O capítulo mais recente da perseguição aos cristãos no
Paquistão inclui centenas de pessoas acamparem em uma floresta na capital
Islamabad. Eles inclusive cortaram algumas árvores e usaram seus galhos para
construir uma igreja.
A fuga foi gerada pelo medo da reação
dos radicais muçulmanos após uma menina cristã ser acusada por um vizinho de
ter queimado páginas do Alcorão, o que é uma blasfêmia segundo a lei
paquistanesa, que pode resultar em prisão perpétua.
A menina de 11 anos está presa há 12
dias e sofre de problemas mentais (Síndrome de Down) e não ficou provado que de
fato os papeis que ela queimou eram páginas do Alcorão. Mesmo assim, após a
notícia se espalhar, centenas de muçulmanos juraram vingança, causando medo na
maioria dos cristãos do bairro. O responsável pela Liga Ecumênica,
Sajid Ishtaq, disse que cerca de 600 famílias abandonaram o subúrbio de
Mehrabadi e se refugiaram em uma área de floresta nativa perto ao centro de
Islamabad.
Sumera Zahid, uma das pessoas que se
fugiu para a floresta no último domingo e diz que agora se preocupa apenas em
como alimentar seus três filhos e seus pais. “Nós costumávamos vir aqui para
coletar madeira que usávamos como lenha e nos pareceu um local adequado para o
abrigo”, disse. ”Aqui não é casa de ninguém, terra de ninguém. Vamos viver
aqui em segurança.”
Na segunda-feira o pastor Arif Masih
reuniu um grupo de voluntários e começou a amarração de galhos no que deve se
tornar uma igreja. “Somos gratos ao Senhor por esta terra, embora aqui não
exista água encanada nem comida, mas sabemos que o Senhor criou as fontes de
água e todas essas árvores frutíferas que estão aqui, mesmo se alguém ficar
doente e sofrer com estas dificuldades, agradecemos ao Senhor”, disse.
Em um país onde 95% de seus 190 milhões
de habitantes são muçulmano, as questões religiosas sempre geram grande atrito
com as minorias cristãs. São comuns os relatos de multidões que agridem e até
mesmo matam pessoas acusadas de blasfêmia. No ano passado, dois políticos que
criticaram a lei de blasfêmia foram assassinados, um deles por seu próprio
guarda-costas. Em julho, milhares de pessoas arrastaram um homem
paquistanês acusado de profanar o Alcorão. Ele foi tirado de uma delegacia de
polícia, espancado até a morte e atearam fogo ao seu corpo.
Na segunda-feira o Conselho de Ulemás de todo o
Paquistão, uma organização que reúne sacerdotes muçulmanos, realizou uma
coletiva de imprensa em conjunto com a Liga Ecumênica do Paquistão,
afirmando que farão uma campanha para que os cristãos possam voltar em
segurança para suas casas.
Na coletiva de imprensa, o chefe do
conselho muçulmano, Maulana Tahir-ul-Ashrafi, disse que os outros países não
devem interferir e que o Paquistão proporcionará justiça para a menina e sua
comunidade.
Enquanto isso, Nooran Bashir, que havia
fugido de casa algumas horas após a prisão da menina, voltou para sua casa
nesta segunda-feira e explicou: “Eu não sei se ela queimou as páginas de algum
livro sagrado ou não, mas todos nós tivemos que deixar nossas casas correndo
para salvar nossas vidas”, disse ela. Para essa mulher e seus filhos, o
motivo era claro: os muçulmanos proibiram os cristãos de realizar cultos na
região.
Mas a maioria dos refugiados cristãos
não se mostrou disposto a voltar. Cerca de 200 cristãos, a maioria homens,
protestaram em frente aos escritórios da administração da
cidade, exigindo permissão para ficar no acampamento. “Não temos uma grande
lista de exigências”, disse Salim Masih, uma das líderes. ”Limpamos este
lugar com as nossas mãos e construímos uma pequena igreja aqui. Embora possa
parecer apenas um monte de galhos de árvores, esta é a casa santa de Deus. Isso
deve ser respeitado.”
Traduzido e adaptado de Urban Christian News
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