Por Thiago Oliveira
Vi na internet uma
frase de A. W. Tozer que dizia o seguinte: “O Diabo é melhor teólogo do que
qualquer um de nós, mas continua sendo Diabo.” Gostei tanto do dito que passei
um bom período refletindo sobre ele. Um pensamento foi puxando outro até que eu
relacionasse com o episódio da tentação de Jesus, onde Satanás usou a Bíblia
para pô-lo a prova. Naquela ocasião fica realmente claro que o inimigo de
nossas almas é conhecedor das Escrituras, e que a manipula segundo a sua
conveniência. Aliás, distorcer e seduzir faz parte de seu ofício e desde o Éden
sabemos disso.
Nos dias atuais, não
há maior distorção bíblica do que a Teologia da Prosperidade que vem se
alastrando através do crescimento do neopentecostalismo. Kenneth Hagin, tido
como o pai de tal teologia, também conhecida pela alcunha de “Confissão
Positiva”, na verdade plagiou Essek W. Kenyon, que décadas antes havia escrito
e divulgado boa parte do que Hagin divulgou para o mundo. Todavia, observando
os ensinamentos e a abordagem dos pastores da prosperidade, vemos que muito se
assemelham a atuação diabólica presente no Deserto da Judeia.
Aos adeptos da
Confissão Positiva: ficar doente, desempregado, ter problemas familiares ou de
qualquer outra natureza são resultantes da falta de fé. Esta fé deve ser
provada. O jeito melhor de se provar a sua fé é através de uma contribuição
financeira. Quanto mais se doa (em cash), mais abençoado (próspero) se é. E se
as coisas não saíram do jeito que você gostaria, é porque você não teve fé
suficiente, ou seja, você não deu a quantidade de dinheiro que deveria dar.
A barganha descrita
no parágrafo acima é a mesma que Satanás usou com Jesus. Isso faz dele o
referencial teórico, ou melhor dizendo, fundador da Teologia da Prosperidade.
Vejamos a forma com que ele abordou Cristo:
Usando o relato do
Evangelho de Lucas 4:1-13, analisemos que Jesus foi impelido pelo Espírito a
ser tentado e num momento de debilidade física após 40 dias de Jejum o Diabo se
aproxima sutilmente e diz: “Se és o Filho de Deus, manda esta pedra
transformar-se em pão.” Ora, é sabido que Jesus estava com fome e que sua
natureza humana ansiava por comida. A primeira proposta satânica é a de
satisfazer os nossos desejos carnais. A nossa vontade terrena clama por ser
alimentada e é isso que Satanás propõe. Em seu discurso, põe em cheque a
debilidade de Cristo com a sua filiação: Como pode o Filho de Deus passar por
tal situação?
De igual modo,
assisti pela televisão um pregador dizer que por sermos filhos devemos exigir
os nossos direitos e não ficar mendigando benção. E sinto informar-lhes que
foram exatamente essas as palavras usadas: exijam seus direitos. No deserto
Cristo não se deixou levar por tal argumento. Muitos evangélicos acham que
devem se sobressair. Boa parte quer ver Deus “tirar do ímpio” para então lhe
honrar com um carro, uma casa ou uma vaga de emprego. Mas a Bíblia diz que o
sol nasce para todos e a chuva cai para justos e injustos (Mt 5:45) e que não
somos privilegiados, pois éramos como os outros, merecedores da ira (Ef 2:3).
Jesus sabia qual era
a sua missão e não faria um milagre em benefício próprio. Ele esvaziou-se de si
(Fl 2:7) por amor e obediência ao Pai e não negaria o propósito de sua
encarnação. Por isso responde: “Não só de pão viverá o homem.” Fiquemos
atentos de que não só das coisas materiais consiste a vida. Se esperarmos em
Cristo só nessa vida somos mais que miseráveis (1 Co 15:19). Não adianta ganhar
o mundo e em troca perder nossa alma (Mc 8:36). Ajuntemos, pois, tesouros no
Céu e busquemos com prioridade o Reino de Deus (Mt 6: 19 e 33) . Confiemos na
provisão do Pai, assim como Cristo confiou.
Continuando a sua
investida maléfica, Satanás mostra os reinos do mundo e oferece caso Jesus o
adore. O Messias diante de todo o esplendor sabia muito bem que, como disse o
teólogo Abraham Kuyper, não há um centímetro quadrado do Universo que o Senhor
não declare seu. Essa barganha é típica do Inimigo e não pertence a Deus. Por
isso que a pregação “toma lá da cá” é herética e obscura. Deus age por graça e
misericórdia, quem faz trocas é o Demônio.
Os judeus aguardavam
um messias político que governaria universalmente subjugando todos os povos. A
segunda tentação usava essa falsa exegese das promessas veterotestamentárias e
assediava a Jesus a ter a glória e a aceitação dos homens. Cristo, devotado só
ao Pai retruca citando a Lei: “Ao Senhor, teu Deus, adorarás e somente a ele
servirás.” Louvado seja o Senhor, digno de honra pelo que é e não somente
pelo que nos faz. Já nos alertava Flavel: “Todo homem ama as bênçãos de Deus,
mas um santo ama o Deus das bênçãos.”
Nas duas respostas
que Cristo deu ao nosso adversário usou as Escrituras, para ser mais preciso o
livro de Deuteronômio (8:3 e 6:13). Satanás ousa guerrear com a “mesma arma” e
usa o Salmo 91. Em que consiste o elemento da terceira tentação? Exacerbação da
fé. O ato de Jesus se lançar do Templo para que os anjos viessem ao seu favor
ao invés de glorificar a Deus O coagiria. O Diabo com isso queria simplesmente
que o Filho desafiasse o Pai.
Quantos e quantos
irmãos não estão por aí colocando “Deus contra a parede” querendo que Ele
realize um conveniente milagre? As igrejas neopentecostais estão cheias disso.
Gente que sobe no púlpito e decreta, declara, determina e diz que se Deus é
Deus mesmo ele tem que fazer e ponto. Afinal, quem é servo e quem é senhor?
Jesus sabia de sua condição servil e não inverteu a ordem. Seu papel seria
obedecer e não ordenar e novamente citando Deuteronômio (6:16) põe literalmente
o diabo pra correr.
A
guisa de conclusão enfatizo que a Teologia da Prosperidade é anátema. Pois
prega um Evangelho distorcido da doutrina dos apóstolos e se assemelha muito
mais com a metodologia de Lúcifer. Finalizo com a provocação de um escritor
inglês chamado Roger L’estrange: “Aquele que serve a Deus por dinheiro servirá
ao diabo por salário melhor.” Aqui me disperso. Graça e Paz.
***
Sobre o autor: Thiago S. Oliveira, Recifense, Noivo, Cristão
Reformado... um notório pecador remido pela Graça!
FONTE:http://bereianos.blogspot.com.br/2014/01/satanas-e-o-fundador-da-teologia-da.html#.UtmpMBBTupo
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