O deputado Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da
Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, expulsou da sala um
manifestante que o chamou de “racista”. O rapaz integrava a turma que queria
impedir uma nova sessão da comissão. A pauta do dia nada tinha a ver com
direitos dos gays, mas com a contaminação por chumbo na cidade de Santo Amaro
da Purificação, na Bahia, terra de Caetano Veloso. Caetano Veloso é aquele
senhor que se destaca na música e que acredita, com acerto, que o Brasil
precisa de um Congresso. Mas deu a entender também que o Congresso aceitável é
aquele formado por pessoas com as quais ele concorda. Se jovens cantores e
compositores se inspirarem em Caetano, estarão, creio, no bom caminho no que
respeita à música popular. Se pessoas interessadas em democracia política
tiverem Caetano como referência, aí estamos fritos.
Mas volto. “Racismo” é crime. Acusar alguém de
“racista” corresponde a acusá-lo de ter cometido um crime. Não havendo provas,
trata-se de calúnia, o que também é… crime!!! A imprensa brasileira tem sido
vergonhosa nesse caso. Ela é livre para odiar Feliciano o quanto quiser; é
livre para considerá-lo o mais despreparado dos seres para essa comissão ou
qualquer outra. Mas é uma estupidez acusar alguém de homofobia por ser contra o
casamento gay ou de racismo porque cita (e mal) um trecho da Bíblia. Isso é
militância, não é jornalismo. Eu opino bastante, sim, quebro o pau a valer. Mas
não atribuo nem às pessoas que mais desprezo crimes que não cometeram só para
facilitar a minha crítica. Ao contrário até: prefiro a crítica difícil; prefiro
demonstrar o erro de quem considero aparentemente certo a evidenciar o
obviamente errado. Que graça há nisso?
Feliciano mandou retirar o rapaz da Câmara. Se
quiser, pode processá-lo, sim, e aí o moço teria de provar que Feliciano
cometeu racismo — se não o fizer, caracteriza-se a calúnia.
Muito bem! Expulso, e com motivos, da sala, Marcelo
Regis Pereira, de 35 anos, antropólogo, gravou um vídeo, que já está no
YouTube. Diz-se vítima de preconceito — e a imprensa está dando corda — por
ser, atenção!, “negro, gay e pobre”. Vejam o vídeo, Volto em seguida.
LINK PARA O VÍDEO: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=hZMfXS-77RM
Voltei
Negro, como se vê, Pereira não é. Como ele mesmo diz, assim ele se “autodeclara”. Eu posso me “autodeclarar” índio, por exemplo. Tenho legitimidade pra isso. Meu bisavô paterno mal arranhava o português. Aliás, a melhor parte que há em mim é o Espírito da Floresta. Feliciano, que tem comprovadamente a mãe negra, deve ser mais negro do que o acusador.
Negro, como se vê, Pereira não é. Como ele mesmo diz, assim ele se “autodeclara”. Eu posso me “autodeclarar” índio, por exemplo. Tenho legitimidade pra isso. Meu bisavô paterno mal arranhava o português. Aliás, a melhor parte que há em mim é o Espírito da Floresta. Feliciano, que tem comprovadamente a mãe negra, deve ser mais negro do que o acusador.
Ele chama o outro de “racista”, é expulso da sala e
diz “Fizeram isso porque sou gay”. Ainda que isso estivesse na cara, ser gay
não lhe dá o direito de ofender os outros. Ou dá? Mas como Feliciano poderia saber? Está
escrito na testa? Há gente que parece e é, que não parece e é, que parece e não
é… A menos que devamos estabelecer agora um outro padrão. Ofendido por alguém,
ao reagir, devemos antes indagar: “Por favor, cidadão, como o senhor define a
sua sexualidade? Hétero? Ah, então vou responder”. Ou no outro caso: “Ah, o
senhor é gay? Então eu peço desculpas por tê-lo levado a me ofender”.
O rapaz tem 35 anos e é antropólogo. Não existe
faculdade de antropologia no Brasil. É uma pós-graduação. Isso quer dizer que
ele tem um curso universitário e uma especialização. É esse o padrão da pobreza
no Brasil? Tome tento, meu senhor! Tenha compostura! Não seja ridículo! Pobre
não tem cara, não! Mas a pobreza, ah, essa tem!!! Revejam: é o caso dele?
Ademais, meus caros, “universitário com especialização” se declarar
”pobre”, num país como o Brasil, ofende a inteligência de qualquer
pessoa de bom senso.
Esse vídeo é a manifestação do mais escancarado
oportunismo. Faltassem evidências da pantomima que está em curso, agora não
falta mais, está aí.
De fato, há gente acreditando que é legítimo
invadir uma comissão, subir na mesa, chamar o outro de racista etc. Uma vez
coibida a agressão, então é hora de gritar: “Preconceito!”. Com a pressurosa
colaboração da imprensa, esse troço está indo longe demais!
Se e quando, na comissão, Feliciano fizer alguma
coisa que esteja fora de sua competência e de seu direito legal, então que se
proteste — aliás, a praça é imensa! Tentar arrancá-lo de lá porque não gostam
de suas opiniões é intolerância, sim. De resto, esses fanáticos não se dão
conta de que, na prática, estão dando à luz um herói. Já volto ao tema.
A farsa, enfim, se revela.
Por Reinaldo Azevedo
FONTE:http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/feliciano-a-comissao-de-direitos-humanos-e-a-evidencia-escandalosa-de-uma-fraude-intelectual-e-politica/
"Não existe faculdade de antropologia no Brasil."
ResponderExcluirClaro que existe, A UFMG, UFBA e outras federais oferecem o curso a nível de licenciatura e bacharelado, o que pode ser constatado até mesmo pelo google. É bom refutar, mas que o façamos com a mais cristalina verdade.