Ao mesmo tempo em que a sociedade e os meios de
comunicação discutem a problemática do nepotismo na política brasileira,
líderes evangélicos promovem uma espécie de “nepotismo religioso”.
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Um caso
típico – trazido ao conhecimento público em dezembro de 2011, por um diácono da
Assembléia de Deus do Rio Grande do Norte – revela a gravidade e, ao mesmo
tempo, a extensão do problema em que a igreja evangélica se vê imersa. Segundo
Laurivan de Souza, o então pastor presidente da AD local, Raimundo João de
Santana, indicou para o cargo de segundo vice-presidente seu genro, pastor
Joacy Varela.
Eliseu Moreira e Edson Netto abdicaram dos cargos
Indicado para vice-presidência, o pastor Elizeu Moreira - até
então responsável pela tesouraria – indicou para ocupar o posto seu sobrinho, o
também pastor Edson Moreira Netto. Feita às vésperas da eleição da nova
diretoria, a denúncia feita pelo diácono de Natal tipifica a realidade de
grande parte das igrejas evangélicas brasileiras.
Embora com maior predominância no movimento
pentecostal – particularmente na AD e grupos minoritários - o nepotismo também
é uma ocorrência comum às igrejas neopentecostais. A diferença está no fato de
que, enquanto nas pentecostais há uma diretoria organizada e conhecida – mesmo
que composta por apadrinhamento -, nas igrejas neopentecostais o foco reside no
fundador ou líder mundial. Nenhuma das principais representantes do
neopentecostalismo no Brasil divulga abertamente seu quadro diretivo, por
razões mais ou menos parecidas. No entanto, sabe-se que Marcelo Crivella é
sobrinho de Edir Macedo e um dos mais cotados para assumir a presidência da
IURD. Na verdade, a própria origem do neopentecostalismo no Brasil está
associada ao trabalho de
pessoas ligadas à família Macedo. Fundada pelo genro de Edir Macedo - Romildo
Ribeiro Soares, o missionário R.R.Soares – a Igreja Internacional da Graça de
Deus (1980) surge como alternativa ao “mercantilismo” da Igreja Universal do
Reino de Deus.
Das igrejas evangélicas, no entanto, nenhuma
supera a Igreja Pentecostal Deus é Amor em nepotismo. Fundada em fins da
segunda onda pentecostal brasileira, a IPDA - identificada por alguns
pesquisadores como pentecostalismo autônomo, ao lado de igrejas como O Brasil
para Cristo e Casa da Benção – tem na família Miranda seu
sustentáculo. Mesmo após a saída, em 2005, de Léia Miranda e seu então marido,
Sérgio Sóra – à época um dos principais líderes da IPDA -, a família Miranda
ainda ocupa os principais cargos na direção mundial da Igreja Pentecostal Deus
é Amor.
Motivações
Se na política a presença do nepotismo é vista
como uma prática antiética, seria de alguma forma diferente em organizações
religiosas? Como explicar, por exemplo, que as duas principais vertentes da Assembléia
de Deus no Brasil possuem hoje, respectivamente, pais e filhos na presidência?
As motivações – nas igrejas evangélicas – seriam as mesmas do meio político? Há
evidências de que sim, por motivos diversos, como perpetuação no poder, por
exemplo. Logo, a presidência por tempo vitalício seria um dos pontos de apoio
ao coronelismo evangélico, perpetuado pelo nepotismo.
Johnny
Bernardo é pesquisador, jornalista, escritor, colaborador
da revista Apologética Cristã, do jornal norteamericano The Christian Post, do
NAPEC (Núcleo Apologético Cristão de Pesquisas), palestrante e fundador do INPR
Brasil (Instituto de Pesquisas Religiosas). Há mais de dez anos se dedica ao
estudo de religiões, seitas e heresias, sendo um dos campos de atuação a
religiosidade brasileira e seitas do mal.
É
também o autor da matéria “Igreja Dividida, as fragmentações do Catolicismo
Romano”, publicada no final de 2010 pela Revista Apologética Cristã (M.A.S
Editora). Assina também a coluna Giro da Fé da referida revista.
Contato
ceirbrasil@yahoo.com.br
pesquisasreligiosas@gmail.com
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