quarta-feira, 12 de outubro de 2011

PASTOR EVANGÉLICO ASSASSINADO EM CONFLITO DE TERRAS NO PARÁ

Conflitos de terra na Amazônia são mais conhecidos por envolver assassinato de líderes ambientais como Chico Mendes ou religiosos católicos como a freira Dorothy Stang, que revelam a enorme injustiça que sofre não só a floresta como também a distribuição e exploração sustentável de terras na região. Ainda não se sabe toda a história ou a extensão das causas que levaram ao assassinato do pastor José de Arimatéia da Silva Bastos, de 45 anos de idade, crime ocorrido na última quinta-feira, dia 6 de outubro. Como o fato ocorreu em Benevides, região metropolitana de Belém do Pará, a cerca de 25 km da capital, não se trata exatamente de um caso que envolva ocupação de terras na floresta ou exploração ilegal de madeira e outros recursos naturais, mas não deixa de ser, digamos, "diferente", ver o nome de um pastor evangélico associado à luta dos pobres por terra no Brasil (ele liderava um assentamento de 4.000 pessoas), já que muitos "pastores" e "evangélicos" são mais conhecidos no país por seu amor ao dinheiro e às riquezas materiais, aos conchavos com os ricos e poderosos, além de sua pregação desenfreada da teologia da prosperidade. Seria interessante saber mais detalhes sobre o caso, mas nem por isso a notícia do Diário do Pará deixa de ser triste e surpreendente:

Populares protestam por 6 h em enterro de pastor

O enterro do pastor José de Arimatéia da Silva Bastos, 45, se transformou num ato de protesto dos moradores do assentamento Canaã, no quilômetro 19 da BR-316, em Benevides. Eles fizeram aproximadamente 15 quilômetros de caminhada. Saíram do assentamento até o cemitério Recanto da Saudade, em Ananindeua. O ato durou seis horas. Iniciou às 9h e terminou às 15h quando o enterro foi realizado.

O corpo do pastor foi conduzido em cima de um pequeno caminhão-baú, onde foi fixada a foto dele na lateral e um cartaz na frente em que se lia: “Não queremos guerra, queremos terra”.

Em vez de hinos religiosos, as centenas de moradores que acompanharam o féretro portando cartazes cantavam repetidas vezes o Hino Nacional, enquanto oradores se revezaram no microfone de um carro de som enaltecendo a liderança do pastor José e protestando contra a morte do líder do assentamento.

Levy Pantoja, dono do carro de publicidade, anunciou que o nome do assentamento mudaria de Canaã para José de Arimatéia, em homenagem ao líder assassinado.

Marcos Souza, morador do assentamento questionava: “Será que todos os líderes dos pobres vão acabar desse jeito?”, lembrando as mortes de Chico Mendes e de Dorothy Stang.

Depois do sol escaldante enfrentado pelos manifestantes, o enterro acabou sendo realizado debaixo de uma forte chuva que caiu às 15h. O corpo foi baixado para a sepultura ao som do Hino Nacional e de músicas religiosas.

REVOLTA

A mãe de José de Arimatéia, Elvira da Silva Bastos, estava revoltada. “Ele lutou muito por esses políticos e candidatos e nenhum apareceu para dar as condolências”, desabafou.

“Quem fez isso vai pagar, o sangue dele não foi derramado em vão”. Segundo ela, o partido ao qual o filho, que era assessor da prefeitura de Marituba, pertencia teria se prontificado em enviar um ônibus para o enterro, mas o veículo não apareceu.

A filha do pastor, a funcionária pública Caroline Costa Bastos, 20, disse que a família não foi informada de nada pela polícia sobre a identidade e o paradeiro dos assassinos e que achava que o pai tinha sido assassinado por causa de terra.

“Um rapaz ofereceu R$ 500 mil para ele sair (do assentamento) e convencer as pessoas também a saírem”, contou, citando os nomes de algumas pessoas como supostos donos do terreno.

HISTÓRICO

Com cerca de 800 hectares, a área foi invadida há seis anos e hoje vivem nela cerca de quatro mil pessoas.

José de Arimatéia foi assassinado com seis tiros na cabeça, na última quinta-feira, por volta das 19h, no quintal da casa dele, no quilômetro 18 da BR-316. Dois homens chegaram de moto na casa, onde o pastor estava na companhia somente de um rapaz, jogando em um computador. A mulher dele e os filhos estavam em um culto na igreja.

O pastor teria pedido para não ser assassinado dentro da casa, tendo sido levado para o quintal, onde os assassinos mandaram que os dois se deitassem no chão. O assassino descarregou a arma na cabeça do pastor. Segundo Caroline, o pai morreu na posição em que costumava rezar, de joelhos, com a cabeça encostada no chão. Um dos tiros teria atravessado a cabeça dele e varado no olho direito. O rapaz que estava na companhia dele foi poupado.

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