri- ção "novus ordo seclorum", que significa "nova ordem dos séculos" e que os "cons- pirólogos" afirmam ser uma alusão à "nova ordem mundial", o conceito de domínio mundial da illuminati.
Esse progresso todo acabou atraindo muitos inimigos importantes, como membros da realeza. Um deles foi Frederico Guilherme II (1744-1797), da Prússia, que já era um iniciado na Rosacruz.
Foi o apoio dele que demarcou o conflito entre as lojas maçônicas de Berlim, adquiridas pela Rosa- cruz, e a Illuminati, acusada de minar a religião cristã e fazer da sociedade um sistema político.
O pesquisador brasileiro A. Tenório de Albu- querque descreveu em sua obra Sociedades secretas o pensamento de Weishaupt: "Adam Weishaupt negava a legitimidade política e religiosa, julgando que o melhor meio para alcançar resultados a que se propunha era cercar os príncipes de pessoas idôneas, capazes de dirigi-los com os seus sábios conselhos, induzindo-os a confiar o exercício da autoridade em mãos de homens de provada pureza e retidão".
O trecho do livro de Tenório de Albuquerque reflete a ideolo- gia da Illuminati. Foi por causa dessa forma de agir e pensar que a sociedade ganhou a fama de tentar se envolver com os gran- des líderes mundiais a fim de assumir o controle da situação e dominar o panorama social e político. No entanto, os membros da Illuminati nunca se identificavam como tais e agiam sorrateiramente.
PERSEGUIÇÕES E REVOLUÇÃO FRANCESA
Com a vinda de Von Knigge, os membros da Illuminati começaram a entrar em cons- tantes embates internos. Ele e Weishaupt não cansam de se enfrentar por causa da questão religiosa, ainda importante pelo ponto de vista de Weishaupt. Von Knigge, cansado de tentar estabelecer uma direção diferente para a ordem, deixou o grupo em abril de 1784, o que afetou a Illuminati de maneira irreversível.
Adolfvon Knigge foi crucial para a adesão da seita entre os maçônicos e, em seguida, por membros de fora da Alemanha
Pouco depois, naquele mesmo ano, o prín- cipe-eleitor Carlos Teodoro da Baviera (1724- 1799) baixou um decreto em que baniu todas as sociedades secretas, incluindo os maçons e os illuminatus. A partir dessa decisão, os mem- bros desse tipo de organização passaram a ser considerados criminosos e perseguidos. Não demorou muito para que a estrutura da Illu- minati começasse a ruir.
Por causa das perseguições, Weishaupt deixou Ingolstadt e fugiu para a Saxe-Gota-Altenburgo (Estado da Turíngia, hoje localizado na Alema- nha), onde o duque Ernesto II (1772-1804) lhe deu proteção. Muitos dos membros da Illuminati simplesmente desertaram e nunca mais tocaram no assunto. Outros mais famosos, como o escritor alemão Jo- hann Wolfgang von Goethe (1749-1832), fizeram de tudo para minimizar sua par- ticipação no grupo, muitas vezes negando que sabiam o que lá acontecia. Um triste fim para uma ordem que, em seu auge, contava com muitos intelectuais influentes e políticos progressistas dentre os seus adeptos.
Por algum tempo, a ordem (ou o que restou dela, com seus membros mais persistentes) continuou ativa na clan- destinidade. Um dos participantes mais ativos durante essa fase foi Johann Joachim Christoph Bode (1730-1793), um tradutor de trabalhos de literatura, iniciado na Illuminati por Von Kni- gge, em 1782. Bode, por ter galgado todas as etapas dentro da hierarquia da ordem, era o mais indicado para assumir as atividades enquanto Weishaupt estava no exílio.
Nos cinemas, a Iilluminati ganha vida no filme Anjos e demônios, ao promover atentados contra a Iigreja Católica
O tradutor teve a ideia de instalar ramifica- ções da Illuminati fora da Alemanha com o obje- tivo de esperar a situação das perseguições cessar. Em 1787, Bode foi para a França, onde inaugurou um ramo francês, que ganhou o nome de Phi- ladelphes. Porém, a ordem não se tornou tão forte em terras francesas. Bode morreu em 1793.
Depois dessa fase crítica, a Illuminati perdeu muito de sua influência, mas as sementes do folclore que ronda essa ordem até hoje já estavam lançadas. Por exemplo, na época da Revolução Francesa (1789- 1799), um padre chamado Augustin Barruel (1741- 1820), ferrenho opositor do movimento político e so- cial que vinha ocorrendo na França, divulgou a ideia de que apenas os maçons e os membros da Illuminati teriam tanto ódio assim da Igreja Católica a ponto de provocar um evento como a tomada da Bastilha.
A Illuminati teria tanto ódio da Igreja Católica a ponto de promover a tomada da Bastilha?
E dada a aversão que os revolucionários tinham das figuras eclesiásticas de então, não é de se espantar que essa ideia tenha ficado nas mentes das pessoas e sido transmitida por meio de textos da época.
Pesquisadores afirmam, entretanto, que os adep- tos franceses da Illuminati (ou Philadelphes) não po- deriam tramar algo com tamanha repercussão, já que nunca contaram com mais de "um punhado de membros ativos", por isso mesmo seriam totalmente incapazes de articular algo assim. Porém, a imagi- nação corre solta, mesmo quando os envolvidos têm algo a ver com teorias de conspiração. A opinião rei- nante para os que concordavam com o pensamento do padre Barruel foi a de que Adam Weishaupt es- taria em algum ponto de Paris e que teria tramado a revolução com o auxílio dos maçons e de seus amigos da Illuminati. Essa teoria foi o assunto principal de um romance assinado pelo escritor espanhol César Vidal, chamado O crime dos Illuminati, já publicado no Brasil. E, por mais que saibamos que se trata de uma ficção, pensar que o famoso lema "liberdade, igualdade, fraternidade" pode ter vindo da Illumina- ti é uma enorme tentação para nossas mentes.
A ESTRITA OBSERVÂNCIA
A sociedade secreta, da qual fizeram parte maçons e alguns membros da Illuminati, tem suas origens na tradição templária
O nome do sistema maçônico cujos membros fizeram a maior objeção à Iilluminati da Baviera é ligado supostamente à tradição herdada dos Ccavaleiros Templários. A Estrita Oobservância foi fundada na Aalemanha, em 1764, pelo barão de Hund e era baseada não apenas nos Templários como também trazia elementos pertencentes a outras ordens de cavalaria.
De acordo com alguns autores maçônicos, esse rito tem sido estigmatizado como sendo de origem jesuíta e tinha sete etapas para ingressar: aprendiz, companheiro, mestre, mestre escocês, noviço, templário (subdividido em cavaleiro, aliado e porta-espada) e cavaleiro professo.
A Eestrita Oobservância, que tinha como nome original Rito da Oordem da Estrita observância, fez parte da história da franco-maçonaria até a década de 1780. Ddesde seu início, quando foi adotado pela loja chamada Das Três Colunas, da região de Ddresden, seus adeptos agregaram graus clássicos cavaleirescos, extraídos das histórias conhecidas dos templários.
A sociedade durou até a morte do barão, em 1776, e entrou em crise em 1782, que originou no declínio de sua utilização e das lojas que o adotaram.
O FIM DA ILLUMINATI?
O quadro de Emanuel Leutze, Washington cruzando o Delaware, retrata a independência dos Estados Unidos. teorias conspiratórias relacionam a illuminati com o feito norte-americano
Segundo o pesquisador A. Tenório de Albu- querque, membros da Illuminati traíram a ordem ao denunciá-la às autoridades. Esses homens afirma- ram em seus depoimentos que os adeptos "detesta- vam os príncipes e os sacerdotes, que faziam apolo- gia do suicídio; que repeliam toda ideia religiosa e ameaçavam apoderar-se de todos os empregos, que pretendiam reduzir os príncipes à mais triste condição, transformando-os em seus escravos; aceitavam o projeto de livrar o poder dos príncipes, dos sacerdotes e dos nobres, estabelecendo a igualdade de condições, fazendo os homens livres e virtuosos."
Desde que essas acusações foram feitas, Weishaupt perdeu seu cargo na Universidade de Ingolstadt. Quando o governo conseguiu se apossar dos documentos da Illuminati, logo conseguiu acusar alguns adeptos. Apesar de se reconhecer a culpabilidade de alguns membros isolados, o processo que determinou o fim da ordem foi movido contra todos que se diziam "iluminados".
A verdadeira odisseia que Weishaupt enfrentou para escapar de seus algozes, já citada anteriormente, foi registrada em poucos livros. Albuquerque diz em sua obra: "Avisado com antecedência do risco que corria, Weishaupt conseguiu fugir, indo abrigar-se em Rastibona. Foi pedida a extradição do acusado. O Regente não queria negar a extradição nem prender Weishaupt, cuja evasão resolveu facilitar. Os 'iluminados' trabalhavam incessantemente pelo seu chefe e ajudaram-no a ir refugiar-se no principado de Saxe-Gota-Altenburgo, onde foi festivamente acolhido pelo príncipe, que o nomeou seu conselheiro particular".
Sabe-se pouco sobre as atividades do líder da Illuminati da Baviera no exílio. Ele teria insistido várias vezes para que seu caso fosse encaminhado para os tribunais, a fim de provar que as acusações que pesavam sobre sua cabeça eram falsas e que manchavam sua reputação. Mas todos conheciam seu caráter e suas ideias anticlericais. Por isso, suas solicitações nunca foram atendidas.
Além disso, de concreto fala-se sobre Weishaupt ter vivido um bom tempo em Saxe-Gota-Altenburgo, onde escreveu uma série de trabalhos sobre sua sociedade, incluindo História completa das perseguições aos illuminati na Baviera (1785), Retrato do Iluminismo (1786), Desculpa para os illuminati (1786) e Sistema improvisado de Iluminismo (1787). Weishaupt morreu por lá em 18 de novembro de 1830 e deixou uma esposa de nome Anna Maria e seis filhos, chamados Nanette, Charlotte, Ernst, Karl, Eduard e Alfred. O fundador dos iluminados teria sido enterrado junto a um filho morto anteriormente, em 1802.
INDEPENDÊNCIA DOS EUA
Parecia mesmo que a Illuminati já fazia parte do passado. Porém, a questão da força que a ordem francesa teria adquirido ao participar da Revolução Francesa, bem como sua suposta autoria no conflito, são o âmago histórico que prevaleceu, inclusive nos dias de hoje. Há relatos de que o professor escocês de Filosofia natural, John Robinson, também membro da maçonaria, teria sido convidado a se tornar um illuminatus. Ele teria levado a proposta em consideração, mas conclu- ído que a ordem não era para ele. Em 1798, Ro- binson publicou um livro chamado Provas de uma conspiração, em que escreveu: "Uma associação foi formada com os propósitos expressos de se enrai- zarem nos estabelecimentos religiosos e derrubar todos os governos existentes (...). Os líderes iriam governar o mundo com poder incontrolável, en- quanto todo o resto seria usado como ferramenta da ambição de seus superiores desconhecidos."
BOICOTE AO CONCLAVE
No filme Anjos e demônios, a Illuminati tenta sabotar a reunião que elege um novo papa. Veja como acontece o ritual da Igreja Católica
O caso relatado no filme Anjos e demônios mostra uma tenta- tiva da illuminati de sabotar um conclave (cerimônia católi- ca para eleger um novo papa). segundo os "conspirólogos" de plantão, esse seria um dos grandes objetivos da sociedade se- creta: se infiltrar e até mesmo colocar um representante illuminati na direção da igreja católica. a situação parece ser delírio longe de acontecer, ainda mais sabendo que a ordem é contra a igreja.
O ritual do conclave (do latim cum clave que significa com chave) é realizado de maneira praticamente inalterada há oito séculos. Foi estabelecido pelo papa Gregório X (1210-1276), que institui a base dos atuais conclaves por volta de 1274. isso aconteceu porque, para eleger o sucessor de clemente iV, seu antecessor, o processo demo- rara mais de um ano e meio.
A reunião deve começar entre 15 e 20 dias após a morte do papa corrente, prazo fixado na época medieval e conhecido como novemdiales. esse período termina com a missa Pro Eligendo Papa, que conta com a presença de todos os cardeais na Basílica de são pedro que estiveram na mesma manhã em que começou o concla- ve. depois, os cardeais-eleitores vão para a capela sistina, onde começa a votação.
Novas regras foram estabelecidas pelo papa João paulo ii (1920-2005). se um papa não for eleito em até três dias do concla- ve, acontecerá uma pausa de 24 horas. depois de mais sete ten- tativas, mais uma pausa de mesma duração. ao final da terceira rodada, caso o impasse se mantenha, o resultado elegerá aquele que tiver maioria simples.
Para eleger um papa são necessários dois terços dos votos dos cardeais de menos de 80 anos. a votação pode se repetir, caso seja necessário, por um período de até três dias. e, claro, a segurança é extremamente reforçada. dan Brown deve ter se divertido muito ao imaginar o ataque ao colégio cardeal em Anjos e demônios.
Esse livro teria sido enviado para ninguém menos que o presidente norte-americano George Washington (1732-1799), que teria afirmado que não duvidava de que as doutrinas da Illuminati e os princípios do jacobismo (termo que designava originalmente o Clube Jacobino, que era um grupo maçônico francês com representação nos Três Es- tados e, depois, na Assembleia Nacional Francesa), haviam se espalhado pelos Estados Unidos.
Por essas e outras, os membros da Illumina- ti acabaram por levar mais um crédito: o de ter influenciado o processo de independência dos Estados Unidos, em 1776. Essa participação da sociedade secreta seria corroborada pela presen- ça de símbolos da Illuminati nas notas de dólar, a moeda norte-americana.
OUTROS ILUMINADOS
A sociedade americana Skull and Bones seria uma continuidade da illuminati. na foto acima, ao lado esquerdo do relógio, George bush "pai". Abaixo, o signo do grupo com o numeral que, segundo uma teoria, indicaria o ano de criação, 1832
É comum dar a alcunha de "Illuminati" a qualquer grupo que aja como uma espécie de "poder nos bastidores", ou seja, o grupo que con- trola os negócios mundiais, sem ter pouca ou ne- nhuma ligação com o grupo da Baviera. Por isso é tão difícil obter informações confiáveis sobre as atividades de quem quer que esteja na ativa com esse nome.
Do ponto de vista histórico, não foi apenas o grupo de Weishaupt que desfrutou desse nome. Houve também outra sociedade, datada de 1492, que, segundo o historiador e erudito espanhol Marcelino Menéndez y Pelayo (1856-1912) tam- bém se chamava de "iluminada". Essa organização teria uma origem gótica e promovia na Espanha ensinamentos vindos da Itália. Uma de suas líderes (sim, era uma mulher) foi conhecida como a Be- ata de Piedrahita, filha de um trabalhador e alvo da Santa Inquisição, por volta de 1511, quando chegou a afirmar em público que mantinha diálogos com Jesus Cristo e a Virgem Maria. Segundo Menéndez y Pelayo, em seu livro Los heterodoxos españoles (1881), a mulher só foi salva da fogueira graças à intervenção de padrinhos poderosos.
Os Alumbrados, como eram conhecidos, teriam provocado a simpatia de Inácio de Loyola (1491-1556), o fundador da Companhia de Jesus, a ordem religio- sa da Igreja Católica cujos membros são conhecidos como jesuítas. O contato entre Loyola e os Alumbrados teria acontecido durante o ano de 1527, quando o je- suíta estudava em Salamanca, na Espanha. Inácio de Loyola foi levado perante uma comissão eclesiástica e acusado formalmente, o que poderia ter acabado com sua carreira. Por sorte, escapou de castigo pior ao levar apenas uma advertência.
Há quem diga que a Illuminati exista até hoje, estabelecendo a Nova Ordem Mundial
Dois anos depois, um grupo de simpatizantes que estava em Toledo não teve a mesma sorte: foi preso e submetido a chicoteamento. Sabe-se também que a Inquisição não perdoou muitos dos admiradores da sociedade e queimou vários representantes do grupo em Córdoba. Por esse episódio anterior, em Toledo, sabemos que o nome de "Iluminados" já não era mui- to bem-visto pela Igreja Católica desde essa época.
Quando o grupo da Baviera surgiu com as ideias anti- clericais de Weishaupt, só fomentou ainda mais a ideia de que eles eram inimigos da religião católica.
Na França, há registros de um grupo um pou- co diferente dos Philadelphes, colocado em ação por Bode. Esse, que respondia como Illuminés, teria chegado à França em 1623, originário da Espanha (mais precisamente da cidade de Sevilha) e se ini- ciado ironicamente com um pároco chamado Pierce Guérin, que cuidava da paróquia de Saint-Georges de Roye. Seus seguidores eram conhecidos como gurinets. Mas o grupo não durou muito, pois logo foi suprimido, em 1635.
Um século depois, uma nova sociedade surgiu no sul da França, a região mais misteriosa e ligada às sociedades secretas de que se tem notícia. Pouco se sabe sobre sua história, além de que ela teria sur- gido em 1722 e atuado até 1794, possuindo ligações com o grupo britânico conhecido como French Prophets (profetas franceses).
No século passado, o pesquisador norte-americano Antony C. Sutton (1925-2002) jogou mais lenha na fogueira ao afirmar que a conhecida socieda- de secreta sediada na Universidade de Yale, chamada Skull and Bones (caveira e ossos) teria sido fundada como o ramo norte-americano da Illuminati. Hoje em dia há inclusive uma corrente que afirma que a fraternidade estudantil tem mesmo suas origens no grupo de Adam Weishaupt, porque a sociedade norte-americana tem caráter muito exclusivo. Para se ter uma ideia, anualmente apenas 15 estudantes são aceitos pela irmandade e treinados por veteranos que participam do ritual de iniciação de seus pro- tegidos. Os traços racistas, entretanto, deixam cer- tas dúvidas, já que todos os membros da Skull and Bones são brancos, protestantes e originários de fa- mílias extremamente ricas. Os "conspirólogos" de plantão fazem a festa apenas pelo fato de a fraternidade ter originado ministros, chefes de Estado, dirigentes da CIA e pelo me- nos três presidentes: William Taft (1857- 1930), George Bush e George W. Bush.
O escritor e pesquisador de socieda- des secretas Robert Gillette é da opinião de que a Illuminati, seja sob qual codinome que esteja usando, pretende em última ins- tância o mesmo intento de seus originais: esta- belecer um governo mundial por meio de assassi- natos, corrupção, chantagem, controle dos bancos e outras entidades financeiras.
Apesar de a Illuminati ter sido extinta oficial- mente em 1790, acredita-se que até hoje existam membros da ordem que continuam tramando para o estabelecimento de sua "Nova Ordem Mundial", ou seja, a criação de um único governo em todo o planeta, comandado pela seita, sem a interferência de um poder paralelo como o da Igreja Católica. É esse tipo de teoria da conspiração que dá fôlego para que uma organização do século XVIII ainda conquiste público leitor e espectadores de cinema no mundo todo.
REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, A. Tenório de. Sociedades secretas. Grá- fica e Editora Aurora, 1970. KLEIN, Shelley. As socieda- des secretas mais perversas da história. Planeta, 2007. KOCH, Paul. Illuminati. Pla- neta, 2005. WILKINSON, Robert John Goodman. El libro negro de los Illuminati. Robinbook, 2008. WILSON, Robert. Masks of the Illuminati. Dell, 1990.
Revista Leituras da História
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