Conflitos de terra na Amazônia são mais conhecidos por envolver assassinato de líderes ambientais como Chico Mendes ou religiosos católicos como a freira Dorothy Stang, que revelam a enorme injustiça que sofre não só a floresta como também a distribuição e exploração sustentável de terras na região. Ainda não se sabe toda a história ou a extensão das causas que levaram ao assassinato do pastor José de Arimatéia da Silva Bastos, de 45 anos de idade, crime ocorrido na última quinta-feira, dia 6 de outubro. Como o fato ocorreu em Benevides, região metropolitana de Belém do Pará, a cerca de 25 km da capital, não se trata exatamente de um caso que envolva ocupação de terras na floresta ou exploração ilegal de madeira e outros recursos naturais, mas não deixa de ser, digamos, "diferente", ver o nome de um pastor evangélico associado à luta dos pobres por terra no Brasil (ele liderava um assentamento de 4.000 pessoas), já que muitos "pastores" e "evangélicos" são mais conhecidos no país por seu amor ao dinheiro e às riquezas materiais, aos conchavos com os ricos e poderosos, além de sua pregação desenfreada da teologia da prosperidade. Seria interessante saber mais detalhes sobre o caso, mas nem por isso a notícia do Diário do Pará deixa de ser triste e surpreendente:
Populares protestam por 6 h em enterro de pastor
O enterro do pastor José de Arimatéia da Silva Bastos, 45, se transformou num ato de protesto dos moradores do assentamento Canaã, no quilômetro 19 da BR-316, em Benevides. Eles fizeram aproximadamente 15 quilômetros de caminhada. Saíram do assentamento até o cemitério Recanto da Saudade, em Ananindeua. O ato durou seis horas. Iniciou às 9h e terminou às 15h quando o enterro foi realizado.
O corpo do pastor foi conduzido em cima de um pequeno caminhão-baú, onde foi fixada a foto dele na lateral e um cartaz na frente em que se lia: “Não queremos guerra, queremos terra”.
Em vez de hinos religiosos, as centenas de moradores que acompanharam o féretro portando cartazes cantavam repetidas vezes o Hino Nacional, enquanto oradores se revezaram no microfone de um carro de som enaltecendo a liderança do pastor José e protestando contra a morte do líder do assentamento.
Levy Pantoja, dono do carro de publicidade, anunciou que o nome do assentamento mudaria de Canaã para José de Arimatéia, em homenagem ao líder assassinado.
Marcos Souza, morador do assentamento questionava: “Será que todos os líderes dos pobres vão acabar desse jeito?”, lembrando as mortes de Chico Mendes e de Dorothy Stang.
Depois do sol escaldante enfrentado pelos manifestantes, o enterro acabou sendo realizado debaixo de uma forte chuva que caiu às 15h. O corpo foi baixado para a sepultura ao som do Hino Nacional e de músicas religiosas.
REVOLTA
A mãe de José de Arimatéia, Elvira da Silva Bastos, estava revoltada. “Ele lutou muito por esses políticos e candidatos e nenhum apareceu para dar as condolências”, desabafou.
“Quem fez isso vai pagar, o sangue dele não foi derramado em vão”. Segundo ela, o partido ao qual o filho, que era assessor da prefeitura de Marituba, pertencia teria se prontificado em enviar um ônibus para o enterro, mas o veículo não apareceu.
A filha do pastor, a funcionária pública Caroline Costa Bastos, 20, disse que a família não foi informada de nada pela polícia sobre a identidade e o paradeiro dos assassinos e que achava que o pai tinha sido assassinado por causa de terra.
“Um rapaz ofereceu R$ 500 mil para ele sair (do assentamento) e convencer as pessoas também a saírem”, contou, citando os nomes de algumas pessoas como supostos donos do terreno.
HISTÓRICO
Com cerca de 800 hectares, a área foi invadida há seis anos e hoje vivem nela cerca de quatro mil pessoas.
José de Arimatéia foi assassinado com seis tiros na cabeça, na última quinta-feira, por volta das 19h, no quintal da casa dele, no quilômetro 18 da BR-316. Dois homens chegaram de moto na casa, onde o pastor estava na companhia somente de um rapaz, jogando em um computador. A mulher dele e os filhos estavam em um culto na igreja.
O pastor teria pedido para não ser assassinado dentro da casa, tendo sido levado para o quintal, onde os assassinos mandaram que os dois se deitassem no chão. O assassino descarregou a arma na cabeça do pastor. Segundo Caroline, o pai morreu na posição em que costumava rezar, de joelhos, com a cabeça encostada no chão. Um dos tiros teria atravessado a cabeça dele e varado no olho direito. O rapaz que estava na companhia dele foi poupado.
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