Criticado pelo ministro Marco Aurélio
Mello por seu "temperamento
explosivo", o relator do processo do mensalão, Joaquim Barbosa,
insinuou em nota que o colega de corte tirou “proveito” de relações familiares para ingressar no Supremo Tribunal
Federal (STF).
“Ao contrário de quem me ofende
momentaneamente, devo toda a minha ascensão profissional a estudos
aprofundados, à submissão múltipla a inúmeros e diversificados métodos de
avaliação acadêmica e profissional. Jamais me vali ou tirei proveito de
relações de natureza familiar",
disse Barbosa em nota divulgada por seu gabinete.
Primo do ex-presidente Fernando
Collor de Mello, que o indicou para a Suprema Corte em 1990, Marco Aurélio devolveu a provocação em
entrevista ao G1: “Infelizmente, ou
felizmente, ele (Barbosa) não guarda parentesco com Collor”.
Marco Aurélio
afirmou que a insinuação de Barbosa sobre seu ingresso na Suprema Corte por
meio de Collor não o “alcançou”.
Nesta
quinta-feira (27), um dia após Barbosa e Ricardo Lewandowski, revisor do processo do mensalão, protagonizarem mais
um debate acalorado no plenário do STF, o ministro Marco Aurélio Mello voltou a criticar o tom usado pelo relator para se contrapor ao voto do
revisor.
Marco Aurélio fez
questionamentos sobre a futura gestão de Barbosa à frente do STF. O relator assumirá a presidência do
Supremo em novembro, com a aposentadoria
compulsória do atual chefe do Judiciário, Carlos Ayres Britto.
“Como é que ele (Barbosa) vai coordenar o
tribunal? Como vai se relacionar com os demais órgãos e demais poderes? Mas
vamos esperar. Nada como um dia após o outro”, disse o ministro.
No intervalo da
sessão desta quinta, Marco Aurélio voltou a falar sobre o assunto. Ele se disse "muito
preocupado". "O presidente é um coordenador. Ele é um algodão entre
cristais. Não pode ser metal entre cristais", declarou (veja no vídeo
acima).
Marco Aurélio
ainda destacou que a eleição de Barbosa para a presidência do STF não é
automática. Ele, no entanto, disse que parte da premissa de que o relator será
eleito.
Irritado com as
declarações do colega de tribunal, Barbosa chegou a procurar Ayres Britto, ao
final para reclamar de Marco Aurélio. O magistrado questionou na última sessão do STF, em
duas oportunidades, a futura gestão de Barbosa à frente da Suprema Corte.
"Quem esse cara [Marco Aurélio] pensa que é?", afirmou o relator, no
meio do plenário, ao chefe do Judiciário.
Por tradição, o
escolhido para presidir o Supremo é o ministro mais antigo da corte que ainda
não tenha ocupado o cargo. Porém, mesmo que de forma protocolar, os magistrados
terão de realizar uma votação secreta para eleger Joaquim Barbosa o novo chefe do Judiciário.
Na nota, o
relator do mensalão assegura que, “caso venha a ter a honra de ser eleito
presidente da mais alta corte de Justiça do nosso país nos próximos meses”,
como está previsto nas normas regimentais, não protagonizará “decisões
rocambolescas”.
“Estou certo de
que de mim não se terá a expectativa de decisões rocambolescas e chocantes para
a coletividade, de devassas indevidas em setores administrativos, de tomadas de
posição de claro e deliberado confronto para com os poderes constituídos, de
intervenções manifestamente "gauche", de puro exibicionismo, que
parecem ser o forte do meu agressor do momento.
Em sua resposta
ao colega, Barbosa ainda afirma que Marco Aurélio tem sido “um dos principais
obstáculos a ser enfrentado por qualquer pessoa que ocupe a presidência do
Supremo”. “Para comprová-lo, basta que se consultem alguns dos ocupantes do
cargo nos últimos 10 ou 12 anos”, enfatizou o relator.
Nesta sexta,
Marco Aurélio garantiu que, “por enquanto”, a eleição de Barbosa para o comando
do STF não está “em risco”.
“Só exteriorizei
uma preocupação, que deve ser a preocupação geral. Quanto ao que poderíamos ter
no futuro, admitindo a eleição dele (Barbosa). Se eu não admitisse a eleição
dele, não estaria preocupado”, disse.
Mas Marco Aurélio
levanta uma dúvida sobre a eventual aclamação de Barbosa para a presidência do
Judiciário. “Não sei, evidentemente, teremos uma eleição. E voto é voto”,
observou.
Leia a íntegra da nota do ministro Joaquim Barbosa:
"Um
dos principais obstáculos a ser enfrentado por qualquer pessoa que ocupe a
Presidência do Supremo Tribunal Federal tem por nome Marco Aurélio Mello. Para
comprová-lo, basta que se consultem alguns dos ocupantes do cargo nos últimos
10 ou 12 anos. O apego ferrenho que tenho às regras de convivência democrática
e de justiça me vem não apenas da cultura livresca, mas da experiência concreta
da vida cotidiana, da observância empírica da enorme riqueza que o progresso e
a modernidade trouxeram à sociedade em que vivemos, especialmente nos espaços
verdadeiramente democráticos.
Caso
venha a ter a honra de ser eleito Presidente da mais alta Corte de Justiça do
nosso País nos próximos meses, como está previsto nas normas regimentais, estou
certo de que de mim não se terá a expectativa de decisões rocambolescas e
chocantes para a coletividade, de devassas indevidas em setores
administrativos, de tomadas de posição de claro e deliberado confronto para com
os poderes constituídos, de intervenções manifestamente "gauche", de
puro exibicionismo, que parecem ser o forte do meu agressor do momento.
Ao
contrário de quem me ofende momentaneamente, devo toda a minha ascensão
profissional a estudos aprofundados, à submissão múltipla a inúmeros e
diversificados métodos de avaliação acadêmica e profissional. Jamais me vali ou
tirei proveito de relações de natureza familiar".
FONTE: G1
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