O jornalista Andre Barcinski, crítico do jornal Folha de S. Paulo, criticou em um artigo
as orações feitas por atletas brasileiros ao comemorar vitórias e conquistas de
títulos. No texto, intitulado “Brasil é ouro em intolerância”, Barcinski
classifica como intolerância religiosa fatos como o ocorrido quando a seleção
feminina de vôlei conquistou o ouro olímpico em Londres, e comemorou com a oração do “Pai Nosso”.
- O que aconteceria se alguma jogadora da seleção de vôlei
fosse budista? Ou mórmon? Ou umbandista? Ou agnóstica? Ou islâmica? Alguém
perguntou a todas as atletas e aos membros da comissão técnica se gostariam de rezar
o “Pai Nosso”? Ou será que alguns se sentiram compelidos a participar para não
destoar da festa? – questionou o jornalista, que frisou ainda a laicidade do
estado brasileiro.
Ele questionou ainda se manifestações
religiosas como essa não estariam atrapalhando o caráter multireligioso do
país, e afirmou que em 2014 e 2016, as entidades responsáveis pela Copa do
Mundo e Olimpíadas deveriam tomar atitudes para evitar esse tipo de
manifestação, classificadas por ele como “festivais públicos de intolerância”.
- Liberdade religiosa só existe quando
não se mistura religião a nada. Nem à política, nem à educação, nem à ciência e
nem ao esporte – afirmou o jornalista.
Leia na íntegra o artigo de Barcinski:
Já virou hábito: toda vez que um time ou uma
seleção do Brasil ganha um título, os atletas interrompem a comemoração para abrir
um círculo e rezar. Sempre diante das câmeras, claro.
O mesmo aconteceu sábado passado, quando a
seleção feminina de vôlei conquistou espetacularmente o bicampeonato olímpico
em cima da seleção norte-americana, que era favorita.
O Brasil
é oficialmente laico desde 1891 e a Constituição prevê a liberdade de religião.
Será
mesmo?
O que
aconteceria se alguma jogadora da seleção de vôlei fosse budista? Ou mórmon? Ou
umbandista? Ou agnóstica? Ou islâmica?
Alguém
perguntou a todas as atletas e aos membros da comissão técnica se gostariam de
rezar o “Pai Nosso”?
Ou será
que alguns se sentiram compelidos a participar para não destoar da festa?
Será que
essas manifestações públicas e encenadas, em vez de propagar o caráter
multirreligioso do país, não o estão atrapalhando?
Claro
que ninguém questiona a boa intenção das atletas. Mas o gesto da reza coletiva
está tão arraigado, que ninguém pensa em seu real simbolismo e significado.
A questão não é opção religiosa,
mas a liberdade de escolha. Qualquer pessoa pode acreditar no que quiser,
contanto que deixe a outra livre para fazer o mesmo. Sem constrangimentos. E
não é o que está acontecendo.
Liberdade religiosa só existe quando não se mistura religião a nada. Nem à política, nem à educação, nem à ciência e nem ao esporte.
Liberdade religiosa só existe quando não se mistura religião a nada. Nem à política, nem à educação, nem à ciência e nem ao esporte.
Em 2010,
a Fifa acertou ao proibir manifestações religiosas na Copa da África do Sul. A
decisão foi tomada depois de a seleção brasileira ter rezado fervorosamente em
campo depois da vitória na Copa das Confederações, um ano antes, o que provocou
protestos de países como a Dinamarca.
Em 2014
e 2016, o Brasil vai sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas. A CBF e o COL
precisam tomar providências para que os eventos não se tornem festivais
públicos de intolerância.
Atletas
precisam entender que estão representando um país de religiosidade livre. Eles
têm todo o direito de manifestar sua crença, mas não enquanto vestem uma camisa
laica.
Claro
que atitudes assim serão impopulares e gerarão protestos. Muita gente confunde
a garantia da liberdade de opção religiosa com censura.
Quem
disse que é fácil viver numa democracia?
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