Por - Daniel Santos Jr.
Tenho
recebido constantemente e-mails pedindo sugestões quanto a seminário ou
universidade onde cursar um bacharelado em teologia, mestrado ou até mesmo
doutorado. Eu já pensei várias vezes em criar uma resposta padrão em que
pudesse apenas trocar o nome do destinatário, mas isso seria uma falta de
respeito para com alguém que, a meu ver, está pedindo conselhos para tomar
decisões importantes em sua vida.
Não
é fácil dar conselhos e dicas nesta área, pois há uma quantidade enorme de
variáveis que se alternam de pessoa para pessoa, por exemplo: idade (acima de
40 anos – é quase impossível conseguir bolsa de estudo); situação financeira
(pessoal ou da instituição em que trabalha); situação familiar (casado,
solteiro, com filhos, etc.); proficiência em línguas modernas de pesquisa
(inglês, francês ou alemão); quanto tempo dispõe para completar os estudos;
como e onde pretende aplicar o conhecimento adquirido e, por fim, (e esta é a
pergunta mais difícil de responder), por que você precisa fazer o curso que deseja?
Quando
a procura é o primeiro curso de teologia, tenho sugerido sempre quatro
perguntas que podem servir de parâmetro para uma decisão: Quem serão os seus
mestres? Quem foram os mestres daqueles que serão os seus mestres? Que tipos de
pessoas têm procurado aprender com aqueles que serão os seus mestres? Que tipo
de atuação e influência aqueles que serão seus mestres têm fora da instituição
de ensino?
1. Quem serão os seus mestres?
É
muito comum encontrar pessoas procurando um curso de teologia por causa de
associação denominacional, acomodações (moradia para casados ou solteiros) ou
localização (próximo de casa). No caso da associação denominacional, às vezes,
há uma exigência clara encaminhando seus líderes para um determinado local onde
possam receber treinamento teológico. Nestes casos, não há muito que
escolher.
Todos
estes aspectos são importantes e podem definir ou restringir bastante as
possibilidades, mas gosto sempre de frisar a importância de se saber quem serão
os seus mestres. Há muita coisa que pode ser aprendida sem que haja necessidade
de frequentar um seminário ou qualquer sala de aula; mais do que muitos
imaginam. Todavia, se você chegou ao ponto de procurar uma instituição de
ensino teológico pressupõe-se que o relacionamento professor/aluno acontecerá.
Em outras palavras, você terá que aprender com alguém, seja este alguém um
professor ou um grupo de pesquisa. Professores terão a responsabilidade de
guiá-lo, desafiá-lo e encorajá-lo em sua jornada, mas eles terão também a
difícil tarefa de avaliar o seu progresso. É nessa hora que você lamentará ou
dará graças a Deus pelos seus mestres, pois a sua experiência de aprendizagem e
formação pode se transformar rapidamente num pesadelo.
Quando
eu digo “quem” serão os seus mestres, a minha ênfase não é necessariamente na
lista que aparece no website da escola, pois muitos professores não estarão
disponíveis para todos os programas oferecidos naquela instituição. Outras vezes
o professor é apenas visitante ou palestrante esporádico. Poderia enumerar
vários casos de pessoas que me disseram estar interessadas em um seminário por
causa de um professor em particular. Que decepção quando as informei de que a
pessoa que procuravam ter como mestre não ensinava mais naquela instituição há
vinte anos.
Eu
aconselho você a conhecer seus mestres antes de se decidir quanto ao seminário
ou escola de teologia. Procure um jeito de assistir a uma aula (mais de uma, se
for possível) com tal professor ou professora, e veja como é a comunicação com
os alunos, como se prepara e apresenta seu conteúdo. Tente uma entrevista com
tal professor ou professora e troque algumas idéias com o propósito de perceber
sua disposição de caminhar junto com você em sua jornada. Ainda que não seja
muito comum, não é raro encontrar pessoas que são excelentes escritores, mas
péssimos professores. Ninguém é perfeito. Continue apenas lendo seus livros. Há
muitos professores que não querem qualquer contato com alunos, pois estão
bastante comprometidos com suas pesquisas e outras responsabilidades
administrativas. Novamente, ninguém é perfeito. Alguém tem que administrar a
escola. Em suma, conheça aqueles que serão os seus mestres antes de decidir
sobre o local onde você buscará sua formação teológica.
Quando
você encontrar mestres que correspondam às suas expectativas, busque aprender
com eles nem que seja sentado debaixo de uma árvore. Vale a pena! Aprender com
quem quer ensinar, quem sabe ensinar e tem amor pelo que ensina faz toda a
diferença, especialmente quando o assunto é a Bíblia. Que decepção ter que
aprender (neste caso a melhor palavra seria apenas “assistir aulas”) com alguém
que você percebe não tem o menor prazer no que está fazendo, não sabe ensinar e
não tem o menor respeito e honestidade com a Bíblia.
2. Quem foram os mestres dos seus mestres?
Quando
você começa a conhecer mais a fundo os seus mestres, uma coisa fica evidente:
eles são representações melhoradas ou pioradas daqueles que foram os mestres
deles. Você precisa entender uma coisa: ensinar é apenas a resposta inevitável
do desejo e necessidade de aprender. Geralmente quem não gosta de aprender não
gosta de ensinar. A maior lição que os mestres dos nossos mestres podem
ter passado é exatamente este amor pela aprendizagem. Quando você procura saber
quem foram os mestres daqueles que serão os seus mestres e descobre que ele ou
ela perpetua práticas de ensino simplesmente porque foram ensinados daquela
forma, cuidado. É bem possível que ele ou ela nunca irá mudar seu jeito de dar
aula. Em outras palavras, é improvável que uma pessoa que tenha estudado cinco
anos de sua vida com alguém extremamente piedoso e honesto para com a Bíblia
venha a se tornar um teólogo cético e desonesto.
Veja
bem, eu não quero dizer com isso que alguém que tenha estudado sob a orientação
de um teólogo conhecido pela sua posição cética em relação à inspiração das
Escrituras não mereça nossa confiança. Não necessariamente. O discípulo pode
ser uma versão melhorada do seu mestre. Tenho grande respeito e consideração
por alguém que tenha estudado numa instituição secular (e até hostil ao
evangelho) e não se torna uma versão piorada dos seus mestres. Sua experiência
de contato com aquele contexto só o preparou para dialogar com maior firmeza e
sofisticação entre aqueles que não compartilham da mesma convicção teológica de
nossa tradição denominacional.
Se
eu tivesse que refazer toda a minha caminhada de formação teológica eu seguiria
o seguinte roteiro no que tange aos mestres dos meus mestres: a) procuraria
saber quem foi o orientador de pesquisa deles, b) procuraria saber quem foram
os seus contemporâneos naquela instituição e o que eles estão fazendo hoje, c)
procuraria saber e conhecer um pouco sobre o conceito de aprendizagem dos
mestres dos meus mestres e como isso foi assimilado pelos que serão os meus
mestres, e d) eu procuraria saber se eles querem acompanhar a minha jornada de
aprendizagem (isto vale especialmente para orientação de dissertação).
Tendo
dito todas estas coisas, não posso deixar de mencionar um ponto: há muitos
professores excelentes, com os quais você passaria a vida inteira aprendendo se
fosse possível. Eles ensinam porque amam aprender, amam ensinar e amam aos que
querem aprender com eles. Onde você encontra esses professores? Comece a
procura descobrindo quem foram os seus mestres.
3. Que tipos de pessoas querem aprender com seus
mestres?
A
nossa jornada de aprendizagem e formação teológica não depende apenas dos
mestres. Eu defendo a tese de que devemos fazer parte de uma comunidade de
aprendizagem. Neste caso, aqueles que procuram aprender com os meus mestres
irão influenciar a minha formação. Mas antes de entrar nesta questão, deixe-me
apenas lançar um alerta – comece a desconfiar de mestres que atraem somente
pessoas céticas e desonestas para com a Bíblia. Comece a desconfiar se nenhum
dos alunos que procuram aprender com seus mestres está servindo a Deus
envolvido com uma igreja local. O tipo de pessoas que comumente tem procurado
aprender com meus mestres deveria me dizer alguma coisa sobre aquilo que devo
esperar desses. Em outras palavras, por que você acha que aquele professor
despertou o interesse em você e naquela pessoa totalmente diferente de você? O
que há em comum entre você e aquela tal pessoa?
Em
segundo lugar, como eu disse anteriormente, os tipos de pessoas que se assentam
numa sala de aula comigo terão uma influência inquestionável em minha formação
teológica. Tenho ensinado há mais de quinze anos em diversos contextos e posso
garantir que a influência do grupo (negativa ou positiva) é inevitável,
determinante e recomendada! Logo, a escolha de onde você procurará sua formação
teológica deve levar em consideração os tipos de pessoas que também procuram
aprender com seus mestres.
4. Que tipo de influência e atuação externa estes
mestres têm?
Um
bom professor ensina aquilo que ele ou ela é. Isto requer integridade. Antes de
escolher uma instituição de formação teológica, procure saber o tipo de
influência e atuação que os seus mestres têm no mundo exterior à sala de aula.
O motivo é apenas o de verificar consistência e integridade de caráter. Uma
verificação como esta lhe permite rapidamente descobrir se a sala de aula
funciona como um palanque ou como um laboratório de aprendizagem. Quando o
elemento motivador de aprendizagem do seu mestre é uma causa pessoal que ele ou
ela tem (racismo, feminismo, liberalismo, fundamentalismo, etc.), a sala de
aula se torna facilmente um palanque que divulga suas convicções entre os
alunos. Quando o elemento motivador de aprendizagem é uma causa do reino de Deus,
nossos mestres geralmente serão mais abertos para aprender, também com os
alunos e demais professores. Além disso, conhecer a influência externa deles
nos possibilita saber se há integridade de caráter.
Qual
é o melhor seminário? Qual é o melhor curso de teologia? Quem são os melhores
mestres? Onde estão os melhores alunos? Mais cedo ou mais tarde você perceberá
que essas quatro perguntas estão bastante atadas ao que entendemos ser
aprendizagem.
Há
muitos alunos que não deveriam jamais estar numa sala de aula procurando
formação teológica, pois eles não sabem o que querem, não querem abrir mão do
que “acham que sabem”, e não estão dispostos a aprender com aqueles (professor
e alunos) que realmente sabem. Por outro lado, há muitos homens e mulheres de Deus
que deveriam investir mais e o mais rápido possível em sua formação teológica,
pois suas vidas são um testemunho de que todos nós precisamos de mestres e de
discipulado constante.
Daniel
Santos
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Sobre o autor: Daniel Santos é professor de Antigo Testamento e
pesquisador no Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper em São Paulo, Brasil. //
Daniel Santos is Old Testament professor and researcher at Andrew Jumper
Graduate Centre in Sao Paulo, Brazil
Fonte: Blog do autor
VIA: http://bereianos.blogspot.com.br/2012/10/onde-devo-estudar-teologia_22.html#.U3SaP_ldUlI
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