No último sábado, tivemos mais
um capítulo da série “Silas Malafaia em busca do poder terreno”, uma série já
dura há bastante tempo. Tive a oportunidade de ouvir, ao vivo, o sr. Silas
pregando nos últimos vinte anos, e infelizmente esse cidadão passou por grandes
transformações.
Sua mudança ocorre de forma cronológica, pensada e articulada por
seus assessores. Do bigode ao implante de topete, muito dinheiro e muito
empreendedorismo de marketing foram necessários.
No último sábado, sinceramente eu tinha uma esperança, pois o
desafio de Malafaia era na Bíblia. Sendo assim, eu imaginava que ele, em temor
a Deus e Sua Palavra, apresentasse algo verdadeiro.
Porém, estou decepcionado, pois nada novo foi apresentado.
O pior: tudo foi milimetricamente calculado por seus assessores.
Seguindo sua própria orientação, vou desenvolver o texto segundo os temas
propostos por ele: duvidar, criticar e determinar.
a) Duvidar
O ambiente do culto foi previamente calculado. Silas reúne em um
espaço bastante conceituado no mundo dos espetáculos, pois ficaria mais
fácil a exposição midiática. Cada imagem, cada foco descreve isso. O povo não
percebeu, mas todos estavam ali fazendo parte de um espetáculo com objetivos já
calculados.
A multidão, o local são a imagem perfeita para Silas demonstrar seu
poder diante de partidos políticos e seus candidatos, dizendo a todos eles:
estão vendo? Eu tenho moeda de troca para barganhar com vocês.
Dos milhares que ali estavam, cada um representa votos a serem
explorados.
Nisso, o sr. Malafaia se tornou um exímio profissional, pois sua
carreira pastoral não seria a mesma sem seus vínculos políticos. Ele sabe as
consequências e os lucros de um apadrinhamento político. Isso é facilmente
percebível ao vermos que o antigo pastor bigodudo, que dirigia uma velha perua
kombi no início do seu ministério, hoje desfila pelas avenidas do Rio com sua
Mercedez blindada, doada por um parceiro.
A prova disso é que nessa última semana foi divulgado nos meios de
comunicação uma proposta do Governo Dilma que visa proibir o aluguel de
horários na TV aberta, e os primeiros a se manifestarem contra essa medida
foram os líderes evangélicos, por se sentirem prejudicados. O interessante
dessa notícia é que parece óbvio que líderes evangélicos realmente vêm se
utilizando dos espaços de mídia para auto-promoção e para a barganha do povo,
por votos, diante de partidos e políticos. Isso é notório pelo número de
políticos, futuros candidatos e interessados ou representantes dos meios políticos
nos púlpitos dos principais cultos e eventos promovidos por ministérios
evangélicos. Ou seja: o meio evangélico já provou que pode agrupar multidões e
esse é um terreno fértil para o assédio político. Talvez seja esse o verdadeiro
meio que muitos líderes evangélicos descobriram para justificar a sua
“prosperidade” ou seu “meio de fé”.
Para líderes como Silas e outros mais, “Deus” e “Jesus” são meros
produtos a serem negociados dentro do seu enorme panteão de mercadorias, que
estão disponíveis para todo aquele que esteja pronto a pagar. Há uma perda
considerável da definição do que é Sagrado e Profano.
“Os seus sacerdotes violentam a minha lei, e profanam as minhas
coisas santas; não fazem diferença entre o santo e o profano, nem discernem o
impuro do puro; e de meus sábados escondem os seus olhos, e assim sou profanado
no meio deles”. Ezequiel 22:26
Segundo ponto a analisar: que o sr. Malafaia não abandona a sua
postura de arrogância, prepotência, soberba narcisista. Fica evidente, pelo
desdém e pela ironia ao citar aqueles que o criticam, o uso de termos como
trouxas, idiotas, babacas, panacas, manés, bandidos, e outros mais que só os
bastidores podem revelar. Segundo pessoas que o acompanham nisso, dizem ser
comum palavras de baixo calão na boca desse homem.
Esse desrespeito o deixa cego, pois hoje no Brasil calcula-se que o
número de blogs pode ultrapassar os cem mil, e muitos dos que têm blogs também
têm uma formação. São teólogos, filósofos, sociólogos, antropólogos, e seus
blogs são uma forma de estender a todos suas fontes de conhecimento. Muitos
blogs nascem no período da graduação ou pós-graduação, ou até no mestrado ou
doutorado. É preciso saber que as extravagâncias e o modo de ser nada peculiar
do sr. Silas é objeto de pesquisas em muitas universidades, em cursos de
mestrado e doutorado, pois sua forma espetaculosa de culto já há muito tempo é
percebida nos meios acadêmicos.
Então, chamar blogueiros na TV de idiotas, analfabetos e demais
adjetivos pejorativos não responde com a verdade. Essa é a forma que o sr.
Silas se utiliza para se corresponder com aquilo que ele acha que é inferior e
desprezível ao seu modo de ser.
Ainda há a ira com que Malafaia fala dessas pessoas. Tanto sua
postura como seu linguajar estão totalmente contrários ao modo de ser de um
verdadeiro homem de Deus, pois a Bíblia nos revela que seremos conhecidos pelos
frutos, e frutos do Espírito Santo, e ainda destaca esses frutos:
Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade,
benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. – Gálatas 5.22
Com certeza, quem já teve a oportunidade de assistir aos programas
do Silas Malafaia, percebe que ele se esqueceu desse versículo.
Agora, o ponto central no desafio é a pregação. Silas, de forma que
eu também acredito pensada e articulada, apresenta suas idéias em versículos
fracionados, ou versículos isolados. Isso é típico de quem tem a arte de
manipular através das palavras. O sr. Silas descreve, através de suas
pregações, que com certeza não tem conhecimento bíblico necessário para expor,
através de uma pregação ou um sermão, as bases do discurso fundamentadas em
técnicas básicas da exegese e da hermenêutica, palavras essas que já até ouvi
ele citar, porém quem ouve sua pregação vê que é impossível acreditar que ele
saiba praticar uma boa exegese e uma boa hermenêutica.
Eu perguntaria: o sr. Silas apresentaria suas idéias, suas bases
sobre a Teologia da Prosperidade diante de uma banca acadêmica, formada por
biblistas renomados, já que defende suas idéias com tamanho afã? Acredito que
não.
Silas descreve, através de sua pregação, que nivela seus ouvintes
por baixo, com chavões místicos, muita oratória baseada em histórias pessoais
e, quando apresenta alguma coisa diferente, demonstra estar plagiando algum
texto ou sermão que nunca fornece a referência. Isso é facilmente
percebível, pois falta em seus sermões referenciais teológicos, históricos,
antropológicos, filosóficos. Ou seja, é difícil classificar o sr. Silas como
teólogo, ou perceber que suas idéias partem de uma teologia sistemática,
aprofundada pelo pensamento e pelo mergulho num mundo de idéias.
Com certeza, sua justificativa é a de muitos pregadores do meio
pentecostal e neopentecostal: eu prego pelo Espírito. Porém, o mesmo apóstolo
que ele usou no sábado para apoiar suas idéias, nos diz:
“Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o
entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento.’
– 1 Coríntios 14:15
Sabemos que todo ser humano tem seu conhecimento. Paulo Freire
destaca em sua obra a sabedoria popular como um dos grandes referenciais para o
crescimento dos seres humanos. O que acontece é que o contexto pentecostal é
direcionado com projetos onde suas lideranças vivem num mundo cercado por uma
forte concorrência pessoal e ministerial. Exemplo disso: é só acompanhar nos
sábados pelo manhã aos embates que ocorrem por uma mesmo denominação, em um
mesmo período de horário.
Fico a pensar: o que um leigo pensa depois de ficar um sábado, das
8 às 12 horas, vendo a programação da Rede TV? Será que ela seria capaz de
definir o que a Assembléia de Deus e quem são os seus líderes?
Isso só é possível depois de meses ou anos mergulhado nessas
igrejas, que devido à ganância de seus líderes, se perdem diante daquilo que
eles pregam e diante de toda a sua história. Muitos desses líderes provaram dos
prazeres do mundo, e se perderam em suas essências, não sabendo mais o caminho
de volta, ou muitos não querem voltar ao velho discurso de abençoar pobres e
viúvas.
A teologia da prosperidade dá frutos “muito melhores”, pois na
medida em que o povo é abençoado, seus líderes também são.
Silas e muitos outros líderes, sem perceber, têm saído de uma
teologia sistemática consistente e fundamentada para criar, cada um, as suas
teodisséias. Ou seja, eles partem do princípio bíblico, porém vão aos poucos
manipulando esses princípios, até que o povo não se aperceba que estão
praticando e servindo a conceitos adulterados. Por isso, Silas se utiliza, em
suas pregações, da palavra “verdade”. No decorrer do seu ministério,
destacou-se por sempre buscar a verdade. Porém, quando é interpelado por suas
próprias palavras, ele revela sua ira.
É preciso saber que a igreja brasileira tem mudado. Hoje temos
acesso a novas literaturas, melhor formação, e a internet possibilita contato
com o mundo todo de forma rápida e segura. Hoje já temos aulas dos grandes
centros de pesquisa traduzidas para o português e disponíveis para todos os que
desejam o conhecimento. Temos, hoje, editoras traduzindo os livros e autores
históricos do cristianismo. É preciso urgentemente que o sr. Silas fundamente a
sua teologia, que descubra através de estudos sérios que a filosofia não é um
besteirol, mas sim uma ciência que muito pode apoiar o teólogo, pois querer ser
um deus numa terra de cegos é algo que será bastante trabalhoso, pois os
blogueiros estão atentos.
b) Criticar
Bem, aqui exerço o que é peculiar na minha formação, pois sou
teólogo formado em uma instituição teológica conceituada e reconhecida. Possuo
pós-graduações e sou um assíduo participante de congressos e seminários, sem
contar que sou um leitor apaixonado pelo conhecimento.
Tudo isso para dizer que os termos pejorativos podem até se
encaixar a mim, mas me esforço para ser um teólogo que caminha nos passos da
vida, pois um teólogo que não se empenha na arte da crítica não entendeu
os porquês da sua formação.
O texto apresentado pelo sr. Silas se fundamenta em 2 Co 9. Ele
apresenta o texto totalmente fracionado, ou seja, não faz uma exegese do texto.
É preciso dizer que citar um texto do Apóstolo Paulo e não fundamentá-lo com a
vida do apóstolo é algo terrível para todo biblista. É preciso dizer que o Apóstolo
Paulo reflete para nós os passos a ser percorridos de homem pecador a homem
transformado e nascido de novo pela ação do poder de Deus.
Então, usar textos referidos ao Apóstolo Paulo sem falar de seu
caráter é uma perda de tempo. Paulo é exemplo a ser seguido por teólogos,
missionários, pastores, enfim, por homens e mulheres que desejam “VIVER” de
forma plena o ministério de Cristo, pois sua mensagem se relaciona com sua
vida, pois nele estava o Espírito de liberdade e a teologia da cruz.
A carta aos Coríntios tem sido usada por muitas igrejas para criar
teologias não existentes, como por exemplo as doutrinas de usos e costumes, que
durante décadas subjugaram as mulheres no seio da igreja. De repente, do nada
essas doutrinas desaparecem, e muitos são os pregadores e líderes que até hoje
não explicaram ao povo anos e anos de uma doutrina não pertencente à
teologia de Paulo.
O sr. Silas apresenta um texto sem antes buscar definições e
pressupostos. Isso só seria possível se ele fosse um exímio conhecedor dos
textos originais. Ou seja, conhecedor do grego e do hebraico, e das demais
línguas antigas. Fazer exegese é um trabalho fascinante, pois é uma forma de
interpretar a Bíblia. O grande problema é que muitos pastores de formação
pentecostal não se aplicam ao estudo real da Palavra de Deus.
Hoje é possível ter um ”diploma” ou “certificado” teológico de
forma tão superficial, que você se matricula, recebe as lições e o diploma,
tudo na mesma hora. E muitos são aqueles que acreditam que isso é estudar
teologia.
Os efeitos colaterais desses cursos, seminários, institutos e
demais formas de dizer que se estuda a Bíblia são as heresias que se
multiplicam dia após dia.
O sr. Silas tenta de alguma forma se apresentar como conhecedor da
Bíblia, porém ele se aplica dentro do seu contexto, e sabe para quem está
falando. Divide o sermão com o intuito de aplicar técnicas de oratória, vindas
do seu curso de Psicologia. Ou seja, utiliza-se de pontos de pressão, com
informação, palavras responsivas, fazendo com que o público viaje dentro do
texto, tendo a impressão de que está totalmente aprofundado no mesmo. Porém, os
pontos são batidos à exaustão, e muitos, sem saber, estão dentro de uma
teodisséia muito bem pensada.
Ele destaca, em seu texto, palavras como oferta, bênção, glória de
Deus, Graça de Deus. Tudo isso como pressupostos para um ato de fé. Em momento
algum, ele sai do capítulo referido, pois se partisse para outro capítulo, com
certeza seria quebrado o “encantamento” a ser aplicado ao público que o ouvia,
pois as cartas aos coríntios não têm como centro a oferta, e não somente a
prosperidade. Para Paulo, a mensagem de Cristo é para os que sofrem, para os
que buscam um sentido na vida.
Para falar sobre as ofertas, era preciso também dizer do contexto
cultural e social da vida em Corinto. Aí, com certeza, entenderia-se o porquê
da perícope do capítulo 9 de 2 Coríntios.
Esse é o grande mal de muitos pregadores: utilizar-se do texto
bíblico sem conhecer o texto de forma aprofundada. Eu não acredito que o
Espírito Santo tenha a capacidade de revelar a um pregador um texto de forma
errônea, ou ensinar um texto de forma errada, sabendo que Ele mesmo capacitou a
outros para saber aquele texto de forma mais aprofundada.
Temos hoje, no Brasil, teólogos, biblistas que não precisam se
utilizar de “americanos” para trazer ensino e conhecimento de qualidade para o
seio da igreja brasileira. É preciso dizer que na América há muitas teologias
boas. Não sei o porquê o seio pentecostal parece trazer sempre conceitos
duvidosos e pouco proveitosos.
Criticar esse texto do sr. Silas fica até fácil, pois o texto
apresentado é sua base para justificar sua teologia da prosperidade. Ainda bem
que ele mesmo diz, em sua pregação: “eu não sei tudo da Bíblia”. Teologia da
prosperidade não se encaixa com nossa realidade cultural e social.
Isso revela o porquê de tantos anos necessários para justificar
essa teologia. Somos um continente onde predomina a exploração dos mais fracos.
Onde analfabetismo, fome, sede, doenças, falta de saneamento básico, falta de
moradia, violência são utilizados como forma de sustento político-social. Onde
até mesmo as soluções para todos esses problemas têm o mesmo intuito. Então uma
teologia para essa realidade tem que nascer nesse meio, ou seja, tem que ser o
reflexo da realidade e da cultura desse povo.
Não adianta ir aos EUA e se deslumbrar com os grandes templos, com
a prosperidade de muitas denominações, e colocar tudo isso na mala, e
desembarcar no Brasil se sentindo o “inventor da roda”. Essa teologia pode até
funcionar nos grandes centros urbanos, porém no interior e nos Estados
longínquos, isso não fará efeito algum.
A prova disso é que a fome, a miséria e a morte ainda fazem parte
de muitos lugares no Brasil. Teologia da prosperidade precisa ser revista,
precisa ser aprimorada por pessoas responsáveis, que tratem a Palavra de Deus
com seu verdadeiro sentido. Não basta jogar ao vento, imaginando que ela trará
o seu resultado.
c) Determinar
Sei que, se o sr. Silas ou algum dos seus auxiliares, chegou
até aqui nesse artigo, com certeza já levei vários nomes pejorativos, que fazem
parte do vocabulário dessa gente. Porém, quero aqui fazer lembrança de que
muito do que o sr. Silas sonha e almeja ministerialmente, já foi alcançado por
um pastor americano da sua própria denominação. Um homem que conseguiu aos
sábados pela manhã unificar os quatro continentes em torno do seu programa
televisivo. Algo incrível, em se tratando de quase três décadas atrás.
Isso nos faz pensar no que será possível hoje, com todos os avanços
tecnológicos disponíveis. Então, o caminho almejado pelo sr. Malafaia já tem um
referencial, e eu acredito que, se utilizando dos conchavos políticos, da sua
teodisséia, ele irá alcançar e até ultrapassar muitos pastores pelo mundo.
Porém, é preciso lembrar também que este pastor americano referido caiu, da
mesma forma que subiu, em um escândalo mundial.
Acredito que o sr. Silas terá um programa de auditório na TV, terá
um programa interligado mundialmente, porém é preciso lembrar que a soberba, a
vaidade, a ganância precedem a queda. O sr. deveria estudar a biografia de
grandes líderes mundiais, e com certeza verá uma relação entre todos: não
subestime nem despreze as pessoas.
Talvez o sr. esteja me chamando de “profetinha de meia-tigela”, ou
outros nomes. Porém, quero deixar aqui, para terminar, um versículo do Apóstolo
Paulo, que você não referiu na sua pregação, mas que pode ser lido ao todo:
“Ora, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios
segundo a carne, nem muitos os poderosos. nem muitos os nobres que são
chamados. Pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para
confundir os sábios; e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir
as fortes; e Deus escolheu as coisas ignóbeis do mundo, e as desprezadas, e as
que não são, para reduzir a nada as que são; para que nenhum mortal se glorie
na presença de Deus”. 1 Coríntios 1:26-29
Certa vez ouvi um provérbio que mudou minha vida, e gostaria de
terminar esse artigo com esse provérbio:
“É muito fácil perceber quando alguém fala movido pelo Espírito
Santo de Deus: pois com poucas palavras nos toca o coração”.
Precisamos de homens e mulheres capacitados de poucas palavras e
que de forma pura e simples nos toque o coração, ao ponto de transformar nosso
modo de ser.
Que Deus abençoe a todos.
Paulo Siqueira
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