Nos
últimos dias vi por duas vezes o trailer do filme “Este é o meu garoto”,
estrelado por Adam Sandler e Andy Samberg, ambos vindos do famoso programa de
comédia americano, Saturday Night Live. No filme, o personagem de Sandler é
seduzido por sua professora no início da adolescência, aos 13 anos de idade. A
relação resulta em uma gravidez – seguida do julgamento da professora – e do
nascimento da criança, interpretada por Samberg. O pai, a quem o personagem de
Samberg chama de “o pior pai do mundo”, tenta se reaproximar do filho quando
precisa de dinheiro.
Não espero
que existam valores redentores nesse filme, e nem pretendo assisti-lo. Mas o trailer chamou
minha atenção devido a sutil sugestão de que o abuso sexual de meninos seja
algo engraçado.
Essa
representação da relação sexual entre mulheres adultas e meninos não é rara. Os
mitos e estereótipos muitas vezes distorcem nossa visão de uma situação como
essa. Muitos acreditam que tal relação seja o sonho de todo menino, que eles
desejam ser seduzidos, e que essa experiência é de alguma forma, uma conquista
sexual para a vítima. Assim, parecemos nos incomodar muito menos quando
mulheres abusam de meninos do que quando homens abusam de meninas.
A verdade, no
entanto, é que ambos os casos envolvem a exploração sexual de crianças,
independente do gênero. Assim como outros crimes sexuais, o abuso é um ato de
violência e poder, e não um ato de amor ou desejo. A criança que passa por tal
situação não é, em nenhuma circunstância, uma vencedora; é uma vítima.
Tanto dentro
quanto fora da igreja, houve nas últimas décadas uma abertura bem maior à
discussão sobre os efeitos do abuso sexual. Mas o abuso de meninos por mulheres
adultas é frequentemente ignorado não apenas pela cultura popular, como também
por aqueles encarregados da proteção da vítima. Pesquisas indicam que um entre
seis meninos são abusados antes dos 18 anos de idade, tanto por homens quanto
por mulheres. Especialistas afirmam que os abusos de meninos por mulheres é um
crime pouco relatado – e entre os fatores que desencorajam a denúncia, está o
estereótipo que afirma que os garotos abusados deveriam desfrutar do sexo com
mulheres mais velhas, e que devem acreditar que tal relação se trata de uma
conquista.
Tal como
acontece com as meninas, o abuso sexual tem um efeito devastador nos meninos.
Segundo estudos, vítimas de abuso sexual, tanto femininas quanto masculinas,
sofrem muitas vezes de depressão, ansiedade, disfunção sexual, alcoolismo,
abuso de drogas, ataques de pânico e distúrbio de stress pós-traumático. O
escritor cristão, Cecil Murphey se concentrou nesse tema em seu livro When
a Man You Love Was Abused (“Quando um Homem que Você Ama Sofreu
Abuso Sexual”). Murphey, que foi abusado sexualmente por um parente do sexo
feminino quando criança chamou outros homens para compartilhar suas histórias
em seu blog. Os relatos desses homens acabam com o mito de que o abuso de
meninos é uma experiência bem-vinda que constrói a confiança masculina.
As
estatísticas mostram que meninas são mais propensas a sofrerem abuso – talvez
por esse motivo, seja mais difícil percebermos que os meninos também precisam
de proteção. Mas o abuso sexual é um crime contra a inocência das crianças. E
para elas, as estatísticas não importam – o que importa é a dor que carregam.
Muitas
mulheres nos Estados Unidos estão unidas na luta contra a vitimização das
mulheres. Elas desejam assegurar que as meninas cresçam com os mesmos direitos
e oportunidades em
um mundo que respeite sua inocência quando crianças, e imponha limites quando
se tornam adultas. Muitos se escandalizam quando um homem justifica o crime
sexual cometido contra uma menina, dizendo coisas do tipo: “Ela queria”, ou:
“Ela estava pedindo isso”. Mas quantos consideram essa atitude normal quando
vinda de uma mulher que teve relações com um menino?
Algumas
pessoas tem uma visão complexa dos garotos. Muitas vezes, eles podem ser vistos
apenas como “futuros homens” e serem estereotipados como sexualmente poderosos,
e até mesmo como predadores sexuais. Os meninos, no entanto, não são potenciais
criminosos, e sim crianças, inocentes e vulneráveis, que merecem proteção e
defesa.
Poucos
ministérios cristãos estão dedicados a combater o abuso sexual de crianças, porém,
todas as igrejas deveriam alertar seus membros a proteger suas crianças deste
crime. Ao fazer isso, que não negligenciem a realidade de que abusos sexuais
são também cometidos por mulheres adultas, e não apenas por homens. Devemos
estar atentos aos sinais de perigo em relação a este assunto tão delicado. Como
consumidores da mídia, não podemos rir com aqueles que tratam o abuso sexual de
crianças como motivo de piada. Como sociedade e testemunhas da igreja, temos a
obrigação de proteger aqueles que precisam. E, principalmente, como povo de
Deus, devemos defender a justiça para todos.
Traduzido por Julia Ramalho
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