Mary Beale, auto-retrado,
1632–1699
Edson Camargo
É sempre interessante ter contato com as
lições de quem dedicou muito tempo estudando uma determinada teoria e se tornou
capaz de explicá-la e analisá-la em seus detalhes. Coisa distinta, porém, é
conhecer o testemunho de alguém que manteve um contato não apenas “técnico” e
distante com esta teoria, conjunto de convicções ou ideologia, mas que fez ou
faz destes enunciados o norte para sua vida, neles busca respostas às questões
existenciais mais profundas, e com eles determina seu padrão de conduta, suas respostas
a situações diversas e seus objetivos maiores. Diz mais sobre um conjunto de
convicções quem as vive com intensidade, quem mergulha sua alma naquilo que
professa.
Por isso os relatos de pessoas que
passaram por reviravoltas na dimensão intelectual e espiritual de suas
biografias é algo enriquecedor, sendo inúmeros os exemplos na história da
ideias, da filosofia e da teologia. As melhores mentes sempre estiveram em busca
de respostas. Para elas, ampliar a visão e a consciência sempre foi um dever
moral. O relativismo só satisfaz aos frívolos. Grandes mentes sempre almejam
respostas no mínimo satisfatórias para suas indagações.
Em tempos de agitação revolucionária como
os nossos, no qual os males da revolução cultural arquitetada pela Nova
Esquerda, como todo o seu ódio aos valores cristãos, já se fazem sentir em todo
o Ocidente, um testemunho como o de Mary Pride, autora do livro ‘De Volta ao Lar – Do Feminismo à Realidade’,
da editora Edições Cristãs ganha importância e merece ser conhecido.
Mary Pride, ex-feminista radical, descreve na obra todos os ardis do feminismo,
do aborto ao lesbianismo, dos sofismas do planejamento familiar ao neopaganismo
inerente ao movimento. Denuncia setores da igreja que negaram doutrinas
bíblicas sobre a família e trata de toda a tragédia social e cultural que a
nova e falaciosa visão sobre a mulher trouxe: os milhares de divórcios, a
matança de milhares de bebês ainda no ventre das mães, as intervenções abusivas
do Estado sobre a família e os relacionamentos, a manipulação descarada na
educação das crianças, sempre ameaçando a autoridade dos pais, e a forma sutil
como as teses do movimento influenciaram os cristãos, que, de forma passiva e
progressiva, passaram a sofrer exatamente com as mesmas consequências.
Mas o mérito de Mary Pride vai além. Ela
não apenas abandonou uma tese falsa que promove a barbárie para fins
revolucionários, nem se permitiu apenas a alertar pessoas cristãs do problema
com base em seu testemunho pessoal. Ela propõe uma volta radical para o padrão
bíblico que certamente pode ser tido como radical num contexto em que impera o
cristianismo “self-service” e aquela fé “light” estúpida que morre de medo de
se passar por “fundamentalista”. A Sra. Pride não se furta de afirmar com todas
as letras que milhares de mulheres cristãs, ao começarem a relativizar as
doutrinas bíblicas sobre a família, dão seu primeiro passo rumo à apostasia e
às suas respectivas tragédias existenciais. Contra isso, faz de cada capítulo
de sua obra uma explanação da instrução bíblica do apóstolo Paulo a Tito, líder
da igreja primitiva em Creta:
Semelhantemente,
ensine as mulheres mais velhas a serem reverentes na sua maneira de viver, a
não serem caluniadoras nem escravizadas a muito vinho, mas a serem capazes de
ensinar o que é bom. Assim, poderão orientar as mulheres mais jovens a amarem
seus maridos e seus filhos, a serem prudentes e puras, a estarem ocupadas em
casa [literalmente, trabalhadoras no lar], e a serem bondosas e sujeitas a seus
maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja difamada.
(Tito 2.3-5)
(Tito 2.3-5)
Mary Pride acredita piamente no valor
dessa diretriz, e o livro tem trechos brilhantes ao mostrar os inúmeros
benefícios de um trabalho ativo no lar, contra a alternativa do emprego fora de
casa, tão valorizado entra as filhas da revolução cultural, cada vez mais
carentes, politicamente corretas e desprovidas de outros talentos.
Sobre isso, vale citar um trecho da
obra:
Creio que a esposa que trabalha no lar é
a mulher da Nova Renascença. O homem da Renascença, se você se recorda, tinha
interesse em tudo. Leonardo da Vinci, por exemplo, foi um grande pintor, um matemático
esplêndido, um anatomista e um filósofo. O mundo dos negócios de hoje diminui
nossas oportunidades de realização, de modo que só podemos nos dedicar a uma
estreita especialização. A especializaçãoo não é má; é parte da divisão de
trabalho que Deus instituiu no jardim do Éden. Mas precisa de um contrapeso,
que o lar fornece. No lar a mulher tem oportunidades de tentar fazer tudo o que
lhe interesse: preparar produtos de laboratório, escrever um livro, etc. Devo
dizer pessoalmente que meus interesses e talentos aumentaram dez vezes mais
desde que deixei meu emprego de engenheira e comecei a trabalhar no lar, e
parece que vão continuar a se expandir no futuro. Na força de trabalho lá fora,
eu nunca teria oportunidades de adotar interesses tão diferentes como educação,
arquitetura, economia, caligrafia, poesia, composição literária, design de
roupas, teoria e prática da horticultura, ensino de piano, etc., tudo ao mesmo
tempo. Mas no lar estou me ampliando quase sem limite. Cada novo interesse leva
a outro, e pela primeira vez em minha vida tenho mais projetos interessantes e
úteis do que posso fazer.
Dentre seus interesses, a engenheira e
teóloga citou a educação, sem deixar de tratar, em nenhum momento, como artes
específicas cada uma das típicas tarefas domésticas que causam asco à nossa
geração de almofadinhas egoístas. Mary Pride é uma adepta e entusiasta da
escolarização em casa. Seu site sobre o tema ( http://www.home-school.com)
traz muito material e recursos a respeito. A Constituição de 88 roubou esse
direito milenar e de várias culturas da população brasileira, que ficou de vez
refém da incompetência autoritária do MEC, e os resultados estão aí.
Universidades com quase 40% de analfabetos funcionais, a glamurização da
estupidez na mídia de massa e no debate político, cenas semanais de selvageria
entre adolescentes em escolas públicas e privadas em todo o Brasil, farsantes
como Paulo Freire elevados à condição de mestres da educação. Sem falar no
kit-gay liberado e no Monteiro Lobato criminalizado. Como brasileiros, pouco
podemos falar contra o método de escolarização defendido pela autora,
exatamente o mesmo pelo qual foram educadas pessoas como Claude Monet, Wolfgang
Amadeus Mozart, Abraham Lincoln , Alexander Graham Bell, Jonathan Edwards,
Winston Churchill, C.S. Lewis, Léon Tolstoy e tantos outros ainda hoje, como a pequena
pintora cristã Akiane Kramarik.
‘De Volta ao Lar’ evidencia o quanto
nossa sociedade, e não só os cristãos, tem perdido por trocar os princípios que
forjaram a civilização cristã, ainda que nem sempre de forma integral, pelo
arremedo de cosmovisão baseado nas teses da modernidade: agnosticismo,
materialismo, sensualismo, subjetivismo, o endeusamento da “razão” iluminista —
que não passa de um racionalismo amputado — , as ideologias coletivistas
assassinas como o socialismo, e suas sub-ideologias auxiliares, como o
feminismo, o gayzismo, o ecofascismo, entre outras. Meu sincero desejo é que
obras como a da presbiteriana Mary Pride, que infelizmente foi rejeitada por
tantas das grandes editoras evangélicas no país — dominadas por progressistas,
vale sempre ressaltar —, tenham cada vez mais visibilidade.
Divulgação: www.juliosevero.com
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