Por Alex Belmonte
Uma das grandes
deficiências de muitos crentes e principalmente pregadores é a falta do
conhecimento das regras da Hermenêutica Bíblica para a pregação da Palavra. Com
isso é comum ouvirmos determinados absurdos, que, muitas vezes, acabam causando
enormes contradições doutrinárias e até mesmo as famosas “heresias de púlpito”.
A hermenêutica que aqui me
refiro é a ciência que estabelece os princípios, leis e métodos de
interpretação. As pessoas pensam que basta apenas ler a Bíblia e o Espírito
Santo faz o restante. Sim, é claro que o Espírito Santo age no momento em que
lemos a Bíblia. Ele nos dá a iluminação dos textos, mas o Espírito acaba
encontrando limites para atuar de forma mais abrangente, pois encontra na vida
de muitos cristãos o comodismo na busca do crescimento no conhecimento da Bíblia,
entre eles a forma correta de interpretar as Sagradas Escrituras.
Na sua origem e raiz
encontramos três tipos de hermenêutica que nasceram da tradição de leitura e
interpretação de diferentes corpos textuais: Hermenêutica jurídica, filológica
e teológica. A abrangência da disciplina alcança
diferentes escalas, mas em todas as abordagens a hermenêutica possui as mesmas
características de ação.
1.
A Hermenêutica Jurídica
O Dr. Paulo Fernandes
Trindade define a Hermenêutica Jurídica como “a técnica específica que
visa compreender a aplicabilidade de um texto legal”. A Hermenêutica
Jurídica possui também alguns métodos de aplicação. Na verdade, são regras
técnicas que visam à obtenção de um resultado. Com elas procuram-se orientações
para os problemas de decidibilidade dos conflitos.
2.
Hermenêutica Filológica
Do grego antigo, “amor
ao estudo, á instrução”. É a ciência que estuda uma língua, literatura,
cultura ou civilização sob uma visão Histórica, a partir de documentos
escritos.
A hermenêutica
filológica é responsável por fazer o leitor entender a literatura em sua mais
ampla visão. Nesta visão estão os mistérios das diversas culturas, de uma
língua e todo um revestimento histórico.
Com isso precisamos
entender que não basta apenas ler um livro histórico, fazer uma leitura
viajante sem interpretar a História. Essa interpretação filológica é feita pelo
ponto de vista crítico e
investigativo, encontrando seus valores, ensinos, particularidades e questões
gerais.
3.
Hermenêutica Teológica
A Hermenêutica
Teológica que tem no seu cerne a texto bíblico deixa claro em que medida o
texto original deve ser tratado com uma especial atenção. É a disciplina da
Teologia Exegética que não só ensina as regras de interpretação, mas também a
maneira de aplicá-las corretamente. É a ferramenta que aborda com profundidade
os textos sagrados nos seus preciosos capítulos e versículos.
O termo Hermenêutica
procede do verbo grego hermeneuein, usualmente traduzido por “interpretar”,
e do substantivo hermeneia que significa“interpretação”. Tanto o verbo
quanto o substantivo podem significar “traduzir, tradução”.
O
que é então Exegese?
Exegese é o estudo
cuidadoso e sistemático de um texto para comentários, visando o esclarecimento
ou interpretação do mesmo. É o estudo objetivando subsidiar o passo da
interpretação do método analítico da hermenêutica. Este estudo é desenvolvido
sob as indagações de um contexto histórico e literário. Sendo assim, a
hermenêutica é a ferramenta de interpretação e a exegese, a maneira como usar
essa ferramenta.
A palavra Exegese, do
grego eksegesis, cujo significado é “explicar, interpretar,
contar, descrever, relatar”. Significa, segundo o contexto, narrativa,
explicação, interpretação.
O termo é formado pela
aposição do final “isis”, expressivo de ação, ao tema verbal composto, ek+hegeomai,
cujo significado é “tiro, extraio, conduzo fora”. A exegese é,
pois, a extração dos pensamentos que assistiam ao escritor ao redigir
determinado documento.
A Exegese refere-se a
idéia de que o interprete está derivando o seu entendimento do texto, em vez de
incutir no texto o seu entendimento. Teologicamente a exegese utiliza-se de
modos formais de explicação, que são aplicados a passagens bíblicas.
Por isso, o termo
exegese significa, como interpretação, revelar o sentido de algo ligado ao
mundo do humano, mas a prática se orientou no sentido de reservar a palavra
para a interpretação dos textos bíblicos. Exegese, portanto, é a denominação
que se confere à interpretação das Sagradas Escrituras desde o século II da Era
Cristã. Orígenes, cristão egípcio que escreveu nada menos que 600 obras,
defendia a interpretação alegórica dos textos sagrados, afirmando que estes
traziam, nas entrelinhas de uma clareza aparente, um sentido mais profundo.
O inimigo da Exegese: A Eisegese
Enquanto a exegese consiste em extrair o significado de um
texto qualquer, mediante legítimos métodos de interpretação, a Eisegese consiste em injetar em um texto, alguma
coisa que o intérprete quer que esteja ali, mas que na verdade não faz parte do
mesmo. Sendo assim, a eisegese consiste em manipular o texto para dizer o que
ele não diz. Jamais confunda Exegese com Eisegese.
Existem de fato três
tipos de argumentos quanto a interpretação bíblica, que podem revelar a
presença da eisegese: Argumento bíblico, extra bíblico e antibíblico.
O Argumento bíblico
surge quando se considera o que realmente está escrito, ou seja, a
interpretação é baseada justamente no que está registrado, sem acréscimo ou
extração. Como exemplo podemos usar a passagem de Mateus 14. 25 onde registra “Jesus
andando sobre o Mar”. O argumento bíblico é aquele que afirma que Jesus não
correu sobre o mar, bem menos que ele se arrastou sobre o mar, mas conforme
está escrito “andou”. Não encontramos aqui nenhuma possibilidade para a
influência da eisegese.
O Argumento extra
bíblico por sua vez trabalhará com uma interpretação dentro de uma lógica ou
análise correta cujo resultado não afetará o texto. É aquilo que não está
escrito, mas que também está coerente com o que está registrado. Vamos usar o
mesmo exemplo. O pregador poderia dizer “Jesus andou sobre o mar e o
vento balançava suas vestes”. Se considerado o argumento bíblico essa frase
está totalmente errada, pois o texto não diz que o vento balançava as vestes do
Mestre. Mas usando a lógica na interpretação veremos que em auto-mar é comum o
agir do vento, principalmente em meio a uma tempestade, como detalha o
versículo anterior: “o vento era contrário” (v. 24). O grande
problema é que a maioria dos pregadores, buscando usar um argumento
extra-bíblico, acabam enredando para as incansáveis conjecturas e causando
grande contradição com Verdades doutrinárias e até mesmo criando heresias. Isto
é, uma falta de cuidado criará a eisegese, no lugar da exegese.
Argumento Antibíblico,
como o nome já diz, se trata de uma argumentação que fere a doutrina bíblica e
os fundamentos da Palavra. Usando o mesmo texto ficaria assim: “Jesus
andou sobre ao mar e quase que afundou”. Talvez não veríamos problema algum
em entender que Jesus poderia ter quase afundado visto que o mar estava muito
agitado. Seria até uma tentativa extra bíblica. Mas a grande verdade é que, se
Jesus quase afundou isso significa que ele não teve tanto poder assim para
andar sobre o mar. E se ele não teve poder suficiente para andar sobre o mar,
muito menos posso questionar sua autoridade para acalmar uma tempestade como
registra outros relatos. Sendo assim esse argumento é herético, antibíblico.
Eis aí uma raiz da eisegese.
Conclusão
Concluo lembrando que
deve o exegeta possuir qualidades espirituais, principalmente o temor e a
reverencia ao Espírito Santo em seu ministério de ensino e exposição bíblica. O
homem espiritual, segundo Paulo, é o crente que tem capacidade de julgar, de
discernir, de compreender todas as verdades espirituais. O crente maduro sabe
se comportar frente aos desafios que a interpretação bíblica requer.
Deve ser cheio do
Espírito, isso significa ter uma vida de comunhão e intimidade com Deus. Para
conhecer profundamente o significado da Bíblia, o intérprete deve entender que
o conhecimento adquirido pelo estudo tem como base a ação do Espírito Santo na
vida daqueles que buscam crescimento. A carência de sensibilidade com o
Espírito Santo incapacita o exegeta para captar com profundidade o significado
das passagens bíblicas.
O hermeneuta reconhece
o valor das línguas sagradas. Sabe que uma consistente extração da verdade
depende, a certo ponto, do conhecimento das línguas bíblicas. Por isso se
dedique ao conhecimento do grego e hebraico bíblico. Além das línguas originais
também da história dos povos bíblicos, da geografia palestina, arqueologia do
Oriente Médio, etc.
Enfim, a interpretação
bíblica perfeita é feita por um conjunto de regras e princípios, conduta,
espiritualidade, e ação de Deus na vida do leitor. Contudo, a melhor
interpretação é aquela cujo efeito edifica e desperta vidas com o poder de
Palavra, e leva pessoas à Cristo para a experiência da salvação.
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