Valdir Steuernagel, colunista da revista Ultimato,
tenta dar roupagem do Evangelho à TMI
Julio Severo
Teólogos de igrejas protestantes
históricas têm falado e se comportado como se o Evangelho hoje tivesse falta de
uma integralidade que supostamente Jesus e seus apóstolos conheciam, mas nós
hoje desconhecemos. Por integralidade eles entendem apenas aspectos materiais
de caridade, como comida, bebida, roupas, etc.
Sua pregação sobre integralidade, manifesta
em sua Teologia da Missão Integral, faz parecer que Jesus passava metade do
tempo pregando o Evangelho e a outra metade fazendo caridade material. Faz
parecer que sem essa caridade, o Evangelho não é integral e que toda pregação
do Evangelho tem de vir obrigatoriamente acompanhada de caridade material.
Se tais teólogos modernos de fato
estivessem tentando resgatar algo que a Igreja original de Jesus tinha e a
Igreja de hoje não tem, a motivação seria justa. Se Jesus e seus apóstolos
passavam o tempo pregando e fazendo caridade material, seria justo imitarmos.
Entretanto, a caridade material não
acompanhava o Evangelho original. A caridade vinha depois do
Evangelho e discipulado, conforme a necessidade e sob condições muito rígidas.
O que vinha sempre acompanhando o Evangelho era a misericórdia de Jesus pelos
pobres, e essa misericórdia era plenamente manifestada no modo como ele passava
seu tempo inteiro com os pobres: pregando o Evangelho, curando os enfermos,
expulsando demônios, etc.
Essa caridade espiritual, conforme
praticada por Jesus, estava acima da caridade material e recebia, em sua
ministração terrena, tempo quase que igual ao tempo da pregação do Evangelho.
Daí, pelo exemplo de Jesus, o que faz parte integral do Evangelho é sua
proclamação e a caridade espiritual, que sempre envolve curas e expulsão de
demônios. Proclamação e caridade espiritual andam juntas. Essa é a verdadeira
integralidade do Evangelho. Qualquer outra forma, diferente do que Jesus fazia
e ensinava, é outro evangelho.
Entretanto, teólogos de igrejas
protestantes históricas têm se comportado como se a Igreja Evangélica tivesse
de ter como prioridade dar pão aos pobres e, para essa finalidade, não se
envergonham de fazer alianças com ideologias e governos socialistas, como se o
lado prático do Evangelho do Reino de Deus fosse apenas assistencialismo aos
pobres. Mas o que Jesus disse foi: “Curai os enfermos, limpai os
leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de
graça dai.” (Mateus 10:8 ACF)
Pouquíssimas vezes Jesus alimentou os
pobres, e Ele ensinou de forma bem clara que comida e roupa nunca deve ser a
prioridade das nossas vidas, muito menos a busca de governos terrenos que
forneçam comida e roupa. O que ele ensinou foi: “Buscai, assim, em
primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão
acrescentadas.” (Mateus 6:33 KJA) “Todas as outras coisas” é comida,
bebida, roupas e tudo o mais.
Buscar o Reino de Deus, que significa o
Governo de Deus, é prioridade do seguidor de Jesus. Mas, nestes últimos dias em
que as igrejas protestantes históricas estão fortemente pendendo para apoio ao
aborto, ao homossexualismo e a boicotes contra Israel, uma teologia ideológica
tem se alastrado há décadas nessas igrejas que, na essência, diz: “Busquem em
primeiro lugar um governo humano e suas políticas assistencialistas.” Pior
ainda, tais teólogos, cheios de um espírito de vento de doutrina estranha,
ousam comparar essa busca de um governo terreno com o próprio Reino de Deus,
quando a Palavra de Deus diz bem o contrário: “Porquanto o Reino de
Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo.”
(Romanos 14:17 KJA)
Por isso, Jesus Cristo, o maior
proclamador do Reino de Deus, não passava seus dias de ministério alimentando
os pobres, nem mesmo usando ajuda aos pobres como desculpa para fazer alianças
com o governo de Pilatos, Herodes, etc. Pelo contrário, ele passava seus dias
de ministério curando os enfermos, purificando os leprosos, expulsando demônios
e realizando muitas outras maravilhas.
E a ordem dEle para seus discípulos, que
estariam proclamando o Evangelho do Reino de Deus no meio de milhares de
pobres, era a mesma: “Curai os enfermos, limpai os leprosos,
ressuscitai os mortos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça
dai.” (Mateus 10:8 ACF)
O lado prático fundamental do Evangelho
do Reino de Deus é isso. Jesus passava a maior parte de seu tempo fazendo isso
no meio de multidão de pobres. Os apóstolos eram apenas imitadores de Jesus.
Aliás, a ordem de Jesus foi: “Por
onde forem, preguem esta mensagem: ‘O Reino dos céus está próximo’. Curem os
enfermos, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios.
Vocês receberam de graça; dêem também de graça.” (Mateus 10:7-8 NVI)
O sinal da chegada do Reino de Deus não
é a manifestação de um governo socialista ou políticas
socialistas, conforme
proclamam os teólogos cheios do espírito da estranha doutrina da Teologia da
Missão Integral (TMI). O único sinal da chegada do Reino é a manifestação da
autoridade que Jesus deu aos seus proclamadores do Evangelho: doentes sendo
curados, mortos sendo ressuscitados, leprosos sendo purificados e pessoas
oprimidas sendo libertas de demônios.
Com esse Evangelho verdadeiro e
original, os oprimidos são libertos.
Sobre alimentar os pobres, Jesus o fez
por milagres, nunca com ajuda de governos terrenos, nunca tirando o dinheiro de
ninguém por meio de impostos ou não, nunca fazendo aliança ou parceria com
governos terrenos (prática comum entre teólogos da TMI, que assinam manifestos
a favor de governos socialistas, fazem parcerias, etc.), nunca colocando isso como se fosse o centro do lado prático do
Evangelho. E os apóstolos imitaram.
E quando tinham de alimentar os pobres,
a política da Igreja Apostólica era ajudar as viúvas, que eram os seres humanos
mais pobres e desamparados. Mas era uma política apostólica com muitas restrições: apenas as viúvas que tinham mostrado
bom testemunho durante sua vida estavam qualificadas para receber ajuda. Nada
de ajuda indiscriminada. Nada de ajudar materialmente pobres sem caráter e sem
moral. Nada de buscar alianças com Herodes e Pilatos. Nada de colocar o
Evangelho a serviço de uma ideologia que aparenta ser um anjo de luz para os
pobres. Esse era o sistema dos apóstolos de Jesus.
Contudo, muitos teólogos modernos querem
que a Igreja moderna revogue as restrições apostólicas e faça alianças com os Herodes e Pilatos modernos — por amor a um assistencialismo
indiscriminado aos pobres. Querem isso como foco da Igreja, distanciando-a
assim da Igreja Primitiva e de seu foco na cura e libertação dos pobres e
oprimidos por meio da miraculosa compaixão divina.
Tais teólogos, que aparentam ser anjos
de luz, invertem o significado do Reino de Deus, que não é comida nem bebida,
fazendo-o parecer um Grande Governo Socialista Assistencialista.
Tais teólogos secos, muitos dos quais
não possuem e ainda desprezam os dons sobrenaturais do Espírito Santo e não
praticam o “Curai enfermos e expulsai demônios,” trabalham para alterar a
imagem do Reino de Deus, transformando-o do que Jesus apresentou — um Reino que
traz libertação e milagres —, para um Reino conforme a imagem e semelhança do
socialismo.
Eles cometem três graves pecados, 1)
torcem o Evangelho para parecer o que nunca foi, um mero “evangelho” de
assistencialismo humano e carnal; 2) fazem o Reino de Deus parecer o que nunca
foi: um sistema dedicado a dar comida e roupa aos pobres; e 3) fazem o
socialismo parecer o que nunca foi: um sistema apenas de ajuda aos pobres e
parecido com o Reino de Deus.
Esse não é o exemplo que Jesus deixou,
mas é o exemplo dos modernos teólogos, cuja prioridade é o assistencialismo.
Em contraste, a prioridade de Jesus
sempre foi proclamar o Evangelho. Curar enfermos, expulsar demônios e destruir
as obras do diabo sempre foi parte essencial dessa proclamação e é a expressão
da misericórdia do Pai celestial para com os pobres e oprimidos. O
assistencialismo (comida e bebida) é parte da caridade, mas não essência nem do
Reino de Deus nem do Evangelho.
Entretanto, havia outro contraste: Jesus
não tinha nenhum salário do governo de Herodes ou Pilatos para “defender” os
pobres ou aproximar os cristãos desses governos. Mas os teólogos modernos têm
todos os tipos de envolvimentos e motivações para “defender” os pobres. Uns,
recebem salário do governo. Um deles recebe mais de 15 mil reais por mês do governo de
Dilma Rousseff. Outros
recebem para ficar viajando pelo mundo, hospedados em bons hotéis, para
participar de infindáveis consultas teológicas para mudar o Evangelho do Reino
de Deus em algo que nunca foi: uma mensagem conforme a imagem e semelhança do
socialismo.
Dissecando a entrevista do Rev. Valdir
Steuernagel na revista Ultimato
Em seu artigo recente “A Missão Integral nem é tão integral assim!” publicado na revista Ultimato,
o Rev. Valdir Steuernagel, busca defender a Teologia da Missão Integral (TMI)
como uma teologia “a serviço do Reino de Deus.”
Não conseguiremos, pois, entender a TMI
sem compreender o que é o Reino de Deus. Por isso, para avaliarmos as razões
que levam Steuernagel a identificar a TMI como algum tipo de expressão do Reino
de Deus, apresentaremos suas declarações, conforme publicadas em seu artigo na Ultimato,
seguidas de meus comentários:
Valdir Steuernagel: Os meus primeiros
encontros com a MI se deram enquanto estudava teologia numa instituição de
corte liberal.
Valdir Steuernagel: A Fraternidade
Teológica Latino-Americana, que foi o lugar maior onde a teologia da MI foi
gestada, começou a surgir no primeiro Congresso Latino-Americano de
Evangelização (CLADE I), realizado em Bogotá, Colômbia, em 1969.
Julio Severo: Esse é um ponto interessante.
Steuernagel afirma que a TMI foi gestada na Fraternidade Teológica
Latino-Americana. Numa entrevista recente na TV Mackenzie, um professor de
teologia do Mackenzie, que por incompetência acadêmica buscou
desvincular a TMI de suas ligações marxistas, disse: “os proponentes da TMI têm relacionado
a TMI com determinados movimentos e organizações, que são geradores da Teologia
da Libertação, que têm declaradamente um fundo marxista, como a Fraternidade
Teológica Latino Americana.” O que temos aqui bem simples é a declaração de um
professor do Mackenzie que, mesmo a contragosto, reconhece que a Fraternidade
Teológica Latino-Americana tem fundo marxista e gerou a Teologia da Libertação.
E temos a declaração de Steuernagel de que a Fraternidade Teológica
Latino-Americana também gerou a TMI. Mas nenhum dos dois quer reconhecer que a
TMI tem fundo marxista, tem ligação com a Teologia da Libertação, etc. Sobre o
Clade, meu e-book “Teologia da Libertação X Teologia da Prosperidade”diz: “Em1969, ao participar do CLADE
(Congresso Latino-Americano de Evangelização), Wagner distribuiu seu livro que
afirmava que a missão da igreja é priorizar a salvação pessoal e destacava a
teologia esquerdista como perniciosa.” Peter Wagner estava lá no Clade, e
aproveitou para distribuir seu livro contra o marxismo, porque ele viu que o
que estava sendo gerado ali era conforme a imagem e semelhança do socialismo.
Portanto, podem dizer que o nascimento da TMI foi inocente e espiritual, mas
Wagner estava ali, como importante testemunha histórica com a devida formação
acadêmica e teológica, para dizer que a história não é bem assim como os
adeptos da TMI fantasiam.
Valdir Steuernagel: Assim, a MI nasceu
no berço das Escrituras… a discussão em torno da influência marxista na
teologia da MI é muito fora de foco.
Julio Severo: Primeiro, Steuernagel afirma que a
TMI nasceu na Fraternidade Teológica Latino-Americana. Agora, ele muda o foco,
dizendo que a TMI “nasceu no berço das Escrituras” — como se a Fraternidade
Teológica Latino-Americana, que gerou a Teologia da Libertação (que contamina
toda a IECLB de Steuernagel), fosse as “Escrituras”! Ora, dizer que a TMI
nasceu das Escrituras equivale à declaração absurda de que a Teologia da
Libertação nasceu do mesmo lugar. O Bispo Robinson Cavalcanti, que era também
colunista da Ultimato (exatamente como Steuernagel) e amigo de
Steuernagel , já haviadeclarado que a Teologia da Missão Integral
é a versão evangélica da Teologia da Libertação. Por que então tentar disfarçar
e maquiar o que é óbvio?
Valdir Steuernagel: Em 1972, eu passei
um mês aos pés de pessoas como René Padilla e Samuel Escobar. Aquele mês
tornou-se inesquecível para mim por ter sido altamente formador na minha vida.
Julio Severo: Em 1969, René Padilla e Samuel
Escobar foram confrontados por Peter Wagner, que corretamente identificou a
proposta deles — a TMI — como esquerdista. O que aconteceria se Steuernagel
tivesse passado um mês aos pés de Jesus Cristo, em vez de aos pés de meros
mortais como Padilla e Escobar? Tenho certeza de que teria sido uma experiência
inesquecível e “altamente formadora da vida” dele. Somos moldados quando
escolhemos ficar aos pés de alguém ou de uma ideologia. Pena que a escolha de
Steuernagel não foi Jesus e a integralidade original do Evangelho com curas e
libertações.
Valdir Steuernagel: O foco [da TMI] de
fato era o evangelho do reino de Deus e sua vivência na realidade circundante.
Julio Severo: Se você é honesto, não dá para
dizer que o foco da TMI é o Evangelho do Reino. O próprio Jesus mostrou o foco
desse Evangelho:“Havendo Jesus convocado os Doze, concedeu-lhes poder e
completa autoridade para expulsar todos os demônios, assim como para realizarem
curas. Igualmente os enviou para proclamar o Reino de Deus e curar os doentes.”
(Lucas 9:1-2 KJA) Jesus mostrou e demonstrou o que é o verdadeiro
Evangelho integral, não mutilado: pregar o Evangelho de Reino de Deus com
demonstração de curas e expulsão de demônios. Qualquer proclamação do Evangelho
sem o acompanhamento necessário da demonstração — conforme Jesus Cristo, não
teólogos que usam e abusam de Seu nome — é parcial. O foco é a misericórdia
divina, não a “misericórdia” ideológica.
Valdir Steuernagel: A caminhada
evangélica em torno do conceito da MI percebeu que emergia fortemente no
continente aquilo que se chamou de Teologia da Libertação. Essa teologia ajudou
a desvendar a realidade deste continente, perguntou pelo lugar da igreja nele e
se propôs fazer uma releitura do evangelho desde a perspectiva daquele que
havia sido historicamente excluído nas andanças continentais. Para analisar
essa realidade, muitos teólogos da libertação fizeram uso do instrumental
marxista, enquanto outros fizeram uso também da proposta revolucionária
articulada a partir do marxismo. Os detentores da teologia da MI discerniram a
importância de entrar em diálogo crítico com a Teologia da Libertação, sem
deixar de afirmar os princípios básicos de uma fé evangélica.
Julio Severo: O comentário de Steuernagel faz
parecer que foi somente com o surgimento da Teologia da Libertação, na década
de 1960, que a Igreja Cristã aprendeu a lidar com os pobres. Isso pode ser
verdade com relação à igreja dele, a IECLB, e outras igrejas tradicionais. Mas
ao verem a Igreja de Cristo apenas como representada por tais igrejas
históricas, Steuernagel e outros excluem os pentecostais, que
décadas antes da Teologia da Libertação e sua versão evangélica, a TMI, já
estavam diretamente envolvidos com os pobres, praticando o único Evangelho que
Jesus ensinou: proclamando o Evangelho do Reino de Deus e curando
enfermos e expulsando demônios. Antes do vento da doutrina estranha da
TMI soprar nas igrejas históricas na década de 1960, igrejas pentecostais já
estavam sendo plantadas no meio dos pobres uns 50 anos antes, muitas vezes
pastoreadas por pastores vindo do meio da pobreza. Eles eram excluídos pelas
igrejas protestantes históricas e pregavam um Evangelho com curas e libertação
que igualmente sofria exclusão das igrejas protestantes históricas. Agora,
Steuernagel e outros teólogos querem que esse Evangelho verdadeiro seja
suplantado por um “evangelho” que meramente imita as ideias de Karl Marx ou
substitua a demonstração por uma ação social político-ideológica nunca ensinada
nem praticada por Jesus? O pior de tudo é que Steuernagel nunca reconhece que a
TMI tem um fundo marxista e teve um nascimento esquerdista. Por que disfarçar
tanto? Por que mascarar tanto? “Deus é luz; nele não existe a mínima
sombra de treva. Se afirmarmos que temos comunhão com Ele, mas caminharmos nas
trevas, somos mentirosos e não praticamos a verdade. (1 João 1:5-6 KJA)
Valdir Steuernagel: Também se pode
afirmar que a voz latino-americana foi chave para que uma compreensão de missão
que fosse integral viesse a marcar presença no Pacto de Lausanne… E, em tempos
recentes, a MI ganhou muito mais presença no próprio Movimento de Lausanne, ao
ponto de ser abraçada como “integral mission” pelo Compromisso da Cidade do
Cabo, de cuja redação eu mesmo tive a oportunidade de participar. Outros
esforços globais como o “Micah Challenge” (Desafio Miquéias) e a “Micah
Network” (Rede Miquéias) expressam muito bem que há uma caminhada global na
vertente desta compreensão e missão.
Julio Severo: O fato de que frequentemente os
adeptos da TMI usam e abusam do Pacto de Lausanne para respaldar sua teologia
ideológica não é coincidência. Em seu debate recente no programa “Academia em Debate” da TV Mackenzie, Jonas Madureira, apesar de ser doutor
em filosofia e um especialista acadêmico, demonstra desconhecer uma ligação
entre TMI e Lausanne. É também uma demonstração de incompetência acadêmica,
pois Valdir Steuernagel removeu todas as sombras e dúvidas, deixando claro que
1) a TMI marcou presença no Pacto de Lausanne, 2) a TMI
está ganhando muito mais presença no movimento Lausanne, e 3) o
próprio Steuernagel diz que ajudou a redigir o último Pacto de Lausanne,
dando-lhe, é claro, mais conteúdo de TMI. Lausanne tornou-se, em
essência, um movimento sequestrado por uma ideologia. Quanto ao Micah Challenge,
entidade internacional que Steuernagel diz estar envolvida em esforços globais
da TMI, a única parceira brasileira dessa entidade é a ANAJURE, que faz parte
também da Aliança Evangélica Mundial, na qual Steuernagel ocupa papel de
destaque. Se Madureira, que é um dos professores de teologia do Mackenzie, tem
dificuldade de ver TMI em Lausanne, dá para estranhar que a ANAJURE, repleta de
professores do Mackenzie, não consiga ver nenhuma TMI e ecumenismo no Micah ou
na Aliança Evangélica Mundial? O apresentador do programa “Academia em Debate” da TV
Mackenzie foi o Rev. Augustus Nicodemus, que é presidente do Conselho Consultivo Referencial da ANAJURE, uma
responsabilidade que lhe impõe dar bons conselhos para a entidade. Mas, embora
tenha tentado mostrar oposição acadêmica a TMI no programa, não se sabe o papel
e conselhos de Nicodemus no momento em que a ANAJURE estava se tornando
parceira do Micah Challenge, que está na órbita da TMI, conforme Steuernagel,
que também é da TMI. Quem sabe não foram outros conselhos? Um membro simultâneo
da ANAJURE e Mackenzie é também pregador da TMI e Teologia da Libertação:
Ricardo Bitun. Onde há elementos da TMI, a contaminação é certa.
Valdir Steuernagel: A MI, de fato, nem é
tão integral assim. Aliás, nada do que fazemos é “tão integral assim” e todos
só sabemos e só falamos em parte, como o próprio apóstolo Paulo nos ensina.
Julio Severo: O comentário de Steuernagel de que
a TMI é como “todos só sabemos e só falamos em parte, como o próprio apóstolo
Paulo nos ensina” traz um ponto fascinante, com base em 1 Coríntios 13. Alguns
protestantes tradicionais — que são os maiores proclamadores da TMI — não
conseguem evitar usar e abusar de 1 Coríntios 13 para proclamar que os dons
sobrenaturais do Espírito Santo, inclusive profecias, cessaram. Daí, eles
sempre tiveram, para os pobres pentecostais (pobres literalmente, especialmente
no início do século XX, quando o vento estranho da TMI estava muito longe de
soprar no Brasil), a resposta “teologicamente correta” para combater o
pentecostalismo durante décadas. Mas não usam e abusam de 1 Coríntios 13 para
dar o mesmo tratamento para a TMI. Usam e abusam da Bíblia para secar e proibir
o que Deus deu. E ao mesmo tempo usam e abusam da Bíblia para proclamar uma
ideologia que nunca fez parte do Evangelho do Reino de Deus ensinado por Jesus
Cristo.
Valdir Steuernagel: Ainda que “formado
na escola da MI”, eu tenho procurado avaliá-la criticamente e percebido áreas
nas quais ela precisa refletir. Entre estas, eu ressaltaria: a busca por
expressões de uma espiritualidade que leve mais em conta o coração e não só a
mente.
Julio Severo: O problema que vejo é que os
adeptos da TMI fazem tantas reflexões teológicas e os resultados geralmente são
ideológicos. Afinal, ideologia gera ideologia. A melhor expressão de
espiritualidade é buscar o coração do Pai. Isso Jesus fazia. Isso Ele ensinou
aos seus apóstolos, que viviam a seus pés. Resultado: Eles pregavam o
Evangelho e curavam os doentes e expulsavam demônios. Não era trabalho e
demonstração da mente terrena, da teologia terrena e seca. Era demonstração do
coração do Pai para os pobres.
Valdir Steuernagel: Ainda que “formado
na escola da MI”, eu tenho procurado avaliá-la criticamente e percebido áreas
nas quais ela precisa refletir. Entre estas, eu ressaltaria: …que deixe de ser
um fenômeno fortemente de classe média, como o são muitas de nossas igrejas
históricas, e encontre o caminho da popularização e da carismatização.
Julio Severo: Querendo ou não, Steuernagel fez
um reconhecimento importante: a TMI é um “fenômeno” de classe média e de
igrejas históricas (presbiteriana, luterana, metodista e outras igrejas
fortemente afetadas pelo liberalismo teológico e compostas pela classe média e
alta). O elitismo da TM (forte presença da classe média e forte ausência dos
pobres) já foi notado pelo Dr. Fábio Blanco em seu artigo “Elitismo na Teologia da Missão Integral.” Esse problema foi também observado
pelo filósofo Luiz Felipe Pondé, que disse: “A igreja católica de
esquerda fez a opção pelos pobres, mas os pobres fizeram a opção pelo
neopentecostalismo.” Mesmo assim, Steuernagel tem esperança de que a
TMI se popularize, isto é, se torne amplamente aceita pelos pobres. O que
acontece quando uma teologia socialista se torna “popular”? Sob possessão do
demônio da Teologia da Libertação, a CNBB e seus bispos esquerdistas ajudaram a
fundar o PT. A TMI não vai fazer melhor do que sua irmã ideológica, cujos
filhotes vivem abraçados aos primos. Quanto a uma carismatização da TMI, se por
carisma Steuernagel entende os dons sobrenaturais do Espírito Santo (fenômenos
de Deus que a Igreja Evangélica de Confissão Luterana não tem em sua história e
prática pastoral, especialmente nesta alta temporada de Teologia da
Libertação), por que se preocupar em dar autoridade espiritual a uma ideologia
disfarçada de teologia? Deus deu os dons sobrenaturais para proclamarmos com
eficácia o Evangelho do Reino de Deus. Ele não nos deu esses dons para
espalharmos melhor uma ideologia que mediocremente imita o Evangelho.
No final do artigo da Ultimato,
há uma descrição de quem é Valdir Steuernagel: “teólogo sênior da Visão
Mundial Internacional. Pastor luterano, é um dos coordenadores da Aliança
Cristã Evangélica Brasileira e um dos diretores da Aliança Evangélica Mundial e
do Movimento de Lausanne.”
Aliança Evangélica Mundial: Entidade que tem buscado, junto com o
Conselho Mundial de Igrejas, um maior entrosamento do ecumenismo. Essa ponte
está bem facilitada com a presença de Steuernagel, que pode dialogar com seu
colega denominacional, Walter Altmann, no Conselho Mundial de Igrejas. Afinal,
embora de organizações internacionais diferentes, ambos são ecumênicos e da
IECLB. A Aliança Evangélica Mundial tem tido abertura para promotores da Teologia da Libertação
Palestina.
Movimento de Lausanne: Ao contrário do que acreditam acadêmicos
mal-informados ou mal-preparados, Lausanne desde o início estava sob a
influência da TMI, conforme comprovam as declarações e a própria presença de
Steuernagel nesse movimento.
Steuernagel é pastor da IECLB, uma denominação
protestante histórica ativamente envolvida na Teologia da Libertação, Teologia
da Missão Integral e ecumenismo. Sua presença como líder na Visão
Mundial Internacional, Aliança Cristã Evangélica Brasileira, Aliança Evangélica
Mundial eMovimento de Lausanne só comprova que a TMI está
alastrando sua influência na cúpula evangélica nacional e internacional,
trazendo como consequência inevitável o fortalecimento do liberalismo teológico
e uma tentativa herética de substituir a demonstração do Evangelho do Reino de
Deus por uma ação social de base cinicamente socialista.
A proclamação do Evangelho do Reino de
Deus envolve, sempre, cura de enfermos e expulsão de demônios, só para começar.
Os apóstolos de Jesus, que nos deram o exemplo de verdadeira missão cristã
completa e integral, viviam ocupados proclamando e demonstrando o Evangelho do
Reino de Deus.
Mas Steuernagel e outros burocratas da
Cristandade (não do Evangelho, pois o Evangelho não tem burocratas, mas apenas
proclamadores e demonstradores do poder salvador de Deus) vivem ocupados em
conferências, consultas e outros eventos teológicos. Gastam fortunas viajando
pelo mundo para falar sobre suas ideologias. E depois, para justificar tantas
despesas, cobrem a massa do bolo ideológico com o recheio do nome “Evangelho.”
Jogam alguns versículos aqui e ali e, diante de uma plateia cega, nem precisam
justificar sua total incapacidade de proclamar e demonstrar o Evangelho do Reino
de Deus curando os enfermos e expulsando demônios. Vivem tão ocupados com suas
infindáveis consultas teológicas que, quando se aproximam dos pobres, é apenas
para depois usá-los para justificar mais consultas teológicas, mais despesas de
viagens áreas, mais despesas de hotéis, etc.
O verdadeiro Excluído na TMI é Jesus,
que tem um Evangelho que, desde dois mil anos atrás, sempre atendeu
perfeitamente os pobres. E enquanto a TMI estava nascendo como uma forma das
igrejas tradicionais usarem o marxismo disfarçado para alcançar os pobres, a
verdadeira Igreja de Jesus Cristo já estava, décadas antes, no meio dos pobres,
curando seus enfermos e expulsando seus demônios. As igrejas pentecostais nunca
precisaram de TMI, Teologia da Libertação ou participar de caras consultas
teológicas para aprenderem a alcançar os pobres. Tudo o que eles faziam era
atender ao chamado do Espírito Santo e arregaçar as mangas.
Se Steuernagel chama os pobres de
excluídos, quem fazia essa exclusão era a IECLB e outras igrejas. Aliás, essas
igrejas também excluíam os pentecostais, quando os pentecostais ainda não
tinham deixado o primeiro amor. Um século atrás, as igrejas pentecostais eram
repletas de curas e expulsão de demônios com sua proclamação do Evangelho do
Reino de Deus. Hoje, estão perdendo essa autoridade. Em compensação, então
aprendendo com Steuernagel e outros como proclamar a TMI.
Talvez a TMI e outras ideologias e
heresias que virão sejam apenas para tapar o buraco de uma geração cristã que
perdeu a capacidade de proclamar o Evangelho do Reino de Deus com suas devidas
demonstrações. Quando a proclamação do Evangelho do Reino de Deus perde essa
integralidade, é natural, pela Lei da Entropia, que espaços se abram para
outras teologias e ideologias decadentes.
O crescimento da TMI é apenas sinal e
sintoma de uma igreja que está perdendo rapidamente sua autoridade de proclamar
e demonstrar o Evangelho do Reino de Deus.
Já que Steuernagel publicou seu artigo
de defesa da TMI na Ultimato, que tipo de demonstração (lado
prático) um adepto da TMI tem?
Em 2013, quando todas as esquerdas do Brasil queriam o Dep. Marco
Feliciano fora da presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos
Deputados, foi lançado um manifesto, com o
apoio da Ultimato, para requerer também a cabeça de Feliciano. O manifesto veio assinado por grandes expoentes da TMI, inclusive Ariovaldo Ramos, Ricardo
Bitun e Antonio Carlos Costa. Outros assinantes incluíam o próprio Steuernagel
e um colega denominacional, André Sidnei Musskopf, que é professor de teologia
da EST. Musskopf, além de defensor da TMI, é também ativista homossexual.
A Comissão de Direitos Humanos sempre
foi presidida por esquerdistas, especialmente petistas, que querem impor a
agenda gay no Brasil. Nunca a revistaUltimato fez uma carta pública
contra o PT na presidência dessa comissão. Nunca Steuernagel fez um protesto
contra o PT nessa comissão.
Isso é o que a “Missão Integral” da
ideologia socialista consegue produzir: aberrações e oposição ao
conservadorismo.
Por que, em vez de envolvimento com a
ideologia socialista, Steuernagel e seus camaradas de TMI não aprendem a única
“Missão Integral” que Deus aceita na proclamação do Evangelho do Reino de Deus:
curas e expulsão de demônios? Claro, havia também a responsabilidade do
discipulado e de cuidar das viúvas, sob critérios apostólicos muito rigorosos e
sem nenhuma contaminação ideológica e envolvimento governamental.
Os pobres nunca rejeitaram essa
integralidade do Evangelho. Muitos foram, aliás, curados e libertos. Pode-se
querer mais do que o próprio Deus pode lhes dar?
O que Steuernagel tem no lugar desse
Evangelho puro são palavras persuasivas de conhecimento humano, em defesa de
uma ideologia humana disfarçada de Evangelho.
O Apóstolo Paulo tinha discernimento
espiritual (que nada tem a ver com conhecimento acadêmico e teológico) para
discernir entre as duas coisas. Ele disse:
“Minha mensagem e minha proclamação não
se formaram de palavras persuasivas de conhecimento, mas constituíram-se em
demonstração do poder do Espírito.” (1 Coríntios 2:4 KJA)
Os que gostam de palavras persuasivas de
conhecimento humano (a classe média, ou as igrejas históricas, como diz o
próprio Steuernagel), ficam com a TMI.
Os que preferem a verdade de Deus com
demonstração do poder do Espírito (geralmente os pobres, excluídos, doentes e
necessitados), ficam com o Evangelho do Reino de Deus.
Por isso, Jesus disse que felizes são os
pobres, pois deles é o Reino de Deus.
E sobre a classe média e as igrejas
históricas que abraçaram a TMI e a Teologia da Libertação? “Infelizes são, pois
deles é o outro reino…”
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