DE AZTLÁN A MÉXICO
Próximo do Zócalo, a principal Praça da Constituição da Cidade do México, e junto à Catedral Metropolitana estão as ruínas da cidade azteca de Tenochtitlán, as quais ainda hoje deslumbram o visitante pela sua grandiosidade ficando pairando no ar um halo mistério e segredo.
Aqui é o berço da actual capital do México. Por que Tenochtitlán foi construída numa ilha praticamente inexpugnável e com fama, nos seus tempos áureos, de ser a “Cidade dos Deuses” emergida das funduras da Terra com o Lago Texcoco à sua volta? Que deuses e que homens divinos eram esses cuja memória perdura até hoje e cujo mistério teima em permanecer inviolável? Afinal, que há de verdade em tudo isso?…
Tenochtitlán foi fundada em 1325 por um ramo azteca provindo do norte do continente, possivelmente da área actualmente correspondente ao Arizona, os chamados mexicas dirigidos pelo seu deus-guia Tenoch ou Huitzilopochtli que os instalou nessa ilha do lago salgado de Tezcoco, no que agora compreende o Planalto Central Mexicano. A ilha estava ligada à terra firme por quatro vias dispostas nas quatro direcções cardeais (norte, sul, este e oeste, ou sejam, Tepeuca, Xoloc,Tenochtitlán e Tacuba) que eram atravessadas por canais e decoradas por jardins flutuantes. A povoação possuía estradas estreitas e sinuosas, interceptadas por canais labirínticos, palácios e templos, e a disposição dos bairros residenciais reflectia a estratificação social, onde a classe mais elevada residia próxima do templo central em palácios sumptuosos, templo esse que era o centro da urbe chamado Teocalli onde se cultuava o deus agrário Xipe-Totec que muito não escusam ser um dos nomes e atributos do Deus Supremo do panteão azteca, Kulkulcan ou Vorakan. Sobre esse templo supremo construiu-se depois a catedral metropolitana que ainda hoje triangula com as duas pirâmides do Sol e da Lua mais adiante no que resta da primitiva Tenochtitlán, correspondendo o pirâmide do Sol ao templo dos homens e a da Lua à das mulheres, unidos numa espécie de androginia mística no templo central, frequentado por ambos os sexos.
Em 1519, quando os conquistadores espanhóis chegaram à Mesoamérica, Tenochtitlán possuía cerca de 300.000 habitantes, sendo a cidade foi conquistada por Hernán Cortés em 1521, depois um um cerco prolongado onde os requintes crueldade dos sitiantes foi imitado pelos sitiados. De Tenochtitlán sobrou pouco mais do que hoje se vê, e já nesses tempos registava-se a decadência moral e dos costumes de uma civilização que primou na influência intelectual estendida a toda a América Central. É desses tempos de decadência civilizacional que vêm os sacrifícios humanos e a própria antropofagia, coisa desconhecida na sua época áurea.
O nome Tenochtitlán provém do nahuatl e significa lugar do fruto do cacto, a própria ilha onde Tenoch fixou esse ramo azteca, mas também significa Tenoch de Aztlán.
Ora, os aztecas consideravam-se o povo de Aztlán, o primitivo paraíso perdido que um dia foi engolido pelas águas do oceano desaparecendo para sempre nas funduras do Atlântico, motivo diluviano cuja universalidade remete para o mito da primitiva Atlântida. O que humanamente sobrou de Aztlán uma parte foi recolhida nas profundezas subterrâneas da Terra pelo seu guia-deus Aatzin Ahal, e outra trasladou-se para o sul do continente em vagas sucessivas ao longo de milhares de anos, a última dos mexicas já no século XIV conduzida por Tenoch para aqui. Este, dizem as tradições aztecas, fundou Tenochtitlán como reprodução fiel do que fora Aztlán, a “cidade dos telhados de ouro e das ruas de prata” que os conquistadores espanhóis procuraram ambiciosamente como o Eldorado que nunca encontraram, apesar dos seus esforços e maltratos sobre os povos autóctones sul-americanos tentando arrancar-lhes as informações para chegarem ao cobiçado metal.
Eles confundiram Tenochtitlán com Aztlán, a cidade inviolável dos deuses sedotes das tradições aztecas, maias, toltecas e olmecas, todas unânimes em situá-la no seio da Terra onde se chega por sete cavernas ou embocaduras principais esparsas pelo mundo, uma delas aqui mesmo na capital distrital do México, apontado como escondida sob as galerias subterrâneas Tenochtitlán e sobretudo da Catedral Metropolitana. Mitos ou lendas, o facto é que tudo isso reveste ainda mais de mistério este lugar já de si completamente insólito, que os hindus e tibetanos de bom grado decerto chamariam Lugar Shamano ou Lugar Jina, isto é, Mágico.
Seja como for, após a conquista do México e ante o escasso ouro e prata conseguidos desdizendo os relatos acerca dos “rios de ouro e prata e fortunas incomensuráveis que os aztecas possuíam”, a história de Aztlán ganhou importância entre os espanhóis desiludidos, sobretudo pelo relato recolhido junto dos autóctones por Diego Durán em 1581, dizendo tratar-se de um Paraíso Terreal igual ao Jardim do Éden livre de doenças e da morte e existir algures no Norte longínquo. Essas histórias impulsionaram as expedições espanholas à actual Califórnia, sendo escusado dizer que nunca encontraram tal Terra Edénica apodada por alguns de Eldorado.
Segundo a Crónica Mexicáyotl, o nome Aztlán ou Aztatlán significa Lugar de Alvura ou Pureza, e segundo as lendas nahuatls eram um verdadeiro Paraíso Terreal que um dia desapareceu da face para o interior da Terra na região de Chicomoztoc, significando precisamente “lugar das sete cavernas”. Cada caverna representava um diferente grupo nahua: xochimilca, tlahuica, acolhua, tlaxcalteca, tepaneca, chalca e mexica. Essas tribos acabaram por abandonar Aztlán e espalharam-se por toda a Mesoamérica com uma origem linguística comum, motivo de também serem chamadas nahuatlacaou “povos nahuas”, sendo o último ramo dos mexicas a origem antropológica dos actuais mexicanos.
A lenda principal da fundação primitiva de Tenochtitlán, cujos elementos inclusive figuram hoje nas Armas Nacionais do México, conta que Tenoch ao chegar aqui viu uma enorme e majestosa águia de asas abertas apanhando sol pousada num cacto e tendo nas garras uma enorme serpente. Isso foi considerado bom augúrio e logo ali, naquele chão pantanoso, começou-se a lançar as fundações da grande cidade depois dos sacerdotes terem erguido um altar junto ao cacto e conjurado o deus das águas,Tlaloc, para lhes permitir fundar a urbe sem perigo de inundação. As prerrogativas divinas de Tlaloc são hoje as mesmas da Virgem Maria, padroeira da Cidade do México, e desse altar de pedra nasceria o Teocalli e deste urgiria a Catedral Metropolitana.
A águia sobre a flor e fruto do cacto chamada tuna, representa o Sol da Abundância, esta que é garantida pela própria serpente símbolo das forças geradoras e nutrientes da Mãe-Terra. Esta ficaria assinalada na cor vermelha da Bandeira do México e a águia na cor verde, indicativa da força celeste, enquanto o branco central, cor feminina e sintética das cores do prisma, é a indicativa da Paz e Pureza que um dia distinguiu a civilização azteca e ainda hoje é a mensagem maior da cidade e país do México.
CABALA NA CATEDRAL METROPOLITANA
A Catedral Metropolitana da Cidade do México é sem dúvida uma das mais singulares da América do Sul. Consagrada à Assunção da Virgem Maria, é a sede da Arquiodiocese do México e foi construída em 1571 sobre a primitiva, entretanto derrubada, que o conquistador espanhol Hernán Cortés mandara construir após a conquista da cidade aos aztecas em 1521.
Ainda restam vestígios da presença azteca neste lugar sagrado que antes de ser igreja católica era o templo de Xipe-Totec, o deus agrário e da caça que desde o Oriente presidia às estação anuais dando força e saúde aos crentes. Era a divindade azteca do Levante, motivo que os conquistadores aproveitaram para orientarem o seu primeiro templo de Poente para Oriente com a sua porta principal chamada do Perdão, que leva ao Altar do Perdão, todo folheado a ouro, cujo retábulo é obra de Jerónimo de Balbás (1735). Foi assim que os atributos e licenças de perdão e saúde (física e moral) do deus Xipe passaram a ser os mesmos de Cristo.
Também se observa que as pedras com que foram feitas as colunas exteriores da catedral metropolitana haviam sido originalmente pedestais de ídolos aztecas, conservando na sua parte inferior os primitivos relevos de serpentes e colibris que não foram apagados por os seus lados terem ficado ocultos debaixo de terra. Em 1881, quando se escavou defronte à actual catedral para fazer os jardins que adornam o pátio oriental do templo, encontraram-se várias bases de colunas lavradas em pedra ordenadas em linha recta, demonstrando a orientação do templo primitivo que ali houvera. Por detrás das bases e fragmentos dessas colunas desenterradas foi colocada uma placa com a legenda: “Pedras do Teocalli sangrento de Huitzilopoxtli utilizadas depois no primeiro templo que os espanhóis erigiram neste sítio à fé cristã – 1881”. A placa já não se encontra nesse lugar, porém os fragmentos de colunas e as suas bases do templo primitivo ainda podem ver-se no ângulo esquerdo do átrio da catedral. Outras tantas pedras lavradas foram levadas para o Museu do Templo Maior onde também podem ser admiradas.
Ainda sobre a Catedral Metropolitana da cidade do México, fontes esotéricas informam que na sua feitura estiveram presentes mestres d´obras, verdadeiros maçons operativos que sob o aspecto cristão deixaram nela os sinais da Tradição Primordial não deixando de respeitar os símbolos do culto azteca com isso demonstrando maior respeito e tolerância religiosa do que acaso Hernán Cortés terá demonstrado ao imperador Moctezuma da primitiva Tenochtitlán, actual cidade do México. Essa plêiade secreta de verdadeiros Iniciados, segundo as fontes esotéricas, constituiu-se em Ordem dos Aztecas Cabalistas e à mesma pertenceram os arquitectos Claudio de Arciniega (que traçou o projecto original) e Juan Miguel de Agüero, além de Juan Gómez de Mora, José Damián Ortiz de Castro (projectista da fachada barroca), Isidro Vicente de Balbás e Manuel Tolsá (encarregado de finalizar as obras da catedral em 1793, só concluídas em 1813), de entre uns poucos mais.
Dever-se-á a essa Ordem Iniciática Secreta dos Aztecas Cabalistas a “caixa do tempo” descoberta em 2007 dentro do remate em forma esférica da torre oriental da igreja, quando se concluiu a dita estrutura. Na cantaria do remate inscreveu-se a data 14 de Maio de 1791 e o nome Tibursio Cana. Dentro da caixa de chumbo havia medalhas religiosas, moedas da época, um relicário, uma cruz de palma e diversas imagens de santos. Mas a curiosidade mais significativa dentro da catedral é estar no seu centro, pendendo da cúpula, um grande pêndulo medindo num gráfico fixado no chão qual é a inclinação da cúpula, já que a pesadíssima estrutura afunda lentamente no terreno lodoso do leito do antigo Lago Texcoco sobre o qual a cidade foi construída. Mas esse pêndulo possui igualmente significado esotérico ou iniciático que perpassa largamente o sentido imediato de simples medição acauteladora da estrutura, como se verá de seguida.
Idêntico ou herdeiro do fio-de-prumo – elemento importante no simbolismo maçónico – o pêndulo representa evidentemente o eixo cósmico (áxis mundi) que marca a direcção da actividade celeste e aqui tem uma função religiosa. Mais que simples metáfora ou símbolo, é a prova material da existência de “um Ser que se move sem ser movido, Eterno, Essência Pura e Permanência Absoluta”, preenchendo todos os termos pelos quais a Filosofia tem definido Deus, como se observa em Aristóteles, Giordano Bruno ou Pascal, relação que vem a ser explicitamente afirmada.
Apontando para o subsolo, o pêndulo direcciona-se ao lago subterrâneo que os antigos aztecas tinham como um cenote, isto é, um hipógeo cavernoso por onde circulavam águas que levavam ao fabuloso reino subterrâneo dos deuses sedotes, iconografados como semi-serpentários por a serpente ser símbolo do telurismo terrestre, tal qual o era o primitivo deus Xipe-Totec deste lugar. Assim, o pêndulo assume a função absoluta de representativo do áxis-mundi que efectivamente todas as tradições religiosas e esotéricas em todos tempos sempre apontaram no Centro da Terra, espécie de Paraíso Terreal ou Aztlán.
As criptas sob o altar-mor da catedral não deixam de figurar o reino encantado subterrâneo da tradição religiosa azteca para onde vão as almas dos justos (igualmente apontados no Altar das Almas e dos Anjos, no andar acima das criptas), e é por isso que na cripta onde jaze o arcebispo Frei Juan de Zumárraga, por debaixo do seu cenotáfio, há uma escultura azteca representando uma caveira, símbolo de morte corporal quanto de renascimento espiritual. Uma outra escultura geométrica pré-hispânica foi incorporada na parte inferior do altar, com isso assinalando a incorporação dos elementos religiosos aztecas aos cristãos no trânsito de uma religião para outra mas sem abandonar os símbolos principais de ambas. A entrada nas criptas é uma adição moderna realizada pelo arquitecto Ernesto Gómez Gallardo.
Finalmente e ainda a ver com o dito lago subterrâneo, a Assunção de Maria, prefigurada como a Água da Vida representada pela Lua regente dos ciclos ou estações naturais, como Orago desta catedral metropolitano assucia-se ao mito da Deusa-MãeCoatlicue azteca tembém ela destinada a ascender do Céu no Seio da Terra à Face da mesma, o que confere a ambas as Deusas prerrogativa de Advento na aprazada que, creem os fiéis, passará pela Porta do Perdão vindo perdoar os pecados de toda Humanidade.
Com tanto mistério, junta-se aquele secreto que subjaze a esta própria Catedral Metropolitana onde é dito à “boca pequena” ter a própria Taça do Santo Graal ter passado por ela entre os séculos XVII e finais de XVIII e que era louvada em segredo pela supradita Ordem dos Aztecas Cabalistas no seu altar-maior dourado entretanto desaparecido vítima de incêndio (e isto já é facto comprovado), dando a esta Casa de Fé o nome esotérico de o Templo Bipartido (entre a devoção dos naturais e a cristã) ou Aquele que tem Duas Faces (ou aspectos esotérico e exotérico, isto é, reservado e público), e ainda a designação de A Corte Ensombrada ou Envolvida em Água, significando que a dita Ordem mantém-se secreta e em segredo envolta pelas Águas do Akasha ou o Éter como quinto elemento natural, atribuindo as suas raízes genealógicas à própria Casa Real Azteca por sua vez dando-se como originária dos antigos maias e toltecas, descendentes de Ketzalcoatl (a “Serpente Irisiforme”, indicativa do planeta Vénus), que é o mesmo Kukulcan na tradição azteca. Enfim, mistérios e segredos que tornam ainda mais maravilhosa esta singular Catedral Metropolitana da Cidade do México.
FONTE:http://lusophia.wordpress.com/2014/05/01/os-deuses-da-cidade-do-mexico-por-vitor-manuel-adriao/
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