Neste episódio, o profeta chorão, como ficou conhecido Jeremias, vê dois cestos de figos. Ele observa que cada cesto apresenta qualidade diferente de figos. Numa havia figos muito bons, e na outra, figos muito ruins. Não havia meio-termo. Os figos ruins sequer podiam ser ingeridos, de tão ruins que eram. Ambos os cestos estavam diante do Templo, indicando que sua qualidade dependia de sua relação com o Eterno.
Quem estava sendo representado pelos dois cestos?
O cesto de figos bons representava aqueles que haviam sido levados em exílio para a Babilônia. Esses foram enviados de Judá para a terra dos caldeus. O próprio Deus assume a responsabilidade por tal acontecimento. Ele quem levantara Nabucodonosor como instrumento de Seu juízo sobre as nações. Nem mesmo Judá seria poupada. E por isso, os filhos de Judá deveriam se render, sem qualquer resistência. Não se trata de fatalismo, mas da vontade expressa de Deus para aquela situação.
Deus assume o compromisso de cuidar pessoalmente daqueles que fossem levados para a terra dos caldeus: “Porei os meus olhos sobre eles, para o seu bem, e os farei voltar a esta terra. Edificá-los-ei, e não os destruirei; plantá-los-ei, e não os arrancarei. Dar-lhes-ei coração para que me conheçam, porque eu sou o Senhor. Ser-me-ão por povo, e eu lhes serei por Deus, pois se converterão a mim de todo o seu coração”(Jer. 24:4-7).
Basta ler o livro de Daniel, pra conferir que Deus cumprira o que prometera. Os exilados foram recebidos como príncipes, como gente de valor, e não como escravos ou cativos. Deus os honrou em terra alheia.
É importante aqui uma breve explicação. Por que Deus permitiu que os filhos de Judá fossem levados de Jerusalém para a Babilônia? Quando Yahweh introduziu Seu povo na Terra prometida, foi feita uma aliança entre Deus, Seu povo e a terra. Eles poderiam plantar por seis anos consecutivos, mas no sétimo ano a terra deveria descansar. Por 490 anos, eles semearam, colheram, mas não observaram o anosabático em que a terra deveria descansar. Hoje, está comprovado cientificamente que se a terra não descansa, ela fica improdutiva, pois perde os sais minerais.
Chegou a hora da cobrança. Os judeus deviam 70 anos sabáticos à terra. Antes que a terra ficasse estéril, Deus transportou Seu povo para a terra dos caldeus, para que lá passassem 70 anos. Portanto, o exílio do povo significaria o descanso da terra.
Nem todos aceitaram o veredicto divino. Muitos questionaram e se revoltaram contra Deus e a Sua Palavra. E é nesse contexto que Deus levanta Jeremias.
Os que contestaram o veredicto de Deus foram comparados aos figos ruins, tão ruins que não se podia comer (Jer.24:2).
Assim como se lança fora aquilo que não se pode ingerir, “do mesmo modo”, diz o Senhor, “entregarei Zedequias, rei de Judá, os seus príncipes, e o resto de Jerusalém, quer fiquem nesta terra, quer habitem na terra do Egito. Farei que sejam espetáculo horrendo, ofensa para todos os reinos da terra, opróbrio e provérbio, escárnio, e maldição em todos os lugares para onde os lancei. Enviarei entre eles a espada, a fome, e a peste, até que sejam consumidos de sobre a terra que dei a eles e a seus pais” (Jer.24:8-10).
Zedequias, que fora constituído às pressas como rei de Judá, liderou a resistência. “Daqui não saio, daqui ninguém me tira”, dizia o rei postiço. Havia quem preferisse retornar ao Egito, a ter que se render ao Império Caldeu.
Enquanto os “figos bons” haviam sido “enviados” por Deus, os “figos ruins” seriam “lançados”. O contraste seria claramente visível.
Todo movimento tem um líder e um mentor. Nem sempre aquele que lidera é o mesmo que mentoriza. Geralmente, aquele que está no poder necessita ser legitimado aos olhos do povo. Todo anticristo precisa de um falso profeta. Esta é a dobradinha. O falso profeta é aquele que serve aos poderes constituídos em sua rebelião contra Deus. Em vez de denunciar, prefere bajular. Em vez de contestar, prefere corroborar.
Quem respaldava as decisões de Zedequias era um falso profeta chamado Hananias. Este dizia o que o rei queria ouvir. Provavelmente, vivia às custas do palácio real. Veja o que diz a Escritura:
Uma coisa ninguém pode negar: Hananias era um homem convincente, e que parecia acreditar naquilo que dizia. Senão, ele jamais se atreveria afirmar que o cativeiro babilônico duraria apenas dois anos (Jer.28:3-4). Em apenas dois anos tudo voltaria ao normal. Até os utensílios do Templo seriam devolvidos para que os judeus pudessem cultuar a Deus como antes.
Esta é a marca registrada dos falsos profetas: eles sempre dizem o que as pessoas almejam ouvir. Promessas e mais promessas. E tudo isso, a serviço de quem está no poder. Falsos profetas adoram fixar prazos, marcar datas. Eles sabem que as pessoas ficam impressionadas com isso.
E quanto a Jeremias, qual foi sua reação àquela profetada?
Qualquer um que se atreva anunciar uma data para a volta de Jesus não merece qualquer crédito. Pregadores anunciam de seus púlpitos: Somos a última geração! Aqueles que presenciarão o arrebatamento! Será que tais previsões merecem crédito? Serão eles do time de Jeremias, ou de Hananias?
Jeremias 1 x Hananias 0
Na mente de Hananias, era hora de virar o jogo. Sua reputação estava sendo questionada. Sua estratégia para reverter o placar foi, no mínimo, inusitada.
Desde que o Senhor revelara a Jeremias o exílio do Seu povo, Deus o orientou a colocar uma espécie de jugo em volta de seu pescoço. Era uma maneira de dramatizar aquilo que estava prestes a acontecer. Haninas, no afã de virar o jogo, arranca o canzil do pescoço de Jeremias, e sem pedir licença, o quebra à vista de todos. Da mesma maneira, Deus quebraria o jugo de Nabucodonosor. Aaaaaahhhhhh! Que coisa impressionante!
Aos olhos do povo, Hananias se tornou também o bem-feitor de Jeremias, pois tirou-lhe o jugo que lhe pesava o pescoço. Porém, por trás daquele gesto aparentemente solidário, estava a intenção de desmoralizar o porta-voz de Yahweh.
Sabe qual foi a reação imediata de Jeremias? Foi-se embora. Era hora de retirar seu time de campo. Não adiantava bater boca com aquele falso profeta. O povo estava do seu lado. Os que haviam sido convencidos por Jeremias já estavam longe a essa hora. Quem permanecia ali era porque dava maior crédito a Hananias. Era hora de intervalo do jogo. O placar está empatado. Mas o segundo tempo viria, quando Jeremias teria recobrado seu ânimo.
Era hora de reunião com o Técnico.
O enviado do Senhor fala as Suas Palavras. Mas aquele que vai sem ser enviado terá que arcar com o custo de sua iniciativa rebelde. Quem vai sem ser enviado, acaba sendo lançado. Assim como os figos ruins, que se deixaram ludibriar por suas falsas promessas, e por isso, seriam lançados por Deus, aquele que fora sem ter sido enviado, também seria lançado.
Entre 70 anos e apenas 2 anos há uma diferença gritante. Passar setenta anos num lugar é gastar pelo menos duas gerações ali. É tempo suficiente para fazer planos, pra pensar no futuro, para plantar pomares, construir casas, e viver o suficiente para conhecer os netos e bisnetos.
Não sabemos quanto tempo temos até a volta de Jesus. Mas enquanto Ele não vem, temos que trabalhar pela prosperidade de nossa sociedade. Não podemos nos alienar da realidade que nos circunda.
Estamos aqui porque fomos enviados, e não, lançados. Pertencemos ao cesto dos bons figos. Ao time de Jeremias.
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