Vitor Andrade
Artigo
elaborado sob orientação do Prof. Dr. Rubens de Oliveira Martins
Considerações preliminares
A Independência do Brasil é um dos momentos mais importantes da
vida social e política brasileira, e a partir dela podemos hoje nos considerar
país e nação, exercendo nossa soberania. Contudo, só é possível darmos linhas,
cor e formas a uma estrutura social, legitimamente nacional conhecendo um
importante período de nossa História, a emancipação econômica e política,
iniciada com a Abertura dos Portos em 1808 e consolidada por D. Pedro I em
1822. Houve grandes manifestações em favor da nossa Independência, dentre as
organizações que lutaram e defenderam um Brasil Independente, esteve presente a
Maçonaria, que foi a maior organização social aderente da emancipação
brasileira.
Para entender a estrutura política de nosso país hoje é
necessário fazer um resgate dos fatos ocorridos no Brasil Colônia e Império,
assimilando como se deu a construção do país, em seus aspectos políticos,
sociais e econômicos, entender como se formaram as classes políticas, quem ou o
que havia por trás delas, como chegaram aqui, e por que se defendeu a
Independência do Brasil. Existiam grupos favoráveis e contrários à emancipação
política brasileira: portugueses emigrados para o Brasil eram contrários, os
nascidos aqui, boa parte, eram favoráveis a Independência. Assim, a Maçonaria
assumiu papel de destaque entre os brasileiros, lutando e defendendo a
transformação do Brasil em país livre e independente. No Brasil, neste período,
existiam várias organizações sociais, como clubes, grupo de comerciantes, a
própria Igreja Católica, entre eles, a Maçonaria, que era composta por membros
de todas, ou quase todas as organizações sociais relevantes presentes no
Brasil.
Para compreender a importância da Maçonaria na Independência
brasileira, cabe salientar a sua importante participação nos processos
emancipatórios dos países americanos, ocorridas entre os séculos XVIII e XIX.
Podemos citar vários países que tiveram inegável contribuição maçônica, como o
caso dos Estados Unidos da América, em 1776, sob a liderança principal de um
maçom: George Washington; Venezuela pelo também Maçom Francisco Miranda, em
1810 (apesar da Independência da Venezuela só ter sido reconhecida em 1845);
Cuba, em 1868, pelo Maçom José Martí. Simon Bolívar, o libertador das Américas,
que contribuiu para os processos de independência também na Venezuela, assim
como José de San Martin, na libertação da Argentina e do Peru. No Brasil,
apesar da Independência ter sido decretada por D.Pedro de Alcântara, Príncipe
Regente, houve grande contribuição desta organização, através do glorioso
Joaquim Gonçalves Ledo, José Bonifácio, José Clemente Pereira, Cipriano Barata, Hipólito José da Costa, Januário Jose
da Cunha, Frei Caneca, entre outros. Salientando que o próprio D. Pedro I foi
iniciado na Maçonaria, chegando a ser o segundo Grão-Mestre Geral.
O movimento maçônico brasileiro teve início na Europa, para onde
viajava a elite nascida no Brasil, a fim de estudar e obter conhecimentos
acadêmicos, entrando desta forma em contato com a Maçonaria e com seus ideais.
Ao voltar para o Brasil como maçons e, muitos deles, sob forte influência do
Iluminismo e dos ideais que nortearam a Revolução Francesa, ainda bem viva no
continente Europeu, desejavam a emancipação política do Brasil. Por aqui, havia
maçons, mas não havia uma obediência Maçônica, tão pouco lojas Maçônicas.
Existiam, porém, organizações políticas e clubes organizados por Maçons. Cabe
ressaltar que nem todos seus participantes eram maçons, contudo, estes locais
propiciavam a discussão, dentre outros assuntos, acerca da emancipação política
do Brasil.
Pela análise do material bibliográfico podemos
entender a relação da História do Brasil com a Maçonaria, sendo necessário
citar alguns momentos anteriores à Independência, importantes para compreensão
de todo o processo, tais como a Inconfidência Mineira em 1789, a Conjuração
Baiana e a fundação da primeira Loja Maçônica, em 1801, no Rio de Janeiro. A
partir daí, a Maçonaria passou a funcionar como uma espécie de partido
político, lutando fielmente pela emancipação política brasileira.
Mais à frente, será possível identificar dois pontos
fundamentais para a Independência do Brasil, o primeiro é a econômica, com a
vinda da família real em 1808, sob ameaça de invasão de Portugal pelas tropas
de Napoleão, forçando a transferência para o Brasil de toda a Corte e de sua
estrutura político-administrativa e, conseqüentemente, a abertura dos portos
por pressão da Inglaterra. Até aquele momento, não houve participação efetiva
da Maçonaria, seu papel neste momento era de conspiração pela Independência,
agindo de forma secreta e discreta. O segundo momento deu-se, quatorze anos
depois, com a permanência do Príncipe Regente, desacatando ordem de seu pai que
determinava seu retorno a Portugal. Neste momento a Maçonaria já havia sido
regularizada no Brasil, e já existia o Grande Oriente do Brasil. Um dos
requisitos para os iniciados na Ordem era que no momento da iniciação também se
jurasse lutar pela Independência do Brasil. A Maçonaria forçou a Proclamação da
Independência, inclusive com a iniciação na Ordem do príncipe Pedro de
Alcântara, meses antes da proclamação.
Ao completarem-se 200 anos da vinda da Corte Portuguesa ao
Brasil (1808-2008), é de salutar importância para a historiografia brasileira
estudar porque e como ela se deu, o que foi o fenômeno da Independência, como
era formado a sociedade brasileira na época, rever nossos heróis da
Independência, e assim dar o nosso agradecimento à Maçonaria pela sua
contribuição a construção do nosso Estado.
A MAÇONARIA: CONTEXTO GERAL E SUAS ORIGENS EM PORTUGAL.
Antes de fazer uma leitura sobre a Maçonaria no processo de
Independência do Brasil, é necessário entender o que é essa organização que
tanto influenciou e significou para Independência das Américas e de modo
particular para o Brasil. De acordo com o Artigo 1º da Constituição do Grande
Oriente do Brasil, este é o conceito de Maçonaria:
Art. 1º. A Maçonaria é uma instituição essencialmente
iniciática, filosófica, filantrópica, Progressista e evolucionista, cujos fins
supremos são: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
A Maçonaria teve início com a chamada Maçonaria Operativa ou de
Ofício. Surgiu na Idade Média, na Europa, onde foi financiada principalmente
pela Igreja. A partir do Século VI, as associações monásticas de construtores
controlavam o segredo e a arte de construir. Nesse momento da História,
ocorriam às invasões dos povos bárbaros na Europa, ocasionando, freqüentemente,
mortes, saques, e guerras, e assim arquitetos e artistas encontravam-se seguros
nos conventos ou próximos a eles. Mas já no século X, houve uma necessidade de
expansão por parte da Igreja, esses frades construtores passaram a treinar e
preparar leigos para os serviços, formando as Confrarias Leigas e, por terem
aprendido a arte de construir com frades, davam um cunho religioso ao trabalho.
No Século XII, surgem associações simplesmente religiosas que
formavam corpos profissionais, denominadas: Guildas. As Guildas têm origem no
nome Gild, de origem teutônica, utilizado na região da Escandinávia.
Um ágape religioso durante a qual, numa cerimônia especial, eram
despojados 3 copos de chifre (chavelhos), conforme o uso da época, cheios de
cerveja, sendo um em homenagem aos deuses, outro, pelos antigos heróis, e o
último homenagem a parentes e a memória de amigos mortos, e ao final da
cerimônia, todos os participantes juravam defender uns aos outros, como irmãos,
socorrendo-se mutuamente em momentos difíceis.
Essas Guildas defendiam que entre seus membros deveria haver
auxilio mútuo e atuação por reformas sociais e políticas, após as reuniões eram
comuns os banquetes. Com a Chegada das Guildas na Inglaterra, introduzida por
reis de origem saxônica, estas sofreram modificações, influenciadas,
principalmente, pelo Cristianismo, porém a Igreja não os reconhecia, sobre tudo
por suas idéias de reformas políticas e sociais, vistas pela Igreja como uma
ameaça, sem contar as acusações de praticas pagãs por parte de seus membros.
Devido essas acusações, as incorporações se organizavam sob a proteção de um
Monarca ou adotavam o nome de um santo protetor.
Surgem desta forma os Ofícios Francos, que levariam mais tarde o
nome de Franco-Maçonaria, ou seja, Pedreiros – Livres. Eram Livres, pois se
organizavam por categorias, e não contribuíam com impostos feudais e
eclesiásticos, eram chamados de Franc-maçons na França e Freemasons na
Inglaterra. A palavra Maçom significa exatamente pedreiro. As Guildas dariam
origens às Lojas. Na arte de construção de Igrejas e palácios, ao lado
construíam-se as lojas, que eram locais onde se discutiam as coordenadas de
Obras, assim esses obreiros, instruíam uns aos outros na arte de construir. As
Lojas eram compostas por três classes: Aprendiz, Companheiro e Mestre. Até
hoje, no século XXI, essas três classes são os três primeiros graus pelos quais
deve passar um Maçom. Esses obreiros comprometiam-se a não revelar o segredo
das construções, e nas lojas só participariam maçons (pedreiros), e quem viesse
a participar da loja, seria iniciado e aprenderiam o oficio de construir
(aprendiz), sempre instruídos pelo Mestre. Por toda a Europa construíram
igrejas, templos e palácios.
Em 1539 o rei Francês Francisco I, tirava dos
pedreiros livres os direitos e privilégios que eles tinham, abolindo Guildas,
Lojas e Fraternidades, regulamentando as corporações de artesãos. No século XVI
com o surgimento da Renascença, o estilo gótico foi abolido, era o período em
que os renascentistas reviveriam as artes Greco-romanas, mas esse estilo
conheceria o oficio de todas as corporações profissionais, os Francos-Maçons
foram seriamente afetados, transformando-se em uma sociedade de auxilio mútuo.
Passaram a aceitar entre seus membros pessoas que não eram pedreiros, ou
ligadas à arte das construções, a partir daí a Franco-Maçonaria passou a ser
chamada de Maçonaria dos Aceitos.
No inicio se organizavam em tabernas, cervejarias e Igrejas,
principalmente na Inglaterra, e hoje em Lojas constituídas em quase todos os
países. Em 1709 com a admissão do reverendo Jean Théophine Desaguliers , que
não apesar de não ser construtor foi iniciado na Maçonaria dos aceitos,
participou fielmente da Ordem, conseguiu reunir quatro Lojas no mês de
Fevereiro de 1717 para se discutir uma reformulação da estrutura maçônica. No
mês de junho do mesmo ano essas Lojas se encontraram e formaram a Primeira Grande
Loja Unida da Inglaterra, em Londres, criando assim uma obediência nacional.
Pelo estatuto, essas Lojas seriam subordinadas a um poder central, dirigidas
por um Grão-Mestre. Antes disso o Maçom era um pedreiro livre, e não sofria
subordinação externa, essa subordinação foi o marco de separação entre a
maçonaria operativa e a especulativa, ou seja, dos aceitos.
O objetivo aqui não é fazer uma história da Maçonaria e sim
entender qual é o seu comportamento perante a sociedade, qual é a finalidade da
Maçonaria, como se comportam os maçons em suas pátrias, o que ela é de fato e
como se organiza, a explicação até aqui revelada serve para se quebrar alguns
paradigmas sobre a Maçonaria, e explanar a sua posição que sempre foi de
liberdade total do homem, da sua nação. Ao chegar ao Brasil, a Maçonaria se
preocupou em trabalhar em prol da Independência. Entendendo melhor como a ordem
surgiu, quais são seus ideais, e seu comportamento, pode-se compreender como
ocorreu a emancipação política do Brasil, sob a influência da Maçonaria.
Em Portugal, supõe-se que a Maçonaria tenha
chegado em 1744, apesar de ausência de documentos concretos. A Maçonaria, tal
como a História, documenta-se por fatos concretos, com lavratura de ata em
todas as suas reuniões. Oliveira Marques, profundo historiador da Maçonaria
portuguesa, dá conta que, em 1727, teria sido fundada por comerciantes
britânicos que residiam em Lisboa, uma Loja, que havia sido inscrita nos
arquivos da Inquisição como a Loja dos Hereges gritantes, sugerindo a condição
dos seus membros como protestantes. Esta Loja viria a regularizar-se em 1735
pedindo a regularização à Grande Loja de Londres, onde obteria o número 135 e,
depois, o 120. Mas de fato ela só foi oficializada no fim do século XVIII e
inicio do século XIX, quando foi criada a primeira obediência Nacional.
Em Portugal, ocorria a perseguição da Maçonaria pela Inquisição
Portuguesa, sob o argumento de que os Maçons eram hereges e inimigos do Estado
(Absolutista), perdurou por um longo tempo, até a chegada ao trono de José I,
que tinha ao seu lado como ministro, o Maçom Sebastião de Carvalho Melo, o
qual, anos depois, se tornaria o “Marquês de Pombal”, protetor da Maçonaria e
grande estadista português. O Marquês de Pombal deu um novo rumo à política
econômica portuguesa que, neste momento, estava em crise devido ao Tratado de
Methuen , de 1703, que havia praticamente impedido o desenvolvimento da
indústria manufatureira em Portugal. Assim, a maior parte dos lucros obtidos
nas colônias (inclusive o Brasil) era transferida para os cofres ingleses.
Em 1755 Portugal sofreu um grande terremoto que destruiu quase
todo o país, a Pombal foram conferidos mais poderes pelo rei, objetivando a
reestruturação econômica e a reconstrução do país. A Colônia brasileira era
maior fonte de arrecadação da coroa, sofrendo grandes retaliações econômicas
portuguesas. Com a morte do Rei José I, e a ascensão ao trono da Rainha D.
Maria I, mais tarde apelidada de D. Maria a louca, recomeçaria a caça aos
maçons, principalmente através do Intendente Geral da Policia, Diogo Inácio de
Pina Munique, (feroz caçador de Maçons). Neste mesmo período, em 1797, a
Maçonaria Portuguesa se alia a Maçonaria Inglesa e juntas formam a Loja
Regeneração, dando origem, em seguida, a outras cinco Lojas. Pina Munique não
pôde mais fazer nada, a não ser permanecer fiel opositor aos maçons. Seria o
retorno forte e triunfante da Maçonaria em Portugal.
Nesse momento, no Brasil, ainda Colônia Portuguesa, já existia
uma oligarquia que mandava seus filhos a Europa para estudar, assim no fim do
século XVIII, Portugal e o mundo passa a conhecer uma das maiores figuras do
movimento emancipador brasileiro, o ilustre Maçom Hipólito José da Costa
Pereira Furtado de Mendonça, que com apenas 24 anos de idade já seria diplomado
em Coimbra, chamada de nova Atenas.
Em 1798 Hipólito foi aos Estados Unidos da América, ainda como
profano , para estudar questões econômicas para o sistema brasileiro, foi
iniciado na Maçonaria em 12 de Março de 1799 na Loja “Washington Nº 59” na
Filadélfia. Nessa época os Estados Unidos foram emancipados com o auxílio do
Maçom George Washington havia pouco tempo. As idéias de liberdade na América já
eram defendidas nas Lojas Maçônicas dos Estados Unidos. Hipólito José sofreu
tanto influências da Maçonaria, quanto da idéia de Libertação. Em 1801 à Rainha
D. Maria I adoece, o príncipe regente D. João, mais tarde viria a ser D. João
VI, ascende ao trono de Portugal. Hipólito seria nomeado para a Imprensa Real,
assim Maçons portugueses como o Padre José Joaquim Monteiro de Carvalho e
Oliveira, procuraram Hipólito José da Costa para que fosse a Inglaterra
negociar com Grande Loja de Londres a regularização e a instalação de uma
Grande Loja Nacional Portuguesa, o que Hipólito conseguiu em 1804.
O primeiro Grão-Mestre da Grande Loja Regular de Portugal foi o
Desembargador Sebastião José de Sampaio, desta forma se tornaria mais fácil a
Instalação e a Regularização de Lojas Maçônicas no Brasil. Com esta breve
explanação do surgimento da Maçonaria em Portugal, pode-se entender como foram
os primórdios da Maçonaria no Brasil.
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