terça-feira, 17 de julho de 2012

A “RETRATAÇÃO” DE SPITZER SOBRE SEU ESTUDO DE MUDANÇA DE ORIENTAÇÃO SEXUAL: O QUE SIGNIFICA?


Dr. Christopher H. Rosik
(NARTH.com) — Tem chamado muita atenção ultimamente a recente “retratação” do médico Robert Spitzer sobre o seu importante estudo sobre a mudança de orientação sexual (Spitzer, 2003a). As aspas em “retratação” são propositais, pois o que aconteceu não deveria ser caracterizado como retratação. Embora essa reviravolta agora seja um dos assuntos favoritos dos que se opõem às terapias reparativas, a linguagem da retratação reflete um discurso politicamente motivado, e não uma análise científica. O objetivo do presente trabalho é ajudar as pessoas que se encontram desorientadas pelas ações de Spitzer e pelo frenesi da mídia em noticiá-las a entender o que realmente aconteceu. Esbocei abaixo alguns pontos chave que parecem ter sido perdidos na utilização partidária do ocorrido.

1. Spitzer não se retratou do seu estudo. O termo apropriado para o que Spitzer fez está no título da sua recente carta de desculpas: Ele reavaliou a própria interpretação (Spitzer, 2012). Ao que parece, ele originalmente queria se retratar do estudo de 2003, mas o editor do periódico em que o estudo foi publicado, Dr. Zenneth Zucker, negou o pedido. Zucker foi citado com relação à sua troca de mensagens com Spitzer da seguinte forma:
Você pode se retratar de dados analisados incorretamente; para fazer isso, você publica uma errata. Você pode se retratar de um artigo se os dados forem falsificados, ou a própria redação se retrata caso o editor tenha ciência do fato. Da forma como entendo, ele [Spitzer] só está dizendo, dez anos depois, que ele quer se retratar da sua interpretação dos dados. Bem, provavelmente teríamos que retratar centenas de trabalhos científicos com relação a interpretação, e isso nós não fazemos. (Dreger, 2012)
O que Zucker está dizendo, basicamente, é que não há nada no método científico do estudo que justifique uma retratação, então tudo o que resta é mudar sua interpretação das descobertas, que é o que Spitzer parece ter feito.
2. A mudança de interpretação de Spitzer se baseia na sua nova crença de que os relatos de mudança na sua pesquisa não eram confiáveis. Agora ele alega que os testemunhos de mudanças dos participantes eram “autoengano ou pura mentira” (Spitzer, 2012). Ao tomar essa posição, Spitzer se alinha aos críticos originais do estudo. Quando o estudo original foi publicado, análises foram encomendadas e publicadas na mesma época. Dentre os que questionaram a confiabilidade dos relatos pessoais das mudanças escavam muitos opositores conhecidos da terapia reparativa: A. Lee Beckstead, Helena Carlson, Kenneth Cohen, Ritch Savin-Williams, Gregory Herek, Bruce Rind e Roger Worthington.
3. A discussão com relação à credibilidade dos relatos de mudanças nos participantes continua até hoje. Lembre-se de que nada a respeito do método científico da pesquisa de Spitzer era falha. Assim como todos os esforços científicos, a metodologia tinha limitações, mas um argumento lógico para aceitar a validade desses relatos foi apresentado na época, e se mantem até hoje. Na época em que o estudo foi publicado, Spitzer (2003a) relatou, “...houve uma clara redução em todas as medições. Isso não foi apenas nas três medições de comportamento sexual visível e identidade sexual... mas também as sete variáveis que avaliam a orientação sexual propriamente dita” (p. 410). Além disso, 119 dos 200 participantes relataram alcançar um “bom funcionamento heterossexual”, definido em termos de aumento da satisfação em condutas sexuais com o sexo oposto e redução da fantasia com pessoas do mesmo sexo.
Entre os analistas que concordaram com a interpretação original de Spitzer, Wakefield (2003) observou que, “...presumir sem provas de que os relatos de mudanças devem ser fraudulentos foge à pergunta sobre se a mudança às vezes ocorre" (p. 457). O próprio Spitzer (2003b) respondeu às críticas observando:
Portanto, as críticas estão corretas ao declararem que uma quantidade considerável de respostas enviezadas poderia ter ocorrido, mas ela certamente não se mostrou presente. Eles também não levantaram nenhum ponto nos resultados do estudo que sugeriram respostas tendenciosas. Reconheço que um viés certamente poderia ter ocorrido, mas julgo difícil de acreditar que isso pode explicar todas as mudanças relatadas... Certamente, se houvesse um viés, poderia-se esperar que os voluntários (assim como seus cônjuges) ficariam motivados a fazer relatos especialmente apaixonados sobre o funcionamento conjugal. Não foi o que aconteceu. (p. 471)
É curioso que o pedido de desculpas de Spitzer (2012) pareça insinuar que ele anteriormente havia alegado que sua pesquisa provava a eficácia das terapias reparativas. Como foi entendido na época, o projeto do estudo de Spitzer garantiu que sua pesquisa não provasse em caráter definitivo a eficácia dessas terapias. Ele certamente não provou que todos os homossexuais podem mudar sua orientação sexual, nem que ela é simplesmente uma escolha. O fato de que algumas pessoas tenham inapropriadamente chegado a tais conclusões parece ser um fator determinante para a reavaliação de Spitzer. Mas ainda assim a questão interpretativa fundamental foi e é reduzida a uma questão de plausibilidade: Dadas as limitações do estudo, é plausível que alguns participantes da terapia raparativa tenham relatado mudanças verdadeiras?
Apesar de todo esse alarido recente da mídia, nada realmente mudou na escolha interpretativa que se faz com relação às limitações dos relatos pessoais nesse estudo. Ou todos os relatos sobre todos os graus de mudança de todos os participantes e seus companheiros são autoenganos e/ou falsificações deliberadas, ou eles sugerem que é possível que alguns indivíduos de fato passem por mudanças nas dimensões da orientação sexual. Muitas pessoas podem discordar sobre qual dessas conclusões interpretativas elas favorecem, mas certamente não é anticientífico ou irracional continuar a acreditar que o estudo apoia a plausibilidade das mudanças.
4. Existe um padrão duplo não declarado nos relatórios de reavaliação de Spitzer. A provável influência de fatores políticos e outros não científicos na forma como a reavaliação de Spitzer está sendo retratada pode ser percebida em quais relatos pessoais do estudo recebem projeções favoráveis e quais são isolados. Yarhouse (2003) observou essa falta de coerência na época do estudo:
Relatos de memória desse tipo podem não ser confiáveis. Mas, na verdade, boa parte do que sabemos sobre experiências LGB, incluindo teorias sobre a etiologia da orientação sexual e estudos sobre o desenvolvimento e a síntese da identidade sexual é baseada em estudos retroativos feitos por meio de relatos de memória. Sempre que os proponentes da hipótese biológica da etiologia do homossexualismo citam o estudo de Bell et al. (1981), estão se referindo a um estudo que utilizou lembranças retroativas. O estudo de Shidle e Schroeder (2002) também se baseou nelas, e está sujeito ao mesmo tipo de crítica. (p. 462)
Spitzer (2003b) fez observações similares ao defender suas descobertas, indicando que características de demanda teriam influenciado os relatos dos participantes em outras pesquisas relacionadas:
Esse estudo tinha basicamente o mesmo planejamento e uma estratégia de recrutamento de voluntários ex-gays parecidos com os estudos de Beckstead (2001) e Shidlo e Schroeder (2002). Isso levanta a questão de por que tão poucos voluntários deles deram respostas em consonância com uma mudança de orientação sexual, como deram a maioria dos voluntários do meu estudo. A possibilidade de um viés do pesquisador deve ser considerada. (p. 471)
Uma aceitação triunfal costuma se seguir a publicações de relatos que sugerem que existem danos associados a terapias reparativas, equivalências entre a paternidade homossexual e heterossexual ou outros focos que se adequam às narrações preferidas dos ativistas homossexuais. É lamentável, mas não surpreendente, que relatos de mudanças de orientação sexual sofrem um duro ceticismo enquanto que outros dados envolvendo relatos pessoais, como os de Shidlo e Schroeder (2002) parecem ser concretizados como fatos universais, mesmo sofrendo de limitações similares. Se o estudo de Spitzer for rejeitado por seu uso de relatos pessoais, não deveriam as pesquisas metodologicamente equivalentes contra as terapias reparativas receberem também uma recepção cética? Embora a imparcialidade científica demandasse isso, os interesses políticos claramente não.
5. Contextos pessoais e sociopolíticos podem fornecer um discernimento melhor sobre a reavaliação de Spitzer. Uma vez, anos atrás, conversei brevemente com o dr. Spitzer por telefone logo após a publicação de sua pesquisa. Ele pareceu ser um homem gentil e compassivo, que exemplificava o espírito da genuína curiosidade científica. Sem dúvida ele lamentava o fato de alguns terem utilizado seu trabalho para fazer alegações insustentáveis sobre a eficácia de terapias reparativas, e isso pode ter resultado em expectativas frustradas por alguns clientes gays e lésbicas. No entanto, certamente é possível que outras preocupações além do bem-estar humano estivessem em jogo no seu pedido de desculpas.
É difícil imaginar a queda do status profissional que Spitzer sofreu em virtude do estudo. Em um período muito curto de tempo, seu status dentro da profissão mudou de um pioneiro heroico dos direitos homossexuais para o de um porta-voz involuntário para os praticantes de terapias reparativas, considerados por muitos colegas como moralmente repreensíveis. Antes e depois da publicação do estudo, Spitzer confirmou que estava recebendo uma grande quantidade de mensagens de ódio direcionadas a ele (Spitzer, 2003b; Vonholdt, 2000). Uma década sendo duramente criticado por amigos, colegas e pela comunidade gay que já o reverenciou certamente afetaria qualquer um de nós.
Spitzer atualmente sofre de doença de Parkinson e está no fim da vida, o que torna compreensível que ele reflita sobre o tipo de legado que quer deixar. Herói ou vilão, ícone ou renegado: qual imagem uma pessoa iria querer deixar? Não posso dizer com certeza que essas considerações não científicas influenciaram a decisão de Spitzer de se “retratar” do estudo, mas posso dizer que é difícil para mim conceber como elas não influenciaram. Spitzer provavelmente conhece infinitamente mais gays e lésbicas do que indivíduos que relatam mudança na orientação sexual. Isso pode ter tornado difícil para ele ver que, ao tentar reparar o dano que gays e lésbicas da sua rede profissional alegaram ter sofrido em virtude do estudo, ele simultaneamente causou dano aos participantes do mesmo estudo que experimentaram mudanças e que agora estão sendo acusados de ingênuos ou mentirosos. Tudo isso serve para ressaltar quão pessoal e subjetiva a prática do discurso científico social pode ser quando o assunto está enredado em um grande debate sociopolítico.
Conclusão
Uma abordagem puramente científica às limitações da pesquisa de Spitzer seria conduzir um estudo de prognóstico mais rigoroso, algo que ele e outros vêm pregando o tempo todo (Spitzer, 2003a, 2003b; Jones, Rosik, Williams, & Byrd, 2010). Mesmo o Relatório da Força-Tarefa da Associação Americana de Psicologia sobre Respostas Terapêuticas Apropriadas à Orientação Sexual (APA Task Force’s Report on Appropriate Therapeutic Responses to Sexual Orientation, American Psychological Association, 2009) pediu para que esses estudos fossem assegurados. Infelizmente, a realidade parece ser que a AAP e outras instituições em posição de financiar e conduzir pesquisas de prognóstico em terapias reparativas, em conjunto com a NARTH e outras praticantes de terapias reparativas, parecem não ter interesse em fazê-lo. Eles não têm nada a ganhar com tais pesquisas, uma vez que resultados desfavoráveis às terapias reparativas não iriam mudar consideravelmente seu atual ceticismo, enquanto que resultados favoráveis a elas seriam para eles, do ponto de vista das relações públicas e da ordem pública, um desastre.
Duvido que Spitzer iria se retratar da sua avaliação que reconhece a necessidade de estudos posteriores (Spitzer, 2003b):
Dado o custo e a complexidade desse tipo de estudo, além da visão atual dos profissionais de saúde mental quanto aos benefícios e riscos da terapia afirmativa de gênero, tal estudo não acontecerá em um futuro próximo. Isso é lamentável devido às verdadeiras questões levantadas, embora declaradamente não revolvidas, por este estudo (p. 472). 472).
Portanto, em vez de mais e melhores estudos sobre terapias reparativas, vemos ativistas e seus apoiadores na mídia se baseando em uma mudança de interpretação para tentar evitar um legítimo debate científico. E às favas com a nuance, o contexto e a análise equilibrada. O que parece mais patente é a utilização da reavaliação de Spitzer para forçar a aceitação e o silêncio dos defensores de terapias reparativas. Será realmente absurdo suspeitar que a ciência está sendo feita refém das agendas políticas?
Espero sinceramente que essa breve análise ajude a esclarecer o que aconteceu e o que não aconteceu quando Spitzer se “retratou" do seu estudo anterior. Nenhuma nova descoberta científica foi feita para descreditar as terapias reaparativas. Nenhuma falha metodológica grave foi identificada. Os mesmos argumentos utilizados em favor ou contra o estudo ainda estão em voga. O debate legítimo sobre o significado do estudo ainda pode e deve ser feito. Nada mudou a não ser o fato de Spitzer ter revisto sua interpretação anterior em razão do que é provavelmente uma série de razões compreensíveis mas inerentemente não científicas. É direito dele de fazê-lo, mas não deixe ninguém lhe dizer que, ao fazê-lo, ele descreditou o próprio estudo ou interpretações alternativas mais favoráveis aos que relatam mudanças no seu comportamento e na sua atração com pessoas do mesmo sexo.
Referências
American Psychological Association (2009). Report of the APA task force on appropriate therapeutic responses to sexual orientation. Disponível em:http://www.apa.org/pi/lgbt/resources/therapeutic-response.pdf
Beckstead, A. L. (2001). Cures versus choice: Agendas in sexual reorientation therapy. Journal of Gay and Lesbian Psychotherapy, 5(3/4), 87-115.
Bell, A. P., Weinberg, M. S., & Hammersmith, S. K. (1981). Sexual preference: Its development in
men and women. Bloomington, IN: Indiana University Press.
Dreger, A. (2012, April 11). How to ex an “ex-gay” study. [Blog]. Disponível em: http://psychologytoday.com/blog/fetishes-i-dont-get/201204/how-ex-ex-gay-study
Jones, S. L., Rosik, C. H., Williams, R. N., & Byrd, A. D. (2010). A Scientific, Conceptual, and Ethical Critique of the Report of the APA Task Force on Sexual Orientation. The General Psychologist, 45(2), 7-18. Disponível em:http://www.apa.org/divisions/div1/news/fall2010/Fall%202010%20TGP.pdf
Shidlo, A., & Schroeder, M. (2002). Changing sexual orientation: A consumers’ report. Professional Psychology: Research and Practice, 33, 249-259.
Spitzer, R. L. (2003a). Can some gay men and lesbians change their sexual orientation? 200 participants reporting a change from homosexual to heterosexual orientation. Archives of Sexual Behavior, 32(5), 403-417.
Spitzer, R. L. (2003b). Reply: Study results should not be dismissed and justify further research on the efficacy of sexual reorientation therapy. Archives of Sexual Behavior, 32(5), 469-472.
Spitzer, R. L. (2012). Spitzer reassesses his 2003 study of reparative therapy of homosexuality [Carta ao editor]. Archives of Sexual Behavior. Advance online publication. doi: 10.1007/s10508-012-9966-y
Wakefield, J. C. (2003). Sexual reorientation therapy: Is it ever ethical? Can it ever change sexual orientation? Archives of Sexual Behavior, 32(5), p. 457-459.
Vonholdt, C. R. (2001). Interview with Robert L. Spitzer: Homosexuality and the reality of change. Bulletin of the German Institute for Youth and Society, 1, 33-36. Disponível em http://www.dijg.de/english/homosexuality-reality-of-change/
Yarhouse, M. A. (2003). How Spitzer’s study gives a voice to the disenfranchised within a minority group. Archives of Sexual Behavior, 32(5), 462-463.
Traduzido por Luis Gustavo Gentil do artigo do LifeSiteNews: “Spitzer’s ‘retraction’ of his sexual orientation change study: what does it really mean?

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