HÁ
DIFICULDADES NA BÍBLIA SIM! ERROS NÃO!
Ainda
que a Bíblia seja a Palavra de Deus e, como tal, nela não possa haver erro algum, isso não significa que nela
não haja dificuldades. Todavia, como Agostinho observou com
sabedoria: "Se estamos perplexos por causa de qualquer aparente
contradição nas Escrituras, não nos é permitido dizer que o autor desse livro
tenha errado; mas ou o manuscrito utilizado tinha falhas, ou a tradução está
errada, ou nós não entendemos o que está escrito". Os erros
não se acham na revelação de Deus, mas nas falhas interpretações dos homens.
A Bíblia é isenta de erros, mas os
que a criticam não são. Todas as alegações feitas
nesse sentido baseiam-se em erros cometidos pelos próprios críticos. Tais erros
enquadram-se numa das seguintes principais categorias:
ERRO NÚMERO 1: ASSUMIR QUE O QUE NÃO
FOI EXPLICADO SEJA INEXPLICÁVEL.
Nenhuma pessoa instruída alegaria ser
capaz de explicar completamente todas as dificuldades bíblicas. Contudo, é um
erro o crítico pressupor que o que não foi ainda explicado nunca o será. Quando
um cientista se depara com uma anomalia na natureza, ele não desiste de fazer
cuidadosos exames científicos adicionais. Pelo contrário, ele faz uso daquilo
que não foi explicado como uma motivação para descobrir uma explicação. Nenhum
cientista verdadeiro desiste de seu trabalho, em desespero, simplesmente porque
não consegue explicar um dado fenômeno. Ele continua a fazer pesquisas com a
confiante expectativa de encontrar uma resposta. E a história da ciência tem revelado
que tal fé tem sido recompensada.
Houve
épocas em que os cientistas, por exemplo, não tinham explicação para fenômenos
naturais como os meteoros, os eclipses, os tornados, os furacões e os
terremotos. Todos esses mistérios, porém, renderam os seus segredos à
inabalável perseverança da ciência. Os cientistas ainda não sabem como a vida
pode ocorrer em descargas térmicas nas profundezas do mar, mas nenhum deles se
dá por vencido e grita: "é uma contradição!"
Da
mesma forma, os eruditos cristãos pressupõem que o que até hoje não foi
explicado na Bíblia não é, por isso, inexplicável. Não consideram que
discrepâncias sejam contradições. E, quando encontram algo que não podem
explicar, continuam pesquisando na certeza de que algum dia encontrarão a resposta.
Com efeito, se tivessem uma postura contrária a esta, parariam de estudar.
Por
que ir em busca de uma resposta, quando se pressupõe que ela não exista? Tal
como o cientista, aquele que estuda a Bíblia tem sido recompensado em sua fé e
pesquisa, pois muitas dificuldades para as quais os eruditos não tinham
explicação já foram superadas através da história, da arqueologia, da
lingüística e de outras disciplinas. Os críticos, por exemplo, um dia afirmaram
que Moisés não poderia ter escrito os cinco primeiros livros da Bíblia porque a
escrita ainda não existia na época dele. Agora sabemos que a escrita já existia
alguns milhares de anos antes de Moisés.
De
igual forma, os críticos um dia acreditaram que a Bíblia estivesse errada ao
falar dos hititas (ou heteus), já que esse povo era totalmente desconhecido dos
historiadores. Sua existência, porém, foi comprovada pela descoberta, na
Turquia, de uma biblioteca hitita. Esses fatos nos levam a crer que as
dificuldades bíblicas ainda não resolvidas certamente são explicáveis e que,
portanto, não há que se presumir que existam erros na Bíblia.
ERRO NÚMERO 2: PRESUMIR QUE A BÍBLIA
É CULPADA, ATÉ PROVA EM CONTRÁRIO.
Muitos críticos presumem que a Bíblia
está errada, até que algo venha provar que ela está certa. Contudo, como
acontece com qualquer cidadão acusado de um crime, a Bíblia deve ser tida como
"inocente", até que haja a prova da culpa. Isso não é querer dar-lhe nenhum
tratamento especial; essa é a forma pela qual todos os relacionamentos humanos
são feitos. Se assim não fosse, a vida não séria possível. Por exemplo, se
presumíssemos que a sinalização de trânsito nas rodovias ou na cidade não fosse
verdadeira, então provavelmente estaríamos mortos antes de poder provar o
contrário.
De
igual modo, se presumíssemos que os rótulos nas embalagens de alimentos fossem
enganosos até prova em contrário, teríamos então de abrir todas as latas e
pacotes antes de comprá-los. E o que dizer se presumíssemos que todos os
números no nosso dinheiro estivessem errados? E se achássemos que estariam
erradas todas as placas nas portas dos sanitários públicos, que indicam o sexo
a que se destinam?! Bem, isto já é o bastante.
Temos
de presumir que a Bíblia, como qualquer outro livro, está nos dizendo o que os
autores disseram e ouviram. As críticas negativas da Bíblia partem de um
pressuposto contrário a este. Não é de se admirar, então, que concluam que a
Bíblia está crivada de erros.
ERRO NÚMERO 3: CONFUNDIR AS NOSSAS FALÍVEIS
INTERPRETAÇÕES COM A INFALÍVEL REVELAÇÃO DE DEUS.
Jesus
afirmou que "a Escritura não pode
falhar" (Jo 10:35). Sendo um livro infalível, a Bíblia
é também irrevogável. Jesus declarou: "Porque
em verdade vos digo: Até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais
passará da lei, até que tudo se cumpra" (Mt 5:18, cf. Lc 16:17). As Escrituras têm ainda a
autoridade final, sendo a última palavra acerca de tudo que ela aborda. Jesus
valeu-se da Bíblia para resistir ao tentador (Mt 4:4,7,10);
para resolver discussões doutrinárias (Mt 21:42);
e para sustentar a sua autoridade (Mc 11:17).
Às
vezes um ensinamento bíblico apóia-se num pequeno detalhe histórico (Hb 7:4-10), numa palavra ou numa frase (At 15:13-17), ou mesmo na diferença entre o
singular e o plural (Gl 3:16). Mas, conquanto a Bíblia seja infalível,
as interpretações humanas não o são. A Bíblia não pode estar errada, mas nós
podemos estar errados quanto a alguma coisa dela. O significado da Bíblia nunca
muda, mas a nossa compreensão pode mudar.
Os
seres humanos são finitos, e seres finitos cometem erros. É por isso que há
borrachas para lápis, corretores líquidos para textos datilografados, e uma
tecla "apaga" nos computadores. E muito embora a Palavra de Deus seja
perfeita (Sl 19:7), enquanto existirem seres humanos imperfeitos, haverá erros
de interpretação das Escrituras e falsos pontos de vista deles decorrentes.
Em
vista disso, não devemos nos apressar em considerar que um determinado preceito
científico hoje amplamente aceito seja a palavra final acerca do ponto em
questão. Teorias que foram predominantemente aceitas no passado são
consideradas incorretas por cientistas do presente. Dessa forma, é de se
esperar que haja contradições entre opiniões populares sobre questões
científicas e as interpretações da Bíblia amplamente aceitas.
Isso,
porém, não consegue provar que há uma real contradição entre o mundo de Deus e
a Palavra de Deus, entre a revelação geral de Deus e a sua revelação especial.
Nesse sentido básico, a ciência e as Escrituras não estão em contradição.
Somente as opiniões humanas, finitas e falíveis acerca da ciência e das
Escrituras é que podem entrar em contradição.
ERRO NÚMERO 4: FALHAR NA COMPREENSÃO
DO CONTEXTO DA PASSAGEM.
Talvez o erro mais comum dos críticos
seja o de tirar um texto de seu
próprio contexto. Como diz o adágio:
"um texto fora de contexto é simplesmente um pretexto". Tudo se pode provar, a partir
da Bíblia, por meio desse procedimento errôneo. A Bíblia diz: "Não há
Deus" (SI 14:1). É claro, que o contexto é: "Diz o insensato no seu
coração: 'Não há Deus'". Alguém poderá afirmar que Jesus nos advertiu:
"não resistais ao perverso" (Mt 5:39), mas o contexto
anti-retaliatório em que ele lança esta proposição não deve ser ignorado. Assim
também muitos não compreendem corretamente o contexto da afirmativa de Jesus,
quando ele disse: "Dá a quem te pede" (Mt 5:42), como se tivéssemos a
obrigação de dar uma arma a uma criancinha que nos pedisse, ou de dar
armamentos atômicos a Saddam Hussein simplesmente por ele ter pedido.
O
erro de não observar que o significado é determinado pelo contexto é,
talvez, o principal pecado daqueles que encontram erros na Bíblia, como os
comentários de numerosas passagens bíblicas neste livro vão ilustrar.
ERRO NÚMERO 5: DEIXAR DE INTERPRETAR
PASSAGENS DIFÍCEIS À LUZ DAS QUE SÃO CLARAS.
Algumas
passagens das Escrituras são de difícil compreensão. Às vezes a dificuldade é
por serem obscuras. Outras vezes a dificuldade está em que uma passagem parece
estar ensinando algo contrário ao que uma outra parte da Escritura ensina com
clareza. Por exemplo, Tiago parece estar dizendo que a salvação é pelas obras
(Tg 2:14-26), ao passo que Paulo ensinou com toda a clareza que é pela graça
(Rm 4:5; Tt 3:5-7; Ef 2:8-9). Neste caso, Tiago não deve ser
interpretado de maneira a contradizer Paulo. O apóstolo Paulo está falando da
justificação perante Deus (o que é pela fé somente), ao passo que Tiago
está se referindo à justificação perante os homens (que não têm como ver
a nossa fé, mas somente as nossas obras).
Um
outro exemplo encontra-se em Filipenses 2:12, em que Paulo diz:
"desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor". Aparentemente isto
parece estar dizendo que a salvação é pelas obras. Contudo, inúmeras passagens
das Escrituras claramente contradizem tal idéia, pois afirmam: "salvos,
mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não de obras, para que
ninguém se glorie" (Ef 2:8-9); "ao que não trabalha, porém crê
naquele que justifica ao ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça" (Rm
4:5); "não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua
misericórdia, [é que] ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador
do Espírito Santo" (Tt 3:5).
Quando
esta frase de difícil compreensão - "desenvolvei a vossa salvação" -
é entendida à luz dessas passagens tão claras, podemos ver que, qualquer que
seja o significado dela, uma coisa é certa: ela não significa que somos
salvos pelas obras. De fato, o seu significado é encontrado precisamente no
versículo seguinte. Temos de desenvolver a nossa salvação porque a graça de
Deus tem operado em nosso coração. Nas próprias palavras de Paulo: "porque
Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa
vontade" (Fp 2:13).
ERRO NÚMERO 6: BASEAR UM ENSINO NUMA
PASSAGEM OBSCURA.
Algumas passagens da Bíblia são difíceis
porque o seu significado é obscuro. Isso ocorre geralmente porque uma
palavra-chave do texto é empregada uma só vez (ou raramente), e então fica
difícil saber o que o autor está dizendo, a menos que seja possível deduzir o
sentido pelo contexto. Por exemplo, uma das passagens mais conhecidas da Bíblia
contém uma palavra que não aparece em lugar algum, em toda a literatura grega
disponível até o tempo em que o NT foi escrito. Esta palavra aparece no que
comumente é conhecido como a "Oração do Senhor" (Mt 6:11). Geralmente
a tradução que temos é "o pão nosso de cada dia dá-nos hoje". A
palavra em questão é a que é traduzida por "de cada dia", ou seja, o
vocábulo grego epiousion. Os estudiosos do grego ainda não entraram em
acordo quanto à sua origem ou quanto ao seu exato sentido. Diferentes
comentaristas têm tentado estabelecer elos com palavras gregas que são bem
conhecidas, e muitas sugestões têm sido propostas quanto ao seu significado.
Entre tais sugestões, temos:
"Nosso pão incessante dá-nos
hoje."
"Nosso pão sobrenatural (indicando
um pão espiritual, do céu) dá-nos hoje."
"O pão para o nosso sustento dá-nos
hoje."
"O pão nosso de cada dia (ou,
o que necessitamos para hoje) dá-nos hoje."
Cada
uma destas propostas tem seus defensores; cada uma faz sentido dentro do
contexto, e cada uma é uma possibilidade, tendo-se por base a limitada
informação disponível. Parece não haver nenhuma razão que nos force a deixarmos
aquela que tem sido a tradução normalmente aceita, mas este exemplo serve muito
bem para ilustrar o ponto em questão. Algumas passagens da Bíblia são difíceis
de se entender porque uma dada palavra-chave aparece uma só vez, ou com muita
raridade.
Outras
vezes as palavras podem estar claras, mas o significado não é evidente
porque não sabemos ao certo a que elas se referem. Isso se dá em 1 Co 15:29,
onde Paulo fala sobre os que se batizavam pelos mortos. Será que ele estava se
referindo ao batismo de pessoas vivas, representando pessoas mortas que não
tinham sido batizadas, e assim assegurando-lhes a salvação (como dizem os
mórmons)? Ou será que ele está se referindo aos que, sendo batizados, entram na
igreja para preencher o lugar dos que partiram? Ou ainda, não seria o caso de
ele estar referindo-se aos crentes sendo batizados "pelos mortos" no
sentido de "suas próprias mortes, sendo enterrados com Cristo"? Ou,
quem sabe, poderia estar dizendo alguma outra coisa?
Quando
não temos certeza, então temos de ter em mente algumas coisas. Primeiro, não
devemos construir uma doutrina com base numa passagem obscura. A regra prática
na interpretação bíblica é: "as coisas principais são as coisas claras, e
as coisas claras são as coisas principais". Chamamos a isso de
perspicuidade (clareza) das Escrituras. Se algo for importante, isso
será ensinado nas Escrituras de forma bem clara, § provavelmente em mais de um
lugar.
Segundo, quando uma dada
passagem não está clara, não devemos nunca supor que ela esteja ensinando o
contrário do que uma outra parte nos ensina com muita clareza. Deus não comete
erros na sua Palavra; mas nós podemos cometer erros ao tentarmos interpretá-la.
ERRO NÚMERO 7: ESQUECER-SE DE QUE A
BÍBLIA É UM LIVRO HUMANO, COM CARACTERÍSTICAS HUMANAS.
Exceto
pequenas seções, tal como os Dez Mandamentos, que foram escritos "pelo
dedo de Deus" (Êx 31:18), a Bíblia não foi verbalmente ditada. Seus
escritores não foram secretários do Espírito Santo. Eles foram autores humanos,
que empregaram estilos literários próprios, com suas próprias idiossincrasias,
ou seja, com o seu jeito de ver as coisas. Esses autores humanos às vezes
tomaram informações de fontes humanas para o que escreveram (Js 10:13;
At 17:28; 1 Co 15:33; Tt 1:12). De fato, cada livro da Bíblia é uma composição
feita por um escritor humano; foram
cerca de quarenta autores.
A
Bíblia evidencia também estilos literários humanos diferentes; da
métrica melancólica de Lamentações até a exaltada poesia de Isaías; da
gramática elementar de João ao complexo grego do livro de Hebreus. As
Escrituras manifestam ainda perspectivas humanas. No Salmo 23, Davi
falou do ponto de vista de um pastor. Os livros de Reis foram escritos tendo
uma abordagem profética, e Crônicas, a partir de um ponto de vista sacerdotal.
Atos manifesta um enfoque histórico, e 2 Timóteo, o coração de um pastor.
Os
escritores bíblicos escreveram sob a perspectiva de um observador quando se
referiram ao nascer do sol (Js 1:15) ou ao pôr-do-sol. Eles também revelam
padrões humanos de pensamento, inclusive lapsos de memória (1 Co
1:14-16), bem como emoções humanas (Gl 4:14). A Bíblia revela interesses
humanos específicos. Por exemplo, Oséias possuía um interesse rural, Lucas,
uma preocupação médica, e Tiago, um amor pela natureza.
Como
Cristo, a Bíblia é completamente humana, mas mesmo assim sem erros. Esquecer-se
da humanidade das Escrituras pode levar-nos a impugnar falsamente sua
integridade por esperarmos um nível de expressão maior do que é o usual num
documento humano. Isso vai ficar mais claro quando abordarmos os próximos erros
em que incidem os críticos.
ERRO NÚMERO 8: ASSUMIR QUE UM RELATO
PARCIAL SEJA UM RELATO FALSO.
Com freqüência, os críticos tiram
conclusões precipitadas com respeito a um relato parcial, tomando-o como falso.
Entretanto, não é bem assim. Do contrário, quase tudo o que se tenha dito seria
falso, já que poucas vezes há tempo e espaço suficientes para uma abordagem
completa.
Ocasionalmente,
a Bíblia expressa a mesma coisa de diferentes modos, ou pelo menos de
diferentes pontos de vista, em tempos distintos. Portanto, a inspiração não
exclui diversidade de expressão. Cada um dos quatro autores do Evangelho relata
a mesma história de uma maneira diferente, para um grupo diferente de pessoas,
e às vezes citam o mesmo incidente com palavras diferentes. Compare, por
exemplo, aquela famosa confissão de Pedro no Evangelho segundo:
Mateus: "Tu és o Cristo, o Filho
do Deus vivo" (16:16).
Marcos: "Tu és o Cristo"
(8:29).
Lucas: "És o Cristo de
Deus" (9:20).
Até
mesmo os Dez Mandamentos, os quais foram escritos "com o dedo de
Deus" (Dt 9:10), quando entregues, pela segunda vez, apresentam-se com
variações (compare Êx 20:8-11 com Dt 5:12-15). Há muitas diferenças entre os
livros de Reis e de Crônicas nas descrições que eles fazem dos mesmos eventos;
contudo, não incidem em nenhuma contradição nos acontecimentos que narram. Se
expressões assim tão importantes puderam ser feitas de maneiras diferentes,
então não há por que o restante das Escrituras ter de expressar a verdade
apenas de uma forma literal e inflexível em sua abordagem.
ERRO NÚMERO 9: EXIGIR QUE AS CITAÇÕES
DO ANTIGO TESTAMENTO FEITAS NO NOVO TESTAMENTO SEJAM SEMPRE EXATAS.
Os
críticos com freqüência apontam para as variações ocorridas quando o NT cita
passagens do AT, como provas de erro. Entretanto, se esquecem de que uma citação
não tem de ser uma repetição exata do que está escrito. Era então,
como é hoje, perfeitamente aceitável o estilo literário que dá a essência de
uma afirmação ou pensamento, sem que se empregue precisamente as mesmas
palavras. Um mesmo significado pode ser transmitido sem o uso das mesmas expressões
verbais.
As variações que ocorrem nas citações
de textos do AT feitas no NT enquadram-se em diferentes categorias. Às vezes é
outra pessoa que está falando. Por exemplo, Zacarias registra que o Senhor está
dizendo: "olharão para mim, a quem traspassaram" (Zc 12:10).
Quando isto é citado no NT, é João - e não Deus - que está falando: "verão
aquele a quem traspassaram" (Jo 19:37).
Outras
vezes os escritores do NT citam apenas uma parte do texto do AT. Jesus fez isso
quando esteve na sinagoga da cidade de Nazaré (Lc 4:18-19/ citando li 61:1-2).
De fato, ele parou no meio de uma sentença. Se tivesse ido mais além, Jesus não
poderia ter dito o que disse em seguida: "Hoje, se cumpriu a Escritura que
acabais de ouvir" (v. 21). É que, precisamente, a continuação daquela
frase - "e o dia da vingança do nosso Deus" - é uma referência
à sua segunda vinda.
Algumas
vezes, o NT parafraseia ou resume um texto do AT (por exemplo, Mt 2:6). Outras
vezes, mistura dois textos em um (Mt 27:9-10). Ocasionalmente, uma verdade
geral é mencionada sem a citação de um texto específico. Por exemplo, Mateus
diz que Jesus mudou-se para Nazaré "para que se cumprisse o que fora dito,
por intermédio dos profetas: Ele será chamado Nazareno" (Mt 2:23). Note
que Mateus não cita um determinado profeta, mas sim "profetas" em
geral, de modo que seria inútil insistir na procura de um determinado texto do
AT em que esta profecia fosse encontrada.
Também
há momentos em que o NT aplica um texto de um modo diferente em relação ao AT.
Por exemplo, Oséias aplica "do Egito chamei o meu filho" à nação
messiânica e Mateus, ao produto daquela nação, o Messias (Mt 2:15 e Os 11:1).
Em caso algum, porém, o NT interpreta de forma errada ou não aplica
corretamente o AT, nem ainda tira qualquer conclusão do que não esteja presente
naquele texto. Em resumo, o NT não comete erros quando cita o AT, como acontece
quando os críticos citam o NT.
ERRO NÚMERO 10: ASSUMIR QUE
DIFERENTES NARRAÇÕES SEJAM FALSAS.
Pelo simples fato de divergirem entre
si duas ou mais narrações do mesmo acontecimento, isso não significa que elas
sejam mutuamente exclusivas. Por exemplo, Mateus (28:5) diz que havia um anjo
junto ao túmulo de Jesus depois da ressurreição, ao passo que João nos informa
de que havia dois (20:12). Não há, porém, nenhuma contradição. De fato, há uma
infalível regra matemática que facilmente explica este problema: onde quer que
haja dois, sempre há um - e nisso não existe erro! Mateus não diz que havia apenas
um anjo. É necessário acrescentar a palavra "apenas" no registro
dele para fazê-lo entrar em contradição com o de João. Mas, se o crítico vem
até a Bíblia para mostrar os erros dela, então o erro não está na Bíblia, mas
sim no crítico.
De
igual forma, Mateus (27:5) nos informa de que Judas enforcou-se. Mas Lucas diz
que Judas, "precipitando-se, rompeu-se pelo meio, e todas as suas
entranhas se derramaram" (At 1:18). Uma vez mais, estes dois relatos
diferem entre si, mas não são mutuamente exclusivos. Se Judas enforcou-se numa
árvore à beira de um penhasco, e se o seu corpo caiu em pontudas rochas
embaixo, então suas entranhas se derramaram para fora, da maneira como tão bem
Lucas descreve.
ERRO NÚMERO 11: PRESUMIR QUE A BÍBLIA
APROVA TUDO O QUE ELA REGISTRA.
É um erro admitir que tudo o que a
Bíblia contém seja recomendado por ela. Toda a Bíblia é verdadeira (Jo
17:17), mas ela registra algumas mentiras, como por exemplo as de
Satanás (Gn 3:4; conforme Jo 8:44) e a de Raabe (Js 2:4). A inspiração está
sobre toda a Bíblia de forma tão completa e abrangente que ela registra com
exatidão e verdade até mesmo as mentiras e os erros dos que pecaram. A verdade,
na Bíblia, encontra-se no que ela revela, não em tudo que ela registra.
Sem que se faça esta distinção, pode-se concluir de maneira errada que a
Bíblia ensina imoralidade, porque ela narra o pecado de Davi (2 Sm 11:4); ou
que ela promove a poligamia, porque registra o caso de Salomão (1 Rs 11:3); ou
que ela ensina o ateísmo, por citar o tolo que diz: "não há Deus" (Sl
14:1).
ERRO NÚMERO 12: ESQUECER-SE DE QUE A
BÍBLIA FAZ USO DE UMA LINGUAGEM COMUM, NÃO-TÉCNICA.
Para
que algo seja verdadeiro, não é necessário fazer uso de uma linguagem erudita,
técnica ou, assim chamada, "científica". A Bíblia foi escrita para
pessoas comuns de todas as gerações, e, portanto, emprega a linguagem comum, do
dia-a-dia. Q uso de uma linguagem não-científica não vai de encontro à ciência,
pois ela é anterior à ciência. As Escrituras foram escritas em tempos
antigos, com padrões antigos, e seria algo anacrônico impor sobre elas padrões
científicos modernos. Contudo, não é menos científico falar que "o sol se
deteve" (Js 10:13) do que se referir ao "nascer do sol" (Js
1:15). Ainda hoje os meteorologistas mencionam todo dia sobre a hora do
"nascer" e do "pôr-do-sol".
ERRO NÚMERO 13: CONSIDERAR QUE
NÚMEROS ARREDONDADOS SEJAM ERRADOS.
Outro engano algumas vezes cometido
pelos críticos é quando eles alegam que há erro em números que foram
arredondados. Não é assim. Números arredondados são apenas isso: números
arredondados. Como ocorre no linguajar comum, a Bíblia faz uso de números
arredondados (1 Cr 19:18; 21:5). Por exemplo, quando se referiu ao diâmetro
como sendo cerca de um terço da circunferência. Do ponto de vista da sociedade
tecnológica atual, pode ser impreciso tomar como sendo três o que é na
realidade 3,14159265..., o que não é incorreto para um povo antigo, vivendo
numa era não-tecnológica. Três é o arredondamento do número "pi".
Isso é o suficiente para o "mar de fundição" (2 Cr 4:2), na medida de
um antigo templo hebreu, embora esta precisão não seja, hoje em dia, suficiente
para os cálculos feitos por um computador, num foguete moderno. Mas não temos
de esperar precisão científica numa era pré-cientifica. De fato, isso seria tão
anacrônico como usar um relógio de pulso numa peça de Shakespeare.
ERRO NÚMERO 14: NÃO OBSERVAR QUE A
BÍBLIA FAZ USO DE DIFERENTES RECURSOS LITERÁRIOS.
Um
livro inspirado não precisa ser composto em um único estilo literário. Foram
seres humanos que escreveram os livros da Bíblia, e a linguagem humana não se
limita a uma única forma de expressão. Assim, não há por que supor que apenas
uma forma de expressão ou apenas um gênero literário tenha de ter sido
empregado num livro divinamente inspirado.
A
Bíblia revela muitos recursos literários. Vários de seus livros acham-se
inteiramente escritos no estilo poético (por exemplo, Jó, Salmos,
Provérbios). Os Evangelhos sinóticos estão cheios de parábolas. Em
Gálatas 4, Paulo faz uso de uma alegoria. No NT acham-se muitas metáforas
(por exemplo, 2 Co 3:2-3, Tg 3:6), e comparações (Mt20:l; Tg 1:6);
há também (por exemplo, Cl 1:23; Jo 21:25; 2 Co 3:2) e, até mesmo, figuras
poéticas (Jó 41:1). Jesus empregou a sátira (Mt 19:24, 23:24). Figuras
de linguagem são comuns por toda a Bíblia.
Não
constitui erro o autor bíblico fazer uso de uma figura de linguagem, mas é
errado tomar uma figura de linguagem de forma literal. Obviamente, quando a
Bíblia fala do crente que se acolhe à sombra das "asas" de Deus (Sl
36:7), isso não quer dizer que Deus seja uma ave com uma bela plumagem. De
igual modo, quando a Bíblia fala que Deus "desperta" (Sl 44:23), como
se ele estivesse dormindo, trata-se de uma figura de linguagem que indica a
inatividade de Deus antes de ele ser levado a exercer o juízo pelo pecado
humano. Temos de ter todo o cuidado na leitura das figuras de linguagem nas
Escrituras.
ERRO NÚMERO 15: ESQUECER-SE DE QUE
SOMENTE O TEXTO ORIGINAL É ISENTO DE ERROS, E NÃO QUALQUER CÓPIA DAS
ESCRITURAS.
Quando
os críticos descobrem um genuíno erro numa cópia (manuscrito) cometem outro
erro fatal. Eles assumem que o erro se encontra também no texto original das
Escrituras, no texto inspirado. Esquecem-se de que Deus proferiu o texto
original das Escrituras, não as cópias. Portanto, somente o texto original é
isento de erros. A inspiração não garante que toda cópia do original fique sem
erros. Portanto, temos de levar em conta que pequenos erros podem ser
encontrados em alguns manuscritos, que são cópias do texto original. Mas, de
novo, como Agostinho com sabedoria observou, quando nos deparamos com um, assim
chamado, "erro" na Bíblia, temos de admitir uma entre duas
alternativas: ou o manuscrito não foi copiado corretamente, ou não entendemos
as Escrituras direito. O que não podemos pressupor é que Deus tenha cometido um
erro na inspiração do texto original.
Embora
as atuais cópias das Escrituras sejam muito boas, elas também não estão isentas
de erros. Por exemplo, 2 Reis 8:26 dá a idade de Acazias como sendo 22 anos, ao
passo que 2 Crônicas 22:2 registra 42 anos.
Este segundo número não pode estar correto, pois implicaria que Acazias fosse
mais velho do que o seu pai. Obviamente, trata-se de um erro do copista, mas
isso não altera a inerrância do original
Algumas coisas temos de
observar com respeito aos erros dos copistas. Em primeiro lugar, são erros
feitos nas cópias, e não no original. Jamais alguém encontrou um original com
um erro. Em segundo lugar, são erros de menor importância (com freqüência, em
nomes e em números), que não afetam nenhuma doutrina da fé cristã. Em terceiro
lugar, esses erros dos copistas são relativamente em pequeno número como será
demonstrado por todo o resto deste livro. Em quarto lugar, geralmente, pelo
contexto ou por outro texto das Escrituras, podemos saber qual passagem incorre
em erro. Por exemplo, no caso acima, a idade certa de Acazias é 22, e não 42,
já que ele não poderia ser mais velho do que o seu pai.
Finalmente,
muito embora possa haver um erro de cópia, a mensagem inteira ainda assim é
perfeitamente entendida. Nesses casos, a validade da mensagem não se altera.
Por exemplo, se você recebesse uma carta como esta, você não entenderia a
mensagem por completo? E você não iria correndo atrás do seu dinheiro?
"#ocê foi contemplado no sorteio
tal e tal e é o ganhador
da importância de cinco milhões de
reais."
Mesmo
havendo um erro na primeira palavra, a mensagem inteira é compreensível -
você possui mais cinco milhões! E se no dia seguinte você recebesse mais
uma carta, com os seguintes dizeres, aí é que você teria ainda mais
certeza:
"V#cê foi contemplado no sorteio
tal e tal e é o ganhador
da importância de cinco milhões de
reais."
Na
verdade, quanto mais erros deste tipo houver (cada um num lugar diferente),
tanto mais certo você estará com respeito à mensagem original. É por isso que
os erros dos escribas nos manuscritos bíblicos não afetam a mensagem básica da
Bíblia. Assim, na prática, por mais imperfeições que haja nos manuscritos
utilizados, a Bíblia que temos em nossas mãos transmite a verdade completa da
original Palavra de Deus.
ERRO NÚMERO 16: CONFUNDIR AFIRMAÇÕES
GERAIS COM UNIVERSAIS.
Com freqüência, os críticos
rapidamente chegam à conclusão de que afirmações que não mencionam restrições
não admitem exceções. Apoderam-se de versículos que apresentam verdades gerais
e então regozijam-se em mostrar óbvias exceções. Ao fazerem isso, se esquecem
de que tais afirmações foram feitas com a intenção de serem generalizações.
O
livro de Provérbios é um bom exemplo de casos assim. Dizeres proverbiais, por
sua própria natureza, dão-nos apenas uma direção, e não uma certeza aplicável a
todos os casos. São regras para a vida, mas regras que admitem exceções.
Provérbios 16:7 é um desses casos. A afirmação é: "Sendo o caminho dos
homens agradável ao Senhor, este reconcilia com eles os seus inimigos".
Isto obviamente não tinha a intenção de ser uma verdade universal. Paulo era
agradável ao Senhor, e seus inimigos o apedrejaram (At 14:19). Jesus foi
agradável ao Senhor, e seus inimigos o crucificaram! Não obstante, esta é uma
regra geral: aquele que vive de modo a agradar ao Senhor poderá minimizar o
antagonismo de seus inimigos.
Outro
exemplo de uma verdade geral é Provérbios 22:6: "Ensina a criança no
caminho em que deve andar, e ainda quando for velho não se desviará dele".
Entretanto, outras passagens da Bíblia nos mostram que isto nem sempre é
verdade. De fato, alguns homens piedosos na Bíblia (inclusive Jó, Eli e Davi)
tiveram filhos perversos. Este provérbio não contradiz a experiência por ser um
princípio geral, que se aplica de maneira geral, mas que permite exceções em
casos isolados. Os provérbios não têm a característica de ser garantias
absolutas. Antes, eles expressam verdades que nos proporcionam conselhos e
direções úteis, que cada um de nós deve aplicar à própria vida, a cada dia.
Não
passa de um simples erro presumir que a sabedoria de um provérbio seja sempre
uma verdade universal. Os provérbios são sabedoria (direções gerais),
não leis (imperativos com aplicação universal). Quando a Bíblia declara
"...vós sereis santos, porque eu sou santo" (Lv 11:45), então não há
exceções. Santidade, bondade, amor, verdade e justiça estão na raiz precisa da
natureza de Deus, que é imutável e, por isso, não admite exceções. Mas a
sabedoria toma as verdades universais de Deus e as aplica a circunstâncias
específicas e sujeitas a alterações, as quais, por sua própria natureza
mutável, nem sempre produzirão os mesmos resultados. Não obstante, a sabedoria
ainda assim é muito útil como um guia para a vida, mesmo admitindo eventuais
exceções.
ERRO NÚMERO 17: ESQUECER-SE DE QUE
UMA REVELAÇÃO POSTERIOR SOBREPÕE-SE A UMA ANTERIOR.
Algumas
vezes, os críticos das Escrituras se esquecem do princípio da revelação
progressiva. Deus não revela tudo de uma só vez, nem determina sempre as mesmas
condições para todos os períodos do tempo. Portanto, algumas de suas revelações
posteriores vão sobrepor-se a afirmações anteriores.
Os
críticos da Bíblia às vezes confundem uma mudança na revelação com um erro.
O erro, entretanto, é do crítico. Por exemplo, o fato de que a mãe ou o pai
de uma criança permita que ela, quando bem pequena, coma com a mão, para
somente mais tarde ensinar-lhe a comer com uma colher não é uma contradição.
Nem ainda a mãe ou o pai estará se contradizendo quando, mais tarde, insistir
para que o filho use um garfo, e não mais uma colher, para comer vegetais. Isto
é revelação progressiva, sendo cada ordenança adequada à circunstância
particular em que a pessoa se encontra.
Houve
uma época em que Deus testou a humanidade proibindo-a de comer o fruto de uma
determinada árvore no jardim do Éden (Gn 2:16-17). Este mandamento não está
mais em vigor, mas a revelação posterior não contradiz a anterior. Também houve
um período (sob a lei de Moisés) em que Deus ordenou que animais fossem
sacrificados pelo pecado do povo. Entretanto, desde que Cristo ofereceu o
sacrifício perfeito pelo pecado (Hb 10:11-14), esse mandamento do AT não está
mais em vigor. Aqui, de novo, não há contradição entre o mandamento posterior e
o anterior.
De
igual forma, quando Deus criou a raça humana, ele ordenou que se comessem
apenas frutas e vegetais (Gn 1:29). Mas depois, quando as condições se
alteraram após o dilúvio, Deus ordenou que se comesse também carne (Gn 9:3).
Tal mudança de uma condição herbívora para uma carnívora é uma revelação
progressiva, mas não se constitui uma contradição. De fato, todas as
subseqüentes revelações são simplesmente mandamentos diferentes para pessoas
diferentes em tempos diferentes, dentro do plano geral de Deus para a redenção.
É
certo que Deus não poda alterar mandamentos que têm que ver com e tua natureza
Imutável (cf. Ml 3:6; Hb 6:18). Por exemplo, sendo Deus amor (1 Jo 4:16), ele
não pode ordenar que o odiemos. Nem pode ordenar o que é logicamente impossível,
como, por exemplo, oferecer e, ao mesmo tempo e com o mesmo propósito, não
oferecer um sacrifício pelo pecado.
Mas,
apesar desses limites de ordem lógica e moral, Deus pode e revelou-se de
maneira progressiva e não contraditória. Quando, porém, os fatos relativos a
sua revelação são tirados do próprio contexto e comparados a outros anteriores,
podem parecer uma contradição. Esse, contudo, é o mesmo tipo de erro de quem
acha que a mãe está-se contradizendo ao permitir que o filho, agora mais velho,
vá dormir mais tarde.
Depois
de quarenta anos de estudo contínuo e cuidadoso da Bíblia, a única conclusão a
que se pode chegar com respeito àqueles que pensam terem descoberto um erro na
Bíblia é que eles não sabem muita coisa a respeito dela - na verdade, sabem é
muito pouco sobre a Bíblia! Isso não significa, é claro, que entendemos todas
as dificuldades existentes nas Escrituras. Mas, certamente, isso nos faz crer
que Mark Twain tinha razão ao concluir que não era a parte da Bíblia que ele
não entendia o que mais o incomodava, mas as partes que ele compreendia, estas,
sim, o incomodavam!
FONTE: Manual
Popular de Dúvidas, Enigmas e Contradições da Bíblia - Norman Geisler e Thomas
Howe -
Agostinho, Reply
to Faustus the Manichaean 11.5, em Philip Schaff, A Select Library of
the Nicene and Ante-Nicene Fathers of the Christian Church, Grand Rapids:
Eerdmans, 1956, vol. 4.
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