A relação entre política e religião tem protagonizado
recentemente, debates e troca de idéias a respeito do limite de envolvimento
entre si. No meio evangélico, é cada vez mais crescente a participação de
líderes que se envolvem com candidatos e declaram apoio a seus projetos.
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Porém,
essa prática é vista por muitos como inadequada, e o missionário Caio Marçal,
Secretário de Mobilização da Rede Fale, uma organização que mobiliza cristãos
em favor da justiça, publicou artigo combatendo o “voto de cajado”, termo usado
como alusão ao voto de cabresto, prática comum em determinadas regiões do país.
Marçal
ressalta, em seu artigo, o valor do voto: “Embora política não seja algo que se
faça apenas em época de pleito eleitoral, apesar dos escândalos envolvendo
autoridades escolhidas para gerirem o estado terem causado nojo e fomentado o
desejo de grande parte de nossa gente a querer distância desse tema, apesar de
tudo isso, cremos que a conquista do voto num país que por algumas vezes viveu
longos períodos de ditadura, deve ser visto como uma avanço para nosso país”.
De acordo com
o missionário, líderes evangélicos não devem usar a fé ou a igreja como forma de
barganha política: “A fé é sagrada! Não pode ser tratada como moeda para
conseguir vantagens. É lamentável que a sede de poder e dominação, que tem
contornos diabólicos, sejam ainda hoje uma tentação para muitos”, pontua. Para
ele, “o papel da Igreja na sociedade não é servir-se do estado, mas zelar para
ser a consciência da sociedade e como bem disse o Pastor Batista Martin Luther
King, ‘A igreja… não é a senhora ou a serva do Estado, mas, antes, a sua
consciência… E nunca sua ferramenta!’”, contextualiza.
A seriedade
que a fé e a vida em comunidade exigem é frisada pelo missionário, que repudia
a promoção da política em nome de Deus: “Os líderes religiosos jamais podem
esquecer que com Deus não se brinca e que o nome dEle não pode ser usado em
vão! Deus, que não é manipulado por mãos humanas, não pode ser tratado como uma
marionete de projetos de poder, ou para favorecer preferências políticas
pessoais, por melhor que pareçam”.
Sobre a
necessidade de influenciar a sociedade para escolhas melhores, o missionário
Caio Marçal ressalta a importância do exemplo, e ventila a possibilidade de uma
mudança de postura dos evangélicos no campo político.
-O proceder
fala muito mais do que nossa pregação. Se desejamos mesmo que nosso país seja
transformado pelos valores do Reino de Deus, precisamos nos arrepender de
certas posturas também no campo do debate político e perceber o estragos
causados pela relação promíscua com o poder.
Leia abaixo a íntegra do artigo “Porque somos contra o voto de
cajado”, do missionário Caio Marçal para o Blog do Fale:
Estamos
numa época realmente importante da vida política brasileira, pois chegou o
tempo das eleições municipais. Sim, embora política não seja algo que se faça
apenas em época de pleito eleitoral, apesar dos escândalos envolvendo
autoridades escolhidas para gerirem o estado terem causado nojo e fomentado o
desejo de grande parte de nossa gente a querer distância desse tema, apesar de
tudo isso, cremos que a conquista do voto num país que por algumas vezes viveu
longos períodos de ditadura, deve ser visto como uma avanço para nosso país.
Com o apoio da Rede FALE (cristãos que oram e agem em favor da
Justiça), o grupo do Fale RJ começou a campanha “FALE contra o Voto de Cajado”,
que tem como foco sensibilizar os cristãos quanto ao mau uso que alguns líderes
religiosos fazem de suas funções para favorecer determinado candidato ou
partido.
Agora, por que estamos realmente preocupados com isso? Será que
não é perda de tempo fazer esse debate e simplesmente deixar “o circo pegar
fogo”? Como cristãos e eleitores, enumeramos algumas questões que são
necessárias para reflexão:
1 –
Fé não se vende e não se negocia
A realidade é que estamos numa época(assim como em outros
momentos) em que existem pactos espúrios com partidos ou candidatos para
conseguir benefícios para igrejas ou denominações, como, por exemplo, a
doação de terrenos para templos, obter concessões de rádios e TVs ou mesmo ter
tratamento diferenciado perante a lei.
Esses são apenas alguns tipos de barganha, “acertos”, acordos e
composições de interesse que infelizmente costumam acontecer “por trás dos
púlpitos” em tempos de campanhas eleitorais, envolvendo também políticos e
candidatos evangélicos. A fé é sagrada! Não pode ser tratada como moeda para
conseguir vantagens. É lamentável que a sede de poder e dominação, que tem
contornos diabólicos, sejam ainda hoje uma tentação para muitos. O papel da
Igreja na sociedade não é servir-se do estado, mas zelar para ser a consciência
da sociedade e como bem disse o Pastor Batista Martin Luther King, “A igreja…
não é a senhora ou a serva do Estado, mas, antes, a sua consciência… E nunca
sua ferramenta!”.
Deus não precisa de precisa de apadrinhamento político para
cumprir seus propósitos na História e é Ele quem defende sua Igreja. A Igreja,
antes de desejar os tronos desse mundo, só reina pelo Serviço, na busca da
Justiça e pela propagação do Amor que encontramos nos braços afetuosos do nosso
Pai Eterno.
2 –
Deus não tem partido e nem ideologia
Uma das verdades mais radicais sobre Deus é que Ele não é refém
de uma ideologia ou partido, e a causa do Reino de Deus não pode ser
instrumentalizada em favor de quem quer que seja. Tentar identificar a fé
cristã com esse ou aquele partido ou ideologia é o “X” da questão. Os líderes
religiosos jamais podem esquecer que com Deus não se brinca e que não o nome
dEle não pode ser usado em vão! Deus, que não é manipulado por mãos humanas, não
pode ser tratado como uma marionete de projetos de poder, ou para favorecer
preferências políticas pessoais, por melhor que pareçam.
O pastor pode participar da formação política de suas ovelhas?
Sim! Somos a favor que haja nas igrejas um processo comunitário de reflexão,
oração, e investigação de temas e os pastores e líderes devem se empenhar para
que os crentes votem com ética e discernimento. Porém, a bem de sua
credibilidade, o pastor deve evitar transformar o processo de elucidação
política num projeto de manipulação e indução político-partidário. Ademais, no
debate político-partidário, a opinião do pastor deve ser ouvida apenas como a
palavra de um cidadão, e não como uma profecia, e a ética pastoral indica que
ele não deve favorecer sua inclinação pessoal em detrimento aos outros irmãos.
A pluralidade que hoje é marca da igreja evangélica nos convoca
a que não sejamos tutelados por posicionamentos de apoio a candidatos ou
partidos dentro da igreja, sob o prejuízo de não apenas constranger os eleitores,
mas causar divisão na comunidade de fé.
3-
Que tipo de testemunho oferecemos para nosso povo?
O proceder fala muito mais do que nossa pregação. Se desejamos
mesmo que nosso país seja transformado pelos valores do Reino de Deus,
precisamos nos arrepender de certas posturas também no campo do debate político
e perceber o estragos causados pela relação promíscua com o poder. O que dizer
quando estes espalham boatos em relação a um político com a intenção de induzir
os votos dos eleitores assombrados, na direção de um outro candidato com o qual
estejam compromissados? O que falar de certos políticos que são ajudados pela
prática do voto de cajado quando eles fazem a “oração da propina” ou das
“sanguessugas evangélicas” que desviaram verbas públicas destinadas para a
saúde do nosso povo?
Enfim, poderíamos citar ainda uma série de casos escabrosos que
deixaram nódoas na imagem pública da igreja, mas a questão essencial é que esse
tipo de prática frequentemente tem causado mau testemunho para os não cristãos
e não é incomum os evangélicos serem tratados como massa de manobra por esses.
Nesse momento especial de nossa nação, cumpramos com integridade
e espírito público nossa vocação de cidadãos brasileiros. Para os nossos irmãos
de fé, nosso estímulo é:
“Pratique a justiça, ame a fidelidade e ande humildemente com o
seu Deus”. Miquéias 6:8b
Em
Cristo,
Caio
Marçal – é missionário e Secretário de Mobilização da Rede FALE
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