Espie comigo através da janela da História e olhe para o século XVIII
incrustrado com gênios:
Aquele pomposo almofadinha que vemos ali é Beau Nash, famoso por ser o
mestre de cerimônias da elegante corte em Bath, Inglaterra. (Um pouco mais
tarde John Wesley iria perfurar o seu orgulho).
Aquela
personalidade que vem se aproximando agora não é outro senão a celebridade
literária, Dr. Samuel Johnson. John Wesley, certa vez, declinou uma refeição
até tarde com Johnson porque isso o deteria de acordar cedo na próxima manhã
para orar. (Marque isso, pregador!). O companheiro do Dr. Samuel Johnson, com
uma pena afiada, é Boswell (advogado escocês).
Em
um despretensioso lugar não muito longe dali temos um homem elaborando
desenhos, naquilo que iria se tornar uma famosa pintura: “The Blue Boy”.
Parabéns, Gainsborough! (pintor inglês).
Em
outra área, com suor na testa, alma e mente, Howard (xerife inglês) está
trabalhando para efetuar reformas no sistema prisional inglês. Acima, no Parlamento,
William Wilberforce (político inglês), com uma língua de escorpião, está
açoitando os legisladores por causa dos males da escravidão.
Philip
Sheridan, o teatrólogo irlandês e político, ficou cheio de orgulho da sua
School for Scandal (“Escola para o Escândalo” – peça teatral). Por algum tempo
Sheridan foi dono do Drury Lane Theatre. Eu ficaria maravilhado se ele tivesse
David Garrick, o príncipe dos atores naqueles dias, atuando em suas peças.
Consegue
ouvir aquelas melodias celestiais? Eis aqui outro típico inglês (naturalizado).
Seu nome? Handel (compositor). Com os olhos cheios de lágrimas e seus braços
levantados ao céu, esse gênio está cantando algumas das melodias do seu
“Messias” (composição musical) e as entremeando com alguns “aleluias” (Será por
isso que ele foi reputado como bêbado quando compôs seu bendito oratório?).
Ainda,
antes de deixarmos a maravilhosa Inglaterra desse período e pularmos por sobre
o canal (Canal da Mancha) para dar uma espiadela no gênio mal de Voltaire
(filósofo francês), vamos espiar através de uma pequena janela. Aqui está a
“cara lavada” de Hogarth (pintor e cartunista), pintando uma de suas sátiras
políticas que o fizeram imortal.
Vamos
à França agora. Voltaire senta-se poderosa e altamente em seu trono de
ceticismo. Desmentindo que ele era um ateísta, esse brilhante deísta verteu
desdém e sátira sobre as doutrinas cristãs. Se ele foi o pai da Revolução
Francesa, ele provavelmente foi aguilhoado a fazer isso devido à perseguição e
amargura dos Jesuítas que reinavam em seus benefícios sacerdotais.
Mas
Voltaire aparenta ter sido um homem de compaixão também. Ele foi honesto em
avaliação. Sangster de Westminster (pastor e teólogo) disse: “Voltaire, quando
foi desafiado a apontar um caráter tão perfeito quanto o de Cristo, na mesma
hora mencionou Fletcher de Madely” (homem que traiu o comandante de seu navio e
acabou morto em uma conspiração. É uma famosa história literária inglesa. Foi
usada por Ravenhill como uma sátira da “honesta” avaliação de Voltaire sobre
Cristo).
Aqui
então terminamos com uma visão geral do século XVIII e sua safra de
intelectuais e homens de feitos heroicos. Cada um dos anteriormente mencionados
teve um lugar ao sol. Cada um teve uma habilidade peculiar.
Mas
o que Johnson e Boswell foram na literatura, o que Reynolds e Gainsborough
foram nas artes, o que Sheridan e Garrick foram no teatro, John Wesley e George
Whitefield foram na Igreja do Deus vivo – e somente eles foram tanto e em tão
alto grau.
Aqui está um daqueles abençoados paradoxos que o Senhor produz. Assim
como alguns anos antes os Beecher’s (culta família cristã) determinaram o
comportamento na Nova Inglaterra (nordeste dos EUA), assim os Wesley’s, na
Inglaterra, foram uma família de cultura e que definia padrões. Apesar disto,
esse cavalheiro de Oxford, John Wesley, era o homem que o Senhor usou com os
mineiros do interior de Bristol, Inglaterra. E aquele garoto vesgo nascido na
taverna de Gloucester (George Whitefield) foi o Davi selecionado para suceder
em preferência a Saul e Jonatas, com a missão de evangelizar o estado-maior da
Inglaterra com todos os seus mantos de seda.
Fogo
produz fogo. Em minha opinião, John Wesley tomou um pouco do seu zelo abrasador
de George Whitefield. Nos dias de hoje alguns reivindicam que o avivamento,
geralmente chamado de “Avivamento Wesleyano”, não foi o avivamento de Wesley
coisa nenhuma. E ainda, eles dizem, ele (Wesley) não o começou. (Para provar ou
desmentir isso, nós podemos esperar até o grande dia do julgamento).
No
campo pregando, o inflamado Whitefield certamente precede Wesley. Wesley pegou
a tocha do avivamento que Whitefield lançou quando foi para a América.
Whitefield
chegou na América após um verdadeiro espancamento no tempestuoso Atlântico, a
bordo de um barco que a Comissão Marítima não licenciaria nos dias de hoje para
uma viagem no rio. Novamente Whitefield lançou a brasa do seu zelo. Dessa vez
foi dentro do coração de Gilbert Tennant (um dos líderes do Grande Avivamento
americano), que, como somos levados a crer, pôde superar seu tutor. (Isso
parece impossível). Ainda maiores multidões enfrentaram as nevascas para ouvir
Tennant depois que Whitefield deixou a Nova Inglaterra.
Esqueça
por um momento os outros experimentos que Benjamin Franklin fez. Nesse instante
veja-o parado diante do púlpito onde Whitefield estava. Chegando cada vez mais
para trás até que não pudesse mais ouvir distintamente, ele marcou lá um ponto.
Mais tarde ele calculou a distância e concluiu que 30.000 (trinta mil) pessoas
ouviram o ungido Whitefield em apenas uma reunião, e o ouviram confortavelmente
sem nenhum amplificador!
Mas
as audiências de Whitefield nem sempre foram grandes. Em uma viagem através do
Atlântico, quando ele possuía apenas 25 (vinte e cinco) anos – alto, gracioso e
esbelto – ele discursou para um grupo de apenas trinta pessoas.
Seu
púlpito era o oscilante convés de um barco cujas velas estavam esfarrapadas e
os instrumentos de navegação completamente fora de operação! Seu cobertor era
uma pele de búfalo, e ainda que ele tenha dormido na parte mais protegida do
navio, ele tomou um banho completo por duas vezes durante uma única noite. O
barco levou três meses para avistar a costa da Irlanda!
Sobre
o Atlântico ou do outro lado dele, tanto pregando para alguns poucos em uma
escotilha de barco quanto impactando arrebatadoramente uma vasta audiência no
campo, a mensagem de Whitefield era a mesma: “Em verdade, em verdade, vos digo,
a não ser que um homem nasça de novo, ele não pode ver o reino de Deus”.
A
lâmpada que iluminou a vereda do Reino de Deus para Whitefield foi um livro. Em
Oxford, Charles Wesley avistou Whitefield e lhe passou “A Vida de Deus na Alma
do Homem”, de Henry Scougal.
Na
América, Whitefield investiu através das florestas impenetráveis para alcançar
os silvícolas (índios). De tribo em tribo ele foi de cabana a cabana. Para
chegar às aldeias dos Delawares, ele se lançou nas furiosas corredeiras em uma
frágil canoa indígena. Ele desentocou até mesmo os caipiras: todos os homens
deveriam ouvir a mensagem; eles deveriam ter a vida de Deus em suas almas.
Das
miseráveis aldeias dos silvícolas, esse pregador semelhante a um serafim,
movia-se com a mesma tranquila disposição para as imponentes casas históricas
da Inglaterra. De onde vêm aquelas carruagens? O que atraiu e reuniu aqueles
poetas, lordes e príncipes, filósofos e letrados? Orgulhosos da sua linhagem e
“sangue azul”, aqueles aristocratas vinham – muitos deles três vezes por semana
– para ouvir as palavras ásperas: “Deveis nascer de novo”.
De
uma câmara aristocrática com um pungente aroma de caríssimos perfumes,
Whitefield arremetia-se para um encontro nas ruas. Tente pegar sua alegria
quando ele diz: “Aqui eu sou honrado com pedradas, excremento, ovos podres e
partes de gato morto atirados contra mim”!
Vindo
de Gloucester como ele veio, Whitefield sabia que, por ser tão franco sobre as
coisas de Cristo durante o reinado da Rainha Maria, o Bispo Hooper de
Gloucester foi queimado enquanto tinha ao alcance dos olhos sua própria catedral.
Whitefield não se importava com as consequências da obediência. Tyndale
(publicador de uma das primeiras Bíblias inglesas) foi um homem de Gloucester
também, e pense o que sua fé lhe custou!
Whitefield
era do tipo: “Baxter-Brainerd-McCheyne”; ele usava o arnês (antiga armadura
completa) da disciplina com tranquilidade. Ele cravou estacas profundas em sua
própria mente. Seus “não farás” eram para si mesmo, e ele nunca forçou outros a
vestir seus panos-de-saco (vestes de luto).
O
elogio (?) do Papa sobre Lutero: “Essa besta alemã não ama o ouro”, poderia ter
sido dito a respeito de Whitefield também.
Qual
era o segredo do sucesso de Whitefield? Eu penso que três coisas: Ele pregou um
Evangelho puro; ele pregou um poderoso Evangelho; ele pregou um Evangelho apaixonado.
Cornelius
Winter (pastor), que frequentemente viajou, comeu e dormiu no mesmo quarto que
Whitefield disse: “Ele raramente passava por um sermão sem lágrimas”. Do outro
lado, uma senhora de posição em Nova Iorque disse: “o senhor Whitefield foi tão
agradável que me tentou a ser cristã”.
Homens
da literatura do seu tempo frequentaram seus encontros. Lord Chesterfield, frio
como era, aqueceu-se sob sua pregação. Lord Bolingbroke, um crítico pouco
generoso, disse: “Ele (Whitefield) é o homem mais extraordinário dos nossos
tempos. Ele tem a autoridade e eloquência que nunca ouvi em ninguém”.
Foi
dito de David Hume, o filósofo cético escocês – e um deísta como era – que saiu
correndo às cinco horas da manhã para ouvir Whitefield pregar. Perguntado se
ele acreditava no que o pregador pregava, ele respondeu: “Não, mas ele
acredita”!
Franklin
da América, um filósofo calculista e sangue-frio, disse sobre o avivalista
Whitefield: “Foi maravilhoso ver a mudança efetuada pela sua pregação nos modos
dos habitantes da Filadélfia. De descuidado ou indiferente acerca da religião,
parece como se todo o mundo estivesse crescendo religioso”.
John
Newton (compositor da canção “Amazing Grace”), um gigante da pregação tanto
quanto da poesia, disse de Whitefield: “Parecia como se ele nunca pregasse em
vão”.
Um
comentário de John Wesley sobre ele: “Porventura já lemos ou ouvimos de
qualquer pessoa que chamou tantos milhares, tantas miríades de pecadores ao
arrependimento? Sobretudo, por acaso já lemos ou ouvimos acerca de qualquer um
que tem sido um instrumento abençoado de Deus para trazer tantos pecadores das
trevas para a luz, e do poder de Satanás para Deus, como Whitefield”?
O
velho Henry Venn de Huddersfield e Yelling (ministro evangélico e teólogo)
declarou: “Raramente qualquer um igualou-se ao senhor Whitefield”.
George
Whitefield caminhou com grandes homens, como o Marquês de Lothian, o Conde de
Leven, Lord Dartmouth e Lady Huntingdon. Mas melhor ainda, ele caminhou e
falou com Deus. Ele ouviu o que Deus disse, viu o que Deus viu e amou como Deus
amou. Um provérbio árabe diz: “É o melhor orador aquele que transforma os
ouvidos dos homens em olhos”. Essa alma maravilhosa fez justamente isso.
Deus de Whitefield, dê-nos hoje homens como Whitefield, que podem
permanecer como gigantes no púlpito, mas ao mesmo tempo homens com corações
carregados, lábios inflamados e olhos transbordantes (de lágrimas).
E, Deus, por favor faça isso logo!
Traduzida
da versão da Bethany House Publishers. Este artigo de Leonard Ravenhill foi
veiculado no DAYSPRING, com direito autoral da Bethany House Publishers, 1963,
um ministério da Bethany Fellowship, Inc. Todos os direitos reservados.
Biografia protegida por direitos autorais.
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