Ele foi chamado
de “a peste que envergonha as empresas para que corrijam falhas de segurança”,
em perfil da revista “Wired”, e foi listado como
um dos “dez manipuladores da internet” pela “PC World”, graças à influência de
suas ações na rede.
O americano Christopher Soghoian, 30,
construiu essa reputação –e uma carreira– denunciando brechas em sistemas de
companhias, como Google, Facebook e AT&T, que levavam à exposição
dos dados de seus usuários.
Ele virá pela primeira vez ao Brasil
nesta semana para participar da conferência de direitos humanos e tecnologia RightsCon, que
acontece nas próximas quinta e sexta, no Rio.
“MODELO TÓXICO”
Ele participará
do painel “O Futuro do Modelo de Negócios On-line”, na sexta, às 11h45. Sua
visão sobre o tema: o atual modelo de negócios na rede não combina com privacidade e,
portanto, não deveria ter futuro.
“Esse
modelo apoiado em publicidade, no qual recebemos serviços de graça em troca de
nossos dados, é tóxico e fundamentalmente incompatível com a proteção da nossa
privacidade”, diz Soghoian à Folha por telefone, de Washington, onde mora.
“Apesar
de estarmos todos usando serviços gratuitos, é um mau negócio, e deveríamos
considerar pagar por e-mails da mesma forma que pagamos por ligações.”
Com
os usuários pagando, crê o americano, as empresas poderiam (se quisessem)
deixar de armazenar dados privados, pois não precisariam mais deles para
lucrar.
Com
isso, deixariam de ser as fontes às quais os governos recorrem regularmente
para vigiar seus cidadãos.
LEVE PARANOIA
Autor do blog
Slight Paranoia (“leve paranoia”, em inglês; paranoia.dubfire.net),
Soghoian se descreve como “basicamente um hippie”.
“É o
que a maioria das pessoas pensa quando me vê. Sou vegetariano, tenho cabelo
comprido, barba, me desloco de bicicleta e sou o único de camiseta e bermuda em
todas as minhas reuniões.”
O
interesse por aspectos legais da privacidade on-line emergiu em 2006, após ter
a casa invadida pelo FBI - ele ensinara, num site, a driblar o controle de
segurança nos aeroportos, com cartões de embarque falsos; queria expor a
fragilidade do sistema. “Sempre tive problemas com autoridades. Não gosto que
me digam o que fazer.”
ESPIONAR É BARATO
Soghoian
diz que a vigilância governamental ficou mais barata e eficiente com o avanço
tecnológico e graças ao apoio das empresas privadas.
Até
poucos anos atrás, ter um aparato de vigilância era complexo e caro, o que
forçava o governo a limitar os alvos. Hoje, todo mundo pode ser alvo, porque é
barato vigiar todos - afinal, boa parte de nós leva um “agente secreto” no
próprio bolso: o smartphone.
“Eles
são um acordo com o diabo. Ganhamos esses aparelhos extremamente convenientes,
mas eles não trabalham em nosso benefício. Aplicativos podem vasculhar dados e
enviá-los sem nos consultar. As empresas podem pedir para nossos telefones
indicarem onde estamos. O smartphone é como um agente secreto do governo, pelo
qual pagamos.”
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