Introdução
Quem me
conhece sabe que abomino politicagem e os malabarismos da política partidária.
Mas por outro lado, sou muito inclinado a aceitar a boa política, que ajuda as
pessoas a viverem na cidade, como diz o apóstolo Paulo, na polis, do modo digno
do Evangelho de Cristo, uma política não utópica, que provê maior dignidade as
pessoas, que ensina “a pescar”, que fornece acesso à educação, e capacita o
cidadão com senso crítico, tornando-o livre, cônscio de seus direitos, e
capaz de transformar outros indivíduos, famílias e bairros e mudar o quadro de
miséria e ignorância do contexto de uma cidade inteira.
Nosso sistema
político está apodrecido até a espinha dorsal e como o pecado que se alastra,
está corrompido no seu início, meio e fim. A história política do Brasil nos
mostrou que a maioria eleita pelo povo sofrido (que sempre é visto como massa
de manipulação e moeda de troca), quando assumiu cargos públicos, inicialmente
começou até com boas intenções, mas depois se tornou egocêntrica incontrolável,
possessa de ganância, se alastrando no congresso nacional, nos governos e nas
prefeituras, nas assembléias e tribunais, como ratos de esgoto insaciáveis,
roubando, extorquindo, desviando verbas, malversando o dinheiro público
e cometendo todo tipo de bandidagens. O pior é que o dinheiro, a influência e a
autoridade que lhes são imputados os resguardam na impunidade, e jamais são
condenados ou presos. Essa situação indigna só cresce, em face de pobreza
extrema que gera toda sorte de malefícios à sociedade brasileira, um tumor purulento
que supura corrupção e desmandos.
— A situação
do Império Romano dominando a Palestina.
Por outro
lado, para aqueles que são avessos à política e querem uma distância
substancial dela, devem ser esclarecidos de que NÃO SE PODE LER O NOVO TESTAMENTO
SEM O MÍNIMO DE CONHECIMENTO POLÍTICO e sem ser munidos de uma noção básica
quanto à expectativa (política) dos cidadãos que povoavam as cidades da
Palestina da época de Jesus e aguardavam a vinda de um Messias Libertador
prometido pelos profetas do Antigo Testamento, que viria para acabar com a
tirania opressora do Império Romano para sempre.
A história do
nascimento de Jesus tão romanticamente contada por professoras piedosas em
flanelógrafo, mostrando a família sagrada, o menino Jesus na palha da
manjedoura junto como os pastores, bois e burrinhos esconde o pulso latejante
do coração pisoteado do cidadão comum que vivia no território de Israel, cuja
pirâmide social desproporcional era composta por uma pequena fatia na classe
alta com os ricos saduceus, rabinos e sacerdotes do templo, esmagada no meio
pela classe média que consistia de negociantes, fazendeiros e artesãos e tendo
a base inchada da pirâmide, a esmagadora classe baixa com seus milhões de
nômades sem terra, escravos, prostitutas, mendigos, loucos e enfermos de todo
tipo, os pobres da terra, ESSES DESPREZADOS QUE FORAM O FOCO PRINCIPAL DA
ATENÇÃO E AMOR DIRECIONADOS POR JESUS DE NAZARÉ QUE GEROU OS MILAGRES, A
LIBERTAÇÃO E O BEM ESTAR DE MUITOS, MAS TAMBÉM A IRA DOS RELIGIOSOS
CHEIOS DE ASSEPSIA MORALISTA. Os cobradores de impostos e publicanos faziam
parte da classe baixa, apesar de serem ricos abastados.
Já há muito
tempo Israel como nação não provava o que era liberdade. Desde a saída do
cativeiro na Babilônia, foram dominados pela Grécia, pelos Ptolomeus (Egito),
pelos Selêucidas (Síria) e depois de um período curto de liberdade conquistado
pelos macabeus, para depois serem dominados pelos romanos. No tempo de Jesus,
as taxas e impostos eram impraticáveis, e o povo não tinha maiores esperanças,
a não ser apostar todas as fichas na vinda do Messias que viria libertar o povo
da mão despótica do Império.
— A situação
religiosa e os partidos políticos na Palestina.
- Os fariseus
Eram os
separados do povo, observadores escrupulosos das leis rabínicas e mosaicas, não
se aproximavam dos pecadores e impuros cerimoniais. Eram radicais conservadores
que não se submetiam aos costumes da helenização, não aceitavam o domínio
romano, no entanto, discordavam passivamente sem usarem a força das armas.
- Os saduceus
Eram ricos
opulentos, detinham o poder político e religioso, mantinham o rendoso comércio
de sacrifícios de animais no templo, controlavam a classe sacerdotal e a guarda
do templo. Eram progressistas e tolerantes com a expansão dos costumes
greco-romanos.
- Os essênios
Eram os
separados do mundo. Não sacrificam no templo de Jerusalém, pois reputavam o
templo poluído por um sacerdócio corrupto. Só usavam vestes brancas,
considerando-se o remanescente exclusivo dos últimos dias.
- Os herodianos
Eram uma
pequena minoria de judeus influentes que pertenciam à aristocracia de
sacerdotes saduceus que por sua vez, apoiavam a dinastia herodiana e o governo
romano que pusera Herodes, o Grande, como rei “marionete” em Jerusalém. Este,
por sua vez, querendo “limpar sua barra” diante da antipatia geral dos judeus,
construiu o fabuloso templo que Jesus pisou e ensinou muitas vezes.
- Os zelotes
Em
contraposição, os zelotes eram revolucionários radicais, favoráveis à barrocada
do despotismo romano, recusavam-se a pagar impostos, tributos e taxas, como
subversivos inconsequentes que eram, empreenderam diversas revoltas e rebeliões
contra o Império.
- Os escribas
Eram um grupo
de profissionais, rabinos, doutores, mestres e advogados da Lei. Interpretavam
e ensinavam a Lei do Antigo Testamento e tomavam decisões judiciais sobre casos
que eram trazidos no cotidiano para resolverem. Interpretavam os preceitos da
Lei e a aplicavam ao contexto da vida diária. A maioria dos escribas faziam
parte da seita dos fariseus.
- O sinédrio
O superior
tribunal dos judeus era o Grande Sinédrio. Reuniam-se na área do templo todos
os dias, com exceção dos sábados e dias santificados. O sumo sacerdote presidia
setenta juízes, ou anciãos, vindos dos partidos dos fariseus e saduceus. São “
as autoridades”, o “concílio”, “os principais sacerdotes”, os “anciãos e
escribas” mencionados no Novo Testamento.
- O colégio
apostólico e suas tendências internas.
Jesus, um
rabino.
Jesus era
considerado um rabino, pois possuía um corpo de discípulos postulantes, falava
com autoridade de mestre sempre pondo à frente de suas assertivas a frase “em
verdade, em verdade lhes digo”, falava com estruturas rítmicas fáceis de
memorizar através das famosas parábolas e se utilizava de perguntas de retórica
devolvendo a pergunta com a finalidade de melhor assimilação das verdades
proferidas: “que vos parece?”.
JESUS NÃO
APOIOU NENHUM DOS PARTIDOS POLÍTICOS OU SEITAS RELIGIOSAS DE SUA ÉPOCA, ao
contrário, sempre batia de frente a hipocrisia religiosa, as injustiças sociais,
as atitudes imorais das autoridades, até chamando Herodes de raposa, sempre
mostrando os postulados do Reino de Deus demonstrado por ações concretas de
transformação social, através de um amor prático operando milagres e defendendo
a causa dos desmerecidos, curando-os e elevando sua autoestima e dignidade.
Tendências políticas no colégio
apostólico. Os discípulos eram zelotes?
- Mateus e
Simão
No corpo de
discípulos havia pessoas de posturas políticas bem distintas. Exemplo disso é
Mateus e Simão. Mateus era um cobrador de impostos, abertamente um
colaboracionista do império romano. Por outro lado Jesus chama um subversivo,
Simão, o zelote, absolutamente contra o império romano.
- Pedro e
outros
Oscar Culmman defende a idéia de que Pedro tenha um comportamento zelote. Senão
vejamos. Pedro era um líder natural de temperamento agressivo entre os
discípulos, sempre assumindo a liderança do grupo dos seguidores de Cristo. Um
dos possíveis indícios do pensamento zelote em Pedro foi o que aconteceu na
noite fatídica do Getsêmane, mantendo uma adaga escondida debaixo do manto
(costume zelote), quando estavam prendendo Jesus, desceu a adaga afiadíssima
para atingir em cheio a cabeça de Malco, um dos soldado da guarda do templo, e
este, tendo desviado por reflexo, foi atingido, mas o golpe atinge somente a
orelha. Cullmman também garante que os irmãos Tiago e João não eram apelidados
à toa de filhos do trovão, e quando os samaritanos rejeitaram os ensinamentos
de Jesus, eles, se tivessem tal poder, mandariam descer fogo do céu para
destruir os rebeldes impenitentes, uma atitude típica de zelotes radicais. Mais
um: Judas Iscariotes. O nome não significaria “Homem de Keriot” mas pode ter
vindo do arcádio Scarius, que significa revolucionário. A atitude de trair
Jesus seria mais por decepção ideológica, pelo fato de ver Jesus, que se
intitulava o Messias Libertador, pregar um reino de amor, de deposição das
armas, de tolerância, de amor incondicional aos inimigos, de dar a outra face e
por não treinar e equipar um exército aguerrido capacitado com armas pra
enfrentar e vencer as forças do império romano.
-Os
discípulos em geral
Mesmo depois
da ressurreição, parece que havia um sentimento zelote que permeava
latentemente o coração dos discípulos. A pergunta feita pelos seguidores de
Jesus em Atos capítulo um representa um incômodo instalado no peito do
israelita em geral. Jesus agora detinha todo poder no céu e na terra. Então vem
a pergunta que não queria calar: “Senhor (kírios), será esse o tempo em que vais
restaurar o reino de ISRAEL?”. Ou seja: “agora que o Senhor ressuscitou dos
mortos e tem poder ilimitado, será esse o tempo certo para armares um poderoso
exército para acabar de vez com o domínio romanos sobre nós?” Jesus responde
que o avanço do Reino de Deus é absolutamente diferente do avanço dos reinos
humanos: Recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas
testemunhas no mundo inteiro”. O reino de Deus será conquistado não no campo de
batalha, mas no campo interno do coração dos homens, isso de forma sutil, como
um grão de mostarda que rebenta subversiva e gradativamente no subsolo das
consciências humanas e fecunda a terra frutificando liberdade, transformação e
vida, sem precisar erguer uma adaga sequer.
- O
julgamento de Cristo e Sua condenação
No julgamento
de Jesus existe um grande equívoco em relação à Barrabás. Pilatos, o
representante do poder romano, consulta o povo, quanto a um costume antigo: por
ocasião da festa da Páscoa, soltava-se um dos prisioneiros, conforme o povo
quisesse. Naquele momento, havia um preso muito conhecido, chamado Barrabás.
Pilatos bradou ao povo: “Quem quereis que vos solte, a Barrabás ou a Jesus,
chamado O Cristo?. Mas os principais sacerdote e os anciãos persuadiram o povo
a que pedissem Barrabás, e fizessem morrer a Cristo”. Todos sabiam que Barrabás
não era um simples batedor de carteiras ou um homicida qualquer. O povo
preferiu a Barrabás por motivos políticos. Barrabás era um agitador político,
um revolucionário, um zelote. Alguém que tinha atitude. Alguém que poderia
resolver os problemas sociais da nação. Jesus não. Eis aí um rei fracassado, um
boneco de pano nas mãos dos romanos, indefeso, um caniço trêmulo, machucado e
sem iniciativa. Vai morrer na cruz como um rebelde comum dentre tantos que
foram calados pela foice romana. Soltaram Barrabás, o bom de briga. Pilatos
lavra a sentença de Jesus, condenado à pena capital pelo império romano por se
intitular rei, concorrendo de frente com o Rei do Cosmos, o César. Mais uma vez
o povo ignorava a verdadeira natureza e o conteúdo do Reino de Deus.
- A posição
de Pedro e Paulo
Paulo defende
a obediência às autoridades constituídas, devendo-se orar, honrar e
respeitá-las, mas as Escrituras apresentam sempre um ponto de tensão nessa
obediência: se a autoridade ultrapassar o domínio do Reino de Deus e os limites
estabelecidos por Deus em Sua Palavra, deve-se então dizer: “Antes, importa
obedecer a Deus do que aos homens”. No tempo de Paulo, quem governava com cetro
de ferro era Nero, o imperador maluco que queimava cristão pra iluminar seu
palácio. Deve-se pagar tributo e honra, mas não obedeça se esse mesmo Estado de
forma demoníaca pleitear espaço que não lhe pertence, querendo assumir a
posição de Deus, e reivindicar aquilo que pertence somente a Ele. Aí é hora de
dizer: Obediência absoluta só a Deus!
Conclusão
Finalmente,
quero deixar aqui minha contribuição a respeito do tipo de política que devemos
adotar e o que podemos fazer para as eleições que teremos ainda nesse ano de
2012 e após elas.
- Reflitamos.
Se o Novo Testamento está impregnado de política, devemos nos munir do
entendimento de que Jesus é o Senhor absoluto do Universo, e todas as
estruturas e espaços da vida humana são permeados pela presença soberana Dele.
- Então,
precisamos estudar o assunto despretensiosamente, livrando-nos da dicotomia
nociva que separa o espiritual do carnal, o santo do profano, mentalidade
errônea que se instaurou no ambiente cristão ao longo dos séculos, e descobrir
que no mundo, tudo é de Deus, todos os espaços da vida estão imersas Nele e que
essa área deve ser conquistada pelo Reino da luz e da liberdade.
- Pesquise a
vida dos candidatos de acordo com a proposta das plataformas de seus partidos,
se são propostas exequíveis e de interesse do povo. Depois, averigúe se a vida
do candidato corresponde ao cargo que ele está pleiteando, se tem cultura,
capacidade administrativa, interesse real pelo povo e pela cidade. Se não
houver nenhum deles que preencha os pré-requisitos básicos de honestidade, vote
nos que são menos corruptos. Em última instância, anule seu voto, mas não se
venda.
- Em seguida,
não seja obrigado a reeleger candidatos que já derem provas concretas de
incompetência ou que já tenham tido histórico de ações escusas como roubalheira
e aproveitamento do dinheiro público.
- Depois das
eleições tente acompanhar a carreira política do candidato cobrando e
incentivando-o para que cumpra aquilo que prometeu no tempo de campanha
eleitoral.
- Melhor
ainda, independentemente do que os políticos fizerem, tente se engajar em
programas sérios que visam melhorar as condições de pobreza da cidade, junte-se
a ONGS, associações ou igrejas comprometidas com a causa do Reino de Deus, que
tenham propostas de projetos de cidadania consciente, frentes significativas de
ajuda às famílias carentes, planos estratégicos para libertar o povo da
ignorância e da pobreza opressiva, provendo cursos técnicos
profissionalizantes, bolsas integrais, programas de esporte e Inclusão social.
Penso convictamente que são essas as saídas viáveis pra um futuro melhor para o
nosso país já tão visceralmente inoculado pelo vírus da corrupção desde as
entranhas de suas origens históricas.
- Ore, jejue,
pregue, evangelize, compartilhe a graça, de graça, viva o Evangelho com alegria
exuberante, e espere com uma fé cheia de esperança grandes mudanças vindas da
parte de Deus. O único que pode operar milagres.
TÍTULO ORIGINAL:
Por Manoel dC via: GENIZAH .
Título original: "Pra não dizer que não
falei de política - O cenário político no alvorecer do cristianismo e o papel
do cristão na política hodierna". Divulgação:
Mapeamento Espiritual
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