De fato, em muitas denominações e igrejas, as noções de ortodoxia e heresia tornaram-se “um vazio conceitual”. As fronteiras sumiram. A própria possibilidade de heresia é descartada em muitos círculos dentro do protestantismo tradicional; e muitos evangélicos parecem não ter melhor entendimento do imperativo moral de honrar a verdade e se opor ao erro
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Introdução: Em 2 Tm 3:14-17, Paulo começa com a advertência: “Nos últimos dias sobrevirão tempos terríveis”. Ele prossegue para descrever “homens de mentes depravadas” que “resistem à verdade” (v. 8), “homens maus” que “irão de mal a pior, enganando e sendo enganados” (v. 13), e aqueles que “se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos” (4:4).
Introdução: Em 2 Tm 3:14-17, Paulo começa com a advertência: “Nos últimos dias sobrevirão tempos terríveis”. Ele prossegue para descrever “homens de mentes depravadas” que “resistem à verdade” (v. 8), “homens maus” que “irão de mal a pior, enganando e sendo enganados” (v. 13), e aqueles que “se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos” (4:4).
Ontem estive, como convidado, no programa Vejam Só!, da RIT, debatendo sobre o tema acima. Trata-se mais de uma destes mitos ou heresias, que temos visto em nossos dias é a chamada doutrina da “Cobertura espiritual”. Não sabemos exatamente o que se quer dizer com isso, pois tal “teologia” não é claramente formulada por seus proponentes. A seguir, apresento um simples esboço, com o propósito de mostrar que esta tal “cobertura espiritual” não encontra respaldo nas Escrituras. Antes, duas definições dadas por seus adeptos:
“Cobertura espiritual é estar protegido por líderes tementes a Deus. Trata-se de um direito de todo crente, embora muitos não saibam medir o valor desta benção e se aventurem numa vida de independência ou na falta de aliança com um ministério pastoral. Deus estabeleceu guias para o seu rebanho, colocou sobre eles uma unção, deu-lhes autoridade sobre o inimigo e ordenou que as ovelhas andem obedientemente debaixo de sua direção: “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros” (Hebreus 13.17). Este é o lugar que elas têm de segurança, prosperidade e frutificação abundante.”
“Cobertura espiritual é uma maneira de Deus para que cada indivíduo seja protegido e resguardado das ações malígnas que tentam nos parar. Cobertura também é relacionamento. Tenho vivido dias maravilhosos e experimentado o cuidado de um pastor sobre a minha vida.”
Primeiramente é preciso afirmar que eu creio em alguns instrumentos que Deus disponibiliza para podermos crescer na vida cristã. Dentre eles, podemos citar:
1) O discipulado ou mentoreamento: 2 Tm 2.1,2 “Transmite a homens...”
2) O aconselhamento cristão - “Instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente” (Cl 3.16).
3) O pastorado responsável – I Pedro 5.1-5
4) A sujeição mútua – Ef 5.21 “Sujeitai-vos uns aos outros”
Mas não creio que a chamada doutrina da “Cobertura Espiritual” encontre apoio escrituristico. Não encontramos em nenhuma parte da Palavra de Deus qualquer referência, clara ou até mesmo implícita, de que Deus dá autoridade a alguém para prover uma “cobertura espiritual” a outras pessoas.
Insisto que em nenhum lugar da Bíblia Deus deu autoridade aos crentes sobre outros - Mateus 20.25,26; Lc 22.25,26. A autoridade que deve existir na vida da igreja é orgânica (baseada na vida espiritual – não é intrinsica à pessoa – não reside na própria pessoa) e não oficial (por causa do Titulo ou oficio).
Além do mais, não devemos aceitar esta doutrina pelas seguintes razões:
1) É um ataque á doutrina do “Sacerdócio de todos os santos”
Na Idade Média - Os sacerdotes falavam pelo povo. Os crentes não liam as Escrituras – apenas o clero especializado. Os crentes dependiam deles.
A Reforma: “Sacerdócio de todos os santos” (Pilares da Reforma)
A vontade de Deus não está trancada, escondida, oculta, e disponível apenas a uma elite espiritual que possui a chave. Conhecer a vontade de Deus não é um privilégio de uma classe privilegiada. Tem uma linha direta com Deus.
Somos sacerdotes: I Pedro 2.5-9 – Apoc 5.9-10
2) Ataque à Suficiência de Jesus Cristo.
Um determinado líder de igreja que aceita esta doutrina da cobertura espiritual disse: “Ninguém nunca andou sozinho. Nem Jesus andou sozinho. Ele precisou de cobertura espiritual no Getsêmane”. Note que absurdo. Até Jesus precisou de cobertura.
A Bíblia diz que quem está em Cristo, está guardado e protegido:
• Rm 8 “Quem nos fará mal?”
• João 5.18: “Aquele que nasceu de Deus o guarda e o maligno não lhe toca”
• MT 28: “Eis que estou convosco todos os dias, até....”
• Hebreus 7:25 nos diz que Cristo vive para interceder por nós.
3) É um retorno ao sacerdotalismo da Velha Aliança.
O sacerdote representava o pecador diante de Deus.
Sombras: Cristo cumpriu a lei – Ele agora é o nosso Sumo Sacerdote. A cortina do Templo se rasgou, e hoje temos livre acesso à presença de Deus. Hebreus 1.1 - Hoje nos fala através de Cristo.
4) Má interpretação das Escrituras.
O principal texto bíblico utilizado pelos adeptos da doutrina da “cobertura espiritual” é a passagem da Batalha de Refidim (Êxodo 17). Temos que lembrar que aqui temos uma batalha real – Israel contra Refidim. Moisés está presente com o povo de Deus num momento de guerra real, contra homens reais. Não é uma guerra espiritual ou contra satanás. O ato de levantar as mãos era comum em situações de guerra. Era um símbolo militar. Quando o líder levantava as mãos era sinal para avançar, quando as abaixava, era sinal de recuar.
Onde entra a questão de “cobertura espiritual” neste texto? Não é forçar demais a barra?
5) Pelos prejuízos que causa: Uma quinta razão que vejo que tal doutrina não encontra respaldo na Escritura, são os prejuízos que ela causa:
1. Intromissão na vida pessoal: A autoridade pastoral não pode descer ao detalhamento da vida – Com quem casar? Vender casa e comprar apto? Que proposta de emprego devo aceitar? (Pode-se falar sobre o caráter com quem vc deve se casar, mas a decisão é sua).
2. Gera crentes imaturos – estão sempre dependendo de pessoas para tomar decisões. Pra comprar, vender, viajar, casar, namorar, etc...
3. Abusos espirituais de líderes, às vezes, mal intencionados: Objetivos escondidos manipulam e controlam – são dominadores do rebanho. Mecanismo controlador e não protetor.
Veja o que um líder deste movimento declarou: "Contribuição financeira: Nosso entendimento é que o crente que é coberto deve abençoar financeiramente aquele que o cobre. Na Bíblia todas as primícias eram depositadas no altar a favor dos sacerdotes; o dízimo dos dízimos dos Levitas eram para os sacerdotes. Abraão entregou os dízimos ao sacerdote Melquizedeque; parte dos dízimos do povo eram entregues aos sacerdotes".
4. Culto à personalidade – ânsia pelo poder. (Gn. 3 – o pecado – desejo de ser igual a Deus).
5. Gera decepções: pessoas sinceras e desejosas de conhecerem a vontade de Deus, tomaram decisões erradas confiando na liderança.
6. Gera uma cultura do medo: crentes sinceros vivem com medo e na insegurança, pois seu “líder” diz que se ele não estiver debaixo de proteção espiritual, será uma presa fácil do diabo.
CONCLUSÃO: SINAIS DE ALERTA:
1. Pergunte-se: Quem está recebendo a glória? A pessoa está se vangloriando ou dando glória a Deus?
2. Perceba se a instituição e os programas são mais valorizados que as pessoas, que os membros.
3. Não aceite nada que não possa ser questionado à luz da Escritura.
4. Pergunte se o que você faz é por respeito, amor ao seu líder ou por medo das “supostas maldições”.
Rev. Gildásio Reis
É ministro presbiteriano, pastor da Igreja Presbiteriana de Osasco, formado em psicanálise clínica, Mestre em Ciência das Religiões pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Mestre em Educação cristã pelo CPPGAJ (Mackenzie), professor de teologia pastoral no Seminário Presbiteriano "Rev. José Manoel da conceição" É casado com Jamili e tem dois filhos: Matheus e Rebeca.
FONTE: GILDÁSIO REIS
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