quinta-feira, 18 de julho de 2013

A INVERSÃO DE SIGNIFICADO DO CASO EDWARD SNOWDEN

Donald Hank
Antigamente a espionagem remetia a um espião ou traidor entregando segredos nocivos a um inimigo. Mas isso mudou desde 1971, principalmente no regime Obama. Agora a espionagem ocorre quando alguém diz a verdade sobre condutas escandalosas e inconstitucionais do governo dos EUA.
A maioria dos americanos ainda associa a idéia de informantes ilegais ou espiões a pessoas como os Rosenbergs, que vazaram segredos nucleares para os soviéticos. Aliás, os artigos sobre espiões famosos publicados antes da década de 1970 mostram que, nos casos mais conhecidos, eles estavam trabalhando para os soviéticos.
Portanto, antes da década de 70, um espião era geralmente visto como uma pessoa que entregava segredos (quase sempre militares) a um inimigo, de quem se esperava que os utilizasse para prejudicar os EUA, e cujo dano estimado e potencial era geralmente de natureza militar.
A partir do caso de Daniel Ellsberg em 1971, a definição não oficial de “espionagem” e “espião” começou a mudar subliminarmente na mente dos americanos, junto com a definição não oficial de “inimigo”, alinhada à entrega do status de Nação Mais Favorecida à China. Em termos mais amplos, a mudança poderia ser descrita como um afastamento da liberdade em direção à tirania estatal.
Dos dez informantes acusados com base na Lei de Espionagem, nenhum foi acusado de trabalhar para a União Soviética, e apenas um, Bradley Manning, foi acusado de vazar informações que podem ter comprometido a segurança de militares americanos e aliados, e um, Jeffrey Sterling, teria vazado informações sobre planos dos EUA de sabotar o programa nuclear iraniano, o que poderia talvez ter permitido aos iranianos desenvolver uma arma nuclear mais cedo. Esses dois talvez possam ter comprometido nossa segurança.
Os outros, no entanto, revelaram detalhes classificados, na maioria dos casos para repórteres, que em outros tempos o público americano se sentiria no direito de saber.
Ellsberg, por exemplo, foi acusado em 1971 de vazar documentos detalhando a participação dos EUA na Guerra do Vietnã. É possível imaginar um povo livre sem poder saber os detalhes da participação de sua nação em uma guerra? Ainda mais se puder haver algo questionável sobre essa participação?
O funcionário da Agência de Segurança Nacional americana (NSA) foi acusado em 2010 de vazar detalhes para a agência Baltimore Sun sobre o que considerou uma bisbilhotagem ilegal da população pelo governo Obama.
 O funcionário da CIA John Kiriakou foi acusado em 2012 de vazar detalhes sobre tortura da simulação de afogamento (waterboarding) à ABC News. Qualquer dano à nossa segurança resultante desse vazamento seria mínima ou imaginária.
Como esses exemplos mostram, o público está sofrendo uma lenta lavagem cerebral do governo para aceitar uma nova definição de “espionagem”, que se afastou gradualmente de “fornecer informações militares a um inimigo” para “divulgar informações sobre transgressões governamentais ao público americano”. Para explicar de forma mais clara possível: O termo “espião” recentemente definido dá ao público americano a informação de que o governo acredita que seus segredos não devem ser revelados, não porque o conhecimento deles pode prejudicar os cidadãos americanos, mas porque esses segredos podem, com razão, fazer com que o púbico veja o governo com maus olhos e queira mudá-lo. Em outros tempos, o desejo de mudar um governo mau ou tirânico era protegido, e as leis de espionagem não tentavam criminalizar quem quer que fosse por acender esse desejo por meio do vazamento de informações que revelavam injustiças do governo.
Muitos americanos aceitaram essa nova definição não oficial perigosamente deformada, aparentemente sem sequer perceber a mudança.
Mesmo comentaristas geralmente vistos como “conservadores” como Barry Farber, por exemplo, não foram capazes de ver a mudança de paradigma, ou seja, a mudança na definição de espionagem, e colocam no mesmo patamar pessoas como Snowden, um homem que agiu ilegalmente por uma questão de consciência, com antigos espiões que trabalhavam para a União Soviética, a maioria dos quais o fazia por dinheiro e comprometia a segurança de americanos de maneira quantificável.
Snowden abandonou um emprego de US$ 17.000 mensais para revelar ao público as atividades ilegais do atual governo dos EUA, e não há provas de qualquer remuneração resultante disso.
Uma das acusações feitas contra Edward Snowden por pessoas que se consideram “conservadoras” está relacionada a uma perda de prestígio dos EUA. Assim, argumentam que graças à divulgação de Snowden da amplitude da espionagem exercida pelo governo Obama, os outros países podem deixar de ver os EUA como aquela “cidade brilhante sobre a colina”.
Muitos desses mesmos conservadores reclamaram em 2008 que os alemães em Berlim se aglomeraram para escutar Obama, vendo-o como um salvador sem investigar seu passado marxista.
Mas hoje, esses mesmos “conservadores” chamam Snowden de “traidor” porque teria supostamente maculado nossa reputação coletiva como nação, minando a confiança gratuita que tinham no nosso governo. Estão confundindo a reputação do escandaloso governo de Obama com a reputação da nação em si.
No entendimento deles, então, dizer a verdade sobre um governo fora da lei é equivalente à traição. A inversão de significado foi um sucesso.
No entanto, é razoável esperar que, como resultado indireto das revelações de Snowden, a mídia, antes relutante em criticar Obama, possa ser impelida por repórteres e governos estrangeiros a fazer seu trabalho.
Embora inicialmente vergonhoso, em algum momento essa pressão de jornalistas e governos estrangeiros pode forçar os jornalistas e o governo dos EUA a voltar a exercer sua função de quarto poder, em vez de servir de chamariz para os outros três. O presidente francês Hollande já demonstrou indignação com a intromissão da NSA em ligações telefônicas e e-mails envolvendo cidadãos franceses. A chanceler alemã Angela Merkel considerou “inaceitável”.
Traduzido por Luis Gustavo Gentil do original do American Daily Herald: DEFINITION DRIFT IN THE ED SNOWDEN CASE
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