Físico fala na reunião da SBPC sobre a possibilidade de um
grande tsunami atingir o Brasil caso um vulcão das ilhas Canárias entre em
erupção. O país ainda não tem capacidade de prever esse tipo de desastre
natural.
Por: Sofia Moutinho
Por mais aterrorizantes que sejam as imagens de tsunamis, o
brasileiro está acostumado a vê-las de longe. No entanto, segundo o geofísico
Alberto Brum Novaes, da Universidade Federal da Bahia, existe a possibilidade
de vermos uma onda gigante de perto aqui no Brasil.
Em palestra sobre tsunamis na 63ª
Reunião Anual da SBPC, em Goiânia, o pesquisador explicou que a erupção do
vulcão Cumbre Vieja, na ilha canária espanhola La Palma, no Oceano Atlântico,
pode causar um tsunami de grandes proporções, com 500 km de extensão e até 30 m
de altura, que chegaria ao Caribe e a toda a orla leste dos Estados Unidos e à
costa norte e nordeste do Brasil.
O vulcão está ativo no momento, mas, segundo Novaes, não é
possível saber quando entrará em erupção. A última vez que isso aconteceu foi
em outubro 1971 e desde então ele é monitorado por pesquisadores de
universidades locais e dos Estados Unidos.
“Pode acontecer a qualquer momento”,
afirmou Novaes. “Pode ser daqui a pouco ou daqui a séculos, mas que vai
acontecer um dia vai.”
O pesquisador explicou que o tsunami
seria causado por deslizamentos de enormes pedaços de rochas que se
desprenderiam devido aos tremores resultantes da erupção e adentrariam o
oceano. La Palma fica sobre falhas geológicas e, por isso, um terremoto seria
inevitável nessas condições, podendo, inclusive, levar ao colapso de toda a
ilha.
Além das regiões Norte e Nordeste, Novaes afirmou que existe a
possibilidade de a onda atingir também a região do pantanal brasileiro. Isso
porque o rio Amazonas funcionaria como um caminho para as águas, conduzindo-as
para o interior do território.
“O rio Amazonas é muito lânguido, com
muita água e sem muitas curvas, então é possível que o tsunami cause muito
estrago quando encontrar com ele”, disse.
Estudos da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, apontam
que o tsunami avançaria pelo Oceano Atlântico com uma velocidade máxima de 800
km/h nas áreas mais profundas e, em seis horas, tomaria cerca de 20 km da costa
do país, a partir da cidade de Miami.
Fora de foco
Desde 2009, um grupo de estudo do Departamento de Geografia da
Universidade Federal da Paraíba monitora a atividade sísmica
e marítima da região para entender os riscos que envolvem a erupção do Cumbre
Vieja.
Até o fim de 2011, o sistema de monitoramento deve estar
funcionando em 25 cidades. Mas a prioridade inicial do centro é a prevenção e o
alerta de tempestades, alagamentos e deslizamentos de terra, desastres naturais
que mais matam no Brasil.
Segundo o físico Antonio Marcos
Mendonça, analista do MCT, a etapa inicial de implantação do Cemaden, que dura
até 2012, não prevê o monitoramento de outros tipos de desastres como os
tsunamis.
“As catástrofes relacionadas a
tsunamis são muito mais complicadas de se prever”, diz Mendonça. “Dependendo de
onde ele ocorre, tem como o centro absorver as informações para emitir um
alerta, mas não está no escopo do sistema no momento; a partir de 2015, isso
poderá ser tratado.”
Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line
Publicado em 15.07.2011 em: http://cienciahoje.uol.com.br/especiais/reuniao-anual-da-sbpc-2011/tsunami-no-brasil
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