Hansjörg
Müller
O
historiador Robert Wistrich, em entrevista ao jornal suiço Basele Zeitung,
afirma que a esquerda ocidental e os islâmicos compartilham o mito de que
Israel é uma intrusão colonial, “branca” e ocidental no Oriente Médio e lembra
que o Irmandade Muçulmana tem pretensões totalitárias desde que foi criada, em
1928.
Pergunta: Em seu trabalho
enciclopédico, Uma Obsessão Letal: O Anti-Semitismo Desde a Antigüidade até a
Jihad Global[1], o senhor apresenta o anti-semitismo islâmico como um perigo
existencial para a civilização moderna. Poderia explicar?
Resposta: Em minha
opinião, o anti-semitismo islâmico é, de longe, a forma mais dinâmica e
ameaçadora de anti-semitismo existente no mundo contemporâneo. Ele combina o
flagelo do terrorismo islâmico, a difusão da jihad [guerra santa], o ódio ao
Ocidente, a negação do Holocausto e o “antissionismo” genocida , que é
sancionado pelo Estado no Irã. O triunfo dramático da Irmandade Muçulmana no
Egito e o crescimento alarmante dos movimentos militantes salafistas por todo o
Oriente Médio árabe fizeram crescer em muito o nível de ameaça mundial.
Pergunta: Existe uma
conexão histórica entre o fascismo europeu e o islamismo?
Resposta: A Irmandade
Muçulmana, fundada no Egito em 1928, por Hassan al-Banna, tinha uma visão
totalitária radical da transformação da sociedade, um culto à liderança, e um
ódio visceral aos judeus, não tão diferente daquele do fascismo e do nacional-
socialismo. Além disso, o fundador carismático do movimento nacional árabe
palestino, Haj Amin el-Husseini, era um fanático genocida anti-semita, que
colaborou ativamente com Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial. Essa
tradição “aniquilacionista” de ódio aos judeus tem continuidade no movimento do
Hamas palestino (uma ramificação da Irmandade Muçulmana) até os dias de hoje.
Seu Pacto Sagrado[3] é um dos textos mais cruamente antijudaicos de toda a era
pós-Holocausto.
Pergunta: O senhor
descreveu o impacto do legado nazista sobre o islamismo radical, mas o que tem
a dizer sobre o anti-semitismo da direita clássica na Europa de nossos dias?
Resposta: Tendências
populistas de direita são especialmente fortes na Hungria, na Áustria, na
Holanda, na Bélgica, em partes da Escandinávia e nos Estados Bálticos, na
Europa Oriental e até mesmo na Suíça. Tampouco estão imunes a França, a
Alemanha e a Itália. Diante de uma crise econômica mundial alarmante, do
possível colapso da Zona do Euro, do espectro da globalização e da maciça
migração dos países mais pobres do Sul para a Europa, essas tendências
negativas provavelmente crescerão. O anti-semitismo é parte dessa síndrome mais
ampla.
Pergunta: Em seu mais
recente livro[2], o senhor com freqüência critica severamente as atitudes
esquerdistas do Ocidente com relação a Israel e à chamada “Questão Judaica”.
Como o senhor explica a hostilidade esquerdista?
Resposta: A esquerda está
sofrendo de amnésia aguda. Ela se esqueceu, por exemplo, que o presidente
egípcio Nasser e seus aliados árabes ameaçaram abertamente jogar os judeus ao
mar em 1967. Até o presente dia, o Hamas, o Hezb’allah [Partido de Alá] e seus
defensores iranianos, para não mencionar muitos Estados árabes, constantemente
difundem sua intenção de erradicar o “câncer” sionista do mapa do Oriente
Médio. Portanto, eu pergunto às pessoas da esquerda – esta é uma posição
“progressista”? Dificilmente. A esquerda também se esqueceu que houve uma
presença judaica ininterrupta na Terra Santa muito antes do nascimento do
islamismo – e, a despeito da interminável opressão, juntamente com perseguições
e massacres dos romanos, bizantinos, cruzados e muçulmanos, essa colonização
judaica continuou até a emergência do moderno movimento sionista.
Pergunta: Por que o senhor
acha que tantos esquerdistas são pró-islâmicos hoje?
Resposta: A esquerda
ocidental e os islâmicos compartilham o mito de que Israel é uma intrusão
colonial, “branca” e ocidental no Oriente Médio. Ambos os grupos abraçaram uma
visão radicalmente distorcida dos palestinos como “judeus” indefesos,
subjugados e cruelmente abusados por israelenses fascistas. Por detrás dessa
simbologia demoníaca há uma visão anti-semítica de Israel e da América como
incorporações gêmeas da maldade capitalista-imperialista. Desnecessário dizer
que essa mitologia está totalmente desconectada da realidade empírica.
Pergunta: À luz de suas
atuais tendências, o senhor vê algum futuro para os judeus europeus? Se morasse
na Europa, ficaria ou se mudaria?
Resposta: Pessoalmente,
creio que o futuro em longo prazo dos judeus europeus é desanimador. Eu não
desejaria decidir por eles sobre qual futuro escolher, mas estou convencido de
que a terra de Israel é a única pátria espiritual e política possível para o
povo judeu. Também devemos nos lembrar de que foi na cidade de Basiléia que
Theodor Herzl proclamou em primeira mão, em 1897, para o mundo judeu e gentio
mais amplo, o nascimento do sionismo moderno. Em seu diário, ele profetizou que
dentro de cinqüenta anos iria surgir inevitavelmente um Estado Judeu. Naquela
época, muitas pessoas o repudiaram como sendo charlatão e sonhador. Mas sua
profecia tornou-se realidade e por ela devemos ser gratos.
Notas:
1.
Robert Wistrich, A Lethal Obsession: Anti-Semitism from Antiquity to the Global
Jihad [Uma Obsessão Letal: O Anti-Semitismo desde a Antiguidade até a Jihad
Global], Random House, 2010.
2.
Robert Wistrich, From Ambivalence to Betrayal: The Left, The Jews, and Israel
[Da Ambivalência à Traição: a Esquerda, os Judeus e Israel], University of
Nebraska Press, 2012.
Estatuto
do Hamas: http://www.beth-shalom.com.br/artigos/estatuto_hamas.html.
Robert
Wistrich é
professor de História Européia e Judaica Modernas na Universidade Hebraica de
Jerusalém. Desde 2002 é diretor do Centro Vidal Sassoon de Pesquisa Sobre o
Anti-Semitismo. O destacado autor, historiador e estudioso israelense foi
entrevistado sobre as sombras mais prevalentes do antissemitismo por Hansjörg
Müller, editor do Baseler Zeitung, um jornal em língua alemã de Basiléia,
Suíça. A reportagem foi publicada na edição de 12 de setembro de 2012. Com a
autorização de Müller, o Professor Wistrich traduziu a entrevista para o
inglês. A versão em português foi baseada nessa tradução.
Publicado
na revista Notícias de Israel – www.beth-shalom.com.br via Mídia Sem Máscara
Divulgação: www.juliosevero.com
Leitura
adicional:
Quem precisa de Israel?,
artigo de Pat Boone
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