RICARDO
MENDONÇA
EDITOR-ASSISTENTE
DE "PODER"
No
próximo dia 9, cerca de 40 mil homens que frequentam rituais secretos semanais,
usam códigos para reconhecimento mútuo e se tratam socialmente como
"irmãos" irão às urnas para escolher seu líder máximo.
Em quase 3.000 lojas maçônicas pelo país, os maçons que ostentam o
título de "mestre" do Grande Oriente do Brasil (GOB) --o maior ramo
da maçonaria brasileira-- irão escolher seu próximo soberano grão-mestre geral.
Cheia de simbolismos, a organização reproduz internamente a
hierarquia institucional da República, com deputados, juízes, governadores e
outros. Dentro da instituição, e guardadas as proporções, o cargo em disputa
equivale ao da presidente Dilma Rousseff.
A
maçonaria costuma ser definida pelos próprios maçons como um clube que reúne
"homens livres e de bons costumes", patrióticos e engajados em
promover os princípios do lema "liberdade, igualdade e fraternidade".
Os
rituais secretos são feitos em templos decorados com imagens celestes, falsas
colunas gregas e símbolos do zodíaco. Lojas são os grupos fixos de maçons que
se reúnem para os rituais.
Dentro
da ordem há várias designações, usadas conforme o status do filiado: chanceler,
guardião, soberano, venerável, eminente e sapientíssimo são algumas delas.
Em
certos locais, maçons são reconhecidos pelo engajamento em ações filantrópicas.
No senso comum, levam a fama de homens influentes e misteriosos que se ajudam
para enriquecer, "um estereótipo bem distante da realidade", diz o
engenheiro Francisco Anselmo, deputado maçom e estudioso do assunto.
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Arte/Folhapress
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DISPUTA
Na
eleição do GOB, o Grande Oriente do Brasil, o candidato mais conhecido é o
senador (da República mesmo) Mozarildo Cavalcanti, do PTB de Roraima. Como
maçom, ele é deputado da Assembleia Federal Legislativa da entidade. "Sou
o único brasileiro deputado e senador ao mesmo tempo", gosta de repetir.
Concorrendo
pela terceira vez --ele perdeu em 1993 e 1998--, Mozarildo tirou quatro meses
de licença do Senado para dedicar-se com mais afinco à campanha. Com isso,
deixou de participar da eleição de Renan Calheiros (PMDB-AL) para presidente do
Congresso, por exemplo.
O
nome de Mozarildo ganhou algum destaque no noticiário na época da demarcação da
terra indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Ele era contra a remoção dos
fazendeiros da área, mas acabou derrotado quando o Supremo Tribunal Federal
bateu o martelo sobre o tema.
Mozarildo
ainda costuma ser citado como o campeão do uso da Cota para Exercício da Atividade Parlamentar,
a verba para reembolso de viagens, consultorias e outros gastos. Em 2012, ele
usou R$ 464 mil contra uma média de R$ 268 mil de seus colegas. Em 2011, também
liderou.
Na
maçonaria, porém, ele é mais conhecido como o maior propagador da ideologia
maçônica no Congresso. Uma pesquisa simples
no site do Senado lista 87 pronunciamentos de Mozarildo sobre o assunto. Para efeito
de comparação, o site informa que Eduardo Suplicy (PT-SP) fez 77
pronunciamentos com a expressão "renda básica".
No
plenário, Mozarildo já leu o Manifesto da Grande Loja Maçônica de Roraima, já
prestou homenagem ao Dia do Pai Maçom e já fez "uma análise do papel
histórico da maçonaria no mundo, ressaltando a operosidade da instituição no
contexto social".
Um
dos maiores orgulhos do senador no parlamento é o livro "O Senado e a
Maçonaria" (472 páginas), assinado por ele e pelo ex-senador Efraim Morais
(DEM-RN), também maçom. Impressa na gráfica do Senado, a obra reúne 44
discursos de atuais e ex-senadores sobre o tema.
TRADIÇÃO
Em
campanha, Mozarildo faz discurso pela abertura do Grande Oriente. "A
maçonaria precisa sair da clausura, ser menos conservadora", diz.
"Não pode se contentar em ser uma entidade só de cerimônias e
condecorações."
Suas
ideias de abertura, porém, não contemplam a revisão de algumas regras
discriminatórias da entidade, como a recusa à participação de mulheres e o veto
à filiação de deficientes físicos, tradições herdadas da Idade Média, dos
primeiros grupos de pedreiros de templos, muralhas e castelos na Europa--a
origem da instituição.
Outra
cláusula fundamental da maçonaria é a não aceitação de ateus. Todo filiado é
obrigado a acreditar em algum ser superior, independentemente da religião. Como
pode ser qualquer deus, esse ser superior é chamado internamente de Grande
Arquiteto do Universo, simbolizado pela letra "G".
Um
dos concorrentes de Mozarildo na disputa é o atual grão-mestre geral do Grande
Oriente do Brasil, o servidor público aposentado do Banco Central Marcos José
da Silva, candidato à reeleição.
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Silva
faz campanha ressaltando realizações de sua gestão, sempre dando ênfase aos
aspectos financeiros. Além da manutenção de anuidade de R$ 90 por cinco anos
"sem reajuste", o destaque é a construção de um centro cultural
maçônico de 4.900 m² em Brasília, "obra de R$ 12 milhões totalmente paga à
vista", ressalta João Guimarães, seu chefe de gabinete.
O
terceiro aspirante é o advogado Benedito Marques Ballouk, membro do Tribunal de
Contas do Município de São Paulo na "vida profana", como diz o jargão
maçom; ex-grão-mestre de São Paulo na "vida maçônica", o equivalente
a governador.
Na
disputa, Ballouk também clama por modernização. Depois de exaltar a
participação de maçons ilustres na Independência, na Proclamação da República e
na Abolição da Escravatura --exaltações, aliás, feitas por todos os maçons
ouvidos para esta reportagem--, Ballouk repete o mantra de sua campanha:
"A maçonaria precisa voltar a ser parte da elite estratégica do país; hoje
somos só uma elite convencional".
INFLUÊNCIA
Fundado
em 1822, o Grande Oriente do Brasil é uma das três maiores
"potências" maçônicas do país. Em 1927, por divergências eleitorais,
um grupo saiu e fundou uma ordem concorrente, conhecida como Grandes Lojas. Em
1973, após nova ruptura, surgiu a "obediência" Grandes Orientes
Independentes. Estima-se que, juntas, as três tenham 220 mil maçons.
O próximo comandante do Grande Oriente deverá assumir o controle da entidade
num momento histórico paradoxal em seus 190 anos.
Contando
mestres (os únicos votantes), companheiros e aprendizes --os três estágios
internos--, são 78 mil maçons associados à ordem. A entidade nunca teve tanta
gente. Mas, numa avaliação bastante comum entre os próprios adeptos, nunca foi
tão pouco influente.
Entre
os notáveis sempre louvados estão figuras como José Bonifácio, Patriarca da
Independência e primeiro grão-mestre da instituição, D. Pedro I, Rui Barbosa,
marechal Deodoro da Fonseca e Joaquim Nabuco.
Hoje,
o mais ilustre é o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), que, no
entanto, não costuma ser citado com muito entusiasmo por seus
"irmãos". "Faz tempo que ele não aparece por aqui, acho que está
inativo", diz o coronel aposentado da Polícia Militar de São Paulo Antonio
Carlos Mendes, maçom oficial de gabinete do Grande Oriente paulista.
Nas
contas de Mozarildo, há hoje 58 deputados federais maçons no Congresso Nacional
e outros seis senadores. "Uma das minhas propostas é organizar a bancada
da maçonaria", afirma. "Imagine só: seria maior que a de muitos
partidos de hoje."
Enquanto
a bancada não se organiza, os maçons da Câmara e do Senado só são notados
quando sobem à tribuna para prestar homenagens à organização quando é 20 de
agosto, o Dia do Maçom. No Senado, os seis que sempre comparecem, além de
Mozarildo, são Alvaro Dias (PSDB-PR), Cícero Lucena (PSDB-PB), Gim Argelo
(PTB-DF), Jayme Campos (DEM-MT), Sérgio Souza (PMDB-PR) e Valdir Raupp
(PMDB-RO).
FONTE:http://www1.folha.uol.com.br/poder/1239836-maconaria-se-prepara-para-escolher-seu-novo-grao-mestre.shtml
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