Donald Hank
Antigamente a espionagem remetia a um espião
ou traidor entregando segredos nocivos a um inimigo. Mas isso mudou desde 1971,
principalmente no regime Obama. Agora a espionagem ocorre quando alguém diz a
verdade sobre condutas escandalosas e inconstitucionais do governo dos EUA.
A maioria dos americanos ainda associa a
idéia de informantes ilegais ou espiões a pessoas como os Rosenbergs, que
vazaram segredos nucleares para os soviéticos. Aliás, os artigos sobre espiões
famosos publicados antes da década de 1970 mostram que, nos casos mais
conhecidos, eles estavam trabalhando para os soviéticos.
Portanto, antes da década de 70, um
espião era geralmente visto como uma pessoa que entregava segredos (quase
sempre militares) a um inimigo, de quem se esperava que os utilizasse para
prejudicar os EUA, e cujo dano estimado e potencial era geralmente de natureza
militar.
A partir do caso de Daniel Ellsberg em
1971, a definição não oficial de “espionagem” e “espião” começou a mudar
subliminarmente na mente dos americanos, junto com a definição não oficial de
“inimigo”, alinhada à entrega do status de Nação Mais Favorecida à China. Em
termos mais amplos, a mudança poderia ser descrita como um afastamento da
liberdade em direção à tirania estatal.
Dos dez informantes acusados com base na Lei de
Espionagem, nenhum foi acusado de trabalhar para a União
Soviética, e apenas um, Bradley Manning, foi acusado de vazar informações que
podem ter comprometido a segurança de militares americanos e aliados, e um,
Jeffrey Sterling, teria vazado informações sobre planos dos EUA de sabotar o
programa nuclear iraniano, o que poderia talvez ter permitido aos iranianos
desenvolver uma arma nuclear mais cedo. Esses dois talvez possam ter
comprometido nossa segurança.
Os outros, no entanto, revelaram
detalhes classificados, na maioria dos casos para repórteres, que em outros
tempos o público americano se sentiria no direito de saber.
Ellsberg, por exemplo, foi acusado em
1971 de vazar documentos detalhando a participação dos EUA na Guerra do Vietnã.
É possível imaginar um povo livre sem poder saber os detalhes da participação
de sua nação em uma guerra? Ainda mais se puder haver algo questionável sobre
essa participação?
O funcionário da Agência de Segurança
Nacional americana (NSA) foi acusado em 2010 de vazar detalhes para a agência
Baltimore Sun sobre o que considerou uma bisbilhotagem ilegal da população pelo
governo Obama.
O funcionário da CIA John Kiriakou
foi acusado em 2012 de vazar detalhes sobre tortura da simulação de afogamento
(waterboarding) à ABC News. Qualquer dano à nossa segurança resultante
desse vazamento seria mínima ou imaginária.
Como esses exemplos mostram, o público
está sofrendo uma lenta lavagem cerebral do governo para aceitar uma nova
definição de “espionagem”, que se afastou gradualmente de “fornecer informações
militares a um inimigo” para “divulgar informações sobre transgressões
governamentais ao público americano”. Para explicar de forma mais clara
possível: O termo “espião” recentemente definido dá ao público americano a
informação de que o governo acredita que seus segredos não devem ser revelados,
não porque o conhecimento deles pode prejudicar os cidadãos americanos, mas
porque esses segredos podem, com razão, fazer com que o púbico veja o governo
com maus olhos e queira mudá-lo. Em outros tempos, o desejo de mudar um governo
mau ou tirânico era protegido, e as leis de espionagem não tentavam
criminalizar quem quer que fosse por acender esse desejo por meio do vazamento
de informações que revelavam injustiças do governo.
Muitos americanos aceitaram essa nova
definição não oficial perigosamente deformada, aparentemente sem sequer
perceber a mudança.
Mesmo comentaristas geralmente vistos
como “conservadores” como Barry Farber,
por exemplo, não foram capazes de ver a mudança de paradigma, ou seja, a
mudança na definição de espionagem, e colocam no mesmo patamar pessoas como
Snowden, um homem que agiu ilegalmente por uma questão de consciência, com
antigos espiões que trabalhavam para a União Soviética, a maioria dos quais o
fazia por dinheiro e comprometia a segurança de americanos de maneira
quantificável.
Snowden abandonou um emprego de US$
17.000 mensais para revelar ao público as atividades ilegais do atual governo
dos EUA, e não há provas de qualquer remuneração resultante disso.
Uma das acusações feitas contra Edward
Snowden por pessoas que se consideram “conservadoras” está relacionada a uma
perda de prestígio dos EUA. Assim, argumentam que graças à divulgação de
Snowden da amplitude da espionagem exercida pelo governo Obama, os outros
países podem deixar de ver os EUA como aquela “cidade brilhante sobre a
colina”.
Muitos desses mesmos conservadores
reclamaram em 2008 que os alemães em Berlim se aglomeraram para escutar Obama,
vendo-o como um salvador sem investigar seu passado marxista.
Mas hoje, esses mesmos “conservadores”
chamam Snowden de “traidor” porque teria supostamente maculado nossa reputação
coletiva como nação, minando a confiança gratuita que tinham no nosso governo.
Estão confundindo a reputação do escandaloso governo de Obama com a reputação
da nação em si.
No entendimento deles, então, dizer a
verdade sobre um governo fora da lei é equivalente à traição. A inversão de
significado foi um sucesso.
No entanto, é razoável esperar que, como
resultado indireto das revelações de Snowden, a mídia, antes relutante em
criticar Obama, possa ser impelida por repórteres e governos estrangeiros a
fazer seu trabalho.
Embora inicialmente vergonhoso, em algum
momento essa pressão de jornalistas e governos estrangeiros pode forçar os
jornalistas e o governo dos EUA a voltar a exercer sua função de quarto poder,
em vez de servir de chamariz para os outros três. O presidente francês Hollande
já demonstrou indignação com a intromissão da NSA em ligações telefônicas e
e-mails envolvendo cidadãos franceses. A chanceler alemã Angela Merkel
considerou “inaceitável”.
Traduzido por Luis Gustavo Gentil do
original do American Daily Herald: DEFINITION DRIFT IN THE ED SNOWDEN CASE
Fonte: www.juliosevero.com
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