Leiam com muita
atenção!
O ministro Ricardo
Lewandowski autorizou o envio à CPI da íntegra do inquérito que investiga as
relações do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) com Carlinhos Cachoeira.
A investigação corre em sigilo de justiça. A imprensa publicar informações que
estão nessa condição NÃO É NEM DEVE SER crime. Mas vazá-las é, sim, ato
criminoso! E, no entanto, se as informações chegam aos jornalistas, a sua
obrigação é divulgá-las. Nesse caso — curioso, não? —, ninguém indagou:
“Qual é a fonte?” Gente que respeita a lei é que não é, certo? Mas a informação
veio para o bem. Os ratos, mais uma vez, pariram, como lhes é natural, ratos.
Atenção! NÃO HÁ, PORQUE NÃO HOUVE, E VOCÊS PODEM VER POR CONTA PRÓPRIA, UMA SÓ
INFORMAÇÃO, UMA SÓ CONVERSA, UM SÓ DIÁLOGO que revelem o jornalista da VEJA a
fazer qualquer outra coisa que não buscar informações que eram do interesse
público. Não há uma só sugestão que deixe o profissional da revista em situação
incômoda, vexatória ou algo assim. Muito pelo contrário.
AQUILO QUE OS
VAGABUNDOS PROMETERAM — O FIM DOS TEMPOS, O SUPOSTO CONLUIO ENTRE A REVISTA E
ALGUNS CRIMINOSOS — ERA, EVIDENTEMENTE, FALSO!
Ao contrário: nas vezes em que a
reportagem de VEJA falou com Carlinhos Cachoeira ou alguém de seu esquema,
estava interessada em obter informações que protegiam os cofres públicos da
ação de larápios. É uma fantasia idiota a história de que ele era a única
fonte. Quando chegou a vez de o próprio Cachoeira virar reportagem, a revista
não hesitou. Foi a primeira a publicar matéria sobre os vínculos do senador
Demóstenes Torres com o bicheiro. E isso é apenas fato, que petralha nenhum
consegue eliminar da história.
Um repórter honesto
pode falar com uma fonte suspeita 10, 20, 200 vezes (esse número, aliás, é uma
fantasia!). E NÃO se corrompe nas 10, nas 20, nas 200 vezes. Se Lula falou
alguma vez com Carlinhos Cachoeira, isso eu não sei. O que é fato? Na CPI dos
Bingos, Rogério Buratti, amigo de Antônio Palocci, denunciou que o PT recebeu
R$ 1 milhão do contraventor pelo caixa dois — os tais recursos
não-contabilizados. A fonte é um petista!
O caso Delta,
Demóstenes e VEJA
Os ratos se deram
mal. O inquérito evidencia justamente o contrário do que eles vinham
alardeando. E de modo muito impressionante! Prestem atenção! A revista que
começou a chegar aos leitores no dia 7 de
maio de 2011 trouxe a primeira grande
reportagem sobre o fantástico crescimento da Delta (aqui e aqui). Aliás, é a revista em que dois empresários denunciam a
“promiscuidade total” entre Sérgio Cabral e Fernando Cavendish — as fotos de
Paris são muito eloquentes a respeito, não? Pois bem… Basta ler o
inquérito para notar que Carlinhos Cachoeira e seus rapazes se mobilizaram para
“abafar” a repercussão da reportagem. E quem se encarregou da operação abafa,
embora, publicamente, parecesse fazer o contrário, foi justamente Demóstenes
Torres. Leiam este trecho do diálogo (em vermelho).
RESUMO
Conversam sobre a reportagem da VEJA relacionada à DELTA.
Conversam sobre a reportagem da VEJA relacionada à DELTA.
CARLINHOS
orienta DEMÓSTENES a evitar tocar no assunto.
CARLINHOS: oi, doutor.
DEMÓSTENES: fala professor. E aí tudo bem?
CARLINHOS:
bom demais, a sogra não resistiu.
DEMOSTENES: é (… )
CARLINHOS: viu a matéria da DELTA aí?
DEMÓSTENES: isso, estou te ligando por isso, avisar o pessoal que está todo
mundo em cima, ALVARO D1AS, não sei que, pan, pan…. E o que vai acontecer lá
não tem jeito de aprovar nada, certo?, nós vamos fazer um requerimento, mas
requerimento é convite, o cara pode recusar, agora o grande negócio é que chama
a atenção do ministério público prá cima deles.
(…)
CARLINHOS: é mas eu não gosto da (…) A coisa é o seguinte: eu convivo com eles direto, não tem essa ligação com o ZE DIRCEU, ele comprou a empresa daqueles dois bandidos lá. E os caras dizendo que ele não pagou, e fez isso aí.
CARLINHOS: é mas eu não gosto da (…) A coisa é o seguinte: eu convivo com eles direto, não tem essa ligação com o ZE DIRCEU, ele comprou a empresa daqueles dois bandidos lá. E os caras dizendo que ele não pagou, e fez isso aí.
DEMÓSTENES: eles vão fazer barulho, vai sair um requerimento prá convidar,
talvez o FERNANDO se antecipasse soltando a nota, dizendo que isso é mentira,
que é um problema empresarial, que nunca teve isso e tal, tal. E pula fora,
melhor alternativa. Agora o grande assunto no congresso vai ser isso, tentando
chamar, tentando fazer isso e tal, já avisei a imprensa que não tem jeito de
convocar, só tem jeito de convidar, porque não é autoridade, numa dessa aparece
esses dois bandidos querendo palco e faz o regaço.
CARLINHOS: mas parece que eles não vão…
Voltei
O que o diálogo
acima evidencia é justamente Carlinhos Cachoeira infeliz com uma reportagem da
VEJA que punha em maus lençóis os seus amigos da Delta. E a razão é simples:
QUEM EDITA A VEJA NÃO SÃO AS SUAS FONTES, SEJAM ELAS PESSOAS DE ÍNDOLE DUVIDOSA
OU AS CARMELITAS DESCALÇAS. Das fontes, VEJA quer informações. Ponto.
O que me
impressiona nessas conversas, confesso, mesmo depois de tudo o que sabemos, é a
atuação de Demóstenes. O diálogo acima é do dia 8 de maio de 2011. No dia
seguinte, a imprensa
noticiava, como se vê abaixo, num trecho do jornal O
Globo, que o senador iria pedir investigação. Leiam (em azul):
Os líderes da
oposição no Senado querem ouvir os empresários Fernando Cavendish, presidente
da Delta Construções, e os ex-donos da Sigma Engenharia,José Augusto Quintella
Freire e Romênio Marcelino Machado, para que ele falem sobre o suposto tráfico
de influência do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. Em reportagem da
revista Veja desta semana, Freire e Machado afirmam que Dirceu foi contratado
por Cavendish, para que o ex-ministro o aproximasse de pessoas influentes no
governo do PT.
A reportagem afirma
ainda que Cavendish teria dito que, com “alguns milhões seria possível comprar
um senador” para conseguir um bom contrato com o governo.
O líder do DEM no
Senado, Demóstenes Torres (GO), vai procurar o PSDB e o PPS para, numa ação
conjunta da oposição, apresentarem requerimento de convite aos empresários.
Para Demóstenes, caberia requerimento à Comissão de Constituição e Justiça ou à
de Fiscalização e Controle.”Vamos conversar com os senadores da oposição, para
tentar um requerimento conjunto. O problema é que não temos número suficiente
para aprovar na comissão, caso o governo queira impedir. Se nada vingar, vamos
pedir que o Ministério Público averigue as denúncias”, disse Demóstenes.
Não é
impressionante? Eu mesmo reproduzi trecho da matéria do Globo no clipping do
blog. Ocorre que o senador estava dando um jeito, como revelam as conversas,
justamente de impedir qualquer investigação. No dia 9, em nova conversa com
Cachoeira, ele mostra satisfação porque a matéria da VEJA “não deu em nada” e
faz alusão justamente à reportagem do Globo, que reproduzo acima:
RESUMO
CARLINHOS diz que
DEMOSTENES vai trabalhar nos bastidores do
SENADO para abafar a reportagem da VEJA relacionada à DELTA.
DEMÓSTENES: ah num deu em nada não cê viu
né? Eu arrumei um… uma maneira de fragilizar o discurso. Eu… Única coisa que
saiu foi no GLOBO dizendo que eu ia procurar o PPS e o PSDB, pra fazer um
convide pros empresários, mas eles rumaram no DIRCEU. Todo mundo, e o resto num
saiu porra nenhuma, e hoje eu num vou lá, é capaz que esse trem daqui pra
quarta morre, falou?
CARLINHOS: é, ta bom. Eles viram a
reportagem do GLOBO e me ligaram já.
DEMÓSTENES: É, num saiu nada, fala pra eles
que num saiu nada que o trem era. Eles queriam um barulhão, falou?
CARLINHOS: tá bom. Obrigado aí.
DEMÓSTENES: um abraço, tchau.
E então? O senador
parece orgulhoso de ter levado a imprensa no bico, de ter enganado todo mundo.
Como se vê, a relação de Carlinhos Cachoeira com a cúpula da Delta é de
absoluta proximidade. Ele foi procurado pelo comando da empresa — conversaram
até sobre a matéria do Globo. E um dado relevante: notem que o contraventor
estava garantindo que os dois empresários que denunciaram Cavendish e que
acusaram a proximidade da empresa com Zé Dirceu, se convidados, não iriam ao
Senado. Isso é preocupante. Dois dias depois de a matéria da VEJA ter sido
publicada, a conversa sugere que ambos já tinham sido “contatados”…
Eu me orgulho de
dizer que acreditei em Demóstenes ao ler no Globo, naquele dia, que ele
queria investigar o esquema da Delta. Orgulho-me porque todos os valores que
ele enunciava e anunciava no Senado estavam e estão corretos. Eu e milhões
de pessoas achamos isso. Parece que ele não levava aquelas convicções a
sério, o que não depõem contra elas, mas contra ele. Como resta evidente das
duas conversas, também o seu empenho em investigar não era verdadeiro. Ao
contrário: ele estava atuando a pedido de Cachoeira para impedir que a apuração
prosperasse. Fui o único enganado??? Acho que não… Chego a duvidar de que ele
tenha noção do mal que fez e que está fazendo não exatametne à oposição, mas
aos valores da democracia liberal que ele dizia encarnar.
Agora, a
imprensa
Mais uma vez, fica
evidente que a tentativa de linchamento de jornalistas da VEJA é obra de
obscurantistas, que odeiam, na verdade, a liberdade de imprensa. Algumas
estrelas do jornalismo investigativo, que têm até uma associação, deveriam vir
a público para dizer se fontes que revelaram algumas das maiores falcatruas destepaiz, como diria aquele, estavam no
convento das Carmelitas Descalças. Aliás, uma personagem emblemática estará na
CPI do Cachoeira: o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL). Eram anjos
aqueles todos que forneceram aos petistas, que os vazaram para a imprensa,
documentos contra o governo? São decentes alguns “companheiros” infiltrados em
bancos públicos, que quebram o sigilo de desafetos do partido? Jornalistas que
passaram anos sustentado a veracidade do Dossiê Cayman estavam dialogando com
professores de Educação Moral Cívica? VEJA só publica reportagens depois de
apurar os fatos.
Eurípedes Alcântara
já escreveu um detalhado texto a respeito dos procedimentos
da revista. A qualidade moral da fonte não faz a
qualidade da informação. Como eu já havia escrito anteriormente neste blog,
falar com o papa não nos faz santos; falar com bandidos não nos torna
criminosos. Em qualquer dos casos, há de haver apuração. As de VEJA
são rigorosas — ou Dilma, supõe-se, não teria demitido seis ministros e
uma penca de funcionários do Dnit. Mas é compreensível, claro!, que Lula, cuja
campanha recebeu R$ 1 milhão de Cachoeira pelo caixa dois, segundo revela um
companheiro seu, esteja empenhado agora em tirar a Delta da CPI para investigar
a imprensa… Investigar por quê? O inquérito já é público. Qual é acusação? Qual
é a suspeita? O que há além da tentativa de intimidação?
“Ah, segundo a
Polícia Federal, foi o pessoal do Cachoeira que forneceu a fita do circuito
interno do hotel em que Zé Dirceu aparece se reunindo com autoridades da
República…” E daí? Se foi ou não, a Constituição protege o sigilo da fonte. Que
jornalista nestepaiz, de posse daquela fita, não a tornaria pública? Se um
ex-deputado, cassado por corrupção, chamado pelo Procurador Geral da República
de “chefe de quadrilha” e hoje notório lobista — o nome politicamente correto é
“consultor” — despacha com figurões do governo e do Congresso, em reuniões
clandestinas, a informação deveria ser amoitada, ainda que tivesse mesmo sido
fornecida por alguém de índole suspeita? Ora…
O profissional de
VEJA não precisa que um inquérito da Polícia Federal ateste que faz o seu
trabalho dentro das regras do jogo e de acordo com a ética da profissão.
Durante alguns dias, no entanto, a vagabundagem a soldo especulou à vontade.
Eis aí!
O que sai de
relevante do inquérito no que diz respeito à VEJA é o esforço de Carlinhos
Cachoeira para abafar reportagem da revista sobre a Delta. Sempre a Delta — a
construtora que os petistas não querem investigar. Petistas, sempre os petistas
— aqueles que, confessadamente, receberam R$ 1 milhão pelo caixa dois de
Carlinhos Cachoeira.
E o joio, Reinaldo?
E o trigo? Ah, terei de fazer mais um post. Este já foi longe demais.
Por
Reinaldo Azevedo
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