Rev.
Hernandes Dias Lopes.
INTRODUÇÃO
Duas
perguntas são feitas antes de se fechar um negócio: Quanto ganharei se fechar
esse negócio? Quanto perderei se deixar de fechar esse negócio?
O
dinheiro é ídolo que tem o maior número de adoradores neste mundo. Pessoas se
casam, divorciam, matam e morrem pelo dinheiro. No sermão do monte Jesus disse
que não podemos servir a Deus e às riquezas ao mesmo tempo.
De
todas as pessoas que vieram a Cristo, este homem é o único que saiu pior do que
chegou. Ele foi amado por Jesus, mas, mesmo assim, desperdiçou a maior
oportunidade da sua vida. A despeito do fato de ter vindo à pessoa certa, de
ter abordado o tema certo, de ter recebido a resposta certa, ele tomou a
decisão errada. Ele amou mais o dinheiro do que a Deus, mais a terra do que o
céu, mais os prazeres transitórios desta vida do que a salvação da sua alma.
I.
RICO, PORÉM, INSATISFEITO – (10.17-22)
Destacamos
vários predicados excelentes desse jovem. Entretanto, todos os atributos que
alistamos, não puderam preencher o vazio da sua alma.
1.
Ele era jovem (Mt 19.20)
Esse
jovem estava no alvorecer da vida. Tinha toda a sua vida pela frente e toda a
oportunidade de investir o seu futuro no reino de Deus. Ele tinha saúde, vigor,
força, sonhos.
2.
Ele era riquíssimo (Lc 18.23)
Esse
jovem possuía tudo que este mundo podia lhe oferecer: casa, bens, conforto,
luxo, banquetes, festas, jóias, propriedades, dinheiro. Ele era dono de muitas
propriedades. Embora jovem, já era muito rico. Certamente era um jovem
brilhante, inteligente e capaz.
3.
Ele era proeminente (Lc 18.18)
Lucas
diz que ele era um homem de posição (Lc 18.18). Ele possuía um elevado status
na sociedade. Ele tinha fama e glória. Apesar de ser jovem, já era rico; apesar
de ser rico, era também líder famoso e influente na sociedade. Talvez ele fosse
um oficial na sinagoga. Tinha reputação e grande prestígio.
4.
Ele era virtuoso (10.20; Mt 19.20)
“Tudo isso tenho observado, que me falta ainda?”. Aquele jovem julgava
ser portador de excelentes predicados morais. Ele se olhava no espelho da lei e
dava nota máxima para si mesmo. Considerava-se um jovem íntegro. Não vivia em
orgias nem saqueava os bens alheios. Vivia de forma honrada dentro dos mais
rígidos padrões morais. Possuía uma excelente conduta exterior. Era um modelo
para o seu tempo. Um jovem que a maioria das mães gostaria de ter como genro.
5. Ele era insatisfeito com sua vida
espiritual (Mt 19.20)
“Que
me falta ainda?”. Ele tinha tudo para ser feliz, mas seu coração ainda estava
vazio. Na verdade, Deus pôs a eternidade no coração do homem e nada deste mundo
pode preencher esse vazio. Seu dinheiro, reputação e liderança não preencheram
o vazio da sua alma. Estava cansado da vida que levava. Nada satisfazia seus
anseios. Ser rico não basta; ser honesto não basta; ser religioso não basta.
Nossa alma tem sede de Deus.
6.
Ele era uma pessoa sedenta de salvação (10.17)
Sua
pergunta foi enfática: “Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?”. Ele
estava ansioso por algo mais que não havia encontrado no dinheiro. Ele sabia
que não possuía a vida eterna, a despeito de viver uma vida correta aos olhos
dos homens. Ele não queria enganar a si mesmo. Ele queria ser salvo.
7.
Ele foi a Jesus, a pessoa certa (10.17)
Ele
foi a Jesus; buscou o único que pode salvar. Ele já tinha ouvido falar de
Jesus. Sabia que ele já salvara muitas pessoas. Sabia que Jesus era a solução
para a sua vida, a resposta para o seu vazio. Ele não buscou atalhos, mas
entrou pelo único que leva ao céu.
8.
Ele foi a Jesus com pressa (10.17)
“E,
pondo-se Jesus a caminho, correu um homem ao seu encontro” (10.17). Naquela
época pessoas tidas como importantes não corriam em lugares públicos, mas esse
jovem correu. Ele tinha pressa. Muitos querem ser salvos, mas deixam para
amanhã e perecem eternamente. Esse jovem não pode mais esperar, ele não pode
mais protelar. Ele não agüenta mais. Ele não se importa com a opinião das
pessoas. Ele tem urgência para salvar a sua alma.
9.
Ele foi a Jesus de forma reverente (10.17)
“…
e ajoelhando-se, perguntou-lhe: Bom Mestre, que farei para herdar a vida
eterna?” (10.17). Esse jovem se humilhou caindo de joelhos aos pés de Jesus.
Ele demonstrou ter um coração quebrantado e uma alma sedenta. Não havia dureza
de coração nem qualquer resistência. Ele se rende aos pés do Senhor.
10.
Ele foi amado por Jesus (10.21)
“E
Jesus, fitando-o, o amou” (10.21). Jesus viu o seu conflito, o seu vazio, a sua
necessidade; viu o seu desespero existencial e se importou com ele e o amou.
II.
RICO, PORÉM, ENGANADO – (10.17-22)
As
virtudes do jovem rico eram apenas aparentes. Ele superestimava suas
qualidades. Ele deu a si mesmo nota máxima, mas Jesus tirou sua máscara e
revelou-lhe que a avaliação que fazia de si, da salvação, do pecado, da lei e
do próprio Jesus eram muito superficiais.
1.
Ele estava enganado a respeito da salvação (10.17)
Ele
viu a salvação como uma questão de mérito e não como um presente da graça de
Deus. Ele perguntou: “… Bom Mestre, que farei de bom para herdar a vida
eterna?” (10.17). Seu desejo de ter a vida eterna era sincero, mas estava
enganado quando à maneira de alcançá-la. Ele queria obter a salvação por obras
e não pela graça.
Todas
as religiões do mundo ensinam que o homem é salvo pelas suas obras. Na Índia
multidões que desejam a salvação deitam sobre camas de prego ao sol escaldante;
balançam-se sobre um fogo baixo; sustentam uma mão erguida até se tornar
imóvel; fazem longas caminhas de joelhos. No Brasil, vemos as romarias, onde
pessoas sobem conventos de joelhos e fazem penitência pensando alcançar com
isso o favor de Deus.
Muitas
pessoas pensam que no dia do juízo Deus vai colocar na balança as obras más e
as boas obras e a salvação será o resultado da prevalência das boas obras sobre
as obras más. Mas a salvação não consiste daquilo que fazemos para Deus, mas do
que Deus fez por nós em Cristo Jesus.
2.
Ele estava enganado a respeito de si mesmo (10.19-21)
O
jovem rico não tinha consciência de quão pecador ele era. O pecado é uma
rebelião contra o Deus santo. Ele não é simplesmente uma ação, mas uma atitude
interior que exalta o homem e desonra a Deus.[1] O jovem rico pensou que suas
virtudes externas podiam agradar a Deus. Porém, a Escritura diz que todos somos
como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia aos olhos do
Deus santo (Is 64.6).
O
jovem rico pensou que guardava a lei, mas havia quebrado os dois principais
mandamentos da lei de Deus: amar a Deus e ao próximo. Ele era idólatra. Seu
deus era o dinheiro. Seu dinheiro era apenas para o seu deleite. Sua teologia
era baseada em não fazer coisas erradas, em vez de fazer coisas certas.
Jesus
disse para o jovem rico: “… só uma coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens,
dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me” (10.21). O
que faltava a ele? O novo nascimento, a conversão, o buscar a Deus em primeiro
lugar. Ele queria a vida eterna, mas não renunciou os seus ídolos. Hurtado diz
que o jovem rico não foi chamado à pobreza como um fim, mas ao discipulado de
Jesus”.[2]
3.
Ele estava enganado a respeito da lei de Deus (10.19,20)
Ele
mediu sua obediência apenas por ações externas e não por atitudes internas. Aos
olhos de um observador desatento ele passaria no teste, mas Jesus identificou a
cobiça em seu coração. Este é o mandamento subjetivo da lei. Ele não pode ser apanhado
por nenhum tribunal humano. Só Deus consegue diagnosticá-lo. Jesus viu no
coração desse homem o amor ao dinheiro como a raiz de todos os seus males (1Tm
6.10). O dinheiro era o seu deus; ele confiava nele e o adorava.
4.
Ele estava enganado a respeito de Jesus (10.17)
Ele
chama Jesus de Bom Mestre, mas não está pronto a obedecer-lho. Ele pensa que
Jesus é apenas um rabi e não o Deus verdadeiro, feito carne. Jesus queria que o
jovem se visse a si mesmo como um pecador antes de ajoelhar-se diante do Deus
santo. Não podemos ser salvos pela observância da lei, pois somos rendidos ao
pecado. A lei é como um espelho; ela mostra a nossa sujeira, mas não remove as
manchas. O propósito da lei é trazer o pecador a Cristo (Gl 3.24). A lei pode
trazer o pecador a Cristo, mas não pode fazer o pecador semelhante a Cristo.
Somente a graça pode fazer isso.[3]
5.
Ele estava enganado acerca da verdadeira riqueza (10.22)
Depois
de perturbar a complacência do homem com a constatação de que uma coisa lhe
faltava, Jesus o desafia com uma série de cinco imperativos: “Vai, vende tudo o
que tens, dá-o aos pobres e vem, e segue-me” (10.21). Esses cinco imperativos
são apenas uma ordem que exige uma só reação. Ele deve renunciar aquilo que se
constitui no objeto de sua afeição antes de poder viver debaixo do senhorio de
Deus.[4]
O
jovem rico perdeu a riqueza eterna, por causa da riqueza temporal. Ele preferiu
ir para o inferno a abrir mão do seu dinheiro. Mas que insensatez, ele não pode
levar um centavo para o inferno. Ele rejeita a Cristo e a vida eterna.
Agarrou-se ao seu dinheiro e com ele pereceu. Saiu triste e pior, por ter
rejeitado a verdadeira riqueza, aquela que não perece. O homem rico se torna o
mais pobre entre os pobres.
III.
RICO, PORÉM PERDIDO (10.23-27)
1.
Os que confiam na riqueza não podem confiar em Deus (10.23-25)
O
dinheiro é mais do que uma moeda, é um deus. O dinheiro é maior dono de
escravos do mundo. Ele é um espírito, ele é Mamom. Ninguém pode servir a dois
senhores ao mesmo tempo. Ninguém pode servir a Deus e às riquezas. A confiança
em Deus implica no abandono de todos os ídolos. Quem põe a sua confiança no
dinheiro, não pode confiar em Deus para a sua própria salvação. Nossos corações
somente têm espaço para uma única devoção e nós só podemos nos entregar para o
único Senhor.[5]
Jesus
não está condenando a riqueza, mas a confiança nela. A raiz de todos os males
não é o dinheiro, mas o amor a ele (1Tm 6.10). Há pessoas ricas e piedosas. O
dinheiro é um bom servo, mas um péssimo patrão. A questão não é possuir
dinheiro, mas ser possuído por ele.
Jesus
ilustrou a impossibilidade da salvação daquele que confia no dinheiro: “É mais
fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino
de Deus” (10.25). O camelo era o maior animal da palestina e o fundo de uma
agulha o menor orifício conhecido na época. Alguns intérpretes tentam explicar
que esse fundo da agulha era uma porta da muralha de Jerusalém onde um camelo
só podia passar ajoelhado e sem carga. Mas, isso altera o centro do ensino de
Jesus: a impossibilidade definitiva de salvação para aquele que confia no
dinheiro.[6]
2.
A salvação é uma obra milagrosa de Deus (10.26,27)
Os
discípulos ficam aturdidos com a posição radical de Jesus e perguntaram:
“Então, quem pode ser salvo?” (10.26). Jesus, porém, fitando neles o olhar,
disse: “Para os homens é impossível; contudo, não para Deus, porque para Deus
tudo é possível” (10.27). A conversão de um pecador é uma obra sobrenatural do
Espírito Santo. Ninguém pode salvar-se a si mesmo. Ninguém pode regenerar-se a
si mesmo. Somente Deus pode fazer de um amante do dinheiro, um adorador do Deus
vivo.
IV.
POBRE, PORÉM POSSUINDO TUDO (10.28-31)
1.
A abnegação (10.28)
“Então,
Pedro começou a dizer-lhe: Eis que nós tudo deixamos e te seguimos” (10.28).
Seguir a Cristo é o maior projeto da vida. Vale a pena abrir mão de tudo para
ganhar a Cristo. Ele é a pérola de grande valor.
Alguns
intérpretes acusam Pedro de demonstrar aqui um espírito mercantilista (Mt
19.27). A afirmação de Pedro revela uma visão comercial da vida cristã.[7] A
teologia da prosperidade está ensinando que ser cristão é uma fonte de lucro. A
igreja está se transformando numa empresa, o evangelho num produto, o púlpito
num balcão, o templo numa praça de barganha e os crentes em consumidores.
2.
A motivação (10.29)
Não
basta deixar tudo por amor a Cristo, é preciso fazê-lo pela motivação certa.
Jesus é claro em sua exigência: “… por amor de mim e por amor do evangelho”
(10.29). Precisamos fazer a coisa certa com a motivação certa. O objetivo da
abnegação não é receber recompensa. Não servimos a Deus por aquilo que ele dá,
mas por quem ele é (Dn 3.16-18).
Muitos
hoje pregam um evangelho de barganha com Deus. Você dá, para receber de volta.
Você oferece algo para Deus para receber uma recompensa maior. O homem continua
sendo o centro de todas as coisas. Mas Jesus fala que precisamos deixar tudo
por amor a ele e por causa do evangelho (At 20.24).
3.
A recompensa (10.30)
Jesus
garante aos seus discípulos que todo aquele que o segue não perderá o que
realmente é importante, quer nesta vida quer na vida por vir. Jesus fala de
duas recompensas e duas realidades.
Em
primeiro lugar, há uma recompensa imediata. Seguir a Cristo é um caminho
venturoso. Deus não tira, ele dá. Ele dá generosamente. Quem abre mão de alguma
coisa ou de alguém por amor de Cristo e pelo evangelho, recebe já no presente
cem vezes mais.
Em
segundo lugar, há uma recompensa futura. No mundo por vir, receberemos a vida
eterna. Esta é uma vida superlativa, gloriosa, feliz, onde não há dor, sem
lágrimas, sem morte. Receberemos um novo corpo, semelhante ao corpo da glória
de Cristo. Reinaremos com ele para sempre.
Em
terceiro lugar, há uma realidade insofismável. Jesus acrescenta que a
recompensa imediata vem acompanhada “… com perseguições” (10.30). A vida cristã
não é uma sala vip nem uma colônia de férias. Fomos chamados não para fugir da
realidade, mas para enfrentá-la. O sofrimento é o cálice que o povo de Deus
precisa beber, enquanto caminha rumo à glória. A cruz vem antes da coroa, o
sofrimento antes da recompensa final. Nós entramos no reino de Deus por meio de
muitas perseguições (At 14.22). Há um equilíbrio entre bênçãos e batalhas na
vida cristã.
Em
quarto lugar, há uma realidade surpreendente. Jesus foi categórico: “Porém
muitos primeiros serão últimos; e os últimos primeiros” (10.31). Para o público
em geral, o rico ocupa um lugar de proeminência e os pobres discípulos, o último
lugar. Mas Deus vê as coisas na perspectiva da eternidade – e o primeiro se
torna o último enquanto o último se torna o primeiro.[8]
CONCLUSÃO
Quanto
você ganhará se fechar esse negócio? A vida eterna! Quanto perderá se deixar de
fechar esse negócio? Perderá a vida, o céu!
[1] Warren W. Wiersbe. Be Diligent. 1987: p. 100.
[2] Larry W. Hurtado. Mark. Harper & Row. 1983: p. 152.
[3] Warren W. Wiersbe. Be Diligent. 1987: p. 101.
[4] Dewey M. Mulholland. Marcos: Introdução e Comentário. 2005:
p. 160.
[5] Dewey M. Mulholland. Marcos: Introdução e Comentário. 2005: p. 161.
[6] William Hendriksen. Marcos. 2003: p. 508.
[7] Warren W. Wiersbe. Be Diligent. 1987:
p. 102.
[8] Warren W. Wiersbe. Be Diligent. 1987: p. 103.
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