Os editores da revista Leben descobrem
a história dos imigrantes Molokans
Dra. Lillian Sokoloff
Comentário de Julio Severo: WND, ou WorldNetDaily,
recentemente relatou sobre a fundação do pentecostalismo nos EUA e, com base
num relatório de 1918, provavelmente escrito por um escritor não-pentecostal
sem conhecimento dos dons sobrenaturais do Espírito Santo, apresenta o argumento
de que imigrantes russos podem ter sido os fundadores do pentecostalismo nos
EUA. Isso é interessante para mim, pois hoje o Brasil é o país mais pentecostal
do mundo. O artigo do WND começa: “O Cristianismo americano tem influenciado, e
é influenciado por, uma variedade esplendida de grupos inconformistas, enclaves
separatistas e, em alguns casos, autoproclamados profetas e messias… Começamos…
com uma reportagem fascinante que descobrimos recentemente, escrita em 1918,
sobre um grupo conhecido como ‘Saltadores,’ ou ‘Molokans.’ Os ‘Saltadores’ eram
uma ramificação dos Molokans. Impelidos pelo que dizia uma criança que
profetizava, eles partiram de sua pátria, a Rússia, aos milhares e seguiram em
direção à ‘Cidade dos Anjos,’ Los Angeles, Califórnia.” As mensagens proféticas
de uma criança profeta os salvou da iminente 1ª Guerra Mundial e da Revolução
Comunista um século atrás. Agora, leia o relatório de 1918:
O primeiro grupo de Molokans, que chegou a
Los Angeles em 1905 [alguns datam isso como 1904, Ed.], se estabeleceu nas
redondezas do Instituto Belém na Rua Vignes. Quando outros chegaram, alguns
compraram casas nas Ruas Clarence e Utah. Então o número de colonos cresceu no
bairro entre a Avenida Boyle no leste e o Rio Los Angeles no oeste, e entre a
Rua Aliso no norte e a Rua Sétima no sul. Recentemente uma nova colônia surgiu
ao longo do que é conhecido como Planalto de Salt Lake a vários quarteirões a
leste da colônia maior. Nessa rua estão localizados muitos dos lares de certa
forma melhores. Num recôncavo ao sul da Avenida Stephenson e a leste da Rua
Mott, há um grupo de cerca de 60 casas ocupadas apenas por russos.
Para entender os russos em Los Angeles, é
necessário considerar brevemente seu histórico. Durante o reinado de Alexis
Michaelovitch, o segundo governante da família Romanoff – 1645-1676 – Nicon,
naquela época patriarca da Igreja Católica Grega Russa, investigou e decidiu
mudar a liturgia. Embora o governo da época aceitasse essas mudanças e
formalmente adotasse seu tipo de culto como religião estatal, havia muitos
dissidentes que não queriam se submeter às ordens do governo em assuntos
religiosos. Os dissidentes eram continuamente perseguidos ou exilados e estavam
muito insatisfeitos com as instituições burocráticas, com a hipocrisia dos padres
e com as formas deles cultuarem. O número de pessoas que buscava outros tipos
de religião que satisfaria seus profundos sentimentos religiosos não parava de
crescer.
Molokans da Rússia
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Proeminentes entre os grupos dissidentes
religiosos que se desenvolveram estavam os Dukhobors, os Molokans e os
Subotniks. Os Subotniks eram russos que haviam adotado a fé judaica. No
entanto, esse resultado não foi por meio de influência exercida pelos judeus,
pois os judeus não tinham nenhum tipo de trabalho missionário para converter
pessoas ao judaísmo. Além disso, não havia nenhum judeu vivendo nessa parte da
Rússia onde esses grupos dissidentes se desenvolveram. Os Subotniks adotaram o
judaísmo depois de terem lido o Antigo Testamento.
A essência da religião Dukhobor é uma
crença na divindade de Cristo [isso é contrário a fontes modernas, Ed.] e a
irmandade do homem. Os Dukhobors não acreditam em nenhuma representação terrena
de Deus; eles não têm líderes de igreja nem estátuas nem imagens. Eles não têm
cerimônias eclesiásticas nem acreditam nos santos como fazem os católicos
gregos. Eles se opõem à guerra e portanto ao serviço militar. Sua religião os
proíbe de se entregarem ao uso de bebidas alcoólicas e ao fumo.
O nome “Molokan,” derivado da palavra
“moloko,” que significa leite, foi pela primeira vez aplicado a eles em 1765
por um grupo religioso dissidente no governo de Tambov. O nome foi aplicado
pelo fato de que os Molokans bebem leite todos os dias da semana, enquanto os
católicos gregos se abstêm dele nas quartas e quintas-feiras, que são dias de
jejum para eles.
Os Molokans não tinham nenhuma forma clara
de religião por muitos anos. Durante os últimos anos do século XVII, dois
homens muito cultos, Skovoroda e Tveritinoff, haviam sido influenciados pelos
ensinos de Lutero, Calvino e outros reformadores europeus. Esses homens então
pregaram a Reforma entre os dissidentes da Igreja Católica Grega Russa. Eles
assim prepararam o caminho para outros reformadores. Por cerca de 100 anos, os
Molokans não foram incomodados pelas autoridades governamentais.
Contudo, não muito tempo depois o governo
russo começou de novo a oprimir os dissidentes de vários modos. Os elevados
impostos aplicados às suas terras demonstraram ser uma opressão maior do que
eles poderiam aguentar. Eles foram de novo compelidos a servir no exército.
Alguns dos mais cultos entre eles tiveram predições de tempos desastrosos por
causa de guerras inevitáveis em que a Rússia estava para se engajar. Eles pois
começaram a considerar a possibilidade de emigrar da Rússia.
Sabe-se bem que dos imigrantes da Rússia
até o final do século passado, o maior número era de judeus e uma percentagem
menor eram poloneses, mas quase nenhum russo étnico. Nos últimos dois anos do
século XIX, muitos Dukhobors deixaram a região do Cáucaso e foram para o oeste
do Canadá, onde vários milhares vivem hoje. [Resta uma grande comunidade na
região de Grand Junction, Ed.]
O início da Guerra Russo-Japonesa inaugurou
uma nova era de perseguições para os dissidentes no sudeste da Rússia. Eles
foram obrigados a ir para a guerra. Embora muitos tivessem condições de ocupar
elevadas posições militares, eles foram impedidos de ocupá-las e foram
colocados para fazer os trabalhos mais servis. Eles também sofreram todos os
tipos de insultos por instigação de autoridades governamentais. Eles não tinham
permissão de ir para lugar nenhum sem passaportes — e passaportes não lhes eram
concedidos. Portanto, não é de surpreender que essas pessoas tenham ficado
desgostosas com as condições que estavam experimentando e ansiavam deixar a
Rússia.
De todos os russos em Los Angeles, cerca de
75 por cento de todos os homens trabalhadores estavam empregados em madeireiras
até o início da guerra [1ª Guerra Mundial]. Então a maioria entrou na indústria
de construção naval. Cerca de 10 por cento possuem e dirigem suas próprias
equipes e trabalham de dia em produtos de transporte e outros produtos. Cerca
de 2 por cento estão engajados como donos de pequenas mercearias e açougues,
cujos clientes são seu próprio povo. O restante — cerca de 13 por cento — estão
empregados em vários ramos, tais como metalurgia, mecânicas, aplainadores,
enlatação de frutas. As últimas ocupações são seguidas pelos homens mais jovens
da comunidade, os quais tiveram alguma escolarização, mas deixaram a escola
logo que a lei lhes permitiu fazer isso.
É normal entre os russos as mulheres
casadas trabalharem. As mulheres jovens são empregadas principalmente em
lavanderias. As meninas que foram à escola e aprenderam a língua inglesa
trabalham em fábricas de biscoitos na vizinhança. Um número pequeno de meninas
trabalha numa fábrica de doces da Rua Utah. As mulheres mais velhas trabalham
em enlatação de frutas ou fazem trabalho doméstico de dia. Embora muitas das
meninas que frequentaram a escola durante vários anos poderiam fazer outros tipos
de trabalho e talvez ganhar mais dinheiro, os pais, em suas preocupações,
preferem que elas trabalhem perto de casa e entre seu próprio povo. Trabalho de
escritório poderia fazer com que as meninas se tornassem “americanizadas”
rapidamente, e os mais velhos têm objeções a isso.
A religião dos Molokans surgiu da religião
dos Dukhobors. Ambos são grupos dissidentes que se opõem à guerra. Eles
acreditam que não existe representantes terrenos de Deus. Os Molokans não têm
ministros ou dignitários de espécie alguma. Eles não têm regras ou tradições
quanto a quem serão seus conselheiros religiosos. Seus pastores não são
ordenados, não recebem remuneração nem dependem da aprovação da comunidade. Sua
autoridade prevalece apenas nas reuniões de oração, cerimônias de casamento e
cultos funerais. Pode-se dizer que a religião Molokan tem pouca forma clara.
Não tem sistema. Muitas de suas fases são muito cruas. É incoerente e
discrepante. Como os judeus ortodoxos, os Molokans se abstêm de comer carne de
porco e matam o boi de um modo específico.
Atualmente, há sete igrejas na colônia
russa. Essas igrejas são salas grandes em que se realizam cultos. Durante os
feriados, alguns lares particulares também são usados para cultos religiosos.
Os Prigunis conduzem suas orações de uma maneira especial. Todos oram alto por
algum tempo, até que um deles sinta que o “espírito” entrou nele, quando de um
modo quase como transe ele chega ao centro do lugar de adoração. A oração
continua num elevado tom de voz de canções até que uma a uma, todas as pessoas
sintam o “espírito” dentro deles.
Há ainda muitos grupos nos EUA e Canadá que
são descendentes diretos dos dissidentes Molokans, Saltadores e Doukhabors. A
influência deles bem pode ter sido enorme no que é hoje geralmente mencionado
como pentecostalismo.
Os Molokans, principalmente os Saltadores,
tinham um longo histórico de experiências com as modernas manifestações dos
dons apostólicos, inclusive curas, línguas, etc. Quando eles se mudaram para
Los Angeles, na Califórnia, a maioria se estabeleceu perto da madeireira que
empregava muitos homens, uma madeireira situada bem perto da Rua Azusa. Um ano
depois que os Saltadores chegaram, o “Reavivamento da Rua Azusa,” considerado
por muitos como o lugar do nascimento do pentecostalismo americano, irrompeu no
cenário das igrejas dos EUA. O “reavivamento” continuou com três cultos por dia
durante aproximadamente três anos.
É fato confirmado que muitos Saltadores
russos se tornaram parte do Reavivamento da Rua Azusa, mas o que permanece um
mistério é se eles se tornaram adeptos desse movimento ou foram seus
fundadores.
Traduzido por Julio Severo do artigo do
WND: Did Russians in
L.A. “found” Pentecostalism?
Fonte: www.juliosevero.com
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