Embora os ambientalistas geralmente coloquem a boca no trombone acerca
de tudo o que eles sentem ser ameaça, desde os pesticidas até o aquecimento global, eles ficam em silêncio quando o assunto tem a ver com uma ameaça que
já está prejudicando o abastecimento de água: os hormônios das pílulas anticoncepcionais.
De acordo com o jornal National
Catholic Register,
cientistas da Universidade do Colorado financiados pela Agência de Proteção
Ambiental (APA) dos EUA estudaram peixes
de um rio de montanha perto da cidade de Boulder, no Colorado, dois anos atrás.
Quando pescaram 123 trutas e outros peixes na parte do rio que
passava pelo sistema de esgoto
da cidade, eles encontraram 101 fêmeas, 12 machos
e 10 estranhos peixes “intersexuais” com características de
fêmea e macho.
É “a primeira coisa que já vi, como cientista, que realmente me deixou
assustado”, declarou ao jornal Denver
Post o biólogo universitário John
Woodling.
Descobriu-se que os principais culpados são os estrógenos e outros hormônios esteróides das pílulas e drogas anticoncepcionais
que acabam terminando no rio depois de
excretados na urina para o sistema de esgoto da cidade.
O Register diz que Woodling, juntamente com David Norris (professor de fisiologia da Universidade do Colorado) e a equipe da APA
estavam entre os primeiros cientistas
dos EUA a constatar que um coquetel de hormônios, antibióticos, cafeína e esteróides está fluindo nos rios do país, ameaçando os peixes e
contaminando a água de beber.
“Ninguém está se preocupando com esse problema”, disse Norris. “Não faz
absolutamente nenhum sentido para mim que as pessoas não se preocupem mais”.
O problema não se limita apenas à cidade de Boulder. Casos semelhantes
estão sendo registrados de costa a costa nos EUA.
Na região oeste do Estado de Washington, especialistas descobriram que o
estrógeno sintético — que normalmente se acha nos anticoncepcionais orais —
está reduzindo drasticamente a fertilidade dos machos das trutas rainbow.
Doug Myers, especialista em regiões úmidas e habitat do Puget Sound
Action Team do Estado de Washington, disse ao jornal Seattle
Post-Intelligencer que nas rãs, lontras dos rios e peixes, os
cientistas estão “descobrindo que a presença de hormônios femininos está
tornando os machos das espécies menos masculinos”.
Dois anos depois das descobertas feitas em Boulder, não houve nenhuma
iniciativa entre os ambientalistas de deter a poluição de estrógeno do rio Boulder.
Dave Georgis, diretor da Rede de Ação de Engenharia Genética do Colorado
que pôs a boca no trombone na questão das safras geneticamente modificadas,
disse: “Há tantas coisas aí no mundo com que se preocupar que não dá para
focalizar nesse problema específico”.
Ele declarou ao jornal Boulder Weekly que ninguém
precisava cogitar de diminuir o uso dos métodos de controle da natalidade por
amor ao rio.
“Não dá para ter um impacto zero, e esse é um dos muitos, muitos
impactos que há no meio ambiente diariamente”, disse Georgis. “Ninguém é
culpado disso, e eu não tenho uma solução”.
George Harden, membro da diretoria da Sociedade de Cientistas Sociais
Católicos, com sede em Steubenville, Ohio, EUA, diz que as pessoas não deveriam
ter a expectativa de que os ambientalistas tomarão alguma medida.
“Se matarem mosquitos para salvar as pessoas do vírus West Nile, os
ambientalistas seculares se deitarão no chão em frente do caminhão
pulverizador, invocando como alegação algum efeito colateral potencial que a
pulverização poderia provocar”, Harden afirmou para o Register.
“Mas se o controle da natalidade [das mulheres] deforma os peixes — e um estudo
da APA traz provas desse fato — e ameaça o abastecimento de água, a resposta
será puro silêncio”.
Em Nova Jérsei, vestígios de hormônios de controle da natalidade e
medicamentos foram encontrados na água do abastecimento municipal em 2003,
e os cientistas só estavam começando a examinar a questão do impacto no corpo
humano.
Rebecca Goldburg, bióloga de Nova Jérsei que trabalha na Defesa
Ambiental, contou ao jornal North Jersey News: “[Com a vida sexual
que minha filha leva] Estou em dúvida se devo querer níveis ainda menores de
pílulas de controle da natalidade na água de beber de minha filha”.
Betty Ball do Centro de Paz e Justiça da Montanha Rochosa indica que as
pessoas comem alimentos orgânicos, mas diz que lhes pedir que parem de poluir
as águas com hormônios é uma questão que “invade a privacidade do quarto de
dormir”.
“Eu não vou me meter nessa questão”, declarou Ball. “Isso envolve a vida
particular das pessoas, questões de criação de filhos, vidas sexuais e escolhas
pessoais. Talvez as pessoas estejam dizendo: ‘Meu Deus, o que é que vamos fazer
sobre isso?’ A apatia é o medo de começar a agir, por medo de que sua ação
mudará sua vida. Às vezes uma mudança positiva realmente exige uma mudança de
estilo de vida”.
Essa questão está começando a ser discutida em alguns blogs.
No blog ThePolitic.com, Shane Edwards escreve: “Dar publicidade a esse problema colocaria a
natureza em confronto com as conseqüências do sexo livre, e ninguém vai querer
fazer isso. Mas o que me preocupa nessa questão muito mais do que o impacto
ambiental (e a realidade de que esse problema JAMAIS será tratado, por causa de
suas implicações políticas) é o que isso está nos fazendo. O que quero dizer é
que se esses efeitos estão ocorrendo com peixes e rãs, o que está acontecendo
conosco?”
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