Entrevista concedida a Raphael Gomide iG Rio de Janeiro
E publicada em: ÚLTIMO SEGUNDO
Silas Malafaia, fundador da Assembléia de Deus Vitória em Cristo e prestigiado pastor no meio evangélico, consolidou-se, nas eleições de domingo (7), como um importante líder político
em âmbito nacional. repetindo os passos de outras influentes denominações, como a Igreja Universal e a Assembléia de Deus.
Carismático, com linguagem direta, cheia
de gírias e por vezes agressiva em defesa de suas idéias conservadoras, ele está no centro
de polêmica em São Paulo, onde apóia José
Serra (PSDB) contra Fernando Haddad
(PT), a quem se refere como "autor do kit-gay".
Malafaia apoiou 40 candidatos vencedores
no pleito pelo País – 24 a prefeito (quatro estão no segundo turno) e 16 a
vereador. Com 48 indicados no total em sete Estados, sua performance foi de 83%
de sucesso.
Ele declarou voto em seis candidatos a
prefeito em cidades grandes. Dois venceram no primeiro turno: Eduardo Paes (PMDB), no Rio, e Fortunati (PDT), em
Porto Alegre e três foram para o segundo turno: José Serra (PSDB), em
São Paulo, Ratinho Júnior (PSC), em
Curitiba, na frente; e Neilton Mulim (PR) ficou em segundo em São Gonçalo
(segundo maior colégio eleitoral do Rio). Na menor cidade da lista, Palmas, seu
preferido, Marcelo Lelis, foi derrotado. “Só perdi com o cara de Palmas, onde
não tem segundo turno.”
“Apoiei
18 caras para vereador, 16 foram eleitos. Em Porto Alegre, quando cheguei para
apoiar (José) Fortunati (prefeito eleito), estava empate técnico com a Manuela Dávila (PCdoB). Dei uma força, lá em Porto Alegre tem
muito evangélico. Ele pediu: ‘Grava aqui para o TRE.’ Fiz um áudio e pus na
porta da igreja. Não digo que ganhei, mas ajudei a ganhar”, contou.
Ele concentrou as ações principalmente no
Rio: De 25 candidatos a prefeito no Estado,
perdeu em cinco municípios, venceu em 18 e dois foram para o segundo
turno. O religioso conseguiu fazer ainda 16 de 18 (86,6%) vereadores - 16
no Rio, um
em Manaus (AM)
e um em Cabo Santo Agostinho (PE), onde fica o Porto do Suape. Nas eleições de 2010, o pastor já tinha ajudado a eleger
três deputados
Apesar de ter dito ao iG que
faria campanha discreta para o tucano José Serra no segundo turno em São Paulo,
ele tem provocado polêmica, ao escrever seguidas mensagens críticas a Fernando
Haddad no twitter e no facebook, identificando-o como “autor do ‘kit-gay’”.
O pastor tem consciência de sua força
nas urnas, no segmento evangélico e se regozija disso. Ele afirma que esta sua missão é influenciar o máximo possível. “Gooosto (de
política)! Eu nunca vou ser candidato a nada, pode anotar aí! Agora, tenho a
convicção, como pastor, acredito que fui levantado para influenciar. Então, vou influenciar o
máximo que puder. Ser (político), nunca, mas influenciar, sempre!”
Malafaia também não tem pudores em
relação ao jogo político, cuja dinâmica revela conhecer bem. “Na época da eleição, o prefeito e governador
bajulam todo mundo para ganhar. Quando são eleitos, essa
aqui é que é a verdade, amigo: “Quem
é esse cara aí? Elegeu quem?” Então, para eles te
atenderem, você tem de mostrar que você tem força política! Senão é mais um
no bolo! (...) Essa é que é a verdade nua e crua.”
Segundo o pastor, é graças ao poder
político que os evangélicos conseguem garantir seus “princípios”. “Quando vier coisa
de molecagem contra os nossos princípios, a gente tem voz para pressionar. É esse que é o jogo. Isso é o que eu
faço. Não tem conversa: “Vai fazer essa lei aí? Vai? Então vai ver se vai ter o meu apoio...!” Você vê,
tanta coisa foi freada aí, em âmbito federal e tudo, por medo de
nossa comunidade”, explica.
Direto, o pastor não se furta a fazer
comentários sobre outras igrejas, como a Universal, com mais tempo de atuação
política.
Além
da igreja e da TV, onde tem programas em três canais, Malafaia aposta suas
fichas na influência pela internet. “O segmento social que mais usa a internet
e as redes sociais são os evangélicos.”
Ele contou ao iG que usa a mala direta de venda de seus produtos evangélicos (livros, CDs, DVDs) para fazer propaganda política de seus candidatos. Malafaia disse esperar que os candidatos por ele
apoiados defendam os interesses dos evangélicos e honrem o seu nome, porque os apoiou. Se pisar (na bola), “quem vai dar com o sarrafo sou eu, (...),
largo o aço em cima, (...) vou sacudir em cima dele!”. “Meu nome não está à venda para ninguém”,
afirmou Malafaia.
Leia a entrevista do iG com Silas Malafaia:
iG: Como o sr. analisa o seu envolvimento com a política?
Silas
Malafaia: A vida é
resultado do que construímos ao longo do tempo. A gente se posiciona e corre
riscos, põe a cara para bater. O povo evangélico vem amadurecendo. Estou há
muito tempo na mídia, e conquistei credibilidade com os evangélicos. Uma parte
acata e considera o que eu digo.
iG: O sr. gosta de participar dessa embate, não é?
Silas
Malafaia: Gooosto! Eu nunca
vou ser candidato a nada, pode anotar aí! Nada, nada, nada! Agora, tenho a
convicção, aquilo que sou, como pastor, como um dos líderes de um segmento, acredito
que fui levantado para influenciar. Então, vou influenciar o máximo que puder.
Ser (político), nunca, mas influenciar, sempre!
iG: Quantos candidatos o sr. apoiou nessas eleições?
Silas
Malafaia: Apoiei 18 caras a
vereador, 16 foram eleitos. Em Porto Alegre, quando cheguei para apoiar (José)
Fortunati (prefeito eleito), estava empate técnico com a Manuela Dávila. Dei
uma força, lá em Porto Alegre tem muito evangélico. Ele pediu: ‘Grava aqui para
o TRE.’ Fiz um áudio e pus na porta da igreja. Não digo que ganhei mas ajudei a
ganhar. O Ratinho Jr., conheço o pai dele, que me pediu ajuda. ‘Dá uma palavra
para os evangélicos’. Em São Paulo, entrei aos 45 minutos, no dia 1º. Segunda
de manhça, Serra me ligou para agradecer. Hoje (terça-feira, 9) estive com ele.
No Rio, apoiei 25 candidatos a prefeito.
Cinco perderam, 18 foram eleitos, e dois estão no segundo turno. Podia ter
apoiado 200 caras que vieram encher meu saco. Mas política é muito desgastante,
ao botar minha cara, para muita gente, corro muito risco. Se um cara desses faz
besteira, acabo chamuscado. Falei muito 'não'.
iG: O sr. considera que os evangélicos devem participar de forma
ativa, como grupo político?
Silas
Malafaia: Como os
evangélicos começaram a ser um segmento importante, o pessoal entende o
seguinte: se ateu, marxista, filósofo, operário pode dar opinião, por que não
posso dar? Falam tanto que somos fundamentalistas, retrógrados... O que não
posso dizer é que a igreja apoia (determinado candidato). Isso não digo. Não
suporto negócio de que a igreja apoia! Sou eu, que sou cidadão que apoio. Temos
de nos fazer representar. Na Bíblia, Jesus não anulou a cidadania terrena.
iG: E
como é que o sr. pede voto para os candidatos?
Silas
Malafaia: Falo em tudo o
que é lugar: ‘Você é livre para votar em quem quiser. Não tem anjo contratado
pelo pastor para fiscalizar e dedurar em quem votou.’ Quando digo isso, estou
respeitando o direito da pessoa, dona do voto. Ganho muito mais do que se
dissesse: ‘Vote aqui!’ Digo: ‘Se não tem candidato, tenho Alexandre Izquierdo
(vereador eleito, com 33.. Mas o voto é seu e vote em quem quiser. Não é
ostensivo, mas muito pontual. Se encher o saco, fizer apelo espiritual... Não
digo: ‘Este é o candidato de Deus, o resto é do diabo!’
iG: Em muitas igrejas, como a Universal, o pedido de voto é
explícito. O sr. faz isso também?
Silas
Malafaia: A Universal já
teve sete deputados estaduais (no Rio), cinco federais e quatro vereadores.
Agora elegeu três vereadores. O caso do Bispo Rodrigues (deputado federal
cassado, ex-líder político nacional da Universal, condenado no Mensalão, por
corrupção passiva e lavagem de dinheiro) foi uma paulada violenta. Mas tem a
questão da maneira ostensiva de pedir voto. O mais difícil não é fazer o povo
acreditar, é fazê-lo se manter acreditando é a história. Pode-se manipular as
pessoas por um tempo, mas não o tempo todo. Eu explico para as pessoas que
podem votar em um e eleger outro. ‘Se você vota em alguém sem chance elege o
outro (devido ao quociente eleitoral, número mínimo de votos de uma coligação
para eleger cada vereador ou deputado). Ensino como funciona o voto
majoritário. A maneira didática ajuda muito mais que impor (voto).
iG:
Quem é Alexandre Izquierdo, vereador eleito no
Rio com seu apoio?
Silas
Malafaia: Ele foi líder da
Juventude da igreja, é obreiro. É muito preparado intelectualmente. Aí,
perguntei a ele: ‘Quer ser pastor ou político?’ Ele disse: ‘Tenho vontade de
alcançar posições na política’. Aí decidi: ‘Vou investir nele! E falei (para os
fiéis): ‘Se não tem candidato, tenho Alexandre Izquierdo. Mas o voto é seu,
vote em quem quiser.
iG:
O sr. acha que ainda há preconceito contra a
participação de evangélicos na política?
Silas
Malafaia: Tem muito
preconceito contra os evangélicos. Acham que evangélico é semi-analfabeto,
primário, babaca, tapado, idiota. Nego esta por fora! Na minha igreja, tem
desembargadores, devo ter pelo menos 14 caras com doutorado ou cursando
doutorado. Claro que eu tenho gente pobre na igreja, porque é o estrato social!
Eu lancei um desafio para a garotada: o primeiro que passar para Harvard (uma
das melhores universidades do mundo) a igreja banca todo o curso. Para motivar!
Essa idéia de que evangélico é babaca,
semi-analfabeto, tapado, idiota, eu até fico rindo! É o estrato da sociedade.
Mas a igreja tem classe média. Hoje em dia pensar: ‘Ah, é bobinho, é curral de
pastor!’ Vai lá! Vai nessa! Não tenho nada contra, mas vou te dar um número: se
o povo da Universal fosse curral deles, eles elegeriam oito vereadores. Curral
é o escambau! Se a Universal fosse curral, seriam oito vereadores (no Rio), não
três!
Acham que os evangélicos são um bando de
bobos, otários. Nego está por fora! Depois do advento da internet não tem mais
bobo. O segmento social que mais usa a internet e as redes sociais são os
evangélicos.
iG:
O sr. também já apoiou deputados federais
eleitos.
Silas Malafaia: Botei a minha
cara para três caboclos, que foram eleitos federais. Ajudei a eleger três
deputados federais do Rio. O Neilson Mulim (candidato a prefeito no segundo
turno em São Gonçalo), Filipe Pereira, filho do pastor Everaldo Pereira, que
foi o mais forte, que mais botei a cara, e o outro de Duque de Caxias, da
Igreja Metodista, que teve 28 mil votos (Áureo Lídio Ribeiro)... Esqueci o nome
dele, sou ruim de nome! E o Filipe, com todo o respeito, se eu não boto a
cara... Nenhum dos três é da minha igreja. São evangélicos, mas não são da
minha igreja. Não precisa ser da minha igreja, não. Só meu irmão (Samuel
Malafaia, deputado estadual no Rio, pelo PSD) é.
iG: De que maneira o sr. faz propaganda para eles?
Silas
Malafaia: Tenho uma
mala-direta de pessoas que compram comigo materiais, muito poderosa! É gente
que compra materiais meus. E essa mala é muito, muito muito poderosa. Tenho 180
mil nomes no Estado, sendo 60 mil na capital. Tanto é que meu irmão – e nós
botamos no programa de computador – teve votação em cidades onde não botou o
pé, nem lá foi. Aí você olha na minha mala direta e tem gente lá. Teve 135 mil
votos.
iG:
Foi o terceiro mais votado, só atrás de Wagner
Montes (528.628 votos, a maior votação do País) e do Marcelo Freixo (em 2010, o
agora candidato derrotado à Prefeitura do Rio teve 177.253 votos para deputado
estadual)?
Silas
Malafaia: É, atrás de dois
caras que... pelo amor de Deus! Um com a máquina da televisão (Montes) e outro
com a imprensa dando corda para ele (Freixo). Aí não teve jeito! Não tem isso
de ser mais votado. Eu quero, sim, que o cara que eu apoie para deputado não
entre na rabeira, que entre. Se está entrando no meio ou na cabeça, quero que
entre!
iG:
E o que o senhor espera desses candidatos, uma
vez eleitos?
Silas
Malafaia: Espero que,
primeiro, aprendam que estão lá não porque foram colocados para defender
interesses dos evangélicos. Estão lá para cumprir um princípio do que acreditam
da Bíblia, pela justiça social, para abençoar o necessitado. Não ser a favor de
lei que prejudique os mais humildes, eles sabem disso, não são malucos! Segundo
ponto é honrar o nome de quem lhes emprestou o nome, que sou eu. Eu digo para
eles: ‘Amigão, não pisa (na bola) não, que se pisar, quem vai dar com o
sarrafo, sou eu!’
iG: E
se eles fizerem algo errado?
Silas
Malafaia: Eles sabem que
quem vai dar o primeiro sarrafo neles sou eu! Meu nome não está à venda, por
ninguém, meu irmão inclusive, meu nome não está à venda para ninguém! A Bíblia
já dizia que mais vale o bom nome do que muitas riquezas. Então se um cara
desses fizer besteira, vou sacudir em cima dele.
iG:
Já teve algum caso desse gênero?
Silas
Malafaia: Graças ao bom
Deus, não, espero que não tenha! Porque se tiver, meu filho, eu não vou ter
pena, eles me conhecem e sabem que sou capaz de fazer mesmo. Eu vou queimar meu
nome porque nego está fazendo besteira? Eu não! Eu largo o aço em cima deles!
Mas não vou ter pena e estão avisados. Vou queimar (o político)! Largo o aço em
cima!
iG:
Como assim, larga o aço???
Silas
Malafaia: É, eu meto o pau!
Digo aí: ‘Não vota mais não!’ Vou botar para quebrar em cima! Isso aí não tem
dúvida nenhuma, amigo! Não tem moleza!
iG:
E que contrapartida o sr. pede a eles?
Silas
Malafaia: Peço que
representem o povo que deu o voto a eles, a honra e o nome. Amigo, nem na época
que podia empregar parente... nunca pedi para nomear ninguém. E eu tenho uma
família grande para caramba, irmão. Nunca pedi nada, não quero saber disso,
negócio de nomear parente. Na verdade, na época da eleição, o prefeito ou
governador, bajulam todo mundo para ganhar. Quando são eleitos, durante os
quatro anos, essa aqui é que é a verdade, amigo: “Quem é esse cara aí? Elegeu
quem?” Então, para eles te atenderem, você tem de mostrar que você tem força
política! Senão é mais um no bolo! E aí, o que acontece?
Você elege cara com boa votação, quando
vier coisa de molecagem contra os nossos princípios, a gente tem voz para
pressionar. É esse que é o jogo. Isso é o que eu faço. Não tem conversa: “Vai
fazer essa lei aí? Vai? Então vai ver se vai ter o meu apoio!” Você vê, tanta
coisa foi freada aí, em âmbito federal e tudo, por medo de nossa comunidade.
Porque sabem que vamos abrir a boca. Essa é que é a verdade, nua e crua.
iG:
O sr. tem contato direto com prefeitos e
governadores.
Silas
Malafaia: Ah, tenho! O
Eduardo (Paes) me ligou hoje cedinho. Eu estava me preparando para ir para São
Paulo, o telefone tocou. Eu disse: ‘Vou ligar para esse cara terça ou
quarta-feira. Muita gente liga para dar parabéns, tal e coisa. Aí hoje ele se
antecipou. Me ligou cedinho. Eu tinha ligado o telefone. ‘Oi, aqui é o Eduardo,
quero agradecer seu apoio. Conte comigo!’ O Eduardo é simples. Espero que não
seja mordido por mosca azul, não fique besta... É um cara muito legal. Eu gosto
muito dele.
iG:
E com o Serra, como foi a conversa?
Silas
Malafaia: Eu acho que a
chance está com ele. O Mensalão vai ter um peso para o PT, vai bater na porta
deles. De algum jeito... A classe média não atura isso não. Não dá para dar
Bolsa Família para todo mundo, não. Não dá para comprar todo mundo com comida,
não.
iG:
Como será seu apoio a ele?
Silas
Malafaia: Disse para o
Serra hoje. Falei: “Serra, todo mundo já sabe que eu te apoio. Não precisa
fazer nada ostensivo. Não osto de nada ostensivo, para ser honesto. Sou mais um
dentre tantos, seja católico, evangélico. Eu quero isso, não quero que ache que
sou o máximo, sou mais um entre tantos.
iG:
Vai gravar vídeo de apoio para ele na TV?
Silas
Malafaia: Não, eu acho que
não precisa, para te ser honesto. Eu disse ao Serra hoje (9): ‘Todo mundo já
sabe que eu te apoio. Não precisa de nada ostensivo. Eu não gosto de nada
ostensivo.' Sou mais um entre tantos, católicos, evangélicos. Eu quero isso!
Não acho que sou o máximo, sou mais um entre tantos, não preciso de tanta
firula, não. Acho que não precisa gravar (programa na TV), para ser honesto.
(Nesta quinta-feira, 11, ele publicou vídeo contra o adversário de Serra,
Fernando Haddad) Quando fica muito acintoso não é bom. Sabe: ‘Você é candidato
de todos, sabe?’ Eu não acho que seja necessário gravar. O povo em São Paulo é
muito maduro, esta percebendo todo esse jogo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário é importante! Através dele terei oportunidade de aprender mais! Muito obrigado!