domingo, 5 de setembro de 2010

UM POUCO SOBRE POLÍTICA NA IGREJA – Uma entrevista para o Jornalista Marcelo Santos da Revista Show da Fé.

      SHOW da Fé – 1 – Quando o senhor era pastor da Primeira Igreja Batista de Santo André, organizou, durante as eleições de 2002, um debate com os candidatos à presidência do país. Pode contar como foi aquela experiência?
       LEVI ARAÚJO – Na verdade, o processo de conscientização política começou em 1998 com o Fórum Evangélico de Conscientização do Voto.
Irritado com a postura dos candidatos evangélicos da cidade, juntamente com alguns lideres da igreja, começamos organizar encontros onde Política, Políticas Publicas e Políticas Partidárias pudessem ser debatidas.
Assim surgiu o Projeto SEGUNDA CIDADÃ.
       Ouvíamos os representantes do governo municipal e estadual sobre os programas, projetos e ações que eram desenvolvidos junto à população.
       Nas eleições municipais de 2000 nós tivemos o primeiro debate com todos os candidatos majoritários à Prefeitura de Santo André. Todos puderam expor as suas idéias e planos de governo para a liderança evangélica da cidade e alguns membros da igreja.
       O Segunda Cidadã não era um projeto de época de eleição, daí a explicação para a respeitabilidade que o projeto ganhou em toda a cidade e região.
       Nas eleições nacionais de 2002 foi realmente o auge do projeto.
Tivemos um debate com todos os candidatos ao Governo do Estado de São Paulo. Estiveram presentes Geraldo Alckmin, Paulo Maluf, Genoíno e os demais.
       Foi o primeiro debate “AO VIVO” fora do eixo central da cidade de São Paulo. O debate foi transmitido “AO VIVO” pó uma tevê à cabo para todo o Grande ABC e Baixada Santista.Eu mesmo moderei o debate que tinham jornalistas políticos convidados e pastores e teólogos de renome que participaram fazendo perguntas aos candidatos.
       Tudo de acordo com o que tinha sido previamente combinado com as assessorias de cada um dos candidatos. Tudo muito bem feito, com total isenção e de maneira republicana e democrática.
       Em seguida, ousamos e convidamos todos os candidatos à Presidência da República.
       Fomos duramente criticados, pois o Garotinho dizia-se o candidato dos evangélicos e por isso se sentia no direito de ter exclusividade no projeto. Seguimos firmes em nosso propósito e insistimos com todos para que participassem.
       Somente dois candidatos aceitaram e compareceram, o candidato do PT que veio em um domingo e o do PCO que veio em uma segunda feira. Assim, acompanhado do Senador e Pastor Americano Jesse Jackson, juntamente com grandes lideranças políticas, dos direitos humanos e do movimento negro, Luis Inácio LULA da Silva teve a oportunidade de falar no projeto Segunda Cidadã para um grupo de convidados diante da imprensa nacional e internacional. Isso saiu no Fantástico e em outros espaços trazendo uma grande repercussão e polemica.
       No dia seguinte, os trotskistas do PCO, aqueles que dizem que “quem pica cartão não vota em patrão”, tiveram a oportunidade de falar sobre tudo o que acreditam, inclusive sobre luta armada.
      SHOW da Fé – 2 -  Quais foram os reflexos daquele debate para a conscientização política entre os evangélicos e a conscientização do segmento evangélico, pelos políticos?
       LEVI ARAÚJO – Foi realmente uma experiência rica e inesquecível. Um exercício democrático extraordinário e enriquecedor.
       Uma oportunidade única para mostrar ao Brasil e ao Mundo um Projeto de Conscientização cheio de conteúdo que contribuiu para apagar um pouco o estigma que às vezes merecemos de ser um povo alienado, obscuro e preconceituoso que não passa de massa de manobra a serviço dos conchavos que acontecem entre os lideres evangélicos e os líderes políticos, principalmente os que estão no Poder.
       Todavia, muitos não gostaram nada do que aconteceu. Quem não gostou?
       Aqueles que transformam púlpito em palanque e redil de ovelhas em curral eleitoral, aqueles que pregam que política é coisa do diabo e que crente não deve se envolver nisso e aqueles que sempre se aproveitaram dessas duas maneiras de pensar.
       Os representantes desses três grupos bateram pesado no projeto e em mim. Eles não aliviam até hoje.
      SHOW da Fé – 3 – Hoje as igrejas dispõem de pesadas estratégias para arregimentar votos aos seus candidatos preferidos. Como o senhor avalia a postura das igrejas no jogo político?
       LEVI ARAÚJO – É a manipulação espiritualizada que infantiliza e aliena as pessoas.
       É o nosso jeito de fazer o mesmo lobby desavergonhado que outros grupos fazem para se estabelecerem no poder e assim “cuidarem” dos seus interesses corporativos.
       Algumas igrejas e lideres religiosos se envolvem escandalosamente na manipulação política do rebanho e no outro extremo estão aqueles que se omitem completamente do processo político, sinceramente, não sei o que é pior, às vezes eu os vejo como parceiros na destruição de qualquer conscientização política e maturidade cidadã dos fiéis.  
      SHOW da Fé -4 – O senhor foi candidato a vereador e presidente do PHS, em Santo André. Qual é seu atual envolvimento com a militância política?
       LEVI ARAÚJO – Sem estar à frente de nenhuma igreja, em Março de 2005 eu fui convidado pelo Prefeito de Santo André para trabalhar como seu Assessor no Projeto Santo André – Cidade Futuro – O Planejamento estratégico participativo a médio e longo prazo da Cidade.
Foi um período muito rico e frutífero para a minha vida.
       No final de 2007, o prefeito e o seu grupo político me lançaram um desafio para que eu assumisse a Presidência do PHS visando a formação e fortalecimento das coligações para as eleições de 2008.
       Muito a contragosto eu aceitei e assumi a presidência daquele partido.
       De uma coisa eu estava certo, aquele grupo político ainda era o melhor para continuar no comando da cidade, pois o governo era bom para todos e não somente para os evangélicos, afinal, é assim sempre que as coisas devem ser.
       Também decidi ser candidato a vereador. Uma decisão que eu não deveria ter tomado naquele momento, pois terminei esquecendo da minha campanha e gastei mais tempo na articulação de uma Frente de Esquerda na Cidade, a maior de todos os tempos.
       Com o abandono da campanha, a minha inexperiência, os vícios dos partidos pequenos e o jogo pesado dos atores políticos eu não fui bem sucedido. Penso que se um dia eu tiver que enfrentar esse desafio, eu farei de uma maneira completamente diferente.
       Não preciso dizer que em nenhum momento eu me coloquei como o candidato dos evangélicos, o candidato escolhido por Deus, enfim, essas sandices e tolices que infelizmente ainda dá muito voto. Nesse caso, é preferível perder.
      SHOW da FÉ - 5 – É possível separar o posicionamento ideológico político do púlpito?
       LEVI ARAÚJO – Muito difícil. Para quem tem posicionamento ideológico político consistente e coerente sim, muito difícil.
       Por isso que a honestidade, transparência e sinceridade devem sempre estar presentes.
       Alguns dizem que separam as coisas com facilidade.
       Penso ser fácil pra quem não tem nenhum posicionamento ideológico político.
       Penso ser fácil pra quem tem uma postura fisiológica e interesseira.
       Penso ser fácil pra quem vive encima do muro.
       Penso ser fácil pra quem se omite e acha isso a única coisa certa a fazer.
      SHOW da FÉ – 6 – Existe um limite ético para abordar o tema política dentro da Igreja? Qual e como seria?
       LEVI ARAÚJO – Sim. Tem que haver um limite ético.
       Eu costumo dizer o seguinte:
       1)Eu tenho o direito de não abrir o meu voto.
       2)Eu tenho o direito de abrir o meu voto.
 Mas….
       3)Eu NÃO tenho o direito de impor o meu voto.
       4)Eu NÃO tenho o direito de me OMITIR diante da conscientização política e da educação cidadã das pessoas que me reconhecem como autoridade espiritual.
       É de fato uma linha por demais tênue e o nosso desafio está em procurarmos o caminho do meio, o caminho do equilíbrio.

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Fonte:www.apocalink.blogspot.com