Pais veem os
benefícios da disciplina mais facilmente do que seus filhos. Quando eu era
criança, nunca engoli de verdade a ideia de que eu estava sendo punido porque
meus pais me amavam. Minha opinião simplesmente era diferente. Agindo como meu
próprio advogado de defesa, eu ensaiava na minha mente a severidade da minha
punição; eu considerava a precipitação do veredito, a desproporção entre o
crime e a punição. Eu alimentava minha autocomiseração e chorava no meu
travesseiro. Injusto! Só quando fiquei mais velho passei a ver a disciplina
através de lentes mais limpas. E, claro, hoje fico feliz pela disciplina
amorosa dos meus pais.
Mas e quanto
à disciplina de Deus? Nós somos gratos por ela? Nós vemos o seu amor nela?
Como
crentes, lutamos para aplicar essa lição de infância para a nossa caminhada na
fé. Frequentemente vemos a disciplina de Deus de uma perspectiva infantil. Nós
sofremos — nos apressamos em perguntar: por quê? Quando coisas ruins acontecem
com o povo de Deus, nós ficamos confusos com espanto, frustração ou dúvida. Nós
questionamos a sabedoria de Deus. Nós questionamos os motivos de Deus. Assim
como a disciplina paternal que enfrentamos quando crianças, questionamos a
severidade do sofrimento, a competência, a justiça da prova. Por que eu deveria
passar por toda essa dor?
Isso
certamente se encaixa na situação abordada no livro de Hebreus. O autor insta
que os cristãos hebreus considerem suas provas e os sofrimentos pelos quais
estavam passando com maturidade espiritual. Ele os encoraja a lembrar de como
Deus age com seus filhos. Eles precisavam de que alguém os lembrasse.
Todos nós
não precisamos? Assim como eles, precisamos ser lembrados da Palavra de Deus:
“e estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco?” (Hb
12.5). Tais palavras são parte de uma exortação anterior para fazê-los lembrar
de Jesus Cristo em seu sofrimento, aquele que “suportou a cruz” e “a oposição
dos pecadores” (12.2-3).
Nós
escorregamos para um esquecimento da Palavra de Deus. O autor de Hebreus,
portanto, nos lembra daquela passagem, referindo-se à disciplina paternal como
uma “exortação” ou um “encorajamento”. A palavra específica usada aqui tem
parentesco com a palavra usada para o Espírito Santo no evangelho de João, onde
ele é chamado de nosso “Advogado”, “Consolador” ou “Ajudador”. No evangelho de
João a palavra é paracl?tos;
aqui, a palavra éparacl?sis. Essa palavra
confortadora de Deus, que o autor de Hebreus nos diz para não esquecermos, é na
verdade uma citação de Provérbios 3.11-12. O autor bíblico nos informa de duas
coisas, seguidas por uma explicação: primeiro, não devemos menosprezar a
disciplina do Senhor; segundo, não devemos desmaiar quando formos reprovados; e
terceiro, a explicação: “Porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho
a quem recebe” (v. 6). A disciplina é fundamentada no cuidado paternal de Deus
para conosco. O ponto é claro, e não devemos perdê-lo: Diante de sofrimento e
luta, diante de frustrações e perseguição, Deus não nos abandonou. Ele não nos
esqueceu, nem está nos tratando como rejeitados ou indesejados. Pelo contrário,
ele está nos tratando como filhos e filhas.
O autor nos
dá mais informações sobre o tema. Ele mostra para esses crentes rodeados por
provações o exemplo de amor da paternidade humana. Nossos pais terrenos “nos
corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia”. Ao dizer “segundo
melhor lhes parecia”, o autor indica que nossos pais não eram infalíveis. Eles
trabalhavam para nos criar da melhor forma que podiam — “e os respeitávamos”
por isso. Sob circunstâncias normais, como adultos, nós apreciamos os esforços
de nossos pais em nos criar, especialmente quando nós mesmos temos filhos. Nós
respeitamos os nossos pais porque eles tentaram nos melhorar e desenvolver o
nosso caráter. Honestamente, devemos ter pena de pessoas que nunca foram
ensinadas a guardar os seus corações, resistir aos seus impulsos ou frear as
suas línguas.
Mas Deus não
nos disciplina “segundo melhor lhe parece”; mas “nos disciplina para
aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade”. Não há dúvidas
aqui quanto ao fato de Deus saber o que está fazendo. Nunca há nada
desinformado, mal orientado ou injusto em suas palmadas. É agradável? O autor
de Hebreus diz que não é. “Toda disciplina no momento não parece ser motivo de
alegria, mas de tristeza” (12.11a). Não tem como fugir do fato — disciplina é
desagradável. Ela é corretiva. Ela nos conduz a uma nova direção. Ela nos força
a sair dos vícios de posturas, ações, pensamentos e palavras pecaminosas. Ela
nos faz olhar para os nossos hábitos a partir de uma perspectiva melhor e mais
bíblica. Embora o caminho seja doloroso, suas recompensas são benditas:
“depois, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de
justiça” (v. 11b).
“Aos que têm
sido por ela exercitados”. Nós não devemos perder esse ponto essencial. Os
cristãos hebreus são instados a serem “exercitados” pelos seus sofrimentos. Em
outras palavras, se querem que a disciplina tenha seu efeito desejado, eles não
devem meramente suportar o que sofrem. Eles devem ser “exercitados” pelo
sofrimento. Eles devem aprender dele, pois “exercício” não acontece
automaticamente, assim como ir à escola não garante que aprendamos qualquer
coisa. Alguns cristãos que sofreram muito aprenderam muito pouco. Outros,
contudo, foram “exercitados” pela disciplina de Deus, e o “fruto de justiça”
está lá para Deus e nós vermos.
A história
de Jó nos ajuda nesse sentido. Jó sofreu a mais severa provação de fé. As
tragédias que afligiram a sua vida não foram porque ele era um pecador, ou por
causa de seus pecados. Ele foi testado porque ele era fiel (Jó 1.1, 8; 2.3).
Satanás tinha um propósito na provação de Jó, mas Deus tinha outro. Lembre-se
que Jó perdeu grande parte da sua família, assim como de sua riqueza e saúde —
tudo isso tão cruelmente sincronizado. Até mesmo a sua esposa o abandonou. O
conselho dela: “Amaldiçoa a Deus e morre!” (2.9). Jó sofreu todos esses
terrores; e depois sofreu sob a acusação de três de seus supostos amigos que o
informaram que coisas ruins não acontecem com pessoas boas. O conselho deles:
“Arrependa-se!” (8.5-6; 15.4-5; e mais). Jó, contudo, era um homem instruído na
Palavra de Deus, e então argumentou seu caso contra seus supostos consoladores.
Ele também argumentou com Deus. Cambaleante de confusão, ele pediu a Deus
esclarecimento. Ele queria que Deus explicasse. Deus finalmente falou, mas foi
Jó que ficou sob divino interrogatório, não o Senhor (capítulo 38).
Jó se
arrependeu no pó e nas cinzas (42.6). Ele se arrependeu por não confiar em Deus
no meio do seu sofrimento. Ele se arrependeu por “desmaiar” e por duvidar da
justiça e do bom propósito de Deus para ele através do seu sofrimento. Ele se
arrependeu de questionar a sabedoria, o favor e o amor de Deus. Ele se
arrependeu por falhar em ver que Deus usara as provas que ele enfrentou para o
seu bem. E é isso que o autor de Hebreus também está dizendo. Deus usa as
nossas provações como disciplina “para aproveitamento”.
Se queremos
crer nisso, precisamos de ouvidos para ouvir.
A palavra de
Deus é o agente da sua disciplina. Contudo, circunstâncias ganham a nossa
atenção — e Deus usa todo tipo de circunstância como “ganhadoras de atenção”:
perda de emprego, bebês desobedientes ou adolescentes problemáticos, uma lesão,
uma doença, um divórcio, um acidente e muito mais. Os fardos podem ser grandes
ou pequenos. O de Jó era grande.
Talvez, em
comparação com o dele, o seu seja pequeno. Não importa. Deus disciplina aqueles
a quem ama. Ao ganhar a sua atenção com provações e circunstâncias difíceis, a
Palavra de Deus serve como o agente de correção, como uma voz em seus ouvidos
para corrigir, consolar, reprovar, exercitar, etc. Isso é “disciplina”
paternal. Perceba quão próxima a palavra disciplina está de outra palavra bíblica, discípulo. A disciplina de Deus
serve para nos tornar discípulos de Cristo. As provações que enfrentamos são
divinamente designadas para nos amadurecer, a fim de que nos tornemos
discípulos mais úteis na igreja e no reino de Deus.
Você está
sendo corrigido e “exercitado” pela dificuldade que está suportando? Você está
se tornando um discípulo adequado de Cristo a partir da disciplina paternal de
Deus? A disciplina paternal de Deus é apenas para crentes; é para discípulos.
Sem dúvida, incrédulos também podem aprender muito das duras batidas da vida e,
como resultado, eles podem se tornar melhores pessoas por causa das provações.
Mas as duras batidas da vida não os santificam. Eles não se tornam discípulos
de Jesus através do sofrimento. A disciplina de Deus para com seus filhos,
contudo, é santificadora. A sua disciplina é amor em ação, pois ele nos ama não
nos mimando, mas nos corrigindo. Ele está nos tornando discípulos.
Se a voz da
disciplina de Deus está em seus ouvidos — talvez circunstâncias difíceis
estejam fazendo você pausar para ouvir a sua voz — você é sábio e obediente
somente quando dá adeus à incredulidade, marca um ponto contra o pecado e deixa
para trás, sem arrependimento, seus hábitos caprichosos, posturas, rancores,
questionamentos ou autocomiseração. Faça isso e confie em Deus , aprendendo a
orar: “Senhor, não se faça a minha vontade, mas a tua”.
Tradução:
Alan Cristie
FONTE: http://www.ministeriofiel.com.br/artigos/detalhes/651/A_Bencao_da_Disciplina_de_Deus
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