sexta-feira, 27 de julho de 2012

OSÉIAS UM PROFETA DE CORAÇÃO QUEBRANTADO por Dionísio Pape (Parte 2)


A religião em Israel protestava fé no Senhor Javé, mas não obedecia à Palavra do Senhor! “Não farás para ti imagem de escultura” (Ex 20.4) reza a lei.  No entanto, em Samaria cultuava-se a imagem de um bezerro. Ao mesmo tempo em que o povo invocava o Senhor, dizendo: “Nosso Deus” Nós, Israel, te conhecemos”, Deus respondia através do profeta Oséias, dizendo: “O teu bezerro, ó Samaria, é rejeitado; a minha ira se acende contra eles!” (8.5). Manifesta-se no cristianismo do século XX o mesmo tipo de religião. Fala-se em nome do Senhor. Celebram-se cultos e missas solenes. Dominam a atenção da multidão as imagens dos santos. Como disse Oséias: “Da sua prata e do seu ouro fizeram ídolos para si, para serem destruídos” (8.4). A veneração concedida às belas imagens incrustradas de pedras preciosas é tida como mais importante que a Palavra de Deus. O segundo mandamento é claro. E inúmeras vezes na Bíblia Deus reitera a proibição de imagens no culto. Mais uma vez o Senhor falou pela boca do seu servo: “Embora eu lhe escreva a minha lei em dez mil preceitos, estes seriam tidos como cousa estranha” (8.12).
Oséias, de coração quebrantado por causa de Gômer, chegou a entender o sofrimento divino ocasionado pela apostasia de Israel. Outrossim, a infidelidade de Gômer não era apenas um lapso. Repetidas vezes ela traiu os votos matrimoniais. E o profeta contemplava o triste fato de que a infidelidade de  Israel para com Deus não era um desvio temporário. A história de Israel está repleta de graves infrações contra a lei do Senhor. Logo de início na sua história idólatra, Israel fabricou o bezerro de ouro, no deserto. E antes de chegar na terra da promissão, na aldeia de Baal Peor, os primeiros israelitas, salvos pela graça de Deus. namoraram as belas moabitas, e abandonaram incontinente a lei recém-recebida. Sob o efeito dessa sedução inesperada,  "se consagraram à vergonhosa idolatria" (9.10). A idolatria e a imoralidade são gêmeas. "E se tornaram abomináveis como aquilo que amaram" (9.10). O culto anti-bíblico os arrastou facilmente para as orgias e as bacanais.
A festa do boi custou cara. O duplo deslize,espiritual e moral, foi julgado, e morreram vinte e quatro mil israelitas (Números 25).
Deus nos chama ao amor leal (chesed): à fidelidade absoluta à Palavra de Deus, não somente na observação religiosa do culto evangélico, mas também na mais casta prática do amor no lar. Quem quebra uma aliança, facilmente abandona a outra.
No ocaso do reino de Israel, Oséias advertiu o povo das conseqüências de tal comportamento: "O meu Deus os rejeitará, porque não o ouvem; e andarão errantes entre as nações" (9.17). Poucos anos depois, em 722 a.C, realizou-se o inesperado desastre. Por não ter prestado atenção à advertência, a nação deixou de existir. O judeu errante data daquele acontecimento fatídico. E passaria muitos séculos peregrinando, sem pátria, sem identidade nacional e sem a bênção do Senhor, cuja voz ele recusara tantas e tantas vezes.
Por que é que os homens não mudam de direção? Por que marcham em linha reta para a destruição? "Porque o seu coração é falso; por isso serão culpados" (10.2). O coração do homem determina a sua conduta. Quartas vezes ocorre que alguém conhecedor da Palavra de Deus, sendo tentado a cometer o adultério, não consegue resistir á tentação, porque o coração é falso! "Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração" (Provérbios 4.23). De Deus não se zomba. A lição de Israel é esta: o que semeia para a sua própria carne, da carne colherá corrupção. Tanto os líderes como o povo iriam sofrer as conseqüências da desobediência à Palavra sagrada. E o rei de Samaria, tão seguro na sua prosperidade fabulosa, seria dentro em breve "como lasca de madeira, na superfície das águas" (10.7).
Deus é amor. O seu amor não tem condição nem limite. Ele ama o seu povo apesar de toda a rebeldia, de toda a idolatria e de toda a imoralidade. O seu amor é chesed, amor imutável. Quando castiga, é por puro amor que o faz. Deus sente saudades do primeiro amor do seu povo. "Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei o meu filho" (11.1). Israel era como criança que ele tomava nos braços. Como menino travesso, a jovem nação não queria obedecer-lhe. Recusou-se a converter-se (11.5). Deus não hesitou em disciplinar o seu povo, porque "o Senhor corrige a quem ama, e açoita a todo filho a quem recebe" (Hebreus 12.6). Deus é diferente dos pais que nunca disciplinam os seus filhos. Quem não disciplina o seu filho, não o ama. Oséias, que tanto sofreu no lar, entendeu o coração de Deus quando descreveu o amor divino nestes termos: "Meu coração está comovido dentro de mim, as minhas compaixões a uma se acendem" (11.8). Ainda que o castigo viesse com certeza. Deus não destruiria totalmente o seu povo, "Eu os remirei do inferno e os resgatarei da morte; onde estão ó morte as tuas pragas? Onde está, ó inferno, a tua destruição?" (13.14). O propósito de Deus permanece firme. É imprescindível que Deus castigue o mal. No entanto não seria o fim total de Israel. De outra maneira seria o Diabo e não Deus que ganharia esta guerra espiritual de proporções cósmicas. O fim da história da raça humana e de Israel está assegurado, porque Deus é soberano.
Oséias conseguiu reconstituir o seu lar com Gômer e seus três filhos. Tamanho amor triunfou. E o amor divino, chesed, triunfará também. Oséias, o vidente de coração perdoador, previu a restauração final de Israel num belíssimo trecho que remata a sua obra. Concitou o povo de Deus a uma genuína conversão. "Tende convosco palavras de arrependimento, e convertei-vos ao Senhor" (14.2). Num sentido, o crente no Senhor deve arrepender-se e converter-se ao Senhor constantemente, e não apenas uma vez na hora da entrega inicial. Quase todos os apelos à conversão na Bíblia são lançados aos que professam fé no Senhor! Quando o povo de Deus se converte constantemente ao Senhor, então o mundo começa a arrepender-se.
O arrependimento do povo de Deus é o segredo de todo reavivamento espiritual. "Curarei a sua infidelidade, eu de mim mesmo os amarei, porque a minha ira se apartou deles" (14.4). A segurança nacional de Israel de pendia não duma aliança política com a mais poderosa nação de então, a Assíria (14.3), mas da sua relação com Deus. Os rios de bênçãos começam a jorrar quando o povo de Deus julga o seu próprio pecado! Uma vez arrependido e perdoado, Israel se tornaria uma testemunha eficaz no mundo.
"Serei  para  Israel como orvalho" (14.5). O  Deus que cada dia unge bilhões de folhas e pétalas com pérolas de orvalho é o mesmo que visita, pelo Espírito Santo, todos os seus filhos espalhados nos cinco continentes! Para a sobrevivência das plantas, Deus repete fielmente, e em todo lugar, o pequeno milagre, mandando a cada folhinha o precioso líquido sustentador. Quanto mais Deus deseja tocar com vida nova cada um de seus filhos na terra! Feliz o crente em Cristo que já aprendeu este princípio de sobrevivência espiritual, e que busca no frescor da alvorada a unção do Espírito, cada dia. Realiza-se a conversão diária do crente à vontade de Deus, quando novamente se entrega ao Senhor, reafirmando os votos de consagração absoluta Àquele que o comprou com o seu sangue. As plantas em terra ressecada, alimentadas pelo orvalho vitalizador, brotam, criam botões e exalam a sua fragrância.   Flores perfumadas  no  sertão!   Eis o quadro pintado pela pena do vidente, para descrever a vida realmente entregue ao Espírito do Senhor. "Serei para Israel como orvalho, ele florescerá como o lírio, e lançará as suas raízes como o cedro do  Líbano. Estender-se-ão os seus  ramos"   (14.5,  6).   A vida arraigada na Palavra de Deus,   irrigada   pela graça divina, e ungida pelo orvalho sacro do Espírito, estende os seus ramos, oferecendo ao viajor a  sombra  refrescante  no  sertão causticante.  "Os que se assentam de novo à sua sombra voltarão" (14.7). A pessoa cheia do Espírito se torna um ímã para os que procuram a vida verdadeira, e não precisa buscar contatos com os outros. Os famintos do espírito reconhecem intuitivamente  a autêntica espiritualidade dos que recebem diariamente o orvalho do Espírito. O contato com o homem espiritual se torna frutífero.  "Serão vivificados, e florescerão como a vide" (14.7). Nós, o povo do Senhor, cantamos "quero ser um vaso de bênção". Este desejo tão louvável se realizará através do Espírito Santo, a água viva oferecida por Jesus. "A água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna" (João 4.14).
Oséias nunca viu o cumprimento da sua profecia final, mas pela fé aceitou que um dia o Senhor triunfaria na vida de Israel. Deus lhe tinha dado a vitória no seu lar, pelo triunfo do amor inabalável. Gomer estava de volta ao lar. Os filhos não levavam mais os nomes feios. Foram transformados em nomes abençoados. A família estava unida novamente. Com toda serenidade, Oséias aguardava o desenrolar do drama de Israel, com a certeza de que um dia Deus restauraria o seu povo. O profeta de coração quebrantado chegou a aprender que o coração do Senhor é também assim.
FONTE: Justiça e Esperança para hoje – Dionísio Pape

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