Paulo, na carne, tinha razões para se
envergonhar do Evangelho que pregava, porque contradizia tudo o que se cria ser
verdadeiro e sagrado entre os seus contemporâneos. Para os judeus, o Evangelho
era a pior blasfêmia porque reivindicava que o Nazareno que morreu amaldiçoado
no Calvário era o Messias. Para os gregos, era o pior absurdo porque
reivindicava que este Messias Judeu era Deus feito carne. Assim, Paulo sabia
que quando abrisse a boca para falar o Evangelho, seria completamente rejeitado
e ridicularizado, desprezado, a menos que o Espírito Santo interviesse e se
movesse nos corações e mentesdos seus
ouvintes. Nos nossos dias, o Evangelho primitivo não é menos ultrajante, pois
ainda contradiz os princípios, ou os “-ismos”, da cultura contemporânea: o
relativismo, o pluralismo e o humanismo.
NÃO É TUDO RELATIVO
Vivemos na era do Relativismo – um sistema
de crenças baseado na absoluta certeza de que não há absolutos. Hipocritamente
aplaudimos homens que buscam a verdade, mas executamos em praça pública
qualquer um que seja arrogante o suficiente para acreditar que a encontrou.
Vivemos numa era de trevas auto-impostas, e a razão disso acontecer é clara. O
homem natural é uma criatura decaída, é moralmente corrupto, obstinado na sua
autonomia (i.e.,no seu auto-governo). Odeia a Deus porque Ele é Justo, e odeia
as Suas leis porque censuram e restringem a sua maldade. Ele odeia a verdade
porque revela o que ele realmente é. Ele quase acaba com o que ainda permanece
na sua consciência. Portanto, o homem decaído busca empurrar a verdade –
especialmente a verdade sobre Deus – para o mais longe possível. Ele vai até
onde for preciso para suprimir a verdade, mesmo a ponto de fingir que tal coisa
não existe ou
que, se existe, não pode ser conhecida nem ter alguma coisa a ver com as nossas
vidas. Não é Deus que se esconde, é o homem. O problema não é o intelecto, é a
vontade. Como um homem que esconde a sua cabeça na areia para evitar o ataque
de um rinoceronte, o homem moderno nega a verdade de um Deus justo e os Seus
absolutos morais, na esperança de silenciar a sua consciência e de esquecer o
julgamento que ele sabe ser inevitável. O Evangelho cristão é um escândalo para
o homem e para a sua cultura, porque faz a única coisa que ele mais quer evitar
– desperta-o do seu auto-imposto “sono” para a realidade da sua situação
decaída, da sua rebelião; chama-o à rejeição da sua autonomia e à submissão a
Deus, através do arrependimento e fé em Jesus Cristo.
NÃO ESTÃO TODOS CORRETOS
Vivemos numa era de Pluralismo – um sistema
de crenças que põe fim à verdade, declaran do que tudo é verdade, especialmente
no que diz respeito à religião. Pode ser difícil para o cristão contemporâneo
entender, mas os cristãos que viveram nos primeiros séculos da fé foram
marcados e perseguidos como se fossem ateus. A cultura que os envolvia estava
imersa em teísmo. O mundo estava cheio de imagens de deuses, a religião era um
negócio crescente. Os homens não só toleravam os deuses uns dos outros, como
também os trocavam e partilhavam. O mundo religioso ia muito bem até chegarem
os cristãos e declararem que “deuses feitos com as mãos não são deuses.” Eles
negaram aos Césares as honras que eles exigiam, recusaram dobrar os joelhos aos
outros ditos “deuses”, e confessaram Jesus apenas como Senhor de tudo. O mundo
inteiro assistiu boquiaberto a tal arrogância e reagiu com fúria contra a
intolerável intolerância dos cristãos à tolerância.
Este mesmo cenário abunda no nosso mundo
hoje em dia. Contra toda a lógica, dizem-nos que todas as posições em relação à
religião e moralidade são verdadeiras, não importa quão radicalmente diferente
se contraditórias possam ser. O aspecto mais espantoso de tudo isto é que,
através dos incansáveis esforços da mídia e do mundo acadêmico, isto
rapidamente se tornou a opinião da maioria. Contudo, o pluralismo não lida com
o problema nem cura a maleita. Apenas anestesia o paciente para que já não
sinta nem pense mais. O Evangelho é um escândalo porque despertao homem do seu
sono e recusa-se a deixá-lo descansar numa base tão ilógica. Força-o a chegar a
alguma conclusão – “Até quando vão coxear entre dois pensamentos? Se o SENHOR é
Deus, sigam-no; mas se é Baal, sigam-no.”
O verdadeiro Evangelho é radicalmente
exclusivo. Jesus não é “um” caminho, mas “o” caminho.3 E todos os outros
caminhos não são o caminho. Se o cristianismo desse mais um pequeno passo que
fosse no sentido de um ecumenicalismo mais tolerante, e trocasse o artigo
definido “o” pelo artigo indefinido “um”, o escândalo desapareceria; o mundo e
o cristianismo podiam ser amigos. Contudo, quando isto acontecer, o
cristianismo deixou de ser cristianismo. Cristo é negado e o mundo fica sem
Salvador.
O HOMEM NÃO É A MEDIDA
Vivemos numa era de Humanismo. Nas
últimas décadas, o homem tem lutado para expurgar Deus da sua consciência e da
sua cultura. Derrubou todos os altares visíveis ao “Único Deus Vivo” e ergueu
monumentos para si mesmo, com o zelo de um religioso fanático.Fez de si próprio
o centro, a medida e o fim de todas as coisas. Louva o seu mérito inato, exige
honra à sua auto-estima e promove a sua auto-satisfação e auto-realização como
o maior bem. Justifica a sua consciência culpada com os resquícios de uma
antiquada religião de culpa. Procura livrar-se de qualquer responsabilidade
pelo caos moral que o envolve, culpando a sociedade, ou pelo menos a parte da
sociedade que ainda não atingiu o seu nível de entendimento. A mínima sugestão
de que a sua consciência pudesse estar certa no seu testemunho contra ele, ou
que ele pudesse ser responsável pelas quase infinitas doenças que há no mundo,
é impensável. Por este motivo, o Evangelho é um escândalo para o homem decaído,
pois expõe a sua ilusão acerca de si mesmo e convence-o da sua situação decaída
e da sua culpa. Esta é, essencialmente, a “primeira ação” do Evangelho; é por
isso que o mundo detesta tanto a pregação do verdadeiro Evangelho. Arruína a
sua festa – estraga prazeres – destrói a sua fantasia e expõe que “o rei vai
nu”.
As Escrituras reconhecem que o Evangelho
de Jesus Cristo é uma “pedra de tropeço”4 e “loucura” para os homens, em todas
as gerações e culturas. Contudo, tentar remover o escândalo da mensagem é
invalidar a cruz de Cristo e o seu poder salvador. Temos que entender que o
Evangelho não apenas é escandaloso, mas que é suposto que o seja!Através da
loucura do Evangelho, Deus destruiu a sabedoria dos sábios, frustrou a
inteligência das grandes mentes e abateu o orgulho de todos os homens, para que
no fim nenhuma carne se possa gloriar na Sua presença, mas como está escrito:
“Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor.”
O Evangelho de Paulo não só contradizia
a religião, a filosofia e a cultura dos seus dias, mas declarava-lhes guerra.
Recusava tréguas ou tratados com o mundo e satisfazia-se com nada menos do que
absoluta rendição da cultura ao senhorio de Jesus Cristo. Fazemos bem em seguir
o exemplo de Paulo. Temos que ser cuidadosos para evitar qualquer tentação de
conformarmos o nosso Evangelho às modas de hoje ou aos desejos de homens
carnais. Não temos o direito de deturpar, de suavizar a sua ofensa nem de
civilizar as suas exigências radicais, para o tornarmos mais atraente a um
mundo caído ou a carnais membros de igrejas. As nossas igrejas estão cheias de
estratégias para serem mais “agradáveis”, pondo o Evangelho noutra embalagem,
removendo a pedra de tropeço e amaciando o gume da espada, para ser mais
aceitável aos homens carnais. Devemos ser sensível ao que busca, mas devemos
perceber que: há só Um que busca e este é Deus. Se nos esforçamos para fazer
nossas igrejas e mensagens confortáveis, façamos confortáveis para Ele. Se
queremos erguer uma igreja ou ministério, vamos fazê-lo com uma paixão por
glorificar a Deus e com um desejo de não ofender a Sua glória. Não importa o
que o mundo vai pensar de nós! Não buscamos honras na terra, mas a honra do céu
deve ser o nosso desejo.
Por Paul
Washer | HeartCry Magazine Nov-Dez 2008, nº59, “AscandalousGospel”, usado com
permissão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é importante! Através dele terei oportunidade de aprender mais! Muito obrigado!