quarta-feira, 27 de julho de 2011

BRASÍLIA CIDADE SAGRADA José Antonio de Souza Filardo M.´. I.´.

A primeira reação ao se ler ou ouvir este título é “lá vem outro idiota falar da profecia de Dom Bosco…”
Alega-se que este padre italiano, que, aliás, gostava muito de meninos e fundou os Colégios Salesianos, teria previsto o surgimento de uma “Terra da Promissão, fluente de leite e mel” entre os paralelos 15 e 20 da América do Sul.
Pois bem, esta profecia nada mais é que a prova do grau de informação que a Igreja tinha sobre os fatos do mundo. Dom Bosco nasceu em 1815, foi ordenado padre em 1841 e teve o famoso sonho em 1883.
Ora, já em 1809 defendia-se a criação de uma Nova Lisboa no interior do Brasil. Logo a seguir, nosso Irmão Hipólito José da Costa, em repetidos artigos de seu Correio Braziliense, reivindicava com veemência (a partir de 1813) “a interiorização da capital do Brasil, próximo às vertentes dos caudalosos rios que se dirigem para o norte, sul e nordeste“. E se não bastasse esta publicação de 1813, em 1822 é publicado o “Aditamento ao projeto de Constituição para fazê-lo aplicável ao reino do Brasil”, estipulando, logo no primeiro artigo, que “no centro do Brasil, entre as nascentes dos confluentes do Paraguai e Amazonas, fundar-se-á a capital desse Reino, com a denominação de Brasília”. Esta posição geográfica, paralelo 15, corresponde ao local onde, setenta anos mais tarde, o bom padre “sonhou e previu” que surgiria alguma coisa…

A constituição republicana de 1891 contém, expressamente, no seu art. 3o.: “Fica pertencente à União, no Planalto Central da República, uma zona de 14.000 km2, que será oportunamente demarcada, para nela estabelecer-se a futura Capital Federal”. Floriano Peixoto (segundo presidente da república) deu objetividade ao texto, constituiu a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil (1892), sob a chefia do geógrafo Luís Cruls, que apresentou substancioso relatório, delimitando, na mesma zona indicada por Varnhagen, uma área retangular que ficou conhecida como Retangulo Cruls.
Não resta a menor dúvida de que Dom Bosco, ou era leitor do Correio Braziliense, ou ávido leitor do arquivo sobre o Brasil nos porões do Vaticano…
A intenção lusitana expressa em 1809 estava ligada a uma visão geopolítica surpreendente para a época. Em um primeiro momento, naturalmente, havia a preocupação de afastar a capital do Reino de ataques marítimos, visto que a marinha era a grande arma, e já tivéramos episódios de sítio à capital, como no caso de invasões francesas e holandesas.
Mas, subjacente a esta intenção, nota-se aquilo que foi expresso pelo General Golbery do Couto e Silva em sua obra “Geopolítica do Brasil”:
“Resumindo em suas linhas gerais a grande idéia de manobra geopolítica para integração do território nacional, trata-se de:
1.   
1.  articular firmemente a base ecumênica de nossa projeção continental, ligando o Nordeste e o Sul ao núcleo central do país; ao mesmo passo que garantir a inviolabilidade da vasta extensão despovoada do interior pelo tamponamento eficaz das possíveis vias de penetração;
2.  impulsionar o avanço para noroeste da onda colonizadora, a partir da plataforma central, de modo a integrar a península centro-oeste no todo ecumênico brasileiro (para o que se combinarão o processo da mancha de azeite preconizado por Lyautey e o dos núcleos avançados atuando como pontos de condensação);
3.  inundar de civilização a Hiléia amazônica, a coberto dos nódulos fronteiriços, partindo de uma base avançada constituída no Centro-Oeste, em ação coordenada com a progressão E-O, segundo o eixo do grande rio.”
E assim foi que, em 09 de dezembro de 1955,o presidente da República em exercício, Nereu Ramos, através do decreto n.38.261 transformou a Comissão de Localização da Nova Capital do Brasil, em Comissão de Planejamento da Construção e da Mudança da Capital Federal, da qual foi presidente, de maio a setembro de 1956, o doutor Ernesto Silva, que, a 19 de setembro, lançou o concurso nacional do Plano Piloto de Brasília.
Diversos projetos participaram deste concurso, que foi vencido pelo escritório de Lucio Costa com o projeto de plano piloto:
E surgia no meio do cerrado uma cidade novinha, pensada, desenhada e construída do zero…..
Antes de prosseguir, gostaria de fazer um parêntese, prestar uma homenagem e creditar a idéia deste trabalho ao Professor Inácio da Silva Telles que trinta anos atrás se referiu, certa vez, em aula, a Brasília, como uma cidade sagrada, sem contudo alongar-se na idéia, mas abrindo uma perspectiva absolutamente apaixonante de pesquisa.
E esta é a idéia que pretendo desenvolver neste trabalho é mostrar como a Cultura é preservada através de monumentos, mesmo diante de mudanças aparentes de foco de interesse da humanidade. Escolhemos, para isso, um tema ligado à civilização brasileira, para demonstrarmos que bem próximo de nós, também temos amostras deste processo.
Pois bem, no início do século XX, dois nascimentos importantes ocorreram :
Em 27 de Fevereiro de 1902 nascia em Toulouse, França, filho de pais brasileiros, Lucio Marçal Ferreira Ribeiro Lima Costa.
Este urbanista, com quatro sobrenomes cristãos-novos educou-se na Inglaterra e na Suíça até 1917 quando retornou ao Brasil onde cursou arquitetura.
Entusiasta do Bauhaus, amigo de Le Corbusier, a quem convidou a visitar o Brasil em 1936, foi professor de Oscar Nyemeier e parceiro de Gregory Warchavchik. Pioneiro do Modernismo, em 1957, ao ser lançado o concurso para a nova capital do país, enviou idéia para um anteprojeto, contrariando algumas normas do concurso. Desenvolveu, como urbanista, o Plano Piloto de Brasília, com Niemeyer, passou a ser conhecido em todo o mundo como autor de inúmeros prédios públicos.
Em 15 de Dezembro de 1907 nascia no Rio de Janeiro, Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares
Este arquiteto, de sobrenome cristão-novo e judeu, foi aluno de Lucio Costa com quem trabalhou em seu escritório de arquitetura na elaboração do Projeto vencedor do concurso para a nova capital do Brasil.
Ideologicamente comprometido com o ideal comunista, Nyemeier sempre se recusou a trabalhar para a burguesia, dedicando-se a projetos voltados para o poder público.
Assim foi que em 1957, o escritório de Lucio Costa participou do concurso no qual foi vencedor com o projeto de plano piloto que continha em seu Memorial:
“ Ela [a cidade] deve ser concebida, não como simples organismo capaz de preencher, satisfatoriamente, sem esforço as funções vitais próprias de UMA CIDADE MODERNA QUALQUER, não apenas como URBS, mas como CIVITAS, possuidora dos atributos inerentes a uma Capital. E para tanto, a condição primeira é achar-se o urbanista imbuído de UMA CERTA DIGNIDADE E NOBREZA DE INTENÇÃO, porquanto desta atividade fundamental decorrem a ordenação e o senso de conveniência e medida capazes de conferir ao conjunto projetado o desejável caráter monumental. Monumental não no sentido de ostentação, mas no sentido da expressão palpável, por assim dizer, consciente, daquilo que vale e significa. Cidade planejada para o trabalho ordenado e eficiente, mas ao mesmo tempo cidade viva e aprazível, própria ao devaneio e à especulação intelectual, capaz de torna-se, com o tempo, além de centro de govêrno e administração, num foco de cultura das mais lúcidas do país.” (Lucio Costa – Memorial do Plano Piloto).
Temos aqui uma declaração de princípios emitida por homens cultos que realizaram um grande monumento – BRASÍLIA – bem no centro da América do Sul, exatamente no limite entre as três maiores bacias hidrográficas do país, em uma simbologia de fonte irradiadora de vida.
Mas, para abordarmos com propriedade a importância e demonstrarmos nossa proposta deste trabalho temos que recuar um pouco no tempo, até o alvorecer da raça humana.
O paraíso existiu. Ficava na África. Antes do deserto do Saara ser um deserto. Sua principal característica era a abundância e o equilíbrio ecológico. Dessa forma, as espécies viviam em harmonia com a natureza. E não precisavam evoluir. Mas, o crescimento populacional gerou forte desequilíbrio ambiental e uma espécie em particular foi precipitada das árvores e obrigada a evoluir. E, expulso do paraíso, o elo perdido teve, a partir daí, de ganhar a vida “com o suor do próprio rosto…”
O elo perdido sofreu uma mutação eficiente há alguns milhões de anos e este mutante saiu da África iniciando a Diáspora e espalhou-se pelo mundo, evoluindo ao longo dos milênios e ocupando a Europa ao sul do meridiano 45, que corta o norte da Espanha, o Sul da França, o norte da Itália e o Mar Cáspio, pois o mundo passava por uma Idade do Gelo. Estes ocupantes da Europa eram os Neandertais, hominídeos rudes e fortes, vivendo da coleta e da caça.
Mais recentemente, há cerca de 200.000 anos, uma outra mutação do elo perdido caído das árvores do paraíso, o Homo Sapiens, deixou o Leste da África tomando direções distintas. Alguns grupos ficaram perambulando pelo continente, ao sul e a oeste. Outros grupos seguiram para a Europa e Ásia, via Oriente Médio. Um outro grupo, ainda, seguiu pela costa do Oceano Índico e ocupou a Austrália, ramificou-se para o Sudeste da Ásia, a China e prosseguiu pela costa do Oceano Pacífico até chegar à América.
Com a chegada do Homo Sapiens à Europa, os Neandertais, menos aparelhados e menos inteligentes foram pouco a pouco reduzidos em número e acabaram extintos por volta de 30.000 anos atrás. Os recém-chegados eram os Cro-Magnon, hábeis fabricantes de ferramentas, caçadores e coletores.
Uma parte do grupo tinha ficado no Oriente Médio onde descobriram a agricultura no Crescente Fértil, a Mesopotâmia. Esta atividade exigia o conhecimento dos ciclos da natureza. E assim foi que, por necessidade, os agricultores começaram a observar os ciclos da natureza, visando prever a época certa para a semeadura e a colheita. Nascia, assim, a primeira ciência da Humanidade: a Astronomia.
Todas as civilizações estudaram os céus. Evidência indireta de observações astronômicas pode ser vista no posicionamento altamente preciso de antigos documentos, como Stonehenge, por exemplo, onde importantes eventos, como o solstício e o equinócio se alinhariam com certos aspectos da configuração. Antigas civilizações usaram a Lua como dispositivo de contagem de tempo, ajudando a controlar as épocas de plantio, de colheita e, mais importante, o momento de realizar cerimônias religiosas. Os ciclos periódicos da Lua duram cerca de 29 dias e meio, com doze ciclos somando quase um ano inteiro, o que determinou os primeiros calendários. Não é difícil imaginar que ao observar a Lua, os antigos astrônomos não podiam deixar de notar o movimento dos planetas, especialmente Vênus. O primeiro registro direito de observações data de quase 4.000 anos e são escritos em tabletes cuneiformes babilônicos. Após os Babilônios, o surgimento do império Assírio trouxe consigo uma obsessão pela astrologia. Os sacerdotes assírios tentaram encontrar um significado e intenção no movimento dos planetas, do sol e da lua. Eles produziram registros detalhados que se estendiam por muitos séculos, mas não existe prova registrada de que eles tenham tentado entender o projeto físico do universo.
Mais tarde, grupos destes agricultores migram para a Europa via Bálcãs, transferindo a tecnologia agrícola aos Cro-Magnon e fixando-os à terra, como agricultores. A coesão destes grupos era relativamente frouxa, e a vida tribal girava em torno da mulher. Desenvolveu-se assim, uma sociedade agrícola matriarcal com o culto a deusas, as geradoras da vida.
Ao final da Idade do gelo, por volta de 10.000 b.C., os grupos que ocupavam os refúgios ao longo do paralelo 45 começaram a se expandir em direção ao norte da Europa, chegando até a Escócia, Finlândia e Sibéria. E estes grupos levavam com eles a tecnologia da agricultura, para a qual precisavam dominar o conhecimento dos ciclos climáticos e o calendário era um instrumento de trabalho.
A necessidade de controlar o tempo e prever as estações levou os povos em geral a construir estruturas através das quais pudessem calcular o tempo. Muitos destes observatórios foram encontrados entre diferentes civilizações, e o mais conhecido, estudado e visitado é Stonehenge.
Stonehenge é um monumento megalítico da Idade do Bronze, localizado próximo a Amesbury, no condado de Wiltshire, a cerca de 13 quilômetros a Noroeste de Salisbury, na Inglaterra
Stonehenge é uma estrutura composta, onde se identificam três períodos construtivos distintos:
  • O chamado Período I (c. 3100 a.C.), quando o monumento não passava de uma simples vala circular com 97,54 metros de diâmetro, dispondo de uma única entrada. Internamente erguia-se um banco de pedras e um santuário de madeira. Cinqüenta e seis furos externos ao seu perímetro continham restos humanos cremados. O círculo estava alinhado com o pôr do Sol do último dia do Inverno, e com as fases da Lua.
  • Durante o chamado Período II (c. 2150 a.C.) deu-se a realocação do santuário de madeira, a construção de dois círculos de pedras azuis (coloridas com um matiz azulado), o alargamento da entrada, a construção de uma avenida de entrada marcada por valas paralelas alinhadas com o Sol nascente do primeiro dia do Verão, e a ereção do círculo externo, com 35 pedras que pesavam toneladas. As altas pedras azuis, que pesam quatro toneladas, foram transportadas das montanhas de Gales a cerca de 24 quilômetros ao Norte.
  • No chamado Período III (c. 2075 a.C.), as pedras azuis foram derrubadas e pedras de grandes dimensões (megálitos) – ainda no local – foram erguidas. Estas pedras, medindo em média 5,49 metros de altura e pesando cerca de 25 toneladas cada, foram transportadas do Norte por 19 quilômetros. Entre 1500 a.C. e 1100 a.C., aproximadamente sessenta das pedras azuis foram restauradas e erguidas em um círculo interno, com outras dezenove, colocadas em forma ferradura, também dentro do círculo.
Estima-se que essas três fases da construção requereram mais de trinta milhões de horas de trabalho.
Recolhendo os dados a respeito do movimento de corpos celestiais, as observações de Stonehenge foram usadas para indicar os dias apropriados no ciclo ritual anual. Nesta consideração, é importante mencionar que a estrutura não foi usada somente para determinar o ciclo agrícola, uma vez que nesta região o Solstício de Verão ocorre bem após o começo da estação de crescimento; e o Solstício de inverno bem depois que a colheita é terminada. Desta forma, as teorias atuais a respeito da finalidade de Stonehenge sugerem seu uso simultâneo para observações astronômicas e a funções religiosas, sendo improvável que estivesse sendo utilizado após 1100 a.C..
A respeito de sua forma e função arquitetônicas, os estudiosos sugeriram que Stonehenge – especialmente seus círculos mais antigos – pretendia ser a réplica de um santuário de pedra, sendo que os de madeira eram mais comuns em épocas Neolíticas.
No dia 21 de Junho, o Sol nasce em perfeita exatidão sob a pedra principal, alinhado com a chamada Heel Stone que fica fora do Círculo principal.
E espalhados pelo mundo, encontramos outros exemplos de observatórios pré-históricos: Ilha de Páscoa, Chichen Itza no México, Hovenweep nos Estados Unidos, Geo Cheng na China, Newgrange na Irlanda, Casa Riconada nos Estados Unidos, Dzabilchaltun no México, Big Horn nos Estados Unidos, Jantar Mantar na Índia, Angkor Vat na Thailandia e muitos outros.
Uma constante nestes monumentos megalíticos são os portais do sol, pelos quais passa a luz do sol no solstício.

No caso de Brasília, pela orientação de seu eixo no sentido Oeste-Leste, um observador colocado no centro do Eixo Monumental verá o sol nascer entre as colunas do Edifício do Congresso nacional no Solstício, exatamente como acontecia nos antigos observatórios pré-históricos.

A AURORA DA RELIGIÃO
O episódio “Como nasce um Paradigma” é bem conhecido, graças à Internet.  Segundo ele,
Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula. No meio, uma escada e no topo dela um cacho de bananas. Quando um macaco subia na escada para pegar as bananas, os cientistas jogavam um jato de água fria nos que estavam no chão.
Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros o pegavam e enchiam de pancada. Com mais algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas.
Então, os cientistas substituíram um dos macacos por um novo.
A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo retirado pelos outros, que o surraram. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não subia mais a escada.
Um segundo foi substituído e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado com entusiasmo na surra ao novato. Um terceiro foi trocado e o mesmo ocorreu. Um quarto, e afinal, o último dos veteranos foi substituído.
Os cientistas então ficaram com um grupo de cinco macacos que mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse pegar as bananas.
Se possível fosse perguntar a algum deles porque eles batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: “Não sei, mas as coisas sempre foram assim por aqui”.
Assim é que nas cavernas geladas, o homem precisava do fogo para aquecê-lo. Inicialmente, o fogo era obtido diretamente de acidentes com raios e incêndios naturais e levado para as cavernas, onde era mantido indefinidamente aceso. Alguém precisava ficar fazendo isso, enquanto o grupo caçava….
Aos poucos o Homem aprendeu a produzir o fogo, mas a esta altura, gerações e gerações tinham se dedicado à manutenção do fogo e a explicação sobre a importância e a necessidade de se manter aceso o fogo tinha-se perdido no tempo, e uma atitude reverencial e supersticiosa passou a ser atribuída à tarefa de manutenção do fogo. Ocorreu a desvinculação entre os dois conceitos, tal como aconteceu no paradigma dos macacos. Estavam criadas as condições para se desenvolver uma religião ligada ao fogo que, subseqüentemente, foi ligada a um deus-sol…  Apolo, Mithra, Jesus Cristo, Buda, etc.
Com o advento das estruturas de cálculo das estações, os observatórios astronômicos, os indivíduos que dominavam o conhecimento da interpretação das relações entre os astros e os marcos terrestres passaram a constituir uma classe especial, sacerdotal, que precisava ser mantida, pois deles dependia o sucesso das colheitas. E o conhecimento passou a ser usado como instrumento de dominação.
Além do aspecto astronômico, tais monumentos também tinham finalidade religiosa, marcando as datas para a realização de cerimônias religiosas, visto que o Homem, a partir de um estágio de abstração mais alto, começa a buscar a causa de todas as coisas.
A questão é que o ferramental lógico, os instrumentos de que dispunha o homem pré-histórico para analisar os fenômenos era muito limitado, ou seja, tudo o que tinha era sua experiência enquanto indivíduo e suas observações empíricas da natureza.
Assim foi que o Homem percebeu que tinha um começo e um fim; que existia somente porque alguém o colocara no mundo; que as plantas renasciam depois de um incêndio, que o sol renascia todos os dias depois de “morrer” ao fim do dia.
Com base nestas noções simples, começou a procurar um criador e a sonhar que também renasceria depois de seu desaparecimento.
Apavorado diante de um mundo perigoso e cheio de fenômenos naturais agressivos, apenas um elo na cadeia alimentar, o Homem primitivo precisava de um protetor para confortá-lo quando estava no fundo de uma caverna gelada, encolhido como um animal, apavorado com o soar de trovões e tempestades furiosas e, inconformado com a brevidade da vida, sonhava que era uma planta e que renasceria depois do inverno, quando o sol novamente brilhasse sobre a natureza morta.
E este passa a ser um elemento atávico do comportamento humano, que dará origem aos mitos solares – a base de todas as religiões.
Pouco a pouco instilou-se no Homem o espírito daninho da religião, que determinaria dali em diante a maioria dos conflitos, per secula seculorum….
Muitas correntes religiosas desenvolveram-se ao longo dos milênios e da evolução da humanidade. Entre elas, surgiu uma corrente que tinha uma crença em um único deus antropomórfico, resultante do mecanismo de projeção de características, comportamentos, inteligência, conceitos e sentimentos humanos sobre uma entidade mítica que teria poder sobre todo o universo.
Esta crença monoteísta foi desenvolvida por um grupo que ficou conhecido como semitas. Estes semitas estavam divididos em semitas do norte, ou hebreus, e semitas do sul, ou árabes. Ambos eram monoteístas, mas a expressão do culto religioso diferiu historicamente.
Não é, todavia, o objetivo deste trabalho abordar especificamente religiões, apenas nos valeremos de um aspecto da religião judaica, as interpretações da relação entre o Homem e a divindade consubstanciada na chamada Árvore da Vida ou Árvore Sefirótica, velho conhecido dos maçons.
árvore da vida é um conceito cabalístico. Ela é formada pelas dez emanações de Ain Soph, chamadas Sephiroth.
Ain Soph (Hebraico אין סוף, literalmente “sem fim”, denotando “sem limites” e/ou “nada“), é um termoa Cabalistico que se refere, em geral, a um estado abstrato da existência que precede a criação do universo limitado por Deus. Este Ain Soph, chamado de, tipicamente e figurativamente “luz de Ain Soph” é a emanação mais fundamental manifestada por Deus. O Ain Soph é a base material da Criação que, quando enfocada, restrita e filtrada através das Sefirots, resulta no universo dinâmico criado.
A essência de todas as Sephiroth é a mesma, mas cada uma possui uma propriedade particular. A essência é universal, o que muda é a emanação de cada Sephirah. Segundo a cabala, a síntese da árvore da vida é Adam Kadmon, o Homem Arquetípico.
Essas emanações se manifestam em quatro diferentes planos, interconectando as dez sephiroth em camadas cada vez mais densas.
As três sephiroth superiores formam um mundo abstrato e representam o estado potencial. As seis sephiroth interiores se agrupam em uma dimensão conhecida por Zeir Anpin, formando o elo entre o abstrato e a matéria. Estão firmemente interconectadas entre si. A última sephirah inferior é a representação do nível material.
No pilar esquerdo da árvore rege o princípio feminino. No pilar direito da árvore rege o princípio masculino. No pilar central da árvore existe a ligação entre os dois princípios.
O topo da árvore representa o bem e a base o mal.
Kether – Coroa
Kether se situa na posição central superior da árvore. É a coroa. É o potencial puro das manifestações que acontecem nas outras dimensões. Representa a própria essência, atemporal e livre. É a gênese de todas as emanações canalizadas pelas outras sephiroth.
Chokmah – Sabedoria
Chokmah se situa no topo da coluna direita. É a sabedoria. É o salto quântico da intuição, que deriva as manifestações artísticas. Analogamente, é o lado direito do cérebro, onde flui a criatividade e o mundo das idéias. Possui energia do fogo, associada à masculinidade e também representa o passado. Também representa a fé nos melhores dias para a humanidade.
Binah – Inteligência
Binah se situa no topo da coluna esquerda. É o entendimento. É a lógica que dá definição à inspiração e energia ao movimento. Analogamente, é o lado esquerdo do cérebro, onde funciona a razão, organizando o pensamento em algo concreto. Possui a energia da água associada à femilinidade e também representa o futuro.
Chesed – Misericórdia
Chesed se situa abaixo de Chokmah. É a misericórdia. Representa o desejo de compartilhar incondicionalmente. Representa a vontade de doar tudo de si mesmo e a generosidade sem preconceitos, a extrema compaixão.
Geburah – Julgamento
Geburah se situa abaixo de Binah. É o julgamento. Representa o desejo de contenção e de questionador de impulsos. Canaliza sua energia por meio de objetivos, com o intuito de superar obstáculos e transformar a própria natureza.
Tiphereth – Beleza (Realidade)
Tiphereth se situa abaixo e entre Chesed e Geburah. É a beleza. Junto com Chesed e Geburah forma a tríade superior Maguen David, criando harmonia. Transforma em beleza Chokmah, Binah e Kether. A sabedoria e o entendimento, com a luz do conhecimento. Também é interpretada como Realidade.
Netzach – Vitória
Netzach se situa abaixo de Chesed. É a vitória. Existe a vontade de reciprocidade, a busca pelo próximo e a superação dos próprios limites, propagando o pensamento eterno. Funciona como o princípio fertilizador do espermatozóide masculino.
Hod – Esplendor
Hod se situa abaixo de Geburah. É o esplendor. É um canal de aprimoramento interno, de identificação com próximo, sendo uma forma de aceitação do pensamento, de reconhecimento. Funciona como o princípio receptivo do óvulo feminino.
Yesod – Fundamento
Yesod se situa abaixo e entre Netzach e Hod. É o fundamento. Funciona como um reservatório onde todas as inteligências emanam seus atributos que são misturados, equilibrados e preparados para a revelação material. É compilação das oito emanações.
Malkuth – Reino
Malkuth se situa na posição central inferior da árvore. É o reino. Representa o mundo físico, onde é revelado o material compilado das oito emanações. É o canal da manifestação, desejando a recepção das sephiroth. É a distância de Kether que provoca esse desejo, criando a sensação de falta.
Daath – Conhecimento
Daath se situa acima e entre Chokmah e Binah. É o conhecimento. Representa uma falsa sephirah porque não é uma emanação independente como as outras dez. Ela depende de Chokmah e Binah. Também é considerada como a imagem de Tipareth. É o abismo, o caos aleatório do pensamento.
(Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.)
Assim é que toda a civilização e a literatura ocidental, cuja base é judaico-cristã, foi afetada por esta cosmovisão, visto que o ocidente é dominado pelas religiões baseadas no monoteísmo judaico.
Esta Árvore da Vida vem influenciando a construção de catedrais e monumentos e, em nosso caso específico, as lojas maçônicas que seguem o diagrama da árvore sefirótica em detalhe, ainda que tenha influências da caverna mithraica em seus primórdios. A semelhança com o Parlamento Britânico também não é coincidência, se considerarmos o nível de influência da árvore da vida na civilização ocidental.
Não é também o objetivo deste trabalho em particular, analisar as relações entre a Árvore da Vida e a arquitetura da loja maçônica, mas uma discrepância notável é a posição do Tesoureiro na Sephirot Misericórdia, que parece ser um contra senso, mas não é bem assim. A posição efetiva que corresponde à Sephirot Misericórdia é o Hospitaleiro, que se senta diante do Tesoureiro.
Depois desta grande volta ao mundo, aonde vimos como os grandes monumentos pré-históricos se inseriam na História, e também vimos um aspecto da religião judaica que muito influenciou nossa cultura, retornamos ao nosso tema central: BRASILIA
Muitos cristãos-novos-judeus – Nereu Ramos, Lucio Costa, Nyemeyer, Burle Marx, Athos Bulcão,  Juscelino – foram necessários para que Brasília, esta maravilhosa obra, se realizasse…

O primeiro traço do projeto foi este: um triângulo eqüilátero posicionado sobre a península, no qual se inscrevia uma cruz rudimentar. Ou seria um arco com uma flecha?
ou

Uma enorme nave espacial ou avião voando no sentido oeste-leste, com seus painéis solares estendidos no sentido norte-sul?
O corpo da nave espacial ou avião, composto da cabine de comando – a praça dos três poderes – e ao longo do corpo da nave os diferentes dispositivos de controle de navegação, até sua extremidade sul, onde se encontra a antena de comunicação com a sua base…. e a nave voa em direção ao sol, qual novo Ícaro em busca da luz….
Esta já seria uma interpretação bastante simbólica, se levarmos em conta a função do Distrito Federal na estrutura do país.
Mas, temos a manifestação do próprio urbanista, Lucio Costa: “‘Não tem nada de avião! É como se fosse uma borboleta. Jamais foi um avião! Coisa ridícula!”
Sem contar que uma interpretação tão simplista reduziria a genialidade dos criadores do projeto. Lucio Costa e Oscar Nyemeier são pessoas cultas, com exposição a inúmeras influências culturais. Homens do mundo, visitaram Paris, Londres. Viram o Champs Elisées, o Mall londrino, tiveram contato com Le Corbusier e traziam uma bagagem cultural de homens de seu tempo. Niemeyer participara até mesmo do projeto de reconstrução de Berlim…
Nunca é demais repetir as palavras de Lucio Costa no Memorial do Plano Piloto:
“Monumental não no sentido de ostentação, mas no sentido da expressão palpável, por assim dizer, consciente, daquilo que vale e significa. Cidade planejada para o trabalho ordenado e eficiente, mas ao mesmo tempo cidade viva e aprazível, própria ao devaneio e à especulação intelectual, capaz de torna-se, com o tempo, além de centro de governo e administração, num foco de cultura das mais lúcidas do país.”
Destacamos ainda as expressões “própria ao devaneio e àespeculação intelectual” e “no sentido da expressão palpável, por assim dizer, consciente daquilo que vale e significa”. Isso nos fornece uma indicação do próprio autor, de que algo mais existe sob a primeira camada de percepção da realidade.
Por suas manifestações públicas e tendências ideológicas, sabemos que tanto Lucio Costa quanto Oscar Nyemeyer não foram homens religiosos no sentido estrito da palavra, mas são pessoas formadas por nossa cultura ocidental e estiveram expostos às influências de seu tempo. E enquanto urbanistas e arquitetos é lícito pensar que estudaram as diferentes civilizações e seus monumentos.
A construção de uma cidade já é algo importante, mas a construção da capital de um país, a partir do zero, é algo absolutamente fantástico, principalmente se o projeto é desenvolvido por arquitetos do calibre destes dois.
Mas, retomando a idéia inicial de nosso trabalho, aquela semente plantada pelo Prof. Ignácio naquela longínqua noite nas Arcadas, gostaria de apresentar esta figura:

Sem qualquer conotação religiosa, poderíamos acrescentar uma nova visão à interpretação do Plano Piloto de Brasília, a do Adam Kaedmon.

Temos assim, entre inúmeras interpretações possíveis, que a praça dos três poderes, em que pese o triângulo que a compõe estar invertido, teríamos Atziluth, ou o mundo das emanações, composto de Coroa, Sabedoria e Inteligência, correspondentes a cada poder da república. Ainda que não exista uma correspondência absoluta entre os conceitos, podemos equiparar Coroa ao Executivo, Inteligência ao Judiciário e Sabedoria ao Senado. Poderíamos equiparar a Câmara a Daath a falsa Sephirath que não é uma emanação independente. Ela depende da Sabedoria e da Inteligência.

Abaixo deste triângulo, temos Beriah, o Mundo das Criações onde se encontram a Justiça, a Misericórdia e a Beleza (também chamada de Realidade em algumas interpretações, como a da figura acima). No Plano Piloto, podemos equiparar a Justiça ao próprio Ministério da Justiça que se encontra exatamente naquela posição da Arvore da Vida. A Misericórdia é representada pelo Itamaraty.
Abaixo de Beriah, temos Yetzirah, outro triângulo formado por Esplendor, Fundamento e Vitória. A correspondência do PP com a árvore no que se refere a Esplendor não é tão direta, mas poderíamos dizer que o setor cultural, onde se coloca o Teatro Nacional com sua forma piramidal , na medida que este promove identificação com o próximo. E a firmeza está na estrutura de poder representada pela Catedral.
Tipheret, ou a beleza seria representada por um enorme chafariz existente diante da Torre de TV.
Fundamento é a compilação das oito emanações e se situa na figura de Adam Kaedmon na região genital e aparece no Eixo Monumental como um pênis ereto representado pela Torre de TV.
Finalmente, temos a última sephirot, Malkut, ou o Reino que seria o mundo sensível e bruto. Temos ali o Quartel General do Exército (império da força) e a Estação Ferroviária que é a ligação do Plano Piloto com o mundo.
Temos assim, completo, o fluxo representado pela linha amarena na árvore da vida, que representa o caminho da emanação desde o mundo físico até a coroa.
Mas, enquanto uma obra aberta, no sentido atribuído por Umberto Eco, Brasília se presta a incontáveis interpretações, como, por exemplo, a concebeu um artista deslumbrado, Uma mariposa com as asas abertas e sua antena, repetindo, de certa forma o mesmo conceito antropomórfico da cidade, com a diferença que a posição foi invertida e, com isso, mudando a concepção de árvore da vida. Neste caso, a figura tem os pés pousados na Praça dos Três Poderes, um pé no Palácio do Planalto, outro pé no supremo, e o Congresso nacional em suas genitais, um útero criador de novas realidades, sob a forma de leis.
Concluindo, muitas interpretações existem, mas fica disso tudo a idéia de que se Brasília tivesse sido construída há dois ou três milênios, hoje ela estaria sendo interpretada e equiparada a qualquer um dos grandes monumentos antigos, e muito seria escrito sobre suas ruínas.
Desde sua localização nas nascentes de três bacias hidrográficas, em sua posição central no país, sua orientação geográfica, seu plano urbanístico e sua forma vista do espaço, tudo levaria à confirmação da idéia visionária e poética vislumbrada naquela noite nas Arcadas pelo Professor Inácio.
Mas, fiéis às nossas raízes, poderíamos imaginar o plano piloto como um anjo Macunaíma, preguiçosamente deitado no meio do planalto, apreciando o céu do hemisfério sul, com suas asas relaxadas contemplando o céu do Planalto Central….


O Anjo Macunaíma

BIBLIOGRAFIA

Silva, Golbery do Couto e, Conjuntura Política Nacional: O poder executivo & Geopolítica do Brasil, 3ª ed. – rio de Janeiro: J. Olympio, 1981

Fustel de Coulanges, A Cidade Antiga, São Paulo, HEMUS, 1975

http://en.wikipedia.org/wiki/Genetic_history_of_Europe

https://www3.nationalgeographic.com/genographic/index.html

http://www.mira.org/fts0/intro/history/text/txt001x.htm

http://www.guiadebrasilia.com.br/historico/memorial.htm

http://www.jluciano.eti.br/profecias/dombosco.htm

ttp://www.castelo.com.br/DomBoscoMadreMazzarello/default.asp

FONTE: BIBLIOT3CA

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