Julio Severo trata de conceitos e alvos
errados em artigo de teólogo presbiteriano brasileiro
Julio Severo
Em seu blog no “The Gospel Coalition,” o
teólogo calvinista brasileiro Augustus Nicodemus Gomes Lopes disse: “Quando
Paulo Romeiro escreveu ‘Evangélicos em Crise’ em meados da década de 1990, um
livro que se tornou best-seller entre evangélicos brasileiros, ele tratou
apenas de um dos muitos modos pelos quais o evangelicalismo está se
desmoronando no Brasil: sua incapacidade de deter a propagação da teologia da
prosperidade.” (Link:http://archive.is/hjNXb)
Ele menciona “Teologia da Prosperidade”
três vezes. Estranhamente, a Teologia da Libertação e sua versão protestante, a
Teologia da Missão Integral, estão ausentes do seu texto.
Ainda que a Teologia da Missão Integral
seja um problema predominante entre calvinistas brasileiros, Nicodemus foca
nominalmente apenas na Teologia da Prosperidade, que é seguida de forma geral
por igrejas neopentecostais.
De forma simplista, a Teologia da Missão
Integral, que é adotada por teólogos e líderes em grande parte de opulentas
igrejas reformadas, é o método que os líderes empregam para ensinar os pobres a
buscar o Estado como o provedor de suas necessidades materiais. Em contraste, a
Teologia da Prosperidade é de modo geral seguida e praticada nas igrejas
neopentecostais brasileiras, onde os pobres são ensinados a buscar a Deus como
o provedor de suas necessidades materiais e espirituais.
Basicamente, ambas as teologias vieram
dos Estados Unidos. Na década de 1950, o Rev. Richard Schaull, um forte adepto
do Evangelho Social dos EUA e mais tarde professor na Universidade
Presbiteriana Princeton, nos EUA, ensinava no maior seminário da Igreja
Presbiteriana do Brasil — a mesma denominação de Nicodemus.
Sua influência, primeiramente na Igreja
Presbiteriana do Brasil, foi impactante e ele foi um precursor da Teologia da
Libertação. Seu discípulo, o então teólogo presbiteriano Rubem Alves,
contribuiu muito para o nascimento da Teologia da Libertação no Brasil, na
década de 1960.
As igrejas neopentecostais começaram a
aparecer no Brasil principalmente no final da década de 1970, quando as
audiências evangélicas eram, majoritariamente, influenciadas pelos
televangelistas Pat Robertson e Rex Humbard e seus programas famosos “Clube
700” e “Alguém Ama Você.” Além disso, muitos se converteram a Cristo por meio
desses programas.
Em meados da década de 1980, líderes
protestantes, inclusive Caio Fábio, preocupavam-se que a Teologia da
Prosperidade das igrejas neopentecostais porque ela estava enfraquecendo o
avanço da Teologia da Missão Integral em toda a Igreja Brasileira. Você pode
encontrar mais informações em meu e-book gratuito: http://bit.ly/141G7JH
Caio Fábio, que era o líder mais
proeminente na Igreja Presbiteriana do Brasil, acabou caindo por graves
escândalos sexuais e financeiros no final da década de 1990, depois de seu
sórdido trabalho de ajudar o ex-presidente Lula e seu partido socialista, o PT,
a atrair os evangélicos.
Os principais inimigos do
neopentecostalismo, e sua Teologia da Prosperidade, têm sido protestantes
esquerdistas. Ainda que não seja esquerdista, Augustus Nicodemus acha mais
fácil atacar nominalmente a Teologia da Prosperidade do que a Teologia da Missão
Integral. Quando era chanceler na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São
Paulo, ele permitia que professores de teologia adeptos da Teologia da Missão
Integral ali dessem aulas, mas não admitia nenhum adepto da Teologia da
Prosperidade.
Por que o neopentecostalismo, não a
marxista Teologia da Missão Integral, tem sido a grande preocupação dele? Por
causa da teologia dele, que tem estado em conflito especial com a vasta maioria
evangélica do Brasil. Nicodemus é a principal voz cessacionista no Brasil. O
cessacionismo prega que profecia e outros dons sobrenaturais do Espírito Santo
cessaram 2000 anos atrás.
Ele tem tido muita dificuldade para
entender como as igrejas pentecostais, renovadas e neopentecostais (inclusive
católicos carismáticos) vivem um crescimento fenomenal. Nicodemus diz: “De
acordo com o recenseamento oficial mais recente, os evangélicos representam
quase um quarto da população total do Brasil (22,5 por cento). É um crescimento
fenomenal, já que apenas 40 anos atrás eles eram apenas 2,5 por cento.”
O que ele não revelou é que esse
crescimento em massa tem tudo a ver com dons sobrenaturais e o Espírito Santo.
De acordo com o “The New International Dictionary of Pentecostal and
Charismatic Movements: Revised and Expanded Edition” (Novo Dicionário Internacional
de Movimentos Pentecostais e Carismáticos, Zondervan 2010), o Brasil tem o
seguinte perfil evangélico:
Pentecostais 24.810.921 (31%)
Carismáticos* 33.970.683 (42%)
Neopentecostais 21.168.395 (26%)
Total de renovados: 79.949.999
*Carismáticos abrangem,
majoritariamente, católicos renovados e, minoritariamente, protestantes
renovados de igrejas históricas como presbiteriana, luterana, metodista, etc.
De acordo com a Wikipédia, a denominação
presbiteriana de Nicodemus no Brasil tem 980.000 membros. Essa estatística não
significa que todos os presbiterianos brasileiros são cessacionistas. Muitos
deles são renovados.
O cessacionismo de Nicodemus traz outro
problema: se profecia e outros dons sobrenaturais hoje entre os cristãos
brasileiros não são de Deus, quem está provocando o crescimento pentecostal,
carismático e neopentecostal no Brasil? Quem está realizando milagres entre
eles? Satanás?
O Brasil é a maior nação espírita do
mundo. A feitiçaria, principalmente de origem africana, é abundante. A colisão
entre os poderes das trevas dessas religiões ocultistas e as igrejas
pentecostais, carismáticas e neopentecostais e seus dons espirituais tem
resultado em conversões em massa a Cristo.
Essa colisão é necessária. Como o
teólogo calvinista Vincent Cheung disse: “A resposta
ao poder sobrenatural demoníaco é maior poder sobrenatural divino. A Bíblia
descreve muitos encontros de poder, onde o poder miraculoso de Deus esmagou o
poder de Satanás. Considere o confronto entre Moisés e os mágicos, entre Elias
e os falsos profetas, entre Jesus e os possessos de demônios, entre Felipe e
Simão, entre Paulo e Elimas, e entre Paulo e essa jovem com o espírito maligno
no texto que estamos lendo. Paulo expulsou o espírito de adivinhação, e a moça
perdeu sua capacidade. Essa é a resposta bíblica aos milagres de Satanás. A
solução não é negação, mas discernimento e controle.” (Sermonettes, Volume 7,
Capítulo Sete.)
Como cessacionista, Nicodemus prefere a
negação e vê muitos problemas no explosivo crescimento pentecostal, carismático
e neopentecostal. Ele diz: “Como o evangelicalismo chegou a esse ponto de
sucesso e crise simultânea no Brasil? Até mesmo entre igrejas reformadas, nunca
se conheceu nem se adotou plenamente a teologia e a prática reformada em nosso
país.” Por isso, a crise evangélica se origina do fato de que, como disse ele,
as igrejas não “conheceram as doutrinas da Reforma em sua plenitude e poder.”
Mas o que é necessário para prevalecer
nas colisões entre os poderes espirituais das trevas e o poder de Deus? Ser
cheio das tradições da Reforma ou ser cheio do poder do Espírito Santo?
Nicodemus também afirma: “Ao desdenharem
séculos de tradição e interpretação teológica, os evangélicos se acharam
vulneráveis a qualquer interpretação, tal como teísmo aberto, teologia da
prosperidade, uma nova perspectiva sobre Paulo, e assim por diante.” Nenhuma
menção à ameaça mais importante entre as igrejas reformadas do Brasil: a
Teologia da Libertação e sua irmã protestante, a Teologia da Missão Integral.
O principal defensor da Teologia da
Missão Integral no Brasil é o Pr. Ariovaldo Ramos, pastor da Comunidade Cristã
Reformada. Recentemente, ele louvou Hugo Chavez como um herói dos fracos e pobres. Suas proeminentes atividades
esquerdistas não têm sido contestadas por Nicodemus e outros líderes
reformados.
Na melhor das hipóteses, Ariovaldo
permanece em silêncio diante das tentativas do governo socialista do Brasil de
legalizar o aborto e aprovar o PLC 122, um projeto de lei que criminaliza a
crítica bíblica aos atos homossexuais. Ele apoiou a eleição desse governo. Em contraste, Marco Feliciano, deputado federal e pastor da Assembleia
de Deus, tem se expressado publicamente contra o aborto e contra o PLC 122.
Feliciano também apoiou a eleição desse
governo. Mas quando surgiu uma colisão entre valores e o governo do PT, ele
escolheu valores. Por causa de suas posturas morais públicas, ele tem sido
sistematicamente atacado pela Esquerda secular e religiosa, inclusive
Ariovaldo.
Num contraste mais sombrio, Nicodemus é
membro da ANAJURE, uma organização cristã criada para defender os cristãos e seus
direitos civis, cujo presidente deu declarações públicas contra Feliciano. Além
disso, em 2010, depois que os ativistas gays protestaram contra um manifesto
público contra o PLC 122 no site de sua universidade, Nicodemus ordenou sua
remoção, virtualmente se prostrando às exigências gays.
Ao que tudo indica, nada disso tem sido
uma preocupação para ele.
Como cessacionista, ele está preocupado
apenas com os pentecostais, principalmente com a falta de direção teológica
deles. Até mesmo entre as igrejas neopentecostais que praticam a Teologia da Prosperidade
a diversidade de interpretação e práticas é gigantesca. Por exemplo, a
denominação neopentecostal mais agressiva do Brasil, a Igreja Universal do
Reino de Deus (IURD), é cessacionista, crê em milagres apenas por confissão
positiva e oração e rejeita profecia e outros dons sobrenaturais do Espírito
Santo hoje. A IURD prega que as manifestações desses dons hoje são
demoníacas — uma
postura que não difere da postura das igrejas reformadas cessacionistas. O bispo Edir Macedo, fundador da IURD, tem apoiado
abertamente o aborto. Mas nesses
dois pontos — cessacionismo e aborto —, a IURD tem sido exceção entre as
igrejas neopentecostais do Brasil.
Essas diferenças imensas têm uma
explicação. De acordo com o Novo Dicionário Internacional de Movimentos
Pentecostais e Carismáticos: “A diversidade do pentecostalismo global torna
impossível falar de uma teologia pentecostal, principalmente já que uma
teologia completamente madura da fé cristã a partir de uma perspectiva
pentecostal clássica ainda não foi escrita.” Esse é especialmente o caso do
Brasil.
Pelo fato de que pensa basicamente em
termos teológicos, Nicodemus provavelmente vê pouca esperança para tais igrejas
sem teologia. Aliás, para ele isso é uma “crise.” Ele disse: “Não existe saída
fácil dessa crise. Contudo, há alguns sinais animadores de mudança que não
posso deixar de mencionar. Um deles é o crescimento surpreendente da fé
reformada entre pentecostais. Há exemplos inumeráveis de pastores pentecostais
se voltando para a compreensão reformada das Escrituras. Às vezes até mesmo igrejas
pentecostais inteiras têm passado por essa mudança. Cito aqui um email que
recebi algumas semanas atrás de um pastor que era pentecostal: Seu
livro Adoração Espiritual [primeiramente publicado em 1998 e agora na sua 5ª
edição] fez a nossa igreja inteira parar de falar em línguas e mudou nossa
liturgia toda. Até tivemos de mudar a placa de nosso templo de ‘Assembleia de
Deus’ para ‘Igreja Reformada.’”
Uma igreja Assembleia de Deus parou de
falar em línguas (e possivelmente parou as profecias também), e o cessacionismo
ganhou no nome da Reforma. Mas será que isso é vitória espiritual?
Eis a realidade brasileira: Milhões de
almas perdidas estão perecendo. O espiritismo é generalizado. A Teologia da
Libertação está desenfreada na Igreja Católica. A Teologia da Missão Integral
está desenfreada nas igrejas reformadas. E um teólogo reformado está
interessado em igrejas abandonando experiências carismáticas e se tornando
reformadas?
Essa é uma preocupação frívola e
irresponsável.
Durante décadas, a Teologia da Missão
Integral — sem mencionar a maçonaria — tem sido um grande problema entre as
igrejas reformadas, e a grande preocupação de Nicodemus é o crescimento das
igrejas pentecostais, renovadas e neopentecostais?
Recentemente, meu blog expôs o
cessacionismo de Nicodemus, e um de seus fãs comentou que se a preocupação dos cristãos opostos ao cessacionismo é cura,
visão e profecia, eles deveriam visitar centros espíritas para ver tudo isso.
Assim, a falsa doutrina de Nicodemus e outros teólogos reformados tem
inevitavelmente levado seus seguidores a ver apenas “espiritismo” nas igrejas
pentecostais, renovadas e neopentecostais do Brasil.
Essa é uma descrição grosseira e
enganosa não só do poder de Deus, mas também de seu papel essencial no
crescimento fenomenal da Igreja Evangélica Brasileira.
Faria sentido você estar vivendo na França
se o problema mais importante que você vê nessa nação é sua língua?
Por que você viveria na França se você
não gosta de francês? Você tentaria converter as pessoas que falam francês em
pessoas que falam português? O Brasil não é a França, mas sua população
evangélica é vastamente pentecostal, e Nicodemus quer transformá-los em
reformados e, assim espera ele, em cessacionistas.
Igrejas pentecostais se transformando em
igrejas reformadas acarreta ciladas reformadas.
Sim, o contato reformado poderia ser útil
para os pentecostais no Brasil, mas primeiro os líderes reformados precisam
renunciar, denunciar e lutar contra a Teologia da Missão Integral que predomina
entre eles. Caso contrário, maior contato reformado para os pentecostais só
trará mais da mesma crise e confusão com as quais as igrejas pentecostais,
renovadas e neopentecostais começaram a se contaminar no final da década de
1990 por literatura e conferências de Caio Fábio, Ariovaldo Ramos e outros
líderes reformados defensores da irmã protestante da Teologia da Libertação.
Entre as igrejas reformadas
(presbiterianas, calvinistas), a contaminação começou na década de 1950! Há uma
crise esquerdista empesteando as igrejas reformadas do Brasil, mas Nicodemus e
outros líderes que têm treinamento teológico se recusam a lidar com isso de
forma direta. O Brasil é um berço da Teologia da Libertação. Mesmo assim,
Nicodemus nunca a mencionou em seu artigo elaborado para apontar apenas a crise
por causa do pentecostalismo.
Na década de 1990, frequentei uma igreja
presbiteriana, da mesma denominação de Nicodemus. Eles se preocupavam muito com
a Teologia da Prosperidade. Para se protegerem, todas as igrejas presbiterianas
da região incentivavam assinaturas coletivas da revista Ultimato —
a principal voz presbiteriana do Brasil em favor da Teologia da Missão
Integral.
Durante anos, tenho denunciado a Ultimato —
que tem sistematicamente atacado os conservadores. Mas Nicodemus e seus
camaradas cessacionistas nunca a denunciaram do jeito que denunciam os
neopentecostais.
Há uma crise reformada na Europa e nos
Estados Unidos, onde as grandes denominações estão ordenando pastores gays e
liderando boicotes contra Israel. O liberalismo e o esquerdismo têm se
introduzido lentamente em grande parte sem oposição, e o resultado é apostasia
generalizada. E desde o seu início no Brasil, o movimento de Teologia de Missão
Integral tem proeminentes líderes reformados.
A “Caminhada Presbiteriana pela
Cidadania” tem tido uma parceria com espiritas e religiões afro-brasileiras.
Seu líder, o Rev. Marcos Amaral, expressou publicamente seu desejo de
vida longa para Hugo Chavez e um derrame para Marco Feliciano. Ele fez isso porque o pastor
pentecostal é odiado pelos esquerdistas seculares e protestantes por causa das
posturas conservadoras dele acerca do aborto e homossexualidade. Aliás, o Rev. Amaral chegou até a se unir a proeminentes
esquerdistas seculares para protestar contra Feliciano. Nicodemus tem um artigo criticando
pesadamente a Marcha para Jesus, mas nenhum artigo contra a marcha
presbiteriana liderada pelo Rev. Amaral.
Os pentecostais de fato precisam de
ajuda, principalmente porque estão sob ataques pesados de calvinistas e
secularistas esquerdistas. No entanto, os líderes reformados realmente têm a
resposta certa e completa?
E quanto à cegueira cessacionista e a
Teologia da Missão Integral?
Há libertação dessas ciladas reformadas
no Brasil? Sim — ser cheio do poder e conhecimento do Espírito Santo.
Versão em inglês deste artigo: A Charismatic Response to “The Growing Crisis Behind
Brazil’s Evangelical Success Story”
Versão em espanhol deste artigo: Una Respuesta
Carismática a la “Creciente Crisis por detrás de la Historia del Éxito
Evangélico en Brasil”
Versão em alemão deste artigo: Eine charismatische
Antwort auf ‚Die wachsende Krise hinter Brasiliens evangelikaler Erfolgsstory‘
Fonte: www.juliosevero.com
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