REINALDO AZEVEDO
No post anterior,
está a íntegra do discurso de Dilma Rousseff na ONU. Infelizmente, há várias
mistificações e imprecisões no que concerne à realidade interna do Brasil, à
nossa história recente. Sem pejo, diria até “sem pudor”, Dilma alardeou para o
mundo, na hipótese de que o mundo tenha dado alguma bola, algumas inverdades
que servem apenas à guerrilha eleitoral em solo pátrio. Como diria Padre
Vieira, “pelo costume, quase se não sente”. A identidade do PT está a permanente reinvenção da história. O partido roubou
para si, como se sabe, até a estabilidade econômica. Havendo tempo, comento
esses aspectos menores.
Mas é quando trata
do cenário internacional que a presidente Dilma mergulha no erro, no equívoco,
na tacanhice terceiro-mundista, na retórica a um só tempo grandiloquente e mesquinha, que define a política
megalonanica do Brasil. Seja em relação ao Oriente Médio, seja em relação à
América Latina, ouvimos parvoíces monumentais. Destaco o trecho em que a
indigência intelectual da política externa brasileira se revela de maneira mais
cabal. Segue em vermelho. Destrincho em seguida o seu sentido.
Ainda como
presidenta de um país no qual vivem milhares e milhares de brasileiros de
confissão islâmica, registro neste plenário nosso mais veemente repúdio à escalada de
preconceito islamofóbico em países ocidentais. O Brasil é um dos protagonistas
da iniciativa generosa “Aliança de Civilizações”, convocada originalmente pelo
governo turco.
Com a mesma
veemência, senhor Presidente, repudiamos também os atos de terrorismo que
vitimaram diplomatas americanos na Líbia.
Senhor Presidente,
Ainda com os olhos
postos no Oriente Médio, onde residem alguns dos mais importantes desafios à
paz e à segurança internacional, quero deter-me mais uma vez na questão
israelo– palestina.
Reitero minha fala
de 2011, quando expressei o apoio do governo brasileiro ao reconhecimento do
Estado Palestino como membro pleno das Nações Unidas. Acrescentei, e repito
agora, que apenas uma Palestina livre e soberana poderá atender aos legítimos
anseios de Israel por paz com seus vizinhos, segurança em suas fronteiras e
estabilidade política regional.
Voltei
A suposta
“islamofobia” é só uma das teses — uma farsa estupenda! — que têm sido
brandidas Oriente Médio afora pelo extremismo islâmico e, nos países
ocidentais, pelas esquerdas. Caso se pedissem as provas e as evidências do
preconceito de que seriam alvos as comunidades islâmicas nas democracias
ocidentais, não se encontrariam uma só manifestação, um só evento, um só dado. Nem mesmo existe
aquele fato que só serve para provar que a ocorrência fortuita não implica uma
prática corriqueira.
Ao contrário:
assiste-se, isto sim, é a uma escalada do fundamentalismo islâmico em vários
países do Oriente Médio. Lideranças religiosas têm usado pretextos vários para
inflamar as populações de seus respectivos países contra o Ocidente. O tal
filme amador e as charges são motivos verossímeis e falsos a justificar a
violência, que tem resultado em mortes.
Ao falar em
“islamofobia” no Ocidente, dona Dilma Rousseff endossa, querendo ou não,
entrevista concedida ontem por Mahamoud Arhmadinejad, presidente do Irã. Dá a
impressão de que o tal filme integra ações organizadas e deliberadas para
demonizar os muçulmanos. Errado! A única chance que os seguidores do Islã têm
de conhecer o moderno estado de direito, na plena vigência dos
direitos humanos, diga-se, é morar em Israel ou em qualquer uma das chamadas
democracias ocidentais. “Nem a Turquia você inclui na lista, Reinaldo?” Nem a
Turquia! Não há liberdade de crítica religiosa no país. Para mim, basta para
descaracterizar uma democracia plena. E eu falei de democracia plena!
As democracias
ocidentais, onde estaria em curso práticas islamofóbicas — o que é falso —
garantem aos seguidores do Profeta direitos plenos — coisa que os seguidores do
Profeta jamais sonharam em garantir aos seguidores de outras religiões em seus
respectivos países; aliás, essas garantias não são dadas nem mesmo a seus
próprios povos, reitero.
TRAPAÇA
INTELECTUAL
Em seguida, Dilma
opta pela escancarada trapaça intelectual. Ao tratar da questão
israelo-palestina, mergulha definitivamente no absurdo. Em primeiro lugar, ao
associar o transe que vivem as sociedades islâmicas com esse conflito em
particular, sugere ser ele o fato gerador de todo o resto, como se, por
hipótese, solucionado o embate e definido, então, o estado palestino, o resto
se resolvesse.
Essa é uma das
maiores e mais impressionantes farsas que se inventaram sobre os dramas do
Oriente Médio. Mas notem que não é uma ilação inocente. O que se está a
afirmar, por vias tortas, é que, sem a existência de Israel na região, tudo estaria
no lugar certo. Não é outro o pensamento de… Mahmoud Ahmadinejad. Dilma e o
Itamaraty fingem ignorar que uma das batalhas que se travam no Oriente Médio —
apenas uma! — é pela hegemonia militar da região. Boa parte dos mortos do
Oriente Médio não têm qualquer relação com o Ocidente ou com o conflito
israelo-palestino. Trata-se de governos sunitas tentando conter o imperialismo…
persa! É isto mesmo: trata-se de governos sunitas tentando conter o
expansionismo iraniano.
“Não force a mão,
Reinaldo! Não se trata de um discurso anti-Israel!” Não??? Quando Dilma defende
que se reconheça “o Estado Palestino como membro pleno das Nações Unidas”,
cumpre perguntar: que estado palestino??? Ele já foi proclamado à revelia de
Israel??? Com quem este país deve negociar? Com o Hamas, que pede a sua
destruição e brinda-o diariamente com foguetes e, volte e meia, com atentados
terroristas, ou com o Fatah?
Nesse momento,
infelizmente, a chefe de estado brasileira flerta com o terrorismo. Houvesse
alguma dúvida a respeito, ela se desfaz em seguida. Releiam isto:“Acrescentei, e repito agora, que apenas uma Palestina livre e soberana
poderá atender aos legítimos anseios de Israel por paz com seus vizinhos,
segurança em suas fronteiras e estabilidade política regional.”Eis
aí: o direito de Israel viver em paz e segurança, pois, está atrelado à
existência do estado palestino; sem ele, o país perderia aquele direito. Como
as palavras fazem sentido, o discurso da presidente brasileira justifica os
atos terroristas.
Tal discurso é
feito um dia depois de o Brasil ter afirmado que pretende retomar o seu
aloprado “plano de paz”
para o Irã e dois dias depois
de Ahmadinejad ter
pregado de novo o fim de Israel.
Não foi a única tolice dita sobre o
Oriente Médio, não. Há outras. Mas paro este post por aqui. Escreverei outros,
é claro!
Por Reinaldo
Azevedo
FONTE: VEJA ABRL
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