quarta-feira, 27 de julho de 2011

PROGRAMADO PARA MATAR

A Fria Agressão de um Assassino em Massa

Tradução José Antonio de Souza Filardo
REUTERS / Scanpix Suécia
Os psicólogos dizem que um “modo de caça” em sua mente permitiu que Anders Behring Breivik matasse dezenas sem emoção.
O que passa pela mente de uma pessoa durante uma matança de 90 minutos? Uma vez que tenham decidido envolver-se no mais extremo dos atos, assassinos como Anders Breivik conduzem seus assassinatos sem piedade e a sangue frio. Os psicólogos dizem eles entram em um modo de caça primitivo em que suas emoções são completamente desligadas.
Quando Anders Breivik chegou a Utøya, ele não estava em um estado de raiva – ele estava relaxado. Ele até ofereceu uma história plausível ao guarda responsável pelo controle da entrada na ilha norueguesa na sexta-feira, dizendo-lhe que precisava verificar a segurança após os ataques terroristas em Oslo. Breivik, que estava disfarçado com um uniforme da polícia e estava usando um colete à prova de balas e carregando uma pesada sacola estava tranquilo e se movia lentamente. E quando ele encontrou os jovens que se reuniram no acampamento, segundo testemunhas, ele exalava confiança.
Mas, então, ele começou a matar e continuou a fazê-lo por 90 minutos. “Parecia que ele realmente não se importava”, um sobrevivente diria mais tarde. Por 90 minutos, Breivik caçou suas vítimas e atirou contra eles. Por 90 minutos, ele permaneceu frio como gelo, não demonstrando qualquer emoção e inteiramente concentrado em sua missão. Ele nem sequer expressava qualquer irritação com os helicópteros da polícia que começaram a sobrevoar Utøya. Ele continuou a perseguir implacavelmente sua meta – literalmente assassinando tantos jovens quanto podia, 76 segundo os dados mais recentes da polícia.
Como um ser humano é capaz de permanecer assim a sangue-frio para um período tão longo? Pesquisadores que se debruçaram sobre assassinatos em massa estão familiarizados com o fenômeno. É parte de nossa biologia, argumentam eles, que os especialistas chamam de agressão fria.
“O criminoso está em um modo de caça”, explicou Jens Hoffman, diretor do Instituto de Psicologia e gestão de Ameaças em Aschaffenburg, na Alemanha. Hoffman vê o caso como de um assassino em massa. “Ele agiu de maneira calculada e planejada, suas emoções estavam completamente desligadas”, disse ele. Breivik apenas celebrou, dando gritos de vitória, disse um sobrevivente. Outros dizem que o ouviram gritar: “Vou matar todos vocês.”
Em contraste com a raiva fria, o psicólogo diz que, neste caso, foi a agressão fria que prevaleceu. Se uma pessoa se sente profundamente ameaçada, ele explica, então essa pessoa reage impulsivamente e não consegue pensar claramente. Seus batimentos cardíacos, aumentam e os músculos ficam tensos. Depois de um surto de raiva ou violência, assim que a ameaça se dissipa, esta condição termina muito rapidamente.
Criminosos como Breivik nunca se tentem ameaçados
Mas, este não é o caso na agressão fria. “Quando estiver no modo de caça, o autor não sente ameaça alguma. É por isso que a pessoa pode pensar claramente e agir de maneira focada”, Hoffman declarou ao Spiegel Online. “Ele pode manter esta condição durante o tempo que quiser.” O psicólogo diz que este modo de caça é biologicamente ancorado em cada pessoa. Antigamente, caçadores e coletores precisavam dele para garantir sua alimentação. Na sexta-feira, Breivik o ativou, a fim de caçar outras pessoas.
Em seu manifesto de 1.516 páginas, Breivik explica em algumas passagens como ele se preparou mentalmente para o ato. É apenas uma pequena parte de seu trabalho, que é preenchido com ideologia delirante. Mas isso também mostra quão obcecado estava Breivik com sua ideia. No manifesto, ele também explica como se pode manter a “capacidade de motivar-se / doutrinar-se durante um longo período.”.
“Você tem de superar desafios psicológicos iniciais difíceis e executar uma ligeira verificação mental subsequente todos os dias até que a operação esteja concluída,” o assassino escreveu. “Abraçar o martírio não é algo que você decide fazer de repente, mas é um processo que leva tempo e exige esforço e autocontemplação.”
Breivik escreveu que ele saia em uma caminhada de 40 minutos todos os dias. Se seus escritos merecem crédito, ele passou esse tempo “filosofando ideologicamente / executando auto doutrinação e simulação mental da operação.”.
Ele escreve que executou rigorosamente toda a operação mentalmente, simulando diferentes cenários -esforços de resistência, confrontos com a polícia, cenários futuros de interrogatório e até mesmo possíveis sessões no tribunal. Ele até mesmo planejou futuras entrevistas à imprensa. Durante seu treinamento mental, Breivik escreveu, ele ouvia “música motivacionais e inspiracionais”.
“Tudo é em preto e branco”
“Ele usou estratégias comuns de mentalização”, diz Hoffmann. A preparação de longo prazo, com um olho no triunfo e a “missão histórica” ​​são padrões de comportamento típicos. Ele justificou sua ação com sua ideologia. Foi terrível, mas necessário, disse Breivik, depois de completar a operação e ser preso.
A rigidez de Breivik também se encaixa em um padrão típico, diz Hoffmann. “Tais autores têm tendências muito assíduas e pensam de acordo com estereótipos. Tudo é em preto e branco”. Um colega australiano de Hoffmann ouviu certa vez de um atirador depois de seu crime que ele não queria cometê-lo no final, mas tinha sido planejado por tanto tempo e que havia escolhido a data com tanta antecedência que ele não sabia mais o que fazer além de realizá-lo. Ele tinha que seguir seu plano.
Um item incomum no manifesto de Breivik é quando ele detalha os tipos de anfetaminas que devem ser usadas para fazer a operação funcionar bem. Ele explica quais combinações de medicamentos funcionam melhor, onde se pode obtê-los facilmente, em que doses devem ser tomadas, e qual o melhor momento para tomá-los.
Força física, agilidade e foco são todos reforçados por estimulantes em 30 a 50 por cento e por uma a duas horas, escreveu Breivik. Se ele tomou realmente as substâncias durante a onda de crimes anda permanece obscuro. E não é igualmente claro quanto efeito desejado as drogas trariam. Sabe-se que muitos criminosos bebem pequenas quantidades de álcool antes de cometer seus crimes, a fim de acalmar os nervos. Mas, fora isso, as drogas e o álcool dificilmente desempenham um papel em crimes a sangue-frio.
A Necessidade de Recompensa a Qualquer Custo
O que provavelmente passa pela mente de tais criminosos violentos é extremamente difícil de avaliar. Psicólogos e neurobiólogos têm, ambos, procurado por respostas. No ano passado, pesquisadores americanos na Universidade Vanderbilt, no Tennessee descobriram um mecanismo especialmente pronunciado no cérebro de psicopatas, ou seja, que eles têm uma necessidade de recompensa a qualquer custo.
Joshua Buckholtz, que comandou o estudo Vanderbilt, disse em um comunicado: “Descobrimos que um sistema hiper-reativo de recompensa de dopamina pode ser a base para alguns dos comportamentos mais problemáticos associados a psicopatologias, tais como a crimes violentos, reincidência e abuso de substâncias.”.
Buckholtz e seus colegas analisaram imagens do cérebro de pessoas com traços psicopáticos em seu estudo. Se o cérebro de Breivik também está ou não danificado de tal forma permanece obscuro. E seria quase incompreensível procurar um diagnóstico para tal crime.
Breivik não é o único assassino em massa na história a planejar e organizar meticulosamente seu crime. “A maior diferença é que funcionou”, diz Hoffmann, porque matar tantas pessoas envolve planejamento especialmente complexo.
O auto engrandecimento é outro traço comum entre os assassinos a sangue frio como Breivik, de acordo com Hoffmann. “Ele gosta de ser o senhor da vida e da morte”, diz ele.

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