sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A ARCA DA ALIANÇA JUSTIFICA A IDOLATRIA CATÓLICA?


Há alguns dias eu revi um velho amigo católico de velhos tempos de debate (um chato, é verdade, mas ainda assim amigo). Começamos a debater sobre o quadro que eu expus em meu artigo: Desmascarando a idolatria católica, onde eu faço um “contraste” entre aquilo que os católicos fazem com as suas imagens e aquilo que os pagãos fazem com as imagens deles. Vejam que surpreendente são as diferenças visíveis e marcantes entre um e outro: 

Católicos
Pagãos
Prostram-se diante de suas imagens
Prostram-se diante de suas imagens
Dirigem orações e pedidos a elas
Dirigem orações e pedidos a elas
Constroem templos com essas imagens
Constroem templos com essas imagens
Beijam essas imagens
Beijam essas imagens
Dirigem promessas a essas imagens
Dirigem promessas a essas imagens
Prestam culto a essas imagens
Prestam culto a essas imagens
Fazem procissões às suas imagens
Fazem procissões às suas imagens

Sim, é de ficar emocionado com tantas diferenças. O católico, então, tentou contra-argumentar com o famoso (embora falido) argumento da “arca da aliança”. Para ele, os israelitas faziam com a arca da aliança o mesmo que os católicos fazem com as suas imagens. Então, ele chegou a brilhante conclusão de que os católicos podem continuar praticando a vontade tudo aquilo exposto no quadro acima (e presumo que os pagãos também, por inferência), porque os hebreus faziam tudo isso com a arca da aliança.

Como eu irei demonstrar aqui, este argumento é, além de falso, falacioso. Não é verdade que os hebreus praticavam com a arca tudo aquilo que os católicos praticam com suas imagens de escultura, assim como não é verdade que a arca da aliança tinha o mesmo valor e significado dessas imagens mortas do Catolicismo e dos ídolos mudos dos pagãos. O quadro é totalmente diferente. Na arca da aliança, o próprio Deus se fazia nela presente.

Ora, pergunto eu: Deus se faz presente em qualquer imagem de escultura? É claro que não! Mas no caso da arca, Deus se fazia presente. Assim, sendo, Deus se fazia nela pessoalmente presente e não de forma representativa. Em nenhuma passagem bíblica vemos Deus dizendo que poderia se fazer presente em nenhuma outra obra de escultura feita por mãos de homens, especialmente as que tentam representá-lo ou a santos.

Somente dentro do tabernáculo Deus decidiu-se em estar presente e, mais especificamente, dentro da arca, e exatamente por isso é que Josué achou que não teria problema em se prostrar diante dela, pois Deus dentro dela dizia estar presente. Ou seja, estamos falando aqui de contextos totalmente diferentes. Ou será que Deus está dentro das imagens católicas também? Essa seria no máximo para rir!

Prova disso é que, ao longo de toda a Escritura, não há sequer uma única menção de um único israelita verdadeiramente pio que tenha se curvado diante de alguma obra feita por mãos de homens que não fosse a arca. E, mesmo no caso da própria arca da aliança, o fato é que tal ocorrência sucedeu somente uma única vez, e mesmo assim Deus não concordou com aquela prática:

Josué:
7:6 Então Josué rasgou as suas vestes, e se prostrou em terra sobre o seu rosto perante a arca do Senhor até à tarde, ele e os anciãos de Israel; e deitaram pó sobre as suas cabeças.
7:7 E disse Josué: Ah! Senhor Deus! Por que, com efeito, fizeste passar a este povo o Jordão, para nos entregares nas mãos dos amorreus para nos fazerem perecer? Antes nos tivéssemos contentado em ficar além do Jordão!
7:8 Ah, Senhor! Que direi? Pois Israel virou as costas diante dos inimigos!
7:9 Ouvindo isto, os cananeus, e todos os moradores da terra, nos cercarão e desarraigarão o nosso nome da terra; e então que farás ao teu grande nome?
7:10 Então disse o Senhor a Josué: Levanta-te; por que estás prostrado assim sobre o teu rosto?

Notem que Deus não consentiu com aquele ato de Josué. Ao invés de elogiá-lo por ter se prostrado diante da arca, ele rejeitou tal atitude. É óbvio que Deus não rejeitou pelo simples fato de estar prostrado (pois estar prostrado diante de Deus nunca foi alvo de rejeição da parte dEle, pois é um ato de reverência), mas sim porque estava prostrado diante de arca. Este é um fato importante a ser ressaltado:

-Em absolutamente nenhum lugar da Bíblia Deus rejeita ou corrige a atitude de alguém que se prostra diante dEle; porém, na única vez em que alguém se prostrou diante da arca, Deus rejeitou e corrigiu tal atitude!

É evidente, portanto, que o Senhor não consentiu com o ato de Josué em ter se prostrado diante da arca, ainda que a arca representasse a presença do próprio Deus, espiritualmente presente em pessoa! E o que aconteceu, desde então? O fato é que nunca mais algum israelita se prostrou diante da arca (nem o próprio Josué), pois eles entenderam que nem a própria arca, embora fosse o objeto mais santo dentre os israelitas, poderia ser alvo de tal coisa.

Mas fica a pergunta no ar: se Deus se agradou da atitude de Josué em ter se prostrado diante da arca, então por que nunca mais algum israelita e nem o próprio Josué voltaram a fazer tal coisa? Ora, se tal atitude é correta, nobre, agradável aos olhos de Deus... então por que nunca mais eles repetiram este ato?! A razão é simples: Josué entendeu muito bem a advertência divina em Josué 7:10. A arca não era um objeto ao qual pudesse se prostrar diante dela, por mais santa que fosse. E Josué deve ter entendido muito bem o recado, pois corrigiu sua postura e nunca mais repetiu tal ato!

Então, temos aqui o seguinte quadro:

1º A única vez em toda a Sagrada Escritura em que alguém verdadeiramente pio se prostrou diante de um objeto (imagem) foi no caso da arca da aliança. Em nenhum outro lugar da Bíblia algum servo de Deus aparece fazendo isso.

2º Além do fato de que a arca foi o único objeto ao qual eles se prostraram e nenhum outro mais, o fato é que tal ocorrência se deu uma única vez, e nunca mais se repetiu.

3º A decisão de Josué em se prostrar diante da arca não se deu pelo fato de que era costume entre os hebreus se prostrar diante de imagens. Se fosse assim, teríamos muitas outras ocorrências bíblicas dos judeus se prostrando diante de imagens que representassem Deus ou algum santo e sendo elogiados por causa disso, mas simplesmente não temos. Então, o caso da arca era especial e excepcional.

4º Este caso excepcional e totalmente fora de costume se deu unicamente pelo fato de que Josué acreditou naquela ocasião que, pelo fato de que a arca continha a presença de Deus dentro dela (o que a diferenciava de absolutamente todas as outras imagens de escultura na terra), ele estaria não se prostrando diante de uma imagem, mas diante do próprio Deus.

5º E, mesmo assim, ele foi corrigido por Deus por causa deste ato, e nunca mais voltou a realizá-lo!

Este quadro é simplesmente apavorante para os católicos. Isso porque, se Deus rejeitou que se prostrassem diante de uma imagem que tinha dentro dela a presença dEle mesmo, quanto mais com uma imagem que não tem a presença pessoal de Deus em si mesma! E, se Deus rejeitou que se prostrassem diante de uma imagem que representava verdadeiramente o próprio Deus, quanto mais com uma imagem que representa um mero santo!

O contraste aqui é marcante: Deus rejeitou que se prostrassem diante de uma imagem onde ele estava presente, mas os católicos pensam que Deus não rejeita que se prostrem diante de imagens onde ele não está, e que são meramente representativas! Deus rejeitou que se prostrassem diante de uma imagem onde o próprio Deus estava presente e que, para Josué, o fato de se prostrar diante dela seria se prostrar diante de Deus.

Mas os católicos, com a desculpa de que estão se prostrando não para a imagem, mas para o santo, acham que estão isentos de culpa! Ora, se nem mesmo com uma imagem que realmente representava Deus de fato (a presença dEle pessoalmente presente) Ele aceitou tal coisa, quanto menos com uma que represente um mero santo, que está muito abaixo do próprio Deus!

Então, vemos que, aquilo que teoricamente foi feito para defender os católicos das acusações protestantes contra o culto às imagens, na verdade se volta contra eles mesmos, com ainda mais força. Tal “argumento” católico, descontextualizando o texto de Josué 7:6, só serve para afundar ainda mais a teologia católica e colocá-la ainda mais em apuros. E, se este é o argumento mais forte que eles têm, imagine só qual será o nível dos outros...

Ainda poderíamos levantar outros fatos, tais como:

1º Os israelitas, diferentemente dos católicos com suas imagens, nunca consideraram a arca da aliança um intermediário ou mediador entre eles e Deus.

2º Os israelitas, diferentemente dos católicos com suas imagens, nunca prestaram culto à arca da aliança.

3º Os israelitas, diferentemente dos católicos com suas imagens, nunca rezaram à arca da aliança.

4º Os israelitas, diferentemente dos católicos com suas imagens, nunca esperaram alguma intercessão da arca da aliança.

5º Os israelitas, diferentemente dos católicos com suas imagens, nunca dirigiram promessas à arca da aliança.

6º Os israelitas, diferentemente dos católicos com suas imagens, nunca subiram as escadarias do senhor do Bonfim ou rezaram o terço para provarem a sua fidelidade à arca da aliança.

7º Os israelitas, diferentemente dos católicos com suas imagens, nunca construíram templos em honra à arca da aliança.

8º Os israelitas, diferentemente dos católicos com suas imagens, nunca beijaram a arca da aliança para mostrarem o quanto que “a amam”.

9º Os israelitas, diferentemente dos católicos com suas imagens, nunca colocaram a sua confiança na arca para obterem êxito em uma causa ou batalha. Quando colocaram, perderam (1Sm.4:3-11).

10º E, finalmente, os israelitas, diferentemente dos católicos com suas imagens, somente se prostraram uma única vez diante da arca (Js.7:6), e neste mesmo caso foram corrigidos por isso (Js.7:10) e nunca mais voltaram a fazer tal coisa. Já os católicos se prostram a todo o momento diante de suas imagens de pau e pedra e acham que Deus está feliz da vida com isso.

Portanto, usar um caso isolado e único com relação à arca para justificar as práticas católicas é no mínimo querer ser ignorante. As diferenças entre um e outro são visíveis e marcantes. Tal “argumento” é, assim, no mínimo uma piada de muito mau gosto.

Antes de terminar, vale a pena ressaltar outro fato importante: esta falácia da arca da aliança, se fosse mesmo verdadeira e se pudesse mesmo ser usada de pretexto para as práticas idólatras católicas, faria com que até mesmo os próprios pagãos pudessem se justificar com isso. Um pagão também poderia repetir com o católico: “nós nos prostramos diante de uma imagem e lhe rendemos culto, mas veja bem, isso não é um problema, pois Josué fez o mesmo com a arca...”.

Tal argumento serviria para justificar até mesmo as práticas pagãs. Portanto, ao invés de distanciar os católicos dos pagãos, o que eles conseguem com esta falácia é apenas acentuar ainda mais a proximidade entre ambos. Sendo assim, nem o quadro mostrado acima (das “diferenças” entre católicos e pagãos) seria refutado, nem serviria para distanciar os católicos dos pagãos. O máximo que conseguiria com o “êxito” de tal argumento seria mostrar que ambos estão certos em suas práticas idólatras. Seria aproximar, e não afastar as semelhanças marcantes entre ambos.

Até porque, dada a devida prática idêntica de católicos e pagãos no tocante ao culto às imagens, fica difícil um católico apontar um único erro na prática que um pagão pratica com as suas imagens. O máximo que ele poderia apontar seriam erros teológicos (em considerar aquilo um ídolo), mas não erros práticos (pois na prática um pagão faz com seu ídolo o mesmo que o católico faz com seu santo). E parece-me que os católicos se contentam em seguirem os mesmos passos e pretextos dos pagãos com as suas imagens, com as mesmas práticas repugnantes, mas com “argumentos teológicos” diferentes...

Paz a todos vocês que estão em Cristo. 

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)

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