Ao longo do território de Portugal continental, encontram-se em muitos edifícios com séculos de existência como por exemplo castelos, mosteiros, ou igrejas, rústicos símbolos na pedra gravados, que aparentam não ter qualquer significado, ou passíveis de serem identificados com algum significado simbólico mais comum.
Crê-se que esses símbolos (conforme estudos arqueológicos que já se encontram a serem realizados) tinham que ver com a Maçonaria, mais especificamente, com a Maçonaria Operativa - a suposta “original”, dos homens que trabalhavam a pedra na construção de edifícios que serviriam um propósito comum.
A teoria mais afamada para a explicação desses símbolos da Maçonaria, diz que eram assinaturas de canteiro, ou seja, assinaturas que os pedreiros faziam, quando davam por terminado o seu trabalho, para por esse serem pagos consoante o remate de toda a secção trabalhada que a assinatura representaria.
Pela Europa fora podem encontrar-se outras teorias para a explicação desses símbolos, teorias essas mais ligadas à religião ou ao secretismo, e que afirmavam ou serem símbolos para manterem os demónios afastados dos monumentos ou das entradas dos próprios monumentos ou de secções desses, ou que eram um meio de uma misteriosa comunicação entre os pedreiros, isto é, entre os maçons.
Em qualquer das teorias, ou qualquer perspectiva através da qual para esta situação se possa olhar, as marcas são da responsabilidade de um homem apenas, à qual corresponderia o símbolo específico em uso.
Como já referido em outro post, isso gera inúmeras questões relacionadas com a responsabilidade dos homens que trabalhavam a pedra (mão-de-obra), e assim sendo, com a inutilidade que teriam os supostos grandes responsáveis ou idealizadores dos monumentos - os arquitectos. Chegados a este ponto, poderemos colocar inúmeras questões: seriam os arquitectos também maçons? Se não trabalhavam a pedra, e não tendo todo o conhecimento de artesão como o era (e é) necessário a um pedreiro, como o poderiam sê-lo? Se sim, como seriam aceites na fraternidade da Maçonaria, existindo sempre como existiu os grandes fossos entre as classes de trabalho, tendo aqui especial contraste entre os homens do povo e os homens que lidavam com a corte, esquematizando aquilo que os senhores dos reinos desejavam?
Isso são no entanto questões que já fogem ao assunto que aqui se quer abordar.
Em Sintra, em dois monumentos que são muito próximos (o Paço Real de Sintra e a igreja de São Martinho), encontra-se por quatro vezes o mesmo suposto símbolo maçónico, ou suposta assinatura de canteiro, como tantas outras nesses monumentos - e em outros de Sintra - existem.
O que torna este símbolo, esta marca, como algo que sobressai entre os demais, é o facto de ser bastante composto em sua forma - comparativamente com o comum encontrado nestas marcas.
Com duas “pernadas” que se bifurcam de um cúrveo pé que termina naquilo que se assemelha à representação de uma flor-de-lis, rectamente essas se vão alargando como cones até terminarem em dois extremos de forma anzolada ou lupina, lado a lado, com cada ponta lateral para o mesmo lado voltada em ambos os extremos. Não só a composição é aqui importante na distinção que logo é evidente das demais marcas, mas também o cuidado que seria necessário para este símbolo na pedra gravar, cuidado também distinto da maioria das marcas da mesma espécie que se podem por norma encontrar. Dos quatro símbolos, três aparecem com um círculo próximo, suscitando todo o tipo de interpretações, conforme for a orientação que as fotografias tenham, quando se olha para a marca e seu círculo.
Se é a sua composição que faz com que esse sobressaia entre os demais, foi um outro facto que fez com que para além de no Paço Real de Sintra e igreja de São Martinho se encontrar, passasse também a figurar no Secreto Palácio de Sintra: a exactidão na orientação da suposta flor-de-lis e nos extremos anzolados ou lupinos, não é a mesma nos quatro, e a forma como as duas pernadas se cruzam na figuração com a pernada da flor-de-lis, é igualmente diferente nos quatro.
Qual a importância do mencionado com o Mestre Maçon e a Guilda Maçónica?
Para tão composta marca, é de supor que quem fosse o criador, autor e executor da mesma, a tivesse claramente visível na sua mente, e que a executasse sempre da mesma maneira, até porque em qualquer técnica de execução, a acomodação a um método faz com que se insista na repetição dos mesmos gestos, em especial - e de forma redundante - se o propósito é mesmo repetir a mesma execução.
Na orientação da suposta flor-de-lis e dos extremos anzolados ou lupinos, em três das marcas poder-se-ia evocar o uso de um negativo para marcar a forma na pedra antes de a gravar, usando ora uma face do negativo. Numa outra, o sentido cúrveo da flor-de-lis é diferente.
Assim, nos casos do último parágrafo, colocam-se as seguintes questões: sendo uma assinatura, a marca de um autor, ou o uso repetido do mesmo símbolo composto pelo mesmo artesão, seria de esperar que o mesmo falhasse na execução da réplica exacta desse? E quanto à marca cujo sentido cúrveo é diferente, para além desse aspecto, porque razão apresenta um entalhe errado no seguimento de um dos extremos anzolados ou lupinos - parecendo que existiu um início errado de entalhamento -, não possui a mesma harmonia na sua curva como os outros, e sendo um dos três que junto tem um círculo, porque é que esse círculo se apresenta em dois sobrepostos, e não se encontra quase acomodado entre os extremos anzolados ou lupinos como os círculos nas duas outras marcas?
Para além das questões já colocadas, surge ainda uma outra: as marcas do suposto mesmo símbolo, aparecem em diferentes trabalhos de pedra, nomeadamente: um pórtico (como simples pedra de suporte), uma ombreira de talha diagonal, uma moldura de janela de talha diagonal, e…uma pedra artisticamente trabalhada com motivos do estilo manuelino. Seria de supor, que um artesão ou um mestre capaz de fazer sobressair de uma simples pedra os mais belos motivos manuelinos, pudesse estar envolvido no simples assentamento de pedra de um pórtico ou de uma janela?
As questões colocadas com as diferenças que estas quatro marcas apresentam, sugerem que essas foram executadas por mãos diferentes, existindo a possibilidade de quem quer que as tenha executado, não estivesse familiarizado com as mesmas, representativas de um só símbolo. Daí…
Seriam realmente estas marcas assinaturas de canteiro de um único indivíduo?
Estariam estas marcas exclusivamente relacionadas com os pedreiros?
Estariam arquitectos ou responsáveis abaixo desses que não trabalhavam directamente a pedra, relacionados com essas marcas?
Representariam estas marcas um responsável que não trabalhasse directamente a pedra, ou representariam uma espécie de guilda, de pedreiros que se ajudariam entre si, e que acabando o trabalho, deixavam a marca da sua guilda maçónica?
Questões válidas, mas sem a possibilidade de para já se obterem respostas concretas. No entanto, Sintra já permitiu vislumbrar mais um pouco de um enigma maior, ao sempre estar de mão dada com a história e com quem sempre se tenta transportar até ao seu passado.
O Caminheiro de Sintra
FONTE: PALÁCIO DE SINTRA
P.S.: Quanto à localização dos sítios mencionados neste blog, tive durante muito tempo a dúvida se a mesma haveria de ser aqui disposta ou não. Pela resolução positiva, peço que faça o melhor uso possível desta informação, o qual principalmente tem a ver com a preservação do património e a não poluição dos locais sob que forma for. Tendo boa fé em si, deixo-lhe aqui no mapa (seta verde - poderá ampliar o mapa para ver melhor), a Igreja de São Martinho em Sintra, Portugal:
Ver mapa maior
P.S.: Quanto à localização dos sítios mencionados neste blog, tive durante muito tempo a dúvida se a mesma haveria de ser aqui disposta ou não. Pela resolução positiva, peço que faça o melhor uso possível desta informação, o qual principalmente tem a ver com a preservação do património e a não poluição dos locais sob que forma for. Tendo boa fé em si, deixo-lhe aqui no mapa (seta verde - poderá ampliar o mapa para ver melhor), a Igreja de São Martinho em Sintra, Portugal:
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