Há
alguns dias eu revi um velho amigo católico de velhos tempos de debate (um
chato, é verdade, mas ainda assim amigo). Começamos a debater sobre o quadro
que eu expus em meu artigo: “Desmascarando a
idolatria católica”, onde eu faço um “contraste” entre aquilo que os
católicos fazem com as suas imagens e aquilo que os pagãos fazem com as imagens
deles. Vejam que surpreendente são as diferenças visíveis e marcantes entre um
e outro:
Católicos
|
Pagãos
|
Prostram-se
diante de suas imagens
|
Prostram-se
diante de suas imagens
|
Dirigem
orações e pedidos a elas
|
Dirigem
orações e pedidos a elas
|
Constroem
templos com essas imagens
|
Constroem
templos com essas imagens
|
Beijam
essas imagens
|
Beijam
essas imagens
|
Dirigem
promessas a essas imagens
|
Dirigem
promessas a essas imagens
|
Prestam
culto a essas imagens
|
Prestam
culto a essas imagens
|
Fazem
procissões às suas imagens
|
Fazem
procissões às suas imagens
|
Sim, é de ficar emocionado com tantas
diferenças. O católico, então, tentou contra-argumentar com o famoso (embora
falido) argumento da “arca da aliança”. Para ele, os israelitas faziam com a
arca da aliança o mesmo que os católicos fazem com as suas imagens. Então, ele
chegou a brilhante conclusão de que os católicos podem continuar praticando a
vontade tudo aquilo exposto no quadro acima (e presumo que os pagãos também,
por inferência), porque os hebreus faziam tudo isso com a arca da aliança.
Como
eu irei demonstrar aqui, este argumento é, além de falso, falacioso. Não é
verdade que os hebreus praticavam com a arca tudo aquilo que os católicos
praticam com suas imagens de escultura, assim como não é verdade que a arca da
aliança tinha o mesmo valor e significado dessas imagens mortas do Catolicismo
e dos ídolos mudos dos pagãos. O quadro é totalmente diferente. Na arca da
aliança, o próprio Deus se fazia nela presente.
Ora,
pergunto eu: Deus se faz presente em qualquer imagem de escultura? É claro que não!
Mas no caso da arca, Deus se fazia presente. Assim, sendo, Deus se fazia nela
pessoalmente presente e não de forma representativa. Em nenhuma passagem
bíblica vemos Deus dizendo que poderia se fazer presente em nenhuma outra obra
de escultura feita por mãos de homens, especialmente as que tentam
representá-lo ou a santos.
Somente
dentro do tabernáculo Deus decidiu-se em estar presente e, mais
especificamente, dentro da arca, e exatamente por isso é que Josué achou que
não teria problema em se prostrar diante dela, pois Deus dentro dela dizia
estar presente. Ou seja, estamos falando aqui de contextos totalmente
diferentes. Ou será que Deus está dentro das imagens católicas também? Essa
seria no máximo para rir!
Prova
disso é que, ao longo de toda a Escritura, não há sequer uma única
menção de um único israelita verdadeiramente pio que tenha se curvado diante de
alguma obra feita por mãos de homens que não fosse a arca. E, mesmo no
caso da própria arca da aliança, o fato é que tal ocorrência sucedeu somente uma
única vez, e mesmo assim Deus não concordou com aquela prática:
Josué:
7:6 Então Josué rasgou as suas vestes, e se prostrou em terra sobre o seu
rosto perante a arca do Senhor até à tarde, ele e os anciãos de Israel; e
deitaram pó sobre as suas cabeças.
7:7 E disse Josué: Ah! Senhor Deus! Por que, com efeito, fizeste passar a
este povo o Jordão, para nos entregares nas mãos dos amorreus para nos fazerem
perecer? Antes nos tivéssemos contentado em ficar além do Jordão!
7:8 Ah, Senhor! Que direi? Pois Israel virou as costas diante dos
inimigos!
7:9 Ouvindo isto, os cananeus, e todos os moradores da terra, nos
cercarão e desarraigarão o nosso nome da terra; e então que farás ao teu grande
nome?
7:10 Então disse o Senhor a Josué: Levanta-te; por que estás
prostrado assim sobre o teu rosto?
Notem
que Deus não consentiu com aquele ato de Josué. Ao invés de elogiá-lo por ter
se prostrado diante da arca, ele rejeitou tal atitude. É óbvio que Deus não
rejeitou pelo simples fato de estar prostrado (pois estar prostrado diante de
Deus nunca foi alvo de rejeição da parte dEle, pois é um ato de reverência),
mas sim porque estava prostrado diante de arca. Este é um fato importante a ser
ressaltado:
-Em
absolutamente nenhum lugar da Bíblia Deus rejeita ou corrige a atitude de
alguém que se prostra diante dEle; porém, na única vez em que alguém se prostrou
diante da arca, Deus rejeitou e corrigiu tal atitude!
É
evidente, portanto, que o Senhor não consentiu com o ato de Josué em ter se
prostrado diante da arca, ainda que a arca representasse a presença do próprio
Deus, espiritualmente presente em pessoa! E o que aconteceu, desde então? O
fato é que nunca mais algum israelita se prostrou diante da arca (nem
o próprio Josué), pois eles entenderam que nem a própria arca, embora fosse o
objeto mais santo dentre os israelitas, poderia ser alvo de tal coisa.
Mas
fica a pergunta no ar: se Deus se agradou da atitude de Josué
em ter se prostrado diante da arca, então por que nunca mais algum israelita
e nem o próprio Josué voltaram a fazer tal coisa? Ora, se tal atitude
é correta, nobre, agradável aos olhos de Deus... então por que nunca mais eles
repetiram este ato?! A razão é simples: Josué entendeu muito bem a advertência
divina em Josué 7:10. A arca não era um objeto ao qual pudesse se prostrar
diante dela, por mais santa que fosse. E Josué deve ter entendido muito bem o
recado, pois corrigiu sua postura e nunca mais repetiu tal ato!
Então,
temos aqui o seguinte quadro:
1º A única vez em toda a Sagrada Escritura em que alguém verdadeiramente
pio se prostrou diante de um objeto (imagem) foi no caso da arca da aliança. Em
nenhum outro lugar da Bíblia algum servo de Deus aparece fazendo isso.
2º Além do fato de que a arca foi o único objeto ao qual eles se prostraram
e nenhum outro mais, o fato é que tal ocorrência se deu uma única vez,
e nunca mais se repetiu.
3º A decisão de Josué em se prostrar diante da arca não se deu pelo fato de
que era costume entre os hebreus se prostrar diante de imagens. Se fosse assim,
teríamos muitas outras ocorrências bíblicas dos judeus se prostrando diante de
imagens que representassem Deus ou algum santo e sendo elogiados por causa disso,
mas simplesmente não temos. Então, o caso da arca era especial e excepcional.
4º Este caso excepcional e totalmente fora de costume se deu unicamente
pelo fato de que Josué acreditou naquela ocasião que, pelo fato de que a arca
continha a presença de Deus dentro dela (o que a diferenciava de absolutamente
todas as outras imagens de escultura na terra), ele estaria não se prostrando
diante de uma imagem, mas diante do próprio Deus.
5º E, mesmo assim, ele foi corrigido por Deus por causa deste ato, e nunca
mais voltou a realizá-lo!
Este
quadro é simplesmente apavorante para os católicos. Isso porque, se Deus
rejeitou que se prostrassem diante de uma imagem que tinha dentro dela a presença
dEle mesmo, quanto mais com uma imagem que não tem a presença pessoal
de Deus em si mesma! E, se Deus rejeitou que se prostrassem diante de
uma imagem que representava verdadeiramente o próprio Deus, quanto mais
com uma imagem que representa um mero santo!
O
contraste aqui é marcante: Deus rejeitou que se prostrassem diante de uma
imagem onde ele estava presente, mas os católicos pensam que Deus não rejeita
que se prostrem diante de imagens onde ele não está, e que são meramente
representativas! Deus rejeitou que se prostrassem diante de uma imagem onde o
próprio Deus estava presente e que, para Josué, o fato de se prostrar diante
dela seria se prostrar diante de Deus.
Mas
os católicos, com a desculpa de que estão se prostrando não para a imagem, mas
para o santo, acham que estão isentos de culpa! Ora, se nem mesmo com uma
imagem que realmente representava Deus de fato (a presença dEle pessoalmente
presente) Ele aceitou tal coisa, quanto menos com uma que represente um mero
santo, que está muito abaixo do próprio Deus!
Então,
vemos que, aquilo que teoricamente foi feito para defender os católicos das
acusações protestantes contra o culto às imagens, na verdade se volta contra
eles mesmos, com ainda mais força. Tal “argumento” católico,
descontextualizando o texto de Josué 7:6, só serve para afundar ainda mais a
teologia católica e colocá-la ainda mais em apuros. E, se este é o argumento
mais forte que eles têm, imagine só qual será o nível dos outros...
Ainda
poderíamos levantar outros fatos, tais como:
1º Os israelitas, diferentemente dos católicos com suas imagens, nunca
consideraram a arca da aliança um intermediário ou mediador entre eles e Deus.
2º Os israelitas, diferentemente dos católicos com suas imagens, nunca
prestaram culto à arca da aliança.
3º Os israelitas, diferentemente dos católicos com suas imagens, nunca
rezaram à arca da aliança.
4º Os israelitas, diferentemente dos católicos com suas imagens, nunca
esperaram alguma intercessão da arca da aliança.
5º Os israelitas, diferentemente dos católicos com suas imagens, nunca
dirigiram promessas à arca da aliança.
6º Os israelitas, diferentemente dos católicos com suas imagens, nunca
subiram as escadarias do senhor do Bonfim ou rezaram o terço para provarem a
sua fidelidade à arca da aliança.
7º Os israelitas, diferentemente dos católicos com suas imagens, nunca
construíram templos em honra à arca da aliança.
8º Os israelitas, diferentemente dos católicos com suas imagens, nunca
beijaram a arca da aliança para mostrarem o quanto que “a amam”.
9º Os israelitas, diferentemente dos católicos com suas imagens, nunca
colocaram a sua confiança na arca para obterem êxito em uma causa ou batalha.
Quando colocaram, perderam (1Sm.4:3-11).
10º E, finalmente, os israelitas, diferentemente dos católicos com suas
imagens, somente se prostraram uma única vez diante da arca (Js.7:6), e neste
mesmo caso foram corrigidos por isso (Js.7:10) e nunca mais voltaram a fazer
tal coisa. Já os católicos se prostram a todo o momento diante de suas imagens
de pau e pedra e acham que Deus está feliz da vida com isso.
Portanto,
usar um caso isolado e único com relação à arca para justificar as práticas
católicas é no mínimo querer ser ignorante. As diferenças entre um e outro são
visíveis e marcantes. Tal “argumento” é, assim, no mínimo uma piada de muito
mau gosto.
Antes
de terminar, vale a pena ressaltar outro fato importante: esta falácia da arca
da aliança, se fosse mesmo verdadeira e se pudesse mesmo ser usada de pretexto
para as práticas idólatras católicas, faria com que até mesmo os
próprios pagãos pudessem se justificar com isso. Um pagão também poderia
repetir com o católico: “nós nos prostramos diante de uma imagem e lhe
rendemos culto, mas veja bem, isso não é um problema, pois Josué fez o mesmo
com a arca...”.
Tal
argumento serviria para justificar até mesmo as práticas pagãs. Portanto, ao
invés de distanciar os católicos dos pagãos, o que eles
conseguem com esta falácia é apenas acentuar ainda mais
a proximidade entre ambos. Sendo assim, nem o quadro mostrado acima (das
“diferenças” entre católicos e pagãos) seria refutado, nem serviria para
distanciar os católicos dos pagãos. O máximo que conseguiria com o “êxito” de
tal argumento seria mostrar que ambos estão certos em suas práticas idólatras.
Seria aproximar, e não afastar as semelhanças marcantes entre ambos.
Até
porque, dada a devida prática idêntica de católicos e
pagãos no tocante ao culto às imagens, fica difícil um católico apontar um
único erro na prática que um pagão pratica com as suas
imagens. O máximo que ele poderia apontar seriam erros teológicos (em
considerar aquilo um ídolo), mas não erros práticos (pois na prática
um pagão faz com seu ídolo o mesmo que o católico faz com seu santo). E
parece-me que os católicos se contentam em seguirem os mesmos passos e
pretextos dos pagãos com as suas imagens, com as mesmas práticas repugnantes,
mas com “argumentos teológicos” diferentes...
Paz
a todos vocês que estão em Cristo.
Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é importante! Através dele terei oportunidade de aprender mais! Muito obrigado!