Grupo jihadista Boko Haram
Raymond Ibrahim
Quando
se trata da perseguição dos cristãos pelos muçulmanos, os principais meios de
comunicação apresentam um longo histórico de obscurecimento da realidade.
Embora possam finalmente apresentar os dados reais - se é que chegam a relatar
a história, o que é raro - eles o fazem após criarem e sustentarem uma aura de
relativismo moral que minimiza o papel desempenhado pelos muçulmanos.
FALSA EQUIVALÊNCIA MORAL
Uma
das maneiras mais óbvias é evocar a “disputa sectária” entre muçulmanos e
cristãos, frase que apresenta a imagem de dois adversários igualmente
competitivos - e igualmente abusados e abusivos - lutando um contra o outro.
Isso dificilmente corresponde à realidade das maiorias muçulmanas perseguindo
os cristãos passivos amplamente minoritários.
Recentemente,
por exemplo, no contexto do bem documentado sofrimento dos cristãos no Egito,
um repórter da NPR declarou: “No Egito, tensões crescentes entre muçulmanos e
cristãos têm levado a casos de violência esporádica [iniciados por quem?].
Muitos egípcios atribuem as disputas inter-religiosas a vândalos [quem?], que
se aproveitam da ausência ou da fraqueza das forças de segurança. Outros crêem
que os atos de violência são devidos a uma desconfiança profundamente
sedimentada entre os muçulmanos e a comunidade minoritária cristã [como foi que
essa “desconfiança” teve origem?]”. Embora a reportagem tenha dado ênfase aos
casos nos quais os cristãos foram vitimizados, todo o seu tom - já a partir do
título: “No Egito, Aumenta a Tensão entre Cristãos e Muçulmanos” - sugere que
também poderiam facilmente ser encontrados exemplos de muçulmanos vitimizados
por cristãos [o que não é verdade]. A foto que acompanha o artigo é de um grupo
de cristãos irados, levantando uma cruz - e não de muçulmanos destruindo
cruzes, que foi o que induziu os cristãos a tais demonstrações de
solidariedade.
Duas
outras estratégias da grande mídia em esconder ou minimizar o papel do
islamismo - estratégias com as quais o leitor deve se familiarizar - apareceram
em reportagens tratando do grupo jihadista Boko Haram e do genocídio praticado
por ele contra cristãos da Nigéria.
Primeiro,
vamos apresentar algum contexto: Boko Haram - acrônimo de “Educação Ocidental é
Pecado”, cujo nome completo em árabe é “Sunitas pela Da'wa [Islamização] e pela
Jihad [Guerra Santa]” - é uma organização terrorista dedicada à destruição do
governo secular e ao estabelecimento da sharia (lei islâmica). Essa organização
tem chacinado cristãos há anos, com uma ênfase maior desde o atentado a uma
igreja no Dia de Natal de 2011, que deixou pelo menos 40 cristãos mortos;
seguido pelo ultimato do Ano Novo, exigindo que todos os cristãos evacuassem as
regiões do Norte da Nigéria para não serem mortos - um ultimato que o Boko
Haram tem procurado alcançar por todos os meios: dificilmente se passa um dia
sem um ataque terrorista contra os cristãos ou contra uma igreja cristã; mais
recentemente no dia da Páscoa, num atentado que deixou 20 mortos.
OBSCURECENDO A LINHA ENTRE PERSEGUIDOR E VÍTIMA
Agora,
considere algumas das estratégias da grande mídia. A primeira é estruturar o
conflito entre muçulmanos e cristãos de forma que obscureça a linha entre
perseguidor e vítima. Foi o que aconteceu, por exemplo, em uma reportagem
recente da BBC a respeito de um dos muitos ataques do Boko Haram a igrejas,
matando três cristãos, inclusive um bebê. Depois de relatar os fatos mais
óbvios em duas sentenças, a reportagem continuou descrevendo como “o atentado
deu início a um levante de jovens cristãos, com relatos de que pelo menos dois
muçulmanos foram mortos na violência. Os dois homens foram arrancados de suas bicicletas
depois de serem parados numa barreira em uma estrada, que havia sido montada
pelos amotinados, informou a polícia. Várias lojas de propriedade de muçulmanos
também foram queimadas...”. A reportagem segue longamente, com uma seção
especial sobre os cristãos “muito enraivecidos”, até que os espectadores acabam
confundindo vítimas e perseguidores, esquecendo-se até do motivo pelo qual os
cristãos estavam “tão enfurecidos” - ataques terroristas não provocados e
ininterruptos a suas igrejas e o assassinato de suas mulheres e filhos.
Esse
programa de televisão faz relembrar o atentado que ocorreu na véspera do Ano
Novo no Egito, que deixou mais de 20 cristãos mortos: a mídia relatou o caso,
mas sob manchetes tais como: “Cristãos em choque com a polícia no Egito depois
que o ataque a freqüentadores de uma igreja matou 21 pessoas” (Washington
Post), e: “Choques aumentam à medida que egípcios permanecem enfurecidos depois
de ataque” (New York Times) - como se a reação de cristãos frustrados contra a
chacina fosse uma notícia do mesmo nível ou que tivesse o mesmo valor que a
chacina em si, implicando que a reação irada deles “compensou” todas as coisas
que haviam acontecido.
DISSIMULANDO A MOTIVAÇÃO DOS PERPETRADORES
A
segunda estratégia da mídia envolve dissimular as motivações dos jihadistas.
Uma reportagem da Agência France Presse (AFP) descrevendo um outro ataque do
Boko Haram a uma igreja - que também matou três cristãos durante o culto de
domingo - apresentou um relato justo. Mas, depois, concluiu: “A violência
atribuída ao Boko Haram, cujo objetivo permanece amplamente obscuro, já ceifou,
desde 2009, mais de 1.000 vidas, inclusive mais de 300 apenas este ano, de
acordo com os números registrados pela AFP e grupos de direitos humanos”.
Embora
o Boko Haram esteja bradando seus objetivos diretos há uma década - impondo a
sharia e subjugando, se não eliminando, os cristãos da Nigéria - a mídia, com
aparência de honradez, afirma ignorar quais sejam esses objetivos.
(Semelhantemente, o New York Times descreveu os objetivos do Boko Haram como “sem
sentido” - apesar do grupo continuar a justificá-los com base na doutrina
islâmica). Era de se imaginar que, uma década depois dos ataques jihadistas de
11 de setembro - tendo em vista todas as imagens subseqüentes de muçulmanos
vestidos como militantes, gritando claramente slogans islâmicos, tais como
“Allahu Akbar!” [Alá é o Maior!] e conclamando à imposição da sharia e à
subjugação dos “infiéis”- os repórteres já deveriam saber quais são os
objetivos deles.
Logicamente,
a maneira como a mídia ofusca os objetivos jihadistas serve a um propósito: ela
deixa aberto o caminho para as justificativas politicamente corretas da
violência muçulmana, ou seja, “opressão política”, “pobreza”, “frustração” e
assim por diante. Assim, pode-se ver por que os políticos, tais como Bill
Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos, citam a “pobreza” como “aquilo que
está alimentando tudo o que está acontecendo” (uma referência à chacina dos
cristãos pelo Boko Haram).
Em
resumo, enquanto a grande mídia até relata os fatos mais frugais relacionados à
perseguição aos cristãos, ela utiliza seu completo arsenal de jogos semânticos,
frases de efeito e omissões convenientes para sustentar a narrativa tradicional
- de que a violência dos muçulmanos é tudo menos um produto derivado da
doutrinação islâmica da intolerância. (Raymond Ibrahim
-www.gatestoneinstitute.org – www.Beth-Shalom.com.br)
Raymond
Ibrahim é associado do David Horowitz Freedom Center (Centro de Liberdade David
Horowitz) e membro no Middle East Forum (Fórum do Oriente Médio)
Divulgação: www.juliosevero.com
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