Maria do Rosário ela se interessa por um cadáver ou outro que rendam proselitismo. Os outros mais de 50 mil ela ignora
Todas as profissões
têm seus momentos desagradáveis, indesejados pelos profissionais. Eis um deles.
Preferiria não escrever nada do que virá, seja em razão do que há de drama
humano, de sofrimento mesmo, seja em razão da pulhice política que acompanha o episódio.
Raramente tantos oportunistas se aproveitaram com tamanha determinação da dor
alheia como nestes tempos. Vamos lá.
No sábado, a Polícia
Militar de São Paulo encontrou o corpo de Kaique Augusto Batista, de 17 anos,
perto de um viaduto na região da Bela Vista. Estava desfigurado em razão, tudo
indica, de uma queda — as causas ainda estão sendo apuradas. São fortes os
indícios de ele possa ter se suicidado, jogando-se do elevado. A família acusa
homicídio porque diz que seu rosto estava desfigurado, sem os dentes, e que
haveria uma perfuração na perna com barra de ferro. Uma avaliação preliminar
indica que a tal perfuração se deve a uma fratura exposta e que os ferimentos
do rosto são compatíveis com quem sofreu a queda. Haveria ainda sinais de
tortura. A polícia informa que o corpo ficou sem refrigeração até quarta-feira
e que os sinais de suposta tortura se devem, na verdade, à deterioração dos
tecidos.
Kaique era negro e
homossexual. E pronto! Estão dados os “botões quentes” para acionar a
mobilização da militância. Sem que haja qualquer indício, qualquer sinal,
qualquer evidência, qualquer fio que possa alimentar a suspeita — além da
militância de sempre —, a morte do rapaz está sendo atribuída por grupos gays à
“homofobia”. O garoto, ficamos sabendo, não morava com os pais, mas na casa do
que a imprensa chama “casal de homens”. Teria sido visto por amigos pela última
vez numa boate gay, na sexta passada.
Muito bem! Nesta
sexta, houve um protesto em São Paulo organizado por grupos gays, que exigem a
apuração do que de fato aconteceu — como se apurações assim dependessem de
exigências. Mais: nem é preciso dizer que, na verdade, esses grupos militantes
não querem exatamente uma investigação, mas a confirmação oficial da conclusão
a que eles já chegaram: Kaike foi assassinado pela homofobia. Qualquer
investigação que chegue a outra conclusão será considera, também ela…,
homofóbica.
Entendam: Kaique já
deixou, nesse caso, de ser uma pessoa e passou a ser uma causa. Pouco importa,
no fim das contas, o que tenha acontecido com ele. Deixou de ser gente e passou
a ser uma bandeira. Em sua página no Facebook, a polícia encontrou a seguinte
mensagem: “Você se machuca com o que as pessoas fazem com você e você vive
pensando em não machucar as pessoas. E aí pensa mesmo em não derrubar as
pessoas da ponte enquanto elas te jogam e vocês têm que subir ela de alguma
forma”.
Que fique claro: acho
que todas as hipóteses têm de ser investigadas. O que é inaceitável é que a
militância tente impor a sua conclusão à polícia, como se gays só pudessem
morrer vítimas da homofobia; como, diga-se, se muitos dos assassinos de gays
não fossem michês — vale dizer: gays eles também. Ou não são? Existem crimes de
ódio praticados contra homossexuais? Existem. Mas isso é a investigação que tem
de definir, não a gritaria. E agora Maria do Rosário.
A irresponsável
Maria do Rosário, secretária nacional dos Direitos Humanos, teve o
desplante de emitir uma nota oficial chamando a ocorrência de crime praticado
pela homofobia. Uma ministra de estado ignora a investigação da polícia, não
espera os dados técnicos sobre a perícia e sai expelindo sentenças. Vindo de
quem vem, não me surpreende. Leiam a nota (em vermelho):
A Secretaria de
Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) vem a público manifestar
solidariedade à família de Kaique Augusto Batista dos Santos, assassinado
brutalmente no último sábado (11/01). Seu corpo foi encontrado pela Polícia
Militar de São Paulo próximo a um viaduto na região da Bela Vista, na Avenida 9
de Julho.
As circunstâncias do episódio e as condições do corpo da vítima,
segundo relatos dos familiares, indicam que se trata de mais um crime de ódio e
intolerância motivado por homofobia.
De acordo com dados do Relatório de Violência Homofóbica,
produzido pela Secretaria de Direitos Humanos, em 2012, houve um aumento de 11%
dos assassinatos motivados por homofobia no Brasil em comparação a 2011. Diante
desse grave cenário, assim como faz em outros casos que nos são denunciados, a
SDH/PR está acompanhando o caso junto às autoridades estaduais, no intuito de
garantir a apuração rigorosa do caso e evitar a impunidade.
A ministra da SDH/PR, Maria do Rosário, designou o
coordenador-geral de Promoção dos Direitos deLGBT e presidente do Conselho
Nacional de Combate a Discriminação LGBT, Gustavo Bernardes, para acompanhar o
caso pessoalmente. O servidor da SDH/PR desembarcou no início na tarde desta
sexta-feira (17) na capital paulista, onde deverá conversar com a família e
acompanhar o processo investigativo em curso.
Informamos ainda que a Secretaria de Direitos Humanos está
investindo recursos para a ampliação dos serviços do Centro de Combate à
Homofobia da Prefeitura Municipal de São Paulo, fortalecendo a rede de
enfrentamento à homofobia.
Diante desse quadro, reiteramos a necessidade de que o Congresso
Nacional aprove legislação que explicitamente puna os crimes de ódio e
intolerância motivados por homofobia no Brasil, para um efetivo enfrentamento
dessas violações de Direitos Humanos.
O Governo Federal reitera seu compromisso com o enfrentamento aos crimes de
ódio e com a promoção dos direitos das minorias, em especial, com a população
LGBT.
Voltei
Uma ministra de estado ignora dados técnicos sobre o corpo e
prefere emitir uma nota com base em impressões da família, certamente impactada
com a morte. Observem que também Maria do Rosário usa Kaique como bandeira: lá
está ela:
a: a fazer proselitismo em favor da tal lei anti-homofobia;
b: a fazer propaganda dos investimentos do governo federal na
Prefeitura petista de São Paulo;
c: a sugerir que, não fosse a pressão da sua secretaria, a polícia
de São Paulo poderia não fazer direito o seu trabalho.
Asqueroso
Trata-se de um comportamento asqueroso, oportunista. Mais de 50
mil pessoas são assassinadas todo ano no Brasil. Alguém viu esta senhora emitir
antes alguma nota? Observem que a mobilização do seu ministério é maior nesse
caso do que na trágica ocorrência no Maranhão, que vitimou a menina Ana Clara.
Mais uma vez, estamos
diante da evidência de que, para o governo federal, para os petistas, há
cadáveres e cadáveres. Há aqueles que podem ser convertidos em causas e que
rendem proselitismo. E há os que chamo de os mortos sem pedigree. É isto: a
moral petista transforma em estandarte os cadáveres de primeira linha para que
sua omissão criminosa nos outros casos não vire notícia. Como boa parte da
imprensa é refém de grupos militantes, a operação é bem-sucedida.
Os ministros de Dilma
se dividem em dois grupos: os com e os sem-limites. Maria do Rosário, junto com
Gilberto Carvalho e José Eduardo Cardozo, entre outros, integra a segunda
turma. Para encerrar e para não esquecer: quando houve aquela corrida para
sacar dinheiro do Bolsa Família em razão de uma barbeiragem da Caixa Econômica
Federal, essa senhora foi a primeira a sacar a pistola retórica no
Twitter: acusou a oposição. E não se desculpou depois.
Texto
publicado às 22h18 desta sexta
Por Reinaldo Azevedo
FONTE:http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/militantes-gays-transformam-o-morto-numa-simples-bandeira-e-a-absurda-irresponsabilidade-de-maria-do-rosario-mais-uma-vez/
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