No artigo “Transformando sua Leitura da Bíblia”,
Dane Ortlund aponta 6 formas incorretas de se ler a Bíblia e o resultado de
cada uma:
A
Abordagem Mina de Ouro – ler a Bíblia
como uma mina vasta, cavernosa e sombria, onde ocasionalmente tropeça-se em uma
pedra de inspiração. Resultado: leitura confusa.
A
Abordagem Heróica – ler a Bíblia como
um hall da fama moral que dá um exemplo após outro de gigantes
espirituais que devem ser imitados. Resultado: leitura desesperadora.
A
Abordagem das Regras – ler a Bíblia procurando
mandamentos para obedecer a fim de sutilmente reforçar um sentimento de
superioridade pessoal. Resultado: leitura farisaica.
A
Abordagem Artefato – ler a Bíblia como um documento
antigo sobre eventos no Oriente Médio há algumas centenas de anos que são
irrelevantes para minha vida hoje. Resultado: leitura chata.
A
Abordagem Manual de Instruções –
ler a Bíblia como um mapa que me diz onde trabalhar,
com quem casar e que xampu usar. Resultado: leitura ansiosa.
A Abordagem Doutrinária – ler a Bíblia como um repositório teológico para sacar munição
para meu próximo debate teológico na Starbucks. Resultado: leitura fria.
Apesar de haver algo de verdade em cada
abordagem acima, sozinhas elas são insuficientes. Contudo, provavelmente, a
abordagem mais comum em nossos dias é a abordagem autoajuda. J.I. Packer em “Lendo a Bíblia Corretamente” nos alerta:
A
verdade é que muitos de nós têm perdido a capacidade de ler a Bíblia. [...]
Quando você toma qualquer outro livro, trata-o como uma unidade. Você procura o
enredo ou a linha principal do argumento e o segue até o fim. [...] Mas, quando
se trata das Escrituras Sagradas, nosso comportamento é diferente. Em primeiro
lugar não estamos habituados a tratá-las como um livro, uma unidade, de modo
algum, mas simplesmente como uma coleção de provérbios e histórias separadas.
Nós supomos, antes de olhar para os textos, que o conteúdo deles (ou, pelo
menos, dos que nos afetam) é uma advertência moral ou conforto para os que
estão em tribulação.
Portanto os lemos (quando lemos) em
pequenas doses, só alguns versículos de cada vez. Não atravessamos um livro
todo, muito menos os dois Testamentos como um todo… O resultado é que nunca
conseguimos ler a Bíblia. Presumimos que estamos manejando as Escrituras
Sagradas de maneira verdadeiramente religiosa; mas na verdade nosso uso delas é
bastante supersticioso…
Packer nos mostra que a consequência de
não entender a Bíblia como um todo é uma leitura supersticiosa. Logo, parte da
forma de ler a Bíblia corretamente está em lê-la como uma unidade apontando
para Cristo. Ortlund comenta:
Em
um debate teológico com os PhDs religiosos de sua época, Jesus afirmou àqueles
que alegavam ter Moisés como patriarca: “Se vocês cressem em Moisés, creriam em
mim, pois ele escreveu a meu respeito” (João 5.46). É assim
que você lê o Antigo Testamento?
A
teologia bíblica molda nossa leitura da Bíblia ao alinhá-la à leitura do próprio Jesus
– a saber, a leitura da Palavra de Deus como boas novas historicamente
fundamentadas a respeito da graça de Deus através do Filho de Deus para o povo
de Deus, para a glória de Deus.
[...] A Bíblia é o relato autobiográfico
de Deus da sua missão pessoal de resgate para restaurar um mundo perdido por
meio de seu Filho. Cada verso contribui com essa mensagem. A Bíblia não é
discurso motivacional. É Boa Notícia.
Sendo assim, precisamos destruir o ídolo
do ego para podermos contemplar a glória de Deus nas Escrituras. David Wells em
“A Bíblia não é Autoajuda”
falando sobre o assunto, diz:
[...]
qual é a atitude certa? É dizer a si mesmo que você está ali para ouvir
de Deus, não para ouvir a si mesmo. Você está ali para ser tratado,
desafiado, e, sim, mesmo repreendido por Deus, através da verdade de sua
Palavra.
[...]
Deus, portanto, não está lá para nosso uso quando precisamos dele; estamos aqui
na Terra para que ele nos use. Ele não está lá para nosso benefício como se ele
fosse um produto; nós estamos aqui para seu serviço.
E você já percebeu que aqueles na
Escritura que mais o serviram, mais sofreram fielmente, foram mais atribulados,
e foram mortos? Querer conhecer a Deus é um negócio arriscado, portanto esqueça
a leitura da Escrita de maneira que você possa se sentir melhor sobre si mesmo.
Cristo, como aprendemos em As Crônicas de Nárnia, não é um leão
domesticado. No entanto, ele é bom.
Resumindo, não devemos ler a Bíblia de
forma supersticiosa, como uma caixinha de bênção e promessas separadas do
contexto geral. Sim, Deus nos dá muitas promessas e devemos prestar atenção a
elas; mas se não colocarmos Deus como Deus, poderemos estar tentando usá-Lo
para nosso benefício, no lugar de nos colocarmos como servos humildes.
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