Julio Severo
Um vídeo produzido por líderes cristãos ligados à igreja iraniana aliada de
comunistas está sendo divulgado em meios reformados para atacar o Pr. Youcef
Nadarkhani, que havia sido condenado à morte pelo governo islâmico do Irã em
2010.
O vídeo, que tem a participação de
reverendos com diploma teológico, questiona a falta de tal diplomuna na vida de
Nadarkhani. E o questionamento, jogando-o contra a parede sem dó nem piedade,
vai mais longe ao tentar extrair dele uma confissão de heresia.
SENTENÇA DE
MORTE FÍSICA OU TEOLÓGICA POR “HERESIA”
Aparentemente, o maior problema de
Nadarkhani, para os produtores do vídeo, foi sua suposta heresia, não sua
sentença de morte, que havia sido decretada por “apostasia” — o ato de ele ter
abandonado o islamismo para entregar sua vida a Jesus Cristo.
Claro que mesmo sem uma sentença
oficial, pastores evangélicos são rotineiramente martirizados em países
muçulmanos radicais. Mas será que, antes de ajudarmos a salvar a vida desses
coitados, precisaremos conferir se possuem diploma teológico e se sua teologia
é rigorosamente alinhada com a igreja oficial do Irã?
Somente depois de uma intensa pressão
internacional, que contou com a intervenção do senador Magno Malta, o governo islâmico do Irã cedeu, finalmente libertando o Pr. Youcef,
que passou três anos sendo maltratado na prisão enquanto aguardava a execução.
Organizações e publicações cristãs do
mundo inteiro celebraram sua libertação. Mas um grupo de pastores, principalmente reformados, começou a acusar o
pastor iraniano de “unitarista” por
entenderem que ele só crê em Jesus.
A RESPOSTA DE CHRISTIAN SOLIDARITY WORLDWIDE
A resposta oficial de Christian Solidarity
Worldwide, uma organização que dá assistência
para cristãos perseguidos no mundo inteiro, foi enviada ao Blog Julio Severo em
email datado de 13 de setembro de 2012. O email de Christian Solidarity
Worldwide disse:
É
profundamente preocupante que enquanto a vida de um homem está em perigo,
alguns cristãos não tenham nada de melhor para fazer do que pensar numa
inquisição teológica de nova era.
Um importante
líder da Igreja do Irã continua a insistir que [Nadarkhani e outros
pentecostais] são evangélicos e não creem no unitarianismo. O credo deles
pareceria apoiar isso, mas por favor leve em consideração que o vídeo (http://youtu.be/adRBJS5WdoM) foi traduzido
do francês por pessoas cuja língua materna não é o inglês. Em todo caso, o
Christian Solidarity Worldwide trabalha a favor da liberdade religiosa para
todos, e colocando a religião e a teologia de lado, os fatos fundamentais
envolvendo esse caso ilustram uma injustiça grave. A total falta de um processo
justo e as decisões extrajudiciais que caracterizaram esse caso contribuíram
para torná-lo célebre para organizações e observadores seculares — inclusive a
sociedade secular — e pessoas e grupos de outras religiões. O que eles pensaram
com tudo isso?
O fato
incontestável é que o Pr. Nadarkhani enfrentou a sentença de morte porque ele
estava insistindo em se apegar a Cristo, não porque ele estava se apegando ao
unitarianismo. Será que esses teólogos não conseguem reconhecer e elogiar isso
e orar por ele? Ainda que eles estejam com a razão de que o Pr. Nadarkhani
realmente acredita no unitarianismo, esse é o momento apropriado para um artigo
sobre essa questão? Será que Cristo iria querer seu povo focalizando nessa
questão nesse momento, quando até mesmo descrentes estão objetando à pena de
morte nesse caso? Ou será que eles sentem que a pena de morte é merecida nesse
caso, considerando que ele é, aos olhos deles, um herético? Que tipo de
testemunho é esse para o mundo que não conhece a Cristo?
O unitarianismo é uma crença teológica
errada, mas dificilmente a igreja subterrânea iraniana tem acesso a recursos
teológicos. É óbvio que o pastor iraniano não tem formação teológica, em
contraste com seus questionadores.
A IGREJA OFICIAL E NÃO OFICIAL DO IRÃ
Youcef Nadarkhani faz parte do crescente
movimento pentecostal do Irã.
Há dois tipos de igrejas cristãs no Irã:
a igreja oficial (que em grande parte é de linha presbiteriana) e a igreja não
oficial e subterrânea (que em grande parte é pentecostal).
A igreja oficial começou em meados de
1830, com o corajoso trabalho missionário de pastores presbiterianos dos EUA.
Essa igreja, a Igreja Evangélica Presbiteriana do Irã (IEPI), tem o reconhecimento do governo e goza certa liberdade.
Desde 1950, a IEPI faz parte do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), uma verdadeira babilônia de
esquerdismo, ecumenismo, feminismo, gayzismo, etc.
Se os portadores de diploma teológico
que estão tentando detectar uma heresia em Nadarkhani olhassem para o CMI
encontrariam não uma nem duas heresias. Encontrariam uma abundância tão grande
de paganismo, bruxaria, gayzismo, marxismo, apostasia e heresias que teriam
material suficiente para passar a vida inteira ocupados fazendo verdadeira
apologética, atacando os verdadeiros heréticos.
Com o treinamento e conhecimento
teológico que tem, é totalmente indesculpável que a IEPI tenha conexão com o
CMI, que contraria frontalmente o Evangelho. É indesculpável também para o CMI,
pois todos os seus membros são pastores e bispos com elevados títulos de
seminários e universidades, mas cujo coração está cheio de fogo e enxofre do
próprio inferno.
De igual forma, se o Pr. Youcef
Nadarkhani tivesse todo o treinamento e conhecimento teológico da IEPI, seria
indesculpável ele defender a teologia do unitarianismo.
FALTA DE INSTRUÇÃO?
Entretanto, ele não tem tal treinamento
e conhecimento teológico. Em termos de instrução acadêmica, ele
perde de longe da IEPI e do CMI. Além disso, não há evidência de que esteja
defendendo explicitamente o unitarianismo. O que se sabe é que ele tem pregado
Jesus.
A primeira medida cristã com relação a
um cristão que tem conhecimento precário é ajudá-lo, como Aqüila e Priscila
fizeram com Apolo:
“[Apolo] era instruído no caminho do Senhor e,
fervoroso de espírito, falava e ensinava diligentemente as coisas do Senhor,
conhecendo somente o batismo de João. Ele começou a falar ousadamente na
sinagoga; e, quando o ouviram Priscila e Aqüila, o levaram consigo e lhe
declararam mais precisamente o caminho de Deus.” (Atos 18:25-26 ACF)
“Paulo, tendo passado por todas as regiões
superiores, chegou a Éfeso; e achando ali alguns discípulos, Disse-lhes:
Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes? E eles disseram-lhe: Nós nem
ainda ouvimos que haja Espírito Santo. Perguntou-lhes, então: Em que sois
batizados então? E eles disseram: No batismo de João. Mas Paulo disse:
Certamente João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que
cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. E os que ouviram
foram batizados em nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio
sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam.” (Atos 19:1-6 ACF)
Quando Paulo se encontrou com alguns
cristãos que só tinham o conhecimento do batismo de João, com muito amor ele
lhes explicou que havia um batismo mais avançado. Ele teve essa paciência
porque eles eram cristãos simples, sem acesso à totalidade da Palavra de Deus e
sem nenhum treinamento teológico. Mas se fossem teólogos, é de suspeitar que
Paulo teria sido mais duro.
Nadarkhani pertence à igreja
subterrânea, uma igreja que tem falta de quase tudo. Não tem
reconhecimento do governo islâmico e, por ser pentecostal, é ignorada ou até
mesmo desprezada pelas igrejas presbiterianas formais do Irã.
Mas o maior pecado é cometido por quem
tem muito conhecimento e ainda assim peca.
“REVERENDO” E OUTROS TÍTULOS
Num exemplo muito simples, o título
“reverendo” é aplicado a líderes das igrejas presbiterianas e reformadas. O
Dicionário Aurélio diz que o significado de “reverendo” é: “que merece
reverência”.
De um ponto-de-vista teológico
estritamente técnico, esse termo, e os que aceitam seu uso, mereceriam óbvia
condenação, pois na Bíblia, especialmente nos Salmos, o termo “que merece
reverência” está ligado exclusivamente a Deus, nunca a homens, nem mesmo a
sacerdotes.
Contudo, homens mortais portadores de
diplomas teológicos são tratados com real “reverência”, mesmo que não
utilizassem para si o título de “reverendos”. Se eles, que são meros seres
humanos, se ofendem espalhafatosamente com títulos como apóstolo e profeta,
apropriados para serem usados para pessoas, como deveria Deus expressar seus
sentimentos quando um homem usa o título de “reverendo”, que deveria pertencer
somente a Ele?
Do ponto-de-vista da Bíblia, nenhum cristão
é obrigado a se prostrar diante de um título que exige reverência para seu
portador. O próprio Jesus Cristo nos alertou sobre títulos:
“Eles preferem
os melhores lugares nos banquetes e os lugares de honra nas sinagogas. Gostam
de ser cumprimentados com respeito nas praças e de ser chamados de ‘mestre’.
Porém vocês não devem ser chamados de ‘mestre,’ pois todos vocês são irmãos uns
dos outros e têm somente um Mestre. E aqui na terra não chamem ninguém de pai
porque vocês têm somente um Pai, que está no céu. Vocês não devem também ser
chamados de ‘líderes’ porque vocês têm um líder, o Messias. Entre vocês, o mais
importante é aquele que serve os outros.” (Mateus 23:6-11 BLH)
Em nossos dias, Jesus poderia igualmente
nos avisar: “E aqui na terra não chamem ninguém de ‘reverendo’ porque há
somente um que merece reverência e Ele está no céu”.
Não estou defendendo o desrespeito aos
que gostam de tais títulos, mas esse não é um ponto interessante?
SOBERBA TEOLÓGICA MERECE SER DURAMENTE
CRITICADA
Outro exemplo simples vem da própria
realidade brasileira. Indivíduos progressistas portadores de diploma teológico
e ostentando sobre suas próprias cabeças o título de “apologetas” criticam
pentecostais e neopentecostais nos mínimos detalhes, não hesitando colar o rótulo
de herético ao menor sinal de desagrado, conforme seus caprichos teológicos —
um dos quais é a negação da operação de dons sobrenaturais do Espírito Santo
hoje, como profecias e visões.
Mas, de forma esquizofrênica, sempre evitaram criticar Robinson Cavalcanti, portador de diplomas e vasto conhecimento teológico, político e
ideológico, ex-membro, político e apoiador do PT, e um defensor da poligamia e
do socialismo. “Para quem muito é dado, muito será cobra” se aplica igualmente,
nesse caso, ao não criticado e aos não criticadores.
Procuram uma “heresia” num homem simples
como Nadarkhani, mas são incapazes de enxergar heresias vasta e patentemente
maiores em proeminentes portadores de pergaminhos teológicos. Estão, como Jesus
mostrou, com os olhos furados por uma trave de madeira, mas se julgam
especialistas em tirar cisco dos olhos dos outros.
“— Por que é
que você vê o cisco que está no olho do seu irmão e não repara na trave de
madeira que está no seu próprio olho? Como é que você pode dizer ao seu irmão:
‘Irmão, me deixe tirar esse cisco do seu olho,’ se você não repara na trave que
está no seu próprio olho? Hipócrita! Tire primeiro a trave que está no seu olho
e então poderá ver bem para tirar o cisco que está no olho do seu irmão.”
(Lucas 6:41-42 BLH)
Se Cavalcanti e seus amigos teólogos
progressistas defendessem algo parecido com unitarianismo, aí seria um problema
muito sério, exatamente por causa do vasto conhecimento deles para entender
conceitos teológicos. Eles só não defendem o unitarianismo porque estão
ocupados demais promovendo outras heresias.
Provavelmente, com sua pouca instrução,
Nadarkhani nem entenda o que significa unitarianismo. Mas seus críticos sabem.
E sabem o que o significam as palavras “reverência” e “reverendo”. E sabem
também muito bem o que é o Conselho Mundial de Igrejas e a teologia marxista,
também conhecida como Teologia da Libertação e Teologia da Missão Integral.
A igreja oficial do Irã tem teologia,
diplomados, reverendos, templos reconhecidos e conexões com o Conselho Mundial
de Igrejas, mas lhe falta a simplicidade e fome de Deus da igreja subterrânea
perseguida.
Essa é a loucura de Deus, que
escandaliza islâmicos assassinos de cristãos e portadores de soberba teológica,
mas destituídos de paixão e compaixão de Deus.
Fonte: www.juliosevero.com
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